O sai-não-sai de Fortunati









O sai-não-sai de Fortunati
Em menos de 24 horas, o candidato a governador da Frente Trabalhista desiste da disputa e volta atrás

Em menos de 24 horas, o vereador José Fortunati (PDT) agitou ontem a campanha à sucessão de Olívio Dutra no Palácio Piratini.

Pela manhã, renunciou à candidatura a governador. À tarde, depois de um emocionado apelo da direção estadual do partido, mudou de idéia: pediu tempo para pensar. E, sem citar nomes, exigiu o enquadramento em comissão de ética do partido de responsáveis pela versão de que desistiria em razão dos baixos índices nas pesquisas – entre 3% e 3,4%.

A indecisão de Fortunati colocou o PDT gaúcho e o presidente nacional do partido, Leonel Brizola, em estado de alerta. Foram dois os motivos alegados para a renúncia: falta de apoio político dos próprios companheiros de sigla e de estrutura financeira para a campanha. Às 18h de ontem, em entrevista coletiva na sede do PDT depois de três horas de discussões por vezes acirradas com as direções do PDT, do PTB e do PAN – partidos da aliança Frente Trabalhista –, Fortunati anunciou o recuo:

– Estou suspendendo toda a minha agenda de candidato até tomar uma decisão.

A renúncia havia sido comunicada por Fortunati no final da tarde de segunda-feira ao presidente estadual do partido, Vieira da Cunha, e ao ex-presidente e membro do conselho político Airton Dipp, numa conversa a portas fechadas no quinto andar da Assembléia Legislativa. Lá, também ficou acertado que um grupo de seis dirigentes do PDT gaúcho acompanharia Fortunati ao Rio para comunicar a decisão a Brizola.

No Rio, ontem pela manhã, Fortunati ouviu de Brizola que é o melhor candidato. O líder, porém, avisou: se a decisão de abandonar o barco for irreversível, o deputado federal Alceu Collares deverá substituí-lo.

– Brizola citou apenas meu nome para substituí-lo, mas eu não aceito. Sou candidato a deputado federal. Estou até distribuindo santinhos – esquivou-se Collares, que participou da reunião no Rio.
A renúncia de Fortunati dividiu a cúpula do PDT gaúcho. No início da tarde de ontem, quando ele e outros seis integrantes da direção estadual desembarcavam no Aeroporto Salgado Filho, a sede do partido já estava tomada de filiados e dirigentes das siglas da Frente Trabalhista. O ambiente era de perplexidade com a notícia da renúncia.

– Com 24 dias de campanha, eu ainda não tenho santinho, bandeiras e folders na rua – desabafou Fortunati, na área de desembarque do Salgado Filho.

O ex-vereador Pedro Ruas, que não foi ao Rio, chegou ao diretório por volta das 15h. Defendeu a manutenção de Fortunati, distribuiu santinhos de sua campanha a deputado federal e, uma hora depois, deixou o prédio.

– Ele voltará atrás. Vamos nos doar mais para a campanha – garantiu.

Na noite de ontem, de acordo com a Agência Estado, Brizola prometeu desembarcar hoje no Estado. O PDT gaúcho, porém, espera o líder amanhã na Capital.

– Não há dúvida de que há inquietação. Eles vieram cedo ao Rio e fizemos uma reunião no aeroporto. Vou lá amanhã (hoje) para dar uma mão. Alguma coisa está ocorrendo – afirmou Brizola, que não quis adiantar o que o partido fará caso Fortunati se retire.


COMO FICARIA A CAMPANHA GAÚCHA SEM FORTUNATI


QUEM GANHA
Ciro Gomes
• Do ponto de vista eleitoral, o palanque do PPS de Britto é muito mais atraente para Ciro Gomes do que o do PDT de Fortunati. Mas a Frente Trabalhista que lançou Ciro tem em Leonel Brizola um pilar fundamental. E Brizola exigiu de Ciro apoio a Fortunati e oposição contumaz a Britto.
Com a remoção de Fortunati, ganha força a tese dos dois palanques gaúchos para Ciro: o de Britto e o do substituto de Fortunati.

Antônio Britto
• Quando lutavam por uma aliança formal no Estado com o PTB, os aliados do ex-governador usavam como argumento a falta de viabilidade eleitoral de Fortunati. Uma candidatura com apoio forçado de um partido não teria como empolgar a si mesma, que dirá aos eleitores, repetiam.
Ontem, com ou sem renúncia, viu-se que – ao menos em relação a Fortunati – o diagnóstico não era tão absurdo assim.

Sérgio Zambiasi
• O presidente da Assembléia e dono do PTB gaúcho sempre alertou para o perigo de lançar um candidato a governador em meio a tantas brigas. Zambiasi estava também, é verdade, interessado no projeto pessoal de sua candidatura ao Senado. Recusou-se a sair candidato a governador de consenso pela Frente Trabalhista, inclusive.
Mas não há como negar que Zambiasi ganha força política com o sai-não-sai de Fortunati.

QUEM PERDE
Tarso Genro
• A renúncia de Fortunati atira o PTB nos braços de Britto. Se antes o namoro era escondido, a tendência, sem o PDT, é virar público com direito a casamento de papel passado, comunhão de bens e juras de amor eterno.
Seria um reforço para o principal adversário que Tarso Genro não contava. Especialmente no momento em que as pesquisas indicam queda do PT nas intenções de voto para o Palácio Piratini.

José Fortunati
• É quem mais perderia. Saiu quase expurgado do PT e foi recebido no PDT com as glórias que sempre sonhou ter no ex-partido. Em pouco tempo, entretanto, terminou convertido a estorvo involuntário, enredado em brigas de cúpulas e manifestações de pena dos próprios aliados: seria um homem inatacável, mas ruim de voto. Hoje, apesar do nome registrado no TRE, não sabe sequer se é ou não candidato.

O mistério
Leonel Brizola
• Brizola brigou por Fortunati, mas sequer veio ao Estado depois de oficializada a candidatura. Uma tese é de que, descontente com o desempenho de Fortunati, planejaria uma candidatura capaz de reproduzir a tática que fez Ciro crescer em relação a Serra e a Lula: críticas tanto ao governo (Tarso) quanto à oposição (Britto). A outra é terremoto político: em nome do projeto Ciro Presidente, apoiaria Brito.
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O QUE ELE DISSE
A renúncia
Estou fora do processo enquanto candidato ao governo do Estado, mas me coloco à disposição do partido no Estado para ajudar a coordenar a campanha de Ciro Gomes e também do próximo candidato do PDT.
Não sou mais candidato.
O governador (Leonel Brizola, presidente nacional do PDT) entendeu as razões pelas quais eu estava abrindo mão da candidatura e, obviamente, chamou a minha contribuição para a continuidade do processo.

O recuo
Vamos pensar em tudo o que foi dito, sobre os argumentos muito sólidos, muito consistentes, que me deixaram sensibilizado. Vamos tratar de, junto da direção partidária, junto da coordenação de campanha, junto dos nossos partidos aliados, de visualizarmos uma nova realidade, que não esta que se colocou.Dependendo exatamente dessas reflexões, dependendo do que pudermos apurar coletivamente, nós poderemos voltar atrás ou não da decisão tomada no dia de ontem (segunda-feira).


Cúpula do PTB agora quer Britto
Ao receber a notícia da renúncia do candidato da Frente Trabalhista, ontem, o comando nacional do PTB saiu em defesa do apoio da sigla e do PDT no Estado ao ex-governador Antônio Britto (PPS).

A cúpula do PTB acredita que um eventual apoio a Britto favoreceria a candidatura presidencial de Ciro Gomes (PPS).

– Se a gente fechar a aliança no Sul em torno de Britto e o apoio do deputado Inocêncio Oliveira (PFL) a Ciro em Pernambuco, vamos criar dois fatos políticos e mostrar ao Brasil nossa capacidade de conciliar e governar, que é bem diferente da de José Serra (PSDB) – disse o líder do PTB na Câmara, Roberto Jefferson (RJ).

O presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, sempre foi contrário à candidatura Britto e chegou a exigir que Ciro não subisse no palanque do ex-governador. O próprio Cir o estava evitando visitar o Estado para não criar constrangimentos. Durante almoço, ontem, o presidente nacional do PTB e coordenador-geral da candidatura de Ciro à Presidência, deputado federal José Carlos Martinez (PR), incumbiu Jefferson de convencer Brizola de que apoiar Britto é a melhor solução.

– Vou fazer um apelo a Brizola, mas não quero contrariá-lo. Quem sabe Britto concorda em conversar com ele no Rio. Se depender do PTB, vamos evitar que seja lançado um outro nome – disse Jefferson, que pretendia se encontrar com Brizola o quanto antes.

A virada de posição do PTB nacional ocorre no momento em que Britto lidera as pesquisas de opinião. Antes, a cúpula petebista ameaçou inclusive intervir no diretório gaúcho se o partido não coligasse com o PDT, como exigia Brizola. Segundo Jefferson, naquele momento era preciso consolidar a Frente Trabalhista para não colocar em risco o apoio do PDT a Ciro.

– Agora, não há mais risco. Por que não reabrir esse assunto? Temos de apostar na pacificação – avaliou Jefferson.

Há ainda o temor de que o PDT venha a lançar o nome do deputado federal Alceu Collares ou o ex-secretário do governo Olívio Dutra Pedro Ruas no lugar de Fortunati. O comando do PTB acredita que eles poderiam radicalizar a campanha, beneficiando o PT.

Em Recife, o presidente nacional do PPS, senador Roberto Freire (PE), também propôs acordo em torno de Britto, mas frisou que isso depende de Brizola. Freire reconheceu que a Frente Trabalhista rachou no Estado, formando dois palanques e impedindo participação ativa de Ciro na campanha estadual.

Freire fez questão de ressaltar que não há impedimento para que Ciro suba no palanque de Britto, mas admitiu que o candidato evita fazer isso para não criar problemas na coligação em nível nacional.


Uma carreira com muitas frustrações
Com a crise na Frente Trabalhista (PDT-PTB-PAN), o caminho de José Fortunati para o Palácio Piratini pode ser interrompido pela segunda vez.

Em 1998, o ex-vice-prefeito foi derrotado no PT na disputa para a vaga de vice-governador na chapa de Olívio Dutra.

Dois anos depois, viu escapar das mãos a chance de concorrer à prefeitura da Capital, quando Tarso Genro conquistou a indicação da legenda à sucessão de Raul Pont, do qual Fortunati era vice. Apesar de ser um dos fundadores do PT, o hoje pedetista terminou isolado na legenda por não estar ligado a nenhuma corrente de peso.

Em janeiro de 2001, ao assumir como vereador mais votado de Porto Alegre, Fortunati deixou claro que sua situação no PT já era desconfortável. Propôs um plebiscito sobre a abertura do comércio aos domingos, projeto que não contava com o apoio do partido.

Nos meses seguintes, o vereador chegou a inscrever sua candidatura para presidente nacional do PT e manifestou interesse em concorrer ao Senado. Nenhum dos projetos prosperou. Em 24 de julho, um encontro de Fortunati com pedetistas foi tornado público. Em agosto, o governador Olívio Dutra anunciou a preferência pelo deputado federal Paulo Paim e pela senadora Emília Fernandes para as vagas no Senado. Fortunati sentiu-se preterido.

– Posso ser tudo, menos masoquista. Me puxaram o tapete em 1998 e em 2000, e agora querem puxar outra vez – disse no dia 27.

A saída do PT ocorreu no dia 10 de setembro. Dezessete dias depois, assinou ficha no PDT, sem esconder o desejo de integrar a chapa majoritária. A partir de dezembro, percorreu o Estado preparando a campanha. Em meados de abril, surgiram novas dificuldades com a possibilidade de o ex-governador Antônio Britto (PPS) concorrer ao Piratini.

O PDT insistiu no nome de Fortunati, mas o PTB queria Britto na chapa majoritária da Frente Trabalhista no Estado. Um acordo das cúpulas nacionais do PDT e do PTB garantiu a sustentação – sob ameaça de intervenção no diretório estadual do PTB – da chapa encabeçada por Fortunati.

O QUE DIZEM OS ALIADOS

José Fortunati
“Estou recebendo informações que me deixam de cabelos em pé. Vou averiguá-las, conversar com as pessoas e depois decidir. Neste momento a Frente Trabalhista está sem candidato.”

Pompeo de Mattos (PDT), deputado federal
“Sugiro que não tenhamos mais candidato ao governo do Estado, que façamos uma carreira solo, só a deputado estadual e federal e a uma vaga ao Senado.”

Pedro Ruas, candidato a deputado federal pelo PDT
“Para o PDT, é melhor que ele permaneça.”

Cláudio Manfrói, presidente estadual do PTB
“Os companheiro do PDT sabiam da diversidade que tínhamos para fazer esta composição. Nós fizemos uma coligação entre partidos, mas é claro que pesou muito na nossa decisão o nome de Fortunati”

“Não vejo a desistência de Fortunati como fato consumado. Vazaram informações, acho que foi uma palhaçada e uma criancice por parte de quem fez isso.”

Alceu Collares (PDT), deputado federal
“O interesse nacional vai preponderar. O apoio a Antônio Britto é uma possibilidade.”


Lula destaca pontos em comum com Fiesp
Petista afirmou não se lembrar de ter ido à entidade anteriormente

Ao abrir a palestra na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) no final da manhã de ontem, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que não se lembrava de ter ido anteriormente à sede da entidade.

– Há anos estou esperando por esse momento. Eu não me lembro de ter vindo à Fiesp antes. O Oded (Oded Grajew, empresário e amigo de Lula e que o acompanhou no evento) disse que eu vim em 1994. Se vim, foi algo que não me deixou lembranças, o que é grave – afirmou.

Em seguida, Lula lembrou que a primeira vez que se encontrou com um presidente da Fiesp foi em 1978, em São Bernardo do Campo (SP), quando era dirigente sindical. O candidato do PT disse aos empresários que há “mais concordâncias do que discordâncias” entre as propostas de seu partido e as sugeridas pela Fiesp no documento O Brasil de Todos Nós, cartilha elaborada pela entidade com propostas para o futuro presidente. E destacou a importância do encontro:
– É a oportunidade de o PT ser julgado pelo que o PT é. É a oportunidade que tenho de ver os empresários da Fiesp como eles são, e de vocês me verem como sou.

O presidente da entidade, Horácio Lafer Piva, afirmou que o candidato conta com a admiração do empresariado paulista. Ele arrancou um sorriso de Lula ao dizer que a relação entre a Fiesp e o PT podia ser comparada a um casamento longo, “com memórias doces e memórias amargas”, mas fez questão de tornar o ambiente mais ameno, afirmando que “a tensão entre a Fiesp e os sindicatos está muito mais amena”.

Em seu discurso, o presidenciável destacou entre os pontos de convergência, o interesse pela realização de uma reforma tributária no Brasil.

– Há três pontos fundamentais: desonerar a produção, desonerar a exportação e acabar com os impostos que incidem em cascata – disse.

Durante a palestra, o petista aproveitou para sugerir uma maior aproximação entre os empresários e a vida política. Ele afirmou que se estivesse no lugar do presidente Fernando Henrique Cardoso, o governo estaria muito mais aberto ao diálogo com os industriais.

Em seu discurso, Lula atacou ainda o candidato Ciro Gomes (PPS), que esteve na Fiesp no dia 23. O primeiro ataque ocorreu quando Lula sustentou sua proposta de aumento para o salário mínimo:
– De vez em quando aparece um esperto que diz que o salário mínimo vai ser de US$ 100. Não tem de falar em dólar, tem de falar em real.

As referências a Ciro continuaram no momento em que Lula foi duro com os empresários.
– Não sei se vocês discutiram com o Ciro, quando ele esteve aqui, sobre o Acordo de Ouro Preto. Se não discutiram, foram covardes, porque o Acordo de Ouro Pret o tem muito a ver com o que está acontecendo hoje – disse.

O acordo, assinado durante o governo Itamar Franco, deu origem ao Mercosul. Para isso, reduziu as tarifas de importação para vários produtos. Ciro foi ministro da Fazenda no final do governo Itamar.


Garotinho promete 500 mil moradias por ano
Ao discursar do alto de um caminhão de som estacionado ao lado da Praça da Sé, no centro de São Paulo, o candidato a presidente Anthony Garotinho (PSB) soltou promessas para uma platéia de cerca de 250 eleitores, como as de construir 500 mil moradias por ano com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), reajustar o salário mínino para R$ 280 e aumentar o valor das aposentadorias.

Antes de percorrer o centro da capital, Garotinho esteve na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), onde disse que o crescimento do risco-país tem sido sistematicamente previsto por ele e não tem nada a ver com as eleições.

– A crise é resultado direto da política econômica do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Alguém tem de ter a coragem de dizer que o Brasil está quebrado – disse.

Para Garotinho, a crise “não tem saída a curto prazo” e o próximo presidente terá “de ter consciência de que vai pegar um país quebrado”.

Acompanhado por cabos eleitorais que agitavam bandeiras e distribuíam panfletos, Garotinho demorou cerca de 40 minutos para caminhar os cinco quarteirões que separam a Bovespa da Praça da Sé. O candidato se irritou com os jornalistas ao ser questionado sobre eventual desistência.

– Já respondi a esta pergunta 365 vezes nos últimos 10 dias. Notem que José Serra, o candidato do governo, com dinheiro dos banqueiros, tem 13% das intenções de voto e eu tenho 10%. Estou muito bem e vou até o fim – afirmou.


Serra faz visita a Pastoral
Candidato disse que, se eleito, pretende baixar índice de mortalidade infantil

Ao visitar a Pastoral da Criança, em Curitiba (PR), o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, disse que se eleito, pretende baixar o índice de mortalidade infantil para menos de 20 mortes em cada mil nascidos vivos.

Durante visita à Pastoral, o candidato assinou um compromisso com a entidade, que escolheu 22 propostas gerais e em áreas específicas como saúde, direitos das crianças e dos adolescentes, assistência social e agricultura para apresentar a todos os concorrentes ao Palácio do Planalto.

– O Brasil precisa de homens compromissados com as crianças – disse a coordenadora da pastoral, Zilda Arns.

Como ex-ministro da Saúde que tinha parceria com a pastoral, Serra disse que, nos anos 90, o Brasil baixou a taxa de mortalidade infantil de 48 para 28 para cada mil crianças nascidas.
– É o que mais me orgulho em toda minha vida pública – afirmou, ressaltando que o apoio da pastoral foi fundamental até agora.

– Mas não se trata apenas de salvar a vida das crianças, se trata de dar mais vida a seus anos, permitindo seu desenvolvimento, para que tenha chances, oportunidades como têm as crianças mais ricas – acrescentou.

Por isso, prometeu pré-escola para todas as crianças de 4 a 6 anos.

O candidato disse que seu adversário Ciro Gomes (PPS) adotou a estratégia do “pega ladrão” ao acusá-lo de estar por trás das denúncias contra o coordenador da campanha da coligação trabalhista, deputado José Carlos Martinez (PTB), presidente nacional do PTB, e o candidato a vice-presidente na chapa, Paulo Pereira da Silva (PTB), o Paulinho.

– O sujeito que bate a carteira num calçadão, sai correndo com a carteira e fica gritando: “Pega ladrão, pega ladrão”, somente para distrair os transeuntes. Pode estar certo que o coordenador, o chefe da campanha de Ciro ter sido sócio de PC Farias (empresário Paulo César Farias) e ter negócios até hoje não é fruto da imaginação de ninguém – acentuou Serra.

– O fato de seu candidato a vice-presidente ter problemas tão graves na direção de seu sindicato ou na vida privada não é invenção de ninguém – enfatizou.

Pela manhã, Ciro havia dito que os coordenadores da campanha do candidato tucano a presidente seriam uma “máquina de dossiês” e insinuou que Serra seria o “dragão da maldade”.


Ibope e Datafolha indicam Ciro em segundo lugar
Em levantamento divulgado ontem, o candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, permanece isolado em segundo lugar com 25% das intenções de voto.

Líder da disputa,o candidato do PT ao Palácio do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva aparece com 34% da preferência do eleitorado. José Serra (PSDB) e Anthony Garotinho (PSB) seguem tecnicamente empatados. O tucano tem 14%, e o ex-governador do Rio, 11%. O Ibope ouviu 2 mil eleitores em todo o país entre os dias 27 e 29. A margem de erro é de 2, 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

Pesquisa realizada segunda-feira e divulgada ontem pelo instituto Datafolha mostra Ciro com 28% das intenções de voto, atrás de Lula, com 33%. Serra obteve 16%, e Garotinho, 11%. Votos em branco ou nulos somaram 5%, e indecisos, 6%.

O Datafolha ouviu 2.477 eleitores brasileiros em 127 cidades. A margem de erro para esse levantamento é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.


Entidades pedem intervenção federal no Espírito Santo
Documento questiona decisão do procurador da República

Um pedido de intervenção federal ou decretação do estado de defesa no Espírito Santo, para combater o crime organizado, será encaminhado ao presidente Fernando Henrique Cardoso por 47 organizações integrantes do Fórum Nacional de Entidades de Direitos Humanos.

As informações são de um manifesto aprovado ontem pelas entidades em reunião na sede do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em Brasília.

No manifesto, as entidades expressam “indignação” pela recusa do procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, em acatar o anterior pedido de intervenção, aprovado – “inclusive com o voto do próprio procurador” – pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), órgão do Ministério da Justiça.

As 47 entidades anunciam que promoverão análise jurídica da decisão de Brindeiro para apurar a responsabilidade dele no caso a fim de que o assunto seja encaminhado ao Senado para apuração das responsabilidades decorrentes dessa decisão.

O manifesto afirma que a recusa de Brindeiro “representa um prêmio ao crime organizado, que continua a desafiar os poderes públicos constituídos naquele Estado, intensificando suas ameaças às pessoas e às instituições defensoras dos direitos humanos”.

Segundo o documento, o recente atentado contra a sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Espírito Santo “foi apenas mais um aviso do crime organizado, que continua a agir impunemente no Estado”. Os signatários do manifesto decidiram apresentar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos denúncia sobre a “situação de grave violação dos direitos humanos” no Espírito Santo e convidar organizações internacionais a enviarem missões especiais para investigação.

Assinam o documento, entre outras entidades, a Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal da OAB, a Seccional da OAB do Espírito Santo, o Fórum Nacional das Entidades de Direitos Humanos, o Fórum Permanente de Combate à Violência, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, a Central Única dos Trabalhadores, a Força Sindical, a Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e a Pastoral da Criança.

O crime organizado do Espírito Santo também preocupa a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). Amanhã e sexta-feira, o presidente da AMB, desembargador Cláudio Baldino Maciel, estará em Vitór ia para verificar a situação de três juízes da Vara de Execuções Penais ameaçados de morte.

No último dia 17, Baldino pediu ao ministro da Justiça, Paulo de Tarso Ribeiro, proteção para os colegas. O ministro comprometeu-se a acionar a Polícia Federal no local para manter a segurança dos juízes enquanto houvesse necessidade.


Artigos

Os que fazem as leis
Candido Norberto

Está na hora de lembrar esta verdade tão importante. No Brasil estamos cometendo mais uma vez este grave erro político: nestes tempos pré-eleitorais, a preocupação dominante em todas as rodas – inclusive nos meios de comunicação em geral – se concentra em torno dos nomes dos candidatos à Presidência da República. Pouco ou nada nos preocupamos com a importância das eleições para os cargos legislativos dos Estados e das União.

Estamos esquecendo esta verdade: dá para dizer que o mais influente dos três poderes da República é o Poder Legislativo. É ele que cria ou modifica as leis que nos regem. Leis às quais o Poder Executivo e o Poder Judiciário estão sujeitos. E não apenas eles, mas toda a população.

Penso estar no momento de refletirmos seriamente a respeito destas verdades tão esquecidas e que agora estou lembrando superficialmente.

Não será demais insistir: numa democracia, presidente da República não faz leis

É só parar um pouquinho e pensar: maus legisladores igual a maus governos, por melhores que sejam os presidentes e os governadores. Legisladores incapazes e/ou desonestos, povo infeliz e roubado. E não é só: leis malfeitas e/ou injustas equivalem à justiça mal distribuída, omissa, protetora dos bandidos e dos desonestos, o povo desprotegido.

É tempo de ganhar consciência de que os partidos e de que nós, os eleitores, tenhamos bem presente a importância da seleção dos nomes que irão integrar nossas assembléias legislativas, nossa Câmara dos Deputados e o Senado Federal.

Não será demais insistir: numa democracia, presidente da República não faz leis. Ele apenas pode propor ao Congresso algumas delas e a todas respeitar.

Vale o mesmo para o Poder Judiciário. Ele não faz leis. A missão que lhe cabe é a de aplicá-las.

Esses dois poderes – Executivo e Judiciário –, insubstituíveis e necessários, têm suas prerrogativas limitadas pela Constituição e pelas leis que com esta estejam conformes.

Quem faz as leis é o Poder Legislativo, o Congresso Nacional, integrado por deputados federais e senadores, aos quais cumpre o dever de representarem o povo e os Estados.

Flui dessas lembranças axiomáticas que ao escolher nomes para integrarem nossas assembléias e o Congresso Nacional tem-se o dever de ser extremamente zeloso. Capacidade intelectual e honestidade devem ser os requisitos mínimos e indispensáveis para essa seleção.

Votar em troca de favores pessoais ou por simples amizade ou simpatia representa sérios riscos de se estar votando em representantes incompetentes e/ou corruptos. Vamos pensar seriamente nesse assunto?


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

Ataque especulativo
O cenário externo e as incertezas internas quanto à capacidade do Banco Central em aplacar a forte pressão para desvalorização do real ampliam e aprofundam a crise financeira no país. A decisão do governo em apressar o acordo com o FMI, e o feriado bancário decretado ontem, no Uruguai, reforçam a percepção dos agentes do mercado na fragilidade do sistema, no Brasil e na região. O Mercosul, que já mostrava sinais de fraqueza com a gravidade da crise argentina, também sofre o impacto das adversidades regionais e internacionais.

As declarações do secretário do Tesouro norte-americano, Paul O’Neill, levantando a suspeita de que o dinheiro tomado como empréstimo do FMI por Brasil, Argentina e Uruguai está sendo desviado para bancos suíços, agravaram a crise, fortalecendo a especulação e perturbando as relações diplomáticas Brasil x Estados Unidos. O governo brasileiro exige retratação. A posição do secretário reafirmando ontem, através de porta-voz, que a declaração era para a Argentina e o Uruguai “foi emenda pior que o soneto”.

“A bola, agora, está com eles”, declarou em linguagem nada diplomática um assessor do chanceler Celso Lafer, que, como FH, está indignado com a desastrada gafe cometida pela principal autoridade econômica do governo George W. Bush. Os escândalos contábeis envolvendo poderosas corporações norte-americanas retiram a autoridade moral de qualquer representante do governo dos Estados Unidos para julgar, criticar ou exigir determinados procedimentos de quem quer que seja.

Ademais, o Brasil não é uma republiqueta de bananas sobre a qual o imperialismo ianque possa interferir ao seu bel-prazer. O projeto Alca – Área de Livre Comércio das Américas –, idealizado pela Casa Branca, pode empacar porque as restrições dos setores acadêmicos, políticos, sindicais e empresariais são muito fortes. A diplomacia brasileira está sintonizada com essas preocupações e não dará nenhum passo adiante se os entendimentos não primarem pelo princípio da justiça e do interesse mútuo nesse processo de integração comercial e econômica. A embaixadora dos Estados Unidos, Donna Hrinack, que assumiu o posto recentemente, vai ter muito trabalho.
Primeiro, para consertar o estrago do secretário Paul O’Neill. Depois, para convencer que a Alca não será um projeto de dominação, mas de parceria para criar um grande bloco econômico unindo as Américas.


JOSÉ BARRIONUEVO

Brizola tenta viabilizar PDT no Estado
Com uma provável troca de candidato, Brizola tenta vencer a estagnação do partido no Estado, maior reduto do PDT. Com o desempenho de Ciro Gomes, de quem é avalista, e a boa posição de sua candidatura a senador pelo Rio, segunda base pedetista, Brizola volta os olhos para o Rio Grande do Sul, berço do trabalhismo. Tem consciência de que a viabilização do seu projeto passa pela Presidência, sonho que perseguiu ao longo de sua existência. Por isso coloca a eleição de Ciro acima de questiúnculas regionais. E para fazer ressurgir o novo trabalhismo, Brizola acenou ontem até com a possibilidade de ser formada uma frente em torno de Antônio Britto, hipótese ainda remota no primeiro turno.

Britto pode ser apenas balão de ensaio
Numa conversa de pouco mais de duas horas em que a tônica foi a sucessão presidencial, Brizola surpreendeu os convidados gaúchos recém-chegados ao Rio com a possibilidade de compor com Britto, do PPS de Ciro, que está com 37% nas pesquisas, um índice 12 vezes superior à cotação do candidato do seu partido. A condição seria a elaboração de um programa em conjunto, com a inclusão das principais propostas do trabalhismo, começando pela educação. É uma possibilidade ainda remota. Com este movimento, Brizola mobiliza as bases, que preferem concorrer com fisionomia própria.

Fortunati sai fortalecido
O impasse terminou fortalecendo Fortunati no PDT. O candidato, que suspendeu a campanha, recebeu apoio unânime dos principais dirigentes partidários, que fizeram um apelo para que mantenha a candidatura. Uma visita de Brizola nas próximas horas deve reunir representantes das bases, encontro que pode funcionar como um termômetro em relação à receptividade de Fortunati, que tem sido muito boa no Interior.

• Apoio do PTB – Soma-se o apoio do PTB. Cláudio Manfrói, presidente regional, foi categórico ontem: a indicação de Fortunati como candidato a governador foi fundamental para que o PTB aceitasse a aliança com o PDT, indicando o candidato a vice. Não sabe se, com a troca do nome, o partido vai manter o apoio. Dependerá de exame da executiva estadual.

Alternativas possíveis
Com a negativa de Alceu Collares, a inda no encontro no Rio, não existe outro nome que possa unir o partido mais do que Fortunati. Colocado em último lugar na bancada federal em 1998, Collares ampliou sua base e deve despontar com boa votação, assegurando a reeleição. Por isso não titubeou ao ser lembrado no encontro do Rio:
– O negrão, aqui, não aceita. Sou candidato a deputado federal, chefe.
Pedro Ruas aceita, interessado em fazer um lastro para concorrer a prefeito em 2004. Porém, poucos acreditam que possa ter um desempenho melhor do que Fortunati, além de estimular cisões internas, visto como estimulador de intrigas políticas. Foi Ruas que espalhou a notícia de que Fortunati seria desembarcado, desestabilizando assim sua candidatura.

Ciro torce pela unidade da frente trabalhista
O presidenciável Ciro Gomes acompanha a preocupação de Leonel Brizola com a eleição no Rio Grande do Sul em silêncio obsequioso. Diante dos desacertos internos, o presidenciável não veio mais ao Estado desde as convenções, evitando constrangimentos entre PDT e PPS em decorrência do veto anterior de Brizola à participação de Britto no palanque. Na próxima visita ao Estado, Ciro gostaria de ver PPS, PDT e PTB unidos numa mesma frente trabalhista. Por enquanto, apenas um sonho.

Ligação com PT dificulta
O ex-secretário de Obras de Olívio Dutra é excessivamente ligado ao PT, o que torna mais inviável ainda sua candidatura ao Piratini num Estado dividido. Ruas é o nome preferido por Tarso, que espera contar com seu voto no segundo turno.
Identificação com o PT foi o erro cometido por Simon no início da campanha – ao desconsiderar o grau de radicalização do confronto no Estado, o senador terminou travando a candidatura de Rigotto como terceira via. Afinal, quem gosta do PT vota em Tarso.

Desenvolvimento
Presidente do PPS e coordenador da campanha de Antônio Britto, Nelson Proença lançou sua candidatura a deputado federal com um jantar no galpão crioulo do Parque Maurício Sirotsky Sobrinho. Proença lançou o slogan “Desenvolvimento vem com a gente”, numa referência à secretaria que comandou no governo Britto, tendo atuado como articulador dos grandes investimentos no Estado. Germano Bonow (vice) e José Fogaça (senador) compareceram ao evento.

Mirante
• Na hipótese de se classificarem ao segundo turno Ciro e Lula para presidente, Britto e Tarso para governador, os pedetistas só têm uma alternativa no RS: apoiar o candidato do PPS, que é do mesmo partido do presidenciável.

• “Quem pariu Mateus que o embale.” Esta foi a resposta do presidente estadual do PTB, Cláudio Manfrói, quando soube pela imprensa que Brizola estava trocando de candidato sem consultar o partido. No primeiro momento, o sentimento do PTB era de rompimento da aliança.

• Manfrói se retirou da reunião no diretório do PDT quando o deputado estadual Paulo Azeredo culpou o PTB pela estagnação da candidatura ao Piratini. Levou um pito dos companheiros e foi desmentido peko próprio Fortunati.

• Sônia Santos provou que tem bom trânsito com Brizola. A ex-vereadora e Pedro Ruas já sabiam na véspera que haveria mudança de candidato.

• Ninguém se entende no PDT gaúcho. Cada um dá a versão que lhe convém. Virou um samba do crioulo doido, uma babunça. Entende-se por que Brizola acaba tomando as decisões.

• Preocupação de Brizola é não dar vexame em seu Estado.

• Se Fortunati não for candidato, não terá substituto no PDT. Se o presidente da Câmara confirmar a renúncia, vai desaguar numa composição com Britto.

• Candidatura de Lúcio Barcelos (PT) será lançada amanhã.

• Lançamento da candidatura do vereador Paulo Brum (PSDB) a deputado estadual ocorre amanhã à noite no Caixeiros. Faz dobradinha com Yeda Crusius. Animação do conjunto Impacto.


ROSANE DE OLIVEIRA

Surpresa, mas nem tanto
Do jeito que começou não tinha mesmo como prosperar a Frente Trabalhista encabeçada por José Fortunati. Ela fora empurrada goela abaixo do PTB, com ameaças do diretório nacional de intervir na seção gaúcha caso se consumasse a vontade da maioria de apoiar o ex-governador Antônio Britto (PPS). O PTB fingiu que aceitava e chegou a indicar o ex-juiz Luiz Francisco Corrêa Barbosa como vice, mas não moveu um dedo pela candidatura de Fortunati. Desde o início estava claro que a prioridade do partido era eleger Sérgio Zambiasi senador e uma bancada razoável na Câmara e na Assembléia.

Fortunati não foi enganado pelo PTB. Sua esperança de conquistar os trabalhistas com o discurso da unidade futura esbarrou no pragmatismo dos que não vêm sentido em se agarrar a um nome que não deslancha na campanha podendo estar no palanque do líder das pesquisas. Os candidatos a deputado com poucas chances de se eleger fazem as contas e concluem que se Britto vier a ser governador podem ser chamados para cargos que o PPS não tem quadros para preencher.

O desencanto de Fortunati é compreensível. Vereador mais votado de Porto Alegre, não tem por que enfrentar a humilhação de ser tratado como um estorvo pelos que gostariam de apoiar Britto ou o ex-prefeito Tarso Genro. Imaginava-se que Fortunati resistiria até o fim da campanha por não ter nada a perder – seu mandato na Câmara não está nem na metade – e porque a campanha seria uma boa vitrina para quem sonha ser prefeito de Porto Alegre. A renúncia, se confirmada, sepulta também esse projeto. A fila do PDT para a vaga de candidato a prefeito tem outros pretendentes, a começar pelo deputado estadual Vieira da Cunha, hoje um dos homens mais próximos do ex-governador Leonel Brizola, ao lado de Pedro Ruas.

A facilidade com que Brizola aceitou a renúncia de Fortunati sugere um recuo estratégico do principal líder do PDT diante do crescimento de Ciro Gomes. A prioridade é e sempre foi a eleição nacional. Tudo que possa atrapalhar a vida de Ciro começa a ser retirado do caminho, a começar pelas restrições do próprio Brizola, que proibiu a presença do candidato do PPS no palanque de Britto. Impedido de vir ao Rio Grande do Sul por conta das divergências entre os aliados, Ciro está em condições de exigir que Brizola repense suas exigências.

O sinal de que essa possibilidade existe foi dado na reunião de emergência com os líderes do PDT e do PTB pelo deputado Pompeo de Mattos. Um dos participantes contou ter ouvido de Pompeo que Brizola aceitaria rever as restrições a Britto se puder influir no plano de governo. Como o plano ainda está em fase de elaboração e já não inclui as privatizações que Brizola rejeita, o caminho estaria desobstruído.

Difícil mesmo será a convivência no palanque depois da forma como Brizola tratou o ex-governador, mas o desempenho de Ciro nas pesquisas parece capaz de operar milagres. Se até o senador Antonio Carlos Magalhães, a quem um dia Ciro classificou como “mais sujo do que pau de galinheiro”, anda de braços dados com o candidato, nada é impossível para os que limitaram as agressões ao nível das idéias.


Editorial

DE VOLTA AO FMI

O Brasil volta a bater às portas do Fundo Monetário Internacional (FMI) como forma de conter uma crise financeira aparentemente incontrolável de outro modo. A alta explosiva do dólar, o aumento do risco-país, a crescente irracionalidade do mercado, agravados por declarações irresponsáveis do secretário do Tesouro dos Estados Unidos e pelo clima de acirrada disputa eleitoral no Brasil, não deixaram outra saída ao governo. Diferentemente de oportunidades anteriores em que o país recorreu ao organismo multilateral, o que ocorre neste momento não é uma fuga de capitais, mas a busca interna da moeda norte-americana para amortização de dívidas, já que as linhas externas de crédito estão restritas ou cortadas.

Uma aliança de medos,especulações e manipulações funciona contra a est abilidade

Em entrevista à Rádio Gaúcha, o ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso, reafirmou uma verdade que nunca é demais ser enfatizada: a turbulência financeira que massacra nosso país e o Cone Sul da América neste momento se alimenta menos de fatos econômicos objetivos do que de percepções subjetivas e volúveis. Nenhum fato novo está tornando nossa economia mais vulnerável ou menos eficiente. O que ocorre é exatamente o oposto: os números do mês de julho são positivos para o Brasil, a começar pelo superávit na balança de pagamentos. Mesmo assim, um mercado arisco e instável faz com que a cotação do dólar atinja recordes, o país se enfraqueça e seja levado inevitavelmente a buscar o socorro do FMI. Uma aliança de medos, especulações e manipulações funciona contra a estabilidade do país.

Dois fatos contribuem para que isso ocorra, um internacional – diretamente ligado a essa percepção e às declarações infelizes do secretário norte-americano do Tesouro –, outro nacional – ligado aos temores em relação a mudanças no comando do país com a eleição de outubro. Essa nova crise mostra, pela enésima vez, a mais perversa face dessa globalização financeira e da falta de controles públicos capazes de evitar que interesses menores se sobreponham aos coletivos e que a especulação prevaleça sobre a real situação das economias nacionais.

Com a decisão de enviar uma missão brasileira a Washington, o governo brasileiro reconhece oficialmente que, diante da gravidade da crise financeira, não será possível aguardar até as eleições de 6 de outubro para retomar as negociações sobre um acordo emergencial com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Ao contrário de 1998, quando recorreu ao Fundo também num período de campanha presidencial, e mesmo do ano passado, quando o país renovou o acordo por mais um ano, o cenário externo mostra-se muito mais adverso neste momento e bem menos receptivo para ajuda a nações em apuros. Infelizmente, a internacionalização dos interesses expõe o país a esses transtornos, confirmando a necessidade urgente de uma readequação dos mercados, das economias e dos organismo multilaterais ao que realmente é substantivo e evitando a submissão ao que é especulativo.


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07/31/2002


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