Fraudes com luz e gasolina custam R$ 1 bilhão por ano









Fraudes com luz e gasolina custam R$ 1 bilhão por ano
Light e Cerj investem para reduzir perdas. Nova delegacia investigará crimes

As concessionárias de energia, distribuidoras de combustíveis e empresas de telefonia do Rio ganharam ontem um aliado no combate às fraudes. Conforme antecipou o Jornal do Brasil na semana passada, foi inaugurada ontem, após investimento de R$ 600 mil, a Delegacia Especializada de Defesa dos Serviços Delegados. Os prejuízos com fraudes nestes setores custam às empresas, somente no Rio, quase R$ 1 bilhão por ano. ''As pessoas estão habituadas a roubar energia e se consideram espertas por isso. Elas estão sendo criminosas e serão tratadas como tal'', afirmou o delegado Ruben Campos, dando uma amostra de como vai atuar no comando da nova delegacia.

De acordo com o secretário de Energia, da Indústria Naval e do Petróleo, Wagner Victer, as distribuidoras de combustível perdem por ano R$ 500 milhões com produtos adulterados que são vendidos livremente no mercado. Com a ligação clandestina de energia elétrica - os chamados ''gatos'' -, o Estado do Rio de Janeiro deixa de arrecadar por ano R$ 100 milhões de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Máfia - ''O dinheiro perdido com as fraudes não foge somente das empresas do setor, mas, também, dos cofres do Estado'', afirmou o secretário estadual de Segurança Pública, Josias Quintal. Segundo ele, a nova delegacia - que fica em um terreno doado pela Telemar no bairro de São Cristóvão - vai criar uma maior conscientização. De início, a delegacia contará com 20 policiais civis e três viaturas.

Para as distribuidoras Light e Cerj, o roubo de energia representa um prejuízo anual de R$ 444 milhões, sendo R$ 300 milhões para a Light e R$ 144 milhões para a Cerj. A Telemar, por sua vez, gasta R$ 8,4 milhões por ano só para reparar roubos de cabos da sua rede de telefonia e depredação dos telefones públicos. A operadora investe, por ano, R$ 5 milhões em segurança do seu patrimônio.

Investimento - A Light vai desembolsar neste ano R$ 100 milhões para lutar contra o roubo de energia. Segundo o diretor corporativo da distribuidora, Sebastião Medeiros, 250 pessoas serão contratadas e treinadas no combate às fraudes.

A Light faz 60 mil inspeções por ano em medidores de seus clientes e constatou que 20% são ilegais. A maior parte dos ''gatos'' são feitos pelo comércio, indústrias e classes alta e média. ''Há mais fraudadores em residências, mas o volume de energia roubada do comércio é maior'', explicou Medeiros.
A Cerj vai aplicar este ano R$ 25 milhões para combater os roubos de energia. O vice-presidente da empresa, Mário Rocha, disse que são feitas 50 mil inspeções por ano entre seus consumidores. Destes, 18 mil são ''gatos''. ''Essa é uma prática presente em todos os segmentos, residencial, comércio e indústria. Todos participam''.


Chileno quer tratamento vip
Seqüestrador que prendeu Olivetto em cubículo reclama das condições da prisão

Durante 53 dias, o guerrilheiro chileno Mauricio Hernández Norambuena manteve o publicitário Washington Olivetto espremido em um cubículo com menos de três metros quadrados. Uma bacia dágua era o máximo de higiene e o ar só entrava por um sistema de duto. Quando foi preso, o seqüestrador sentiu a pimenta nos próprios olhos e viu que não era refresco. Na carceragem do Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado (Deic), o hóspede reclamou de tudo. Pediu roupas de cama, criticou a falta de janelas e exigiu banho de sol. Queria o tratamento vip que não deu ao refém.

O desconforto no Deic já ficou para trás. Há dois dias, o endereço de Norambuena é a Casa de Custódia de Taubaté. Mas a família do bandido continua preocupada. A irmã Cecília Hernández chegou ontem a São Paulo trazendo a tiracolo uma integrante de uma ONG de defesa dos direitos humanos. ''Meu irmão é um revolucionário internacional e temo por sua integridade física'', afirmou, sem mencionar o tratamento dado a Olivetto no cativeiro.

No consulado do Chile, ela informou que o objetivo imediato não é saber se o guerrilheiro vai ser extraditado, e sim evitar que ele seja vítima de maus-tratos.

Ação política - Em Santiago, outro irmão de Norambuena mostrou preocupação semelhante. ''Conhecemos o tratamento dado aos presos no Brasil'', criticou Iván Hernández. ''O seqüestro teve motivação política, ele sempre manifestou que sua luta não tinha fronteiras.''

No conforto de casa, Olivetto foi ouvido ontem à noite pela polícia paulista. Acredita-se que duas brasileiras estavam envolvidas no crime. Uma delas, conhecida pelo codinome Maria Ivone, também teria participado do seqüestro do empresário Abílio Diniz. A outra ainda não foi identificada.

O material recolhido no cativeiro, na Rua Kansas (Brooklin), indica que Olivetto se comunicava com os seqüestradores por cartas e bilhetes. Num deles, propôs o pagamento de R$ 6 milhões pela liberdade. A proposta foi recusada.


FH cobra trabalho do Congresso
Governo envia ao Legislativo extensa lista de projetos polêmicos e pede aprovação rápida em pleno ano eleitoral

BRASÍLIA - O presidente Fernando Henrique Cardoso ignorou o calendário eleitoral que ocupará a atenção dos políticos no segundo semestre e cobrou trabalho do Congresso. Apresentou longa lista de projetos para votação ainda em 2002 e alertou que medidas como a prorrogação da CMPF, se não votadas, causam ao País prejuízo de R$ 400 milhões semanais.

Fernando Henrique pediu ''ação parlamentar vigorosa'', mas a relação de propostas a espera do voto é espinhosa. Inclui, além de renovar a cobrança da CPMF, as mudanças nas leis trabalhistas e no Código Penal. O pacote insiste em medidas voltadas à área de segurança.

O silêncio atento dos líderes partidários e as promessas de esforço concentrado, contudo, não convenceram. Os parlamentares, em conversas reservadas, admitem que não será fácil votar projetos polêmicos às vésperas da eleição.

DESCULPAS - ''Não há desculpa para alguém dizer que em ano eleitoral não há como trabalhar'', disse Jutahy Magalhães, líder do PSDB na Câmara. O prazo dado por Fernando Henrique para que as matérias que já estão no Congresso sejam votadas vai até o meio deste ano.

O presidente disse estar confiante. Acredita que o calendário eleitoral não será impedimento ao trabalho do Parlamento. ''Espero que as leis sejam votadas. O governo vai trabalhar para que essa agenda se cumpra, pois ainda restam 11 meses (de governo) e esse tempo não pode ser perdido'', disse Fernando Henrique.

Uma das prioridades é o projeto que determina a destruição imediata de armas ilegais apreendidas pela polícia. Segundo técnicos do Ministério da Justiça, a medida visa evitar o desvio de armas confiscadas. Outro projeto que seguirá para o Congresso define penas alternativas para usuários de drogas. A proposta compensa o veto de Fernando Henrique ao capítulo da nova lei antidrogas que trata do assunto.


Infância desprotegida
Programas sociais mantêm legião de excluídos

BRASÍLIA - A rede de proteção social do governo, amparada em programas de renda mínima como o bolsa-escola, não chega a toda a população carente do País. Munido de dados do IBGE, o presidente Fernando Henrique admitiu que 31,7% dos brasileiros são pobres e outros 12,7%, indigentes. ''Um País não se muda em um ano ou dez'', justificou. Os números, apresentados durante o balanço dos sete anos de governo Fernando Henrique, revelam uma grave realidade: as crianças são as maiores vítimas da pobreza.

O acesso à comida, à casa, à educação e a roupas é uma situação experimentada plenamente por ape nas 51% dos brasileiros de até seis anos de idade. Um exército de 11,5 milhões de crianças nessa faixa etária vive em famílias pobres, segundo estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). A fase, chamada de primeira infância, é decisiva. Aos três anos de idade, o cérebro já tem 90% do tamanho adulto. Essa faixa etária, contudo, não foi prioridade dos programas de combate à pobreza. O programa para crianças de 0 a 6 elogiado pelo presidente ontem só foi criado em setembro do ano passado.

O bolsa-alimentação destina R$ 15,00 a crianças de até seis anos, excluídas do bolsa-escola (destinado a faixa de 7 a 14 anos). Em janeiro, 57 mil meninos e meninas recebiam o bolsa-alimentação. Muito pouco para as necessidades apontadas pelos números da pobreza divulgados pelo Ipea.

''O potencial para aprender é definido nessa idade. O País está comprometendo a metade da população nessa faixa'', alerta o pesquisador Ricardo Henriques, autor do estudo. ''Políticas sociais eficazes podem retirar essas crianças da pobreza, mas não há como reverter os prejuízos da primeira infância.''

No Rio, apenas 36% das crianças freqüentam creches e pré-escolas. É uma realidade nacional. Só 5,9 milhões de brasileiros têm acesso à educação infantil. ''Isso precisa ser corrigido'', diz o neurologista e deputado Osmar Terra (PMDB-RS), fundador do Comitê Interministerial da Primeira Infância (Codipe).

Os dados são mais impressionantes quando tratam também de raça: 65% das crianças negras são pobres, comparadas a 38% das brancas. Os três filhos de Luzia Ferreira de Moraes, de 18 anos, estão nesse contingente de brasileiros negros que não têm condições para atingir o desenvolvimento pleno. Ela não fez o pré-natal completo em nenhuma gravidez. Vive com o marido num barraco de lona ao lado de uma estação de tratamento de esgoto na região norte de Brasília. A filha mais velha, Luana, de 3 anos, brinca na lama, nunca freqüentou uma creche e se alimenta de doações recebidas de estranhos. A família não recebe qualquer tipo de ajuda governamental.


Guerra comercial entre Brasil e Chile
O Brasil está estudando as represálias que irá adotar para fazer frente ao aumento de 211% na tarifa de importação chilena para o açúcar brasileiro em novembro do ano passado. O imposto, que era de 31,5%, subiu para 98%. No alvo do contra-ataque brasileiro deverão estar as uvas e vinhos chilenos.

A sobretaxa para a importação de produtos do Chile deverá alcançar US$ 15,8 milhões, quantia que o Ministério da Agricultura do Brasil calcula ser o prejuízo dos produtores de açúcar brasileiros com a medida chilena. Em 2000, o Brasil exportou 53,9 mil toneladas de açúcar para o Chile. O pedido de compensação brasileiro será apresentado à Organização Mundial do Comércio (OMC) antes de 17 de março, data em que expira o prazo de seis meses para que o governo chileno conclua as negociações com os fornecedores de açúcar ao país como exigem as regras da instituição.

A decisão brasileira de adotar represálias comerciais foi tomada depois de várias tentativas frustradas de negociar um acordo para reduzir a tarifa. O governo brasileiro hesitava tomar uma medida mais drástica para não melindrar o Chile, nação associada ao Mercosul, bloco econômico do Cone Sul liderado pelo Brasil. Mas, diante da falta de vontade das autoridades chilenas, o governo se convenceu de que não havia outra alternativa. Argentina e Guatemala, também prejudicadas pela atitude chilena, aceitaram a proposta do Chile de impor cotas livres de impostos para a importação de açúcar.


Marketing energético
Promoções incluem bônus para freezer

BRASÍLIA - O fim do racionamento de energia elétrica está mudando o marketing das distribuidoras. Para aumentar o consumo de quem vem economizando há nove meses, vale tudo. De pipoca para forno de microondas a bônus para compra de geladeiras e aparelhos de ar-condicionado, tudo será oferecido como forma de mudar o hábito de economizar que foi imposto à população.

A palavra de ordem agora é ''conforto''. Não há porque secar os cabelos ao vento se um secador elétrico - com redutor de consumo, é claro - fará o trabalho com muito mais rapidez, elegância e de forma politicamente correta. O lema está sendo adotado pela Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), a mesma que pretende dar pipocas e livros de culinária para microondas.

Desde o mês passado, a Light já vinha patrocinando campanhas para compras de eletrodomésticos. A concessionária carioca ofereceu bônus de R$ 100 para quem adquirisse produtos dos fabricantes Springer e Bosch. Na promoção, a Light conseguiu ligar à sua rede mais 50 geladeiras e 1.000 aparelhos de ar-condicionado.

As 64 distribuidoras de energia estão sendo obrigadas a estruturar as áreas de marketing para conseguir que os consumidores voltem a fazer uso dos aparelhos elétricos. A guerra publicitária mobiliza a Light e a Cerj que, juntas, devem gastar R$ 17 milhões em campanhas de incentivo ao consumo de energia, mas sem desperdício.


Artigos

Preto e Branco
José Carlos Azevedo

O novo critério da autodeclaração de cor, estabelecido pelo IBGE, resolveu de vez a questão da discriminação racial: agora, negro é quem se considera e se define como tal. O critério vale para candidatos a vagas em universidades, repartições públicas e empresas; se algum chinês ou escandinavo quiser estudar de graça em universidade pública brasileira, basta dizer que se considera de cor negra.

A reserva de vagas é ofensiva por considerar ineptas para o trabalho e o ensino superior as pessoas de cor negra; gera ainda questões de variadas ordens e, talvez por isso, o Sr. Carlos Moura, presidente da Fundação Cultural Palmares, tivesse dito, com ironia, quando discutiam como saber quem é ou não negro: ''Em caso de dúvida, é só chamar a polícia que ela sempre sabe''.

Um casal de cor negra, que tenha filho albino, pertence ou não à ''raça'' de cor negra? Essa questão remonta à criação do Universo, porque o Criador nunca teve simpatia pelos seres humanos e, por isso, colocou-os em uma espécie única, a do homem. Ele preferiu, sabiamente, os insetos, plantas e outros seres vivos, dos quais ainda há hoje mais de 750.000 tipos de insetos, 248.000 de plantas superiores, todos diferentes; o número de espécies distintas de animais ultrapassa hoje a 1 milhão.

O que é ''raça''? Nem sua etimologia é certa (ver dicionários etimológicos da Língua Portuguesa de A. Nascentes e de J. P. Machado; o Oxford English Dictionary registra ''of obscure origin''), o que faz ridícula a algaravia de burocratas que pretendem resolver, de forma simplória e autopromocional, a questão da discriminação. Todos pertencemos à espécie dos humanos e subdividi-la em ''raças'', como fazia o IBGE (branca, parda, preta, amarela e indígena) ou faz agora com o novo critério, caracteriza o racismo condenado pela Lei Afonso Arinos.

Nem a ancestralidade africana importa, pois há africanos com características nórdicas e é impossível classificar ''raças'' pela língua falada: há hoje em uso (L.L. Cavalli-Sforza e F. Cavalli-Sforza, The Great Human Diasporas, The History of Diversity and Evolution, 1998) cerca de 5 mil línguas e um número muito maior de dialetos, sugerindo uma só origem e constituindo outra evidência de que os humanos têm ancestrais comuns e abandonaram nossos parentes mais próximos, os gorilas e chimpanzés, há alguns milhões de anos.
Não há ''raças humanas'' e, por isso, é bizarra e inculta a declaração (O Estado de S. Paulo, 13/01/02) do secretário nacional de Direitos Humanos, Paulo Sérgio Pinheiro, favorável à reserva de vagas: ''Não dá para exigir teste de sangue e exame cromático da epiderme, quando a preocupação é repa rar injustiças seculares''.

Essas injustiças foram e continuam a ser cometidas contra negros, judeus, ciganos, árabes, asiáticos e outros grupos humanos, por racistas ignorantes, como os nazistas, que acreditavam em supremacia e diferenças biológicas entre raças, até de ordem sangüínea, como o secretário admite existir. Todos nós descendemos do primeiro ser vivo a apresentar vestígio de coluna vertebral, surgido na explosão de vidas no início do Cambriano, há uns 530 milhões de anos, provavelmente a minúscula ''pikaia'', pelo que se sabe.

Os seres humanos se diferenciam por motivos relacionados à Física elementar e o melhor exemplo talvez seja o dos pigmeus africanos, que residem em região onde a umidade chega a 100%; porque a absorção e a perda do calor por um corpo variam proporcionalmente à superfície e a geração do calor é proporcional ao volume, as pequenas dimensões dos pigmeus lhes permitem perder o calor do corpo de forma eficiente; eles morreriam se fossem de tamanho maior.
Um sueco grande e gordo, na mesma região da África, e um pigmeu na Suécia morreriam por motivos opostos, mas todos os demais aspectos biológicos dos suecos e pigmeus são iguais. Além disso, os antepassados das atuais pessoas de cor negra eram menos desenvolvidos intelectualmente do que os europeus que os escravizaram porque viviam onde a vegetação era abundante, a água farta, o clima ameno, a caça exuberante e a luta pela vida era mais fácil do que na Europa, nada exigindo melhor acervo tecnológico e cultural.

Se integrantes do Executivo, responsáveis por essas ''injustiças seculares'', ora exploradas demagogicamente, quiserem corrigir as crueldades e os desmandos cometidos contra minorias, será mais correto, mais eficaz e mais respeitoso garantir-lhes escolas decentes, condições de trabalho e de moradia condignas e não acenar-lhes com demagogias inconseqüentes.

''A idéia de raça na espécie humana não serve a nenhum propósito. A estrutura das populações humanas é extremamente complexa e muda de área para área; há sempre nuanças derivadas da migração contínua, dentro e fora de cada nação, o que torna impossíveis quaisquer distinções'' (Cavalli-Sforza, op. cit.).


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

O preço da afoiteza
Um bater de cabeças geral. Este está sendo, no momento, o preço pago pela afoiteza com que os partidos se lançaram não apenas ao debate, mas às providências eleitorais com imprudente antecedência e surpreendente desvio do foco na análise sobre as demandas do eleitorado.

É uma das razões pelas quais se dá essa verdadeira obsessão por pontos percentuais em pesquisas e uma exagerada importância ao fator marketing, a ponto de se confundir - deliberadamente - candidato com mercadoria, eleitor com consumidor. Sinais inequívocos de que se presta atenção ao adjetivo em detrimento do substantivo.

Resultado: à falta de algo mais concreto a fazer (entre outros motivos porque os prazos legais estão distantes e não obrigam a decisões definitivas agora), brigam entre si, expõem suas mazelas, correm, enfim, o risco de dar vários tiros nos pés.

Vejamos o PSDB, com Tasso Jereissati, de um lado, lembrando a cada instante que José Serra precisa ''decolar'' - o que soa a torcida contra - e os dirigentes do partido, de outro, a reclamar de tudo o que diz o governador, até quando ele não fala nada demais. Foi o caso da declaração, em Nova York, de que o empresariado brasileiro não tem medo do PT. Os tucanos ficaram ofendidos, pelo menos é o que registram nos jornais, quando Tasso apenas fez uma constatação que não poderia ser interpretada como intenção de puxar briga.

Tomemos o PMDB, no qual os próprios pré-candidatos se denunciam entre si e todos acusam a direção do partido disso ou daquilo. Agora mesmo, Pedro Simon deu entrevista apenas para reclamar que os caciques pemedebistas não querem candidatura própria. Bem, já era tempo de Simon notar isso e, a essa altura, do jeito que brigam, nem adianta ter candidato porque cada um fará o que bem entender.

O PFL, que não é tonto, fica como sempre ali, aparentando unidade, e, de um modo ou de outro, está numa posição muito mais confortável do que já esteve.

Mas os partidos de oposição perdem tempo só em engalfinhamentos, à exceção, talvez, do PPS, que - sabedor de que a trajetória será difícil - está cuidando de questões políticas objetivas como a manutenção da aliança com o PTB e a confirmação do acordo com o PDT. Se dará certo, é outra história, mas, pelo menos, quando Ciro Gomes resiste à tentação de dizer um desaforo a alguém, o partido se dedica apenas àquilo que a realidade indica seja agora o tempo ideal de trabalhar: a organização política de uma campanha que ainda não começou.

Santa Inquisição
E falando em PPS, o presidente do partido, senador Roberto Freire, confirma o clima de ânimos acirrados no campo oposicionista, ao comentar os ataques de Lula a Ciro que, segundo o petista, ''só diz bobagens'', e não é, na visão dele, um político de esquerda. Isso porque Ciro fez o mesmo que o prefeito petista de Porto Alegre, Tarso Genro, e criticou a partidarismo do Fórum Social Mundial.

''Não reconheço em Lula credenciais de visitador do Santo Ofício, para julgar quem seja ou não de esquerda. Não é ele, aliás, nem ninguém, que pode determinar a posição política dos outros.'' Freire aproveita para não deixar passar em branco a notícia de que, em janeiro, Lula teve um encontro secreto com Luís Antônio Medeiros e Orestes Quércia.

''Tenho a impressão de que esse tipo de aproximação descredencia ainda mais o Lula para julgar os outros e determinar o que está certo ou errado. Aliás, a minha impressão é a de que ele terá, com esse encontro, dificuldades mais adiante.''

Acordo francês
Assessor da Secretaria de Relações Internacionais do PT e articulador de um acordo do partido com o Partido Socialista Francês, Luis Favre, faz reparos e esclarecimentos a respeito do comentário feito ontem, aqui, considerando eleitoralmente inútil um acerto entre os candidatos Luiz Inácio da Silva e Lionel Jospin.

Favre diz que a cooperação entre os dois partidos não se prende exclusivamente à circunstância de Lula e Jospin estarem disputando as presidências das respectivas Repúblicas, mas que inclui outros fatores importantes, como ''o intercâmbio do debate político e o relacionamento entre as bancadas em ambos os Parlamentos''.

Quanto à utilidade prática de o primeiro-ministro francês declarar apoio a Lula, Favre aponta que ela guarda relação, não com os votos que o PT possa vir a obter com isso na eleição de outubro. ''Mas esse apoio evidentemente colabora para que haja uma visão internacional de que eventual vitória do PT não causará rupturas nem mudanças de rumo radicais no Brasil.'' Favre considera que o gesto de Jospin também tenha influência positiva sobre a elite econômica brasileira.

Já a presença de Lula no comício de encerramento de Jospin, em Paris, na concepção de Luis Favre, é boa para ambos. ''Para Jospin, que precisa atrair o eleitorado mais à esquerda, e para Lula, que terá contato com outros líderes socialistas europeus que estarão presentes.''


Editorial

NÃO AO DISFARCE

A farsa vai recomeçar. Mal foi preso, Maurício Hernandez Norabuena já conta com a presença da irmã, Cecilia Hernandez, que trabalha para o governo chileno. Ela vem acompanhada por um advogado e um representante da Comissão de Direitos Humanos do Chile. O bandido é chamado de ''revolucionário internacional'' pela irmã. Esse filme já passou aqui e o final foi vergonhoso para o Brasil.

Os atos de Maurício Norabuena no Chile podem ser até considerados políticos. Tentou matar Pinoch et, eliminou um de seus principais ministros, seqüestrou o dono de um jornal que apoiava entusiasticamente o golpe e explodiu bombas num quartel de carabineiros. Por isso foi condenado em seu país a duas prisões perpétuas. Conseguiu fugir e veio para o Brasil continuar a sua revolução particular.

Quando Abílio Diniz foi seqüestrado, também sob o pretexto de financiar movimentos revolucionários, os seqüestradores acabaram soltos um a um, terminando pelos canadenses David Spencer e Christine Lamont, que foram extraditados e libertados em meio à euforia dos defensores dos direitos humanos e do PT.

Agora chegou a vez de Norabuena fazer finança no Brasil. Para isso violou, brutal e grosseiramente, os direitos humanos de Washington Olivetto, cidadão brasileiro, sem qualquer vínculo com o Chile, que foi preso à força, surrado e colocado num cubículo, em tudo e por tudo igual às horrendas geladeiras existentes no famigerado Doi-Codi e em todos os cárceres da repressão da chamada Operação-Condor. Nelas, desprovido de qualquer contato com o mundo, o prisioneiro enlouquecia. Até hoje, os organismos de defesa dos direitos humanos estigmatizam (com toda a razão) os torturadores da direita. Por que deveriam apoiar, agora, torturadores da esquerda? Há dois pesos e duas medidas. A esquerda pode torturar? O que há de diferente num e noutro caso?

Norabuena pode até ter sido um criminoso político no Chile, um ''revolucionário''. Aqui é apenas um facínora que não tem direito a ser tratado como vítima. A vítima, objeto de solidariedade, chama-se Washington Olivetto. Ele foi torturado e abandonado para morrer sufocado, num estranho pacto entre policiais e bandidos. Salvou-se graças a um apagão e à iniciativa de uma jovem estudante de medicina.

Dizer que o seqüestrador não merece apoio dos grupos de defesa dos direitos humanos não significa dar sinal verde para maltratá-lo. É lógico que mesmo o pior facínora deve ser tratado civilizadamente. Não se pode torturar em hipótese alguma, como os seqüestradores fizeram, mas o tratamento adequado não exclui a dureza das sentenças e das penas.

Além disso, o Brasil, apesar de seus imensos e inegáveis problemas sociais, está politicamente em paz. Há violência, e muita, decorrente das desigualdades e da exclusão mas ainda não estamos tão desmoralizados a ponto de nos tornarmos território de caça para arrecadar fundos para causas, algumas até justificáveis e nobres (outras nem tanto).

Se a moda pega, vamos ter grupos de militantes da Al Qaeda seqüestrando para ajudar Bin Laden a permanecer escondido. A Eta e o Ira, por sua vez, poderão fazer comandos de seqüestradores arrecadarem fundos para financiar a luta pela independência de seus países. E por que não os curdos? Os tibetanos? Os chechenos? E os tamils? Que tal as Farcs? E isso sem falar das diversas facções palestinas...

O Brasil, que se notabilizou ao longo de sua História por promover a harmonia entre os povos, ameaça tranformar-se em gigantesca Palestina. Aqui, árabes e judeus coexistem em harmonia e amizade. A importação do crime é intolerável. Todos esses seqüestradores deveriam ter penas longas, sem possibilidade de redução, o que levaria outros criminosos e lunáticos a pensarem duas vezes antes de atuarem no Brasil. Já temos bastante dificuldades com o crime organizado para nos tornarmos fornecedores de matéria-prima para organizar o crime alheio.


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02/07/2002


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