Fortunati anuncia ingresso no PDT
Fortunati anuncia ingresso no PDT
Após deixar PT, vereador escolhe partido 'capaz de constituir pólo de centro-esquerda sem arrogância'
O vereador José Fortunati anunciou, ontem à tarde, que passará a integrar o PDT. Há duas semanas, examinava o ingresso em um partido após ter deixado o PT por discordar dos rumos do governo. Ele justificou a opção pelo trabalhismo dizendo buscar partido que consiga 'constituir um pólo de centro-esquerda no Estado sem arrogância, que não se julgue dono da verdade e com real capacidade de diálogo'. Antes de chegar à entrevista coletiva para expressar a decisão, Fortunati telefonou aos partidos que se colocaram à sua disposição para comunicar a opção. Falou com os presidentes nacionais do PDT, Leonel Brizola, e do PPS, Roberto Freire, e os deputados estadual Sérgio Zambiasi, do PTB, e federal Roberto Argenta, do PHS. Fortunati declarou se manter aberto ao diálogo com vistas a composições para as eleições do próximo ano. Porém, adiantou ser contra a formação de uma frente anti-PT. 'Desejo que o PDT fuja da bipolarização, que é nociva para o Rio Grande do Sul', argumentou.
O vereador não perdeu a oportunidade de alfinetar o PT, apesar de ressaltar que não pretende rasgar os 22 anos de militância partidária, ao afirmar que quer um partido que não transfira responsabilidades pela dificuldade de administrar, culpando o governo federal e o Fundo Monetário Internacional pela falta de êxito. Sobre o futuro no novo partido, Fortunati disse não temer entrar em rota de colisão com Brizola, o que já causou dezenas de dissidências no PDT nos últimos anos. Segundo ele, os trabalhistas vivem um processo de reciclagem, estabelecendo outra forma de convivência interna. 'O PDT passou por momentos difíceis de centralização das decisões, o que lhe trouxe problemas', ponderou.
O vereador observou que o último programa institucional do partido em espaço gratuito de rádio e TV, veiculado segunda-feira, foi a demonstração da mudança pela qual passa o PDT. 'Tradicionalmente, assistimos à manifestação de Brizola durante todo o programa. Na segunda-feira, várias lideranças dividiram espaço com ele', observou.
Fortunati garantiu não estar ainda definido que cargo disputará em 2002, salientando que passará a discutir o assunto, na próxima semana, com a direção partidária. Ele afirmou não ter preferência pelo governo do Estado, vice ou Senado. Porém, frisou que disputará algum cargo na chapa majoritária no próximo ano. O ato de filiação ocorrerá amanhã na sede estadual do PDT.
Dissidentes deixam hoje o PMDB
Ingressam no PPS criticando o atrelamento ao presidente e a existência de políticos espúrios
O grupo de dissidentes do PMDB anuncia hoje o seu desligamento do partido e o ingresso no PPS, às 10h30min, no plenarinho da Assembléia Legislativa. A decisão foi tomada ontem pela manhã, durante reunião que contou com a participação de lideranças de todo o Estado. Saem do PMDB o deputado federal Nelson Proença, os deputados estaduais Cézar Busatto, Paulo Odone, Iara Wortmann, Berfran Rosado e Mário Bernd, além da vereadora Clênia Maranhão. Entre os motivos alegados para o desligamento estão o atrelamento à política do presidente Fernando Henrique Cardoso, a convivência com políticos considerados espúrios e as declarações do senador Pedro Simon, que qualificou de traição a dissidência.
'O PMDB se exauriu. Não posso mais sair na rua e defender nomes como o de Jader Barbalho', desabafou Odone. Segundo ele, o partido fracassou ao perder várias lideranças. 'É preciso refletir sobre o que há de podre no PMDB que não consegue reter os seus filiados', propôs Odone. Busatto afirmou que a situação se deteriorou rapidamente nos últimos dias por declarações de pessoas ligadas à cúpula do partido. 'Foram ditas coisas que precipitaram a nossa decisão. Esperávamos atitudes benevolentes, como a de um pastor que busca as ovelhas desgarradas, mas isso não aconteceu', lamentou Busatto.
Bernd prevê que o PMDB perderá boa parte de sua militância em pouco tempo. 'A base peemedebista tem um tempo próprio de reação e agirá na hora certa. As pessoas nos procuram para dizer que sentem a nossa saída, mas compreendem os motivos', garantiu Bernd. Conforme ele, o PMDB gaúcho perdeu progressivamente a identidade, tendo sido dominado pelo grupo governista. Berfran refutou a tese de que estariam saindo em busca de espaço político e por personalismo. 'Nós teríamos ótimas chances de reeleição dentro do PMDB. Porém, escolhemos ir para um partido menor. Sabemos que estamos saindo para um desafio, mas não queremos perder a nossa utopia', explicou Berfran.
Avaliação negativa de FHC cai 9 pontos percentuais
A pesquisa do Ibope, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria e divulgada ontem, mostrou que a avaliação negativa do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) caiu nove pontos percentuais, de junho a setembro, de 45% para 36%. A avaliação positiva cresceu três pontos no período, de 19% para 22%. Já o conceito regular cresceu oito pontos percentuais, passando de 33% para 41%.
Defesa de Jader procura evitar votação de relatório
Advogados do senador Jader Barbalho, do PMDB, entraram ontem com mandado de segurança contra a votação, pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, do relatório que recomenda a abertura de processo de cassação contra ele. A reunião está marcada para amanhã. O relatório diz que Jader faltou com o decoro parlamentar ao mentir num discurso em que afirmou que o Banco Central não apontou provas para o indiciar no caso Banpará.
Fogaça recusa convite para assumir ministério
O senador José Fogaça, do PMDB, recusou ontem à noite o convite do presidente Fernando Henrique Cardoso para ser ministro da Integração Nacional, cargo deixado pelo novo presidente do Senado, Ramez Tebet, do PMDB de Mato Grosso do Sul. Fogaça justificou a não-aceitação dizendo ser o momento inadequado e também porque, na possibilidade de concorrer à reeleição no próximo ano, ficaria impossibilitado de permanecer no ministério por mais de três meses. Por determinação presidencial, os ministros que disputarem eleições em 2002 terão que deixar as pastas no final do ano ou, no máximo, em janeiro do próximo ano.
Segundo Fogaça, aceitar o ministério daria a impressão de que está barganhando espaço no governo federal após perder a disputa interna no PMDB pela presidência do Senado. Não quer que isso seja entendido também como forma de não acompanhar os dissidentes no Estado, que se desfiliam hoje para ingressar no PPS. 'O convite é inaceitável. Ficaria parecendo barganha. Um grupo de deputados e o ex-governador saem do PMDB e eu passaria para a história como quem foi premiado com um ministério para ficar no partido', argumentou Fogaça.
Em reunião, ontem à noite, com Fernando Henrique e com o secretário-geral da Presidência da República, Aloysio Nunes Ferreira, o senador disse que permanecerá no PMDB. Porém, não garantiu que concorrerá à reeleição no próximo ano. Apesar das críticas feitas ontem pelos dissidentes ao senador Pedro Simon, que tiveram respaldo de Fogaça, os dois colegas se mostraram em sintonia, em Brasília, durante sessão de autógrafos do livro de discursos de Alberto Pasqualini organizado por Simon. Em plenário, Fogaça fez discurso pelo centenário de nascimento de Pasqualini, lembrando-o como um dos mais criativos pensadores e doutrinadores do Estado.
Ibope aponta crescimento de Roseana para Planalto
O crescimento do desempenho da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, do PFL, foi apontado na pesquisa do Ibope à Presidência divulgada ontem. Encomendada pela Confederação Nacional da Indústria, traz Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, em 1º lugar, com 30% das intenções de voto. Roseana subiu de 7% em junho para 12%, empatando em 2º lugar com Ciro Gomes, do PPS. Itamar Franco, do PMDB, e Anthony Garotinho, do PSB, têm 10%.
Novos no PPS têm de quebrar sigilo
O PPS vai exigir dos dissidentes do PMDB que pretendem se filiar ao partido a quebra dos sigilos fiscal, bancário e patrimonial. A decisão foi confirmada ontem à tarde durante reunião da executiva estadual com lideranças do partido. O deputado Bernardo de Souza, líder do PPS na Assembléia Legislativa, autorizou a quebra dos seus sigilos exigida pelo Código de Conduta Parlamentar, aprovado recentemente pela executiva do partido. O documento foi entregue, no mesmo ato, ao presidente estadual, Arnobio Mulet. A iniciativa de Bernardo demonstra que o partido não abrirá mão desse critério para os novos filiados, especialmente aqueles que sejam titulares de mandato ou tenham exercido algum.
Partidos da base aliada não querem troca-troca
Na reta final do prazo de filiação partidária para os candidatos às eleições de 2002, os três maiores partidos da base aliada (PMDB, PFL e PSDB) tentaram ontem um acordo de cavalheiros. O objetivo era evitar que o troca-troca de partido se converta em novo foco de crise entre governistas. O PFL teme perder o prefeito de Curitiba, Cássio Taniguchi, para o PSDB e trabalha para convencer o senador José Sarney, do PMDB, a ingressar no partido.
PPB pede para se reunir com Olívio
O diretório estadual do PPB oficializou ontem o pedido de audiência com o governador do Estado, Olívio Dutra. O anúncio foi feito por Celso Bernardi, na condição de candidato ao Palácio Piratini, escolhido pela prévia de domingo. Bernardi reassumiu a presidência do diretório estadual e o seu primeiro ato foi encaminhar o pedido ao governador. O PPB vai solicitar ao governo para que três integrantes do grupo técnico que elabora o plano de governo do partido tenham condições de acesso e diálogo com técnicos das secretarias e órgãos públicos. O objetivo será o de colher dados sobre a realidade do Estado para a formulação do programa. A Casa Civil não se manifestou sobre o assunto.
Senador busca protelar o trabalho do conselho
O senador Jader Barbalho, do PMDB, definiu para 18 de novembro o prazo-limite de sua luta contra o Conselho de Ética. Até essa data, deverá ser concluída a perícia judicial nos documentos do banco Itaú, solicitada por ele. Se não conseguir protelar os trabalhos do Conselho até lá, ele vai renunciar ao mandato. O senador nega publicamente, mas admite contar com a sua eleição em 2002 para o governo do Pará ou para retornar ao Senado.
Simon lança livro com discursos de Pasqualini
O senador Pedro Simon, do PMDB, lançou ontem, em Brasília, o livro 'Textos Escolhidos', com discursos e textos de Alberto Pasqualini, em comemoração ao centenário de nascimento do ex-senador gaúcho. Conforme Simon, que se define como seguidor do pensamento de Pasqualini, ele defendia uma economia solidária e um regime fundamentado no humanismo, colocando o trabalho como valor maior.
Vereador cotado a disputar Piratini
Com filiação ao PDT marcada para amanhã, o vereador José Fortunati ingressa no partido lançado ao Palácio Piratini. Os deputados Adroaldo Loureiro e Ciro Simoni defenderam ontem a candidatura, argumentando que irá revitalizar o trabalhismo. O vice-presidente estadual, Pedro Ruas, afirmou que a filiação é motivo de orgulho para o PDT. Ruas e a bancada de vereadores de Porto Alegre compareceram ontem, de surpresa, à coletiva em que Fortunati anunciou a entrada no partido. Levaram rosas vermelhas e a bandeira do partido.
Postal não vê razão forte para a saída
O deputado Alexandre Postal, do PMDB, disse ontem que ainda não identificou razão forte para que cinco colegas de bancada deixem o partido. Segundo ele, o único motivo que merece consideração é o fato de o grupo ter perdido a eleição para o diretório estadual. Postal rebateu os argumentos dos parlamentares que se queixaram das declarações do senador Pedro Simon sobre as dissidências. 'Querem arrumar desculpas de última hora', enfatizou. O deputado afirmou ter a convicção de que o partido perderá deputados na bancada, mas não sofrerá baixas na base. Ele garantiu que, apesar do número reduzido de deputados, o PMDB manterá o mesmo discurso.
Artigos
O CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES
Jurandir Soares
A medida que o tempo passa, torna-se cada vez mais evidente que o atentado terrorista acontecido nos Estados Unidos está ligado ao que Samuel Huntington chama de 'o choque de civilizações'. Esse choque de civilizações está presente no Oriente Médio, e o que acontece agora é uma seqüência do que há muito vem ocorrendo naquela região. Seus componentes estão presentes no insolúvel problema dos palestinos, nos costumeiros ataques dos Estados Unidos ao Iraque, embora a Guerra do Golfo tenha terminado há dez anos, na repulsa ao Ocidente espalhada pelos fundamentalistas islâmicos através dos aiatolás do Irã e na sedimentação dessa repulsa no Afeganistão com os talibãs. O dinheiro de Osama Bin Laden ajudou a colocar lenha nessa fogueira.
O sustentáculo, no entanto, parece estar no Afeganistão, país dominado pela milícia Talibã e onde Bin Laden está refugiado. É curiosa a situação do Afeganistão. Esse país representou para a então União Soviética, na década de 80, o mesmo que o Vietnã representou para os Estados Unidos na década de 70. Ou seja, foi palco de um grande fracasso. Só que, na ocasião, os Estados Unidos ajudaram a resistência armada para impedir que o Afeganistão caísse sob o comunismo. Ironia do destino: evitou o comunismo, que acabou ruindo com a própria União Soviética, mas deixou que o país caísse nas mãos dos fundamentalistas islâmicos.
Estes, no ímpeto de seu radicalismo, destruíram até as estátuas de Buda feitas há mais de 500 anos.
Diante desse amplo envolvimento, não bastará aos Estados Unidos dar uma resposta aos terroristas. Eles estão em muitas partes e continuarão se multiplicando. Isso continuará acontecendo enquanto as questões do Oriente Médio não tiverem uma solução. Portanto, não adianta sair matando para vingar mortes. É preferível tratar a questão pelo aspecto político. Mas isso parece não estar ao alcance de Bush. Esse choque de civilizações de Huntington confronta o Ocidente cristão e judaico contra o Oriente fundamentalista islâmico. Cabe ao Ocidente, nesse contexto, não cair no mesmo radicalismo dos seus oponentes.
Colunistas
Panorama Político/A. Burd
JOGO DO PODER
1) O Palácio do Planalto cozinhou o senador José Fogaça durante anos. Quando sentiu o risco de perdê-lo para a oposição, fez surgir o convite para que assumisse um ministério, por sinal, de 3a categoria. É claro que não aceitou. O episódio serve apenas para escancarar o jogo medíocre do poder.
2) A retaliação não demorou, tendo começado ontem: os deputados Alexandre Postal, José Sartori e João Osório, que permanecerão no PMDB, ausentaram-se do plenário da Assembléia Legislativa durante a votação de emenda que beneficiaria servidores do Instituto de Previdência do Estado. Não por acaso, emenda proposta e defendida pelo deputado Mário Bernd, que está deixando o partido. Ao final, faltaram três votos para a aprovação.
QUEDA
A assessoria do ministro da Saúde, José Serra, entra em pânico: pesquisa CNT-Sensus revela que, em um mês, ele caiu de 8,4% para 4,2% na corrida presidencial. Fica atrás de Enéas, que tem 4,3%.
SHOW DE ESTRÉIA
A primeira sessão do Congresso, presidida por Ramez Tebet acabou com confusão ontem à noite. Debatiam Plano de Investimentos e a oposição passou a gritar: 'É roubo, é roubo'. Ninguém segurou mais.
INÉDITA - Grupo formado pelo deputado federal Marcos Rolim, do PT, e parentes de presidiários foi ontem ao gabinete do deputado estadual Bernardo de Souza levar uma proposta sobre garantias para a vida prisional. Elaborada por Rolim, foi entregue em 1999 ao governo do Estado e não obteve resposta. Agora, preferiu escolher o líder do PPS como co-autor do projeto em razão 'da postura política e conhecimento jurídico que tem'.
BASES OUVIDAS
O deputado Cézar Busatto reuniu ontem à noite, no Grande Hotel, seu conselho político, integrado por 50 pessoas. Apesar de lamentarem a saída do partido, todos reconheceram o descaso crescente da cúpula estadual com as bases. Busatto encerra 30 anos de militância, inicialmente no MDB e depois no PMDB.
VEM A MIL
Bomba a caminho: o presidente regional do PMDB, deputado Cezar Schirmer, preparou ontem, com toda a atenção, manifestação forte que fará hoje, depois de confirmada desfiliação dos dissidentes do partido.
TROCA DE LADO
Os cinco deputados que ocupam lado direito do plenário na Assembléia, e deixam o PMDB, passarão para o lado esquerdo, próximos do PDT e do PT, onde já está o deputado Bernardo de Souza, do PPS.
DO BAÚ
O vereador José Fortunati foi ao fundo do baú para justificar, ontem, que não terá prejuízos eleitorais ao deixar o PT e entrar no PDT. 'Tarso Genro se elegeu vereador em Santa Santa Maria pelo MDB. Depois, passou para o PT e as pessoas não deixaram de votar nele', argumentou.
BUSCOU CALCANHAR
Na nota intitulada 'Nova Opção Partidária', que distribuiu ontem, o vereador José Fortunati afirmou que buscou 'um partido que não sucumba nem à lógica tecnocrática nem aos subterfúgios ideológicos'.
ABRE O VOTO
A deputada Luciana Genro, que fez 1.446 votos no 1O turno da eleição à presidência estadual do PT, pelo Movimento de Esquerda Socialista, declarou ontem que vai apoiar o candidato David Stival, da Articulação de Esquerda, no 2O turno.
APARTES
Ministro entra hoje no PSDB. Será Martus Tavares, do Planejamento. Tucanos esperam o quente: Malan.
Decalco na porta da assessoria de imprensa do partido na Assembléia: 'Traidores, fora do PMDB'.
Situação pede hoje renovação de votação para que não haja quebra de sigilo telefônico do diretor do Demhab.
Deputado João Osório diz que, se saísse do PMDB, renunciaria, entregando seu mandato ao suplente.
Presidente da Federação dos Sindicatos dos Servidores Públicos do Estado, Sérgio Arnoud, entrou no PPS.
Treze vereadores tomaram ontem café da manhã com Sindilojas. Cardápio indigesto: os camelôs.
Câmara homenageia os 30 anos do Hospital de Clínicas às 15h de hoje.
Deu no jornal: 'PMDB dá a Jader chance de julgar Jader'. É a antiga e imperturbável ação entre amigos.
Presidente FHC chama Roseana Sarney de 'fenômeno'. O que faz um súbito crescimento nas pesquisas.
Editorial
O RÉU INTEGRA O TRIBUNAL
É inimaginável o que vem de acontecer no Senado em desdobramento ao já malcheiroso 'caso Barbalho'. O líder peemedebista, Renan Calheiros, de Alagoas, indicou o próprio Jader para integrar a Comissão de Constituição e Justiça. A indicação por si mesmo é escandalosa pelo fato de o senador pelo Pará estar sendo investigado de corrupção, tanto que se viu forçado a renunciar à presidência da Casa. Mas há um componente ainda mais grave: tramita na própria CCJ processo no qual Barbalho encaminhou questão de ordem pedindo seja imposta à Comissão de Ética determinada providência em relação a sua defesa.
Fica o Senado na situação esdrúxula de ter criado a figura inconcebível do réu integrando o tribunal que o julgará. Nunca se viu, na história judiciária, mesmo em países de duvidoso sistema jurídico, qualquer coisa parecida. Mesmo sendo suplente, Jader Barbalho poderá atuar na Comissão de Justiça, como lembrou seu colega da representação rio-grandense José Fogaça. E o tipo de atuação que será exercitado pode ser avaliado mesmo por quem não tenha o mínimo de pendores para interpretação de fatos políticos. Ora, tendo sido até há pouco o presidente e sendo notória a influência que exerce sobre o PMDB, sua mera presença levará a CCJ a trabalhar sob pressão no deslinde da controvérsia regimental em julgamento.
É de todo intolerável que o Senado da República, com toda a sua tradição de revisor da elaboração legislativa, seja levado assim a mais um ato de seu drama de descrédito público. Descrédito, aliás, que se estende para muito além dos limites da chamada Câmara Alta do Congresso e invade o âmbito institucional do país e sua própria vida pública.
Mal comparando, vive o Senado um episódio de fábula de La Fontaine, com o lobo cuidando das ovelhas no aprisco ou a raposa do galinheiro. Seria a hora e a vez de o novo presidente, senador Ramez Tebet, demonstrar que está mais para o magistrado que mostrou ser nos dias do julgamento de ACM e Arruda do que para o 'rábula do Pantanal', como o definiu o baiano no discurso de renúncia ao mandato, vetando a indicação.
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09/26/2001
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