Francelino denuncia o "apartheid verde-amarelo"



O senador Francelino Pereira (PFL-MG) apresentou nesta quinta-feira (dia 22), em plenário, análise do quadro de exclusão social vivido pelos negros no Brasil. Apoiando-se nos resultados de levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o senador apontou a existência do que chamou de "apartheid verde-amarelo", comparando a situação brasileira com o regime discriminatório vivido pelos negros da África do Sul há até alguns anos.

Conforme os dados da pesquisa, um negro hoje com 70 anos estudou, em média, 2,2 anos a menos que um branco da mesma idade. A prova de que a situação não vem melhorando ao longo do tempo é que um negro de 30 anos mantém praticamente a mesma desvantagem em relação ao branco da mesma idade: estudou 2,1 anos a menos.

- Em matéria de discriminação contra a raça negra, estamos vivendo uma situação pior do que a África do Sul, que até 1994 viveu feroz regime racista, vencido pela determinação, pela coragem de Nelson Mandela e outros líderes - disse Francelino, que lembrou a passagem, na quarta-feira (dia 21), do Dia Internacional de Luta pelo Fim da Discriminação Racial.

Naquele país, observou o senador, os negros também estudam menos que os brancos, mas as diferenças de escolaridade vêm diminuindo de forma mais acentuada que no Brasil. Segundo a pesquisa, que conta com a parceria da ONU, um branco sul-africano de 25 anos estudou, em média, 12 anos, enquanto um negro da mesma idade permaneceu apenas nove anos na escola. No Brasil, a relação é de sete anos e meio para cinco anos e meio, em desfavor dos negros.

Francelino explicou que a educação é uma boa referência técnica numa pesquisa desse tipo, uma vez que, de todos os fatores que contribuem para reduzir o salário do trabalhador negro, a escolaridade entra sozinha com 27%.

- A pesquisa apenas ressalta a perversa realidade social do país e destaca o fato de que a estabilidade econômica por si só não resolve o problema das desigualdades de renda - afirmou o senador. Segundo ele, a exclusão social é mais forte entre os negros, mas deve ser entendida como "uma praga nacional". Dos 169 milhões de brasileiros registrados pelo censo do ano passado, quase 55 milhões ainda vivem na linha da pobreza e mais de 24 milhões são indigentes.

22/03/2001

Agência Senado


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