Futuro ministro vai investir contra "timidez" do governo







Futuro ministro vai investir contra "timidez" do governo
Uma ofensiva contra a "timidez" do governo. Essa vai ser a marca da gestão do publicitário aposentado Luiz Vicente Goulart Macedo, 70, na Secretaria de Comunicação de Governo em substituição a Andrea Matarazzo, indicado para o posto de embaixador do Brasil em Roma.
Segundo a Folha apurou com amigos próximos ao novo ministro-chefe da secretaria, Macedo está espantado com a quantidade de fatos positivos que o governo estaria deixando de capitalizar por causa dessa suposta timidez.

Essa convicção ele teria adquirido ao ouvir um relato das ações do governo feito pelo próprio presidente Fernando Henrique Cardoso, na conversa que tiveram em Brasília na última semana de setembro, quando Macedo foi convidado para o cargo.
Embora diga aos amigos que essa ofensiva não está diretamente relacionada com o esforço para fazer o sucessor de FHC na Presidência, o novo titular da secretaria admite que indiretamente seu trabalho servirá a esse objetivo.

A posse de Macedo ainda não tem data marcada. Ela depende de o Senado aprovar o nome do atual ministro, Andrea Matarazzo, para a Embaixada em Roma.
A sabatina de Matarazzo na Casa, que iria acontecer na semana passada, foi adiada devido a um pedido de vista do senador Bernardo Cabral (PFL-AM).


Corridas de cavalo são hobby de publicitário
Gaúcho, sobrinho do ex-presidente João Goulart (1961-1964), Luiz Vicente Goulart Macedo, futuro ministro-chefe da Secretaria de Comunicação de Governo, herdou do tio um certo viés nacionalista. Embora tenha começado a carreira de publicitário em uma agência estrangeira (Grant Advertising), trabalhou durante o regime militar para proteger o mercado publicitário da invasão do capital estrangeiro.

Um dos donos da MPM, uma das maiores agências da época, Macedo defendia uma reserva de mercado da publicidade estatal para as agências nacionais. Mas, em 1991, sua própria agência acabou sendo comprada pela inglesa Lowe Lintas. Segundo seus amigos, Macedo acha que hoje não teria mais sentido sua antiga luta, até porque o capital estrangeiro está muito mais enraizado no mercado publicitário do país.
Sobre a entrada do capital externo na imprensa (projeto que tramita no Congresso), os amigos dizem que o futuro ministro não se sente bem informado para opinar, embora considere que sua aprovação pode resultar em melhoria do mercado de trabalho.

Macedo, que estréia em cargo público, conhece FHC, mas não pode ser considerado seu amigo.
A MPM fez a campanha de FHC para a Prefeitura de São Paulo, em 1985, e o publicitário foi vizinho e amigo íntimo de um tio do presidente. Sua ascensão ao Palácio do Planalto teria sido obra de uma "corrente de apadrinhamentos".

Cavalos
Ao aceitar o convite de FHC, Macedo terá de abandonar parcialmente sua maior paixão: as corridas de cavalo, às quais dedicou quase integralmente seus últimos oito anos.
Criador de cavalos puro sangue inglês, ele passa suas tardes no hipódromo da Gávea (zona sul do Rio), onde é proprietário de um stud (conjunto de cavalos de corrida) chamado Brincadeira.
Considerado uma das figuras mais influentes no Jockey Club Brasileiro, Macedo integrou a última diretoria da entidade e apoiou a atual chapa, presidida pelo empresário Julio Bozano (grupo Bozano, Simonsen). Casado, Macedo é pai de quatro filhos.


Debate no PT volta a enfrentar socialismo
O PT retoma hoje a discussão sobre ser ou não ser socialista. Em seminário com o tema "A luta pelo socialismo no século 21", parte de um ciclo iniciado no primeiro semestre, o partido volta a mexer no vespeiro de definir se, apesar das amplas alianças, da defesa de metas de inflação e de acordos com o FMI, pode ainda ser associado às idéias de igualdade que fizeram a doutrina se popularizar a partir do século 19.

Poucos assuntos dividem tanto o partido. Essa realidade deverá novamente se mostrar presente hoje, em debate que contará com um dos principais intelectuais da ala moderada do partido, o secretário de Cultura da cidade de São Paulo, Marco Aurélio Garcia, e um dos mais atuantes porta-vozes dos radicais, o 3º vice-presidente da legenda, Valter Pomar. O professor Juarez Guimarães, da Universidade Federal de Minas Gerais, também participa.

O primeiro e espinhoso passo é definir o que é socialismo, termo que costuma ser usado por petistas de todas as cores.
"Muita coisa cabe na definição", diz Garcia, para quem o socialismo passa longe da concepção bolchevique, de destruição do capitalismo. "Socialismo para mim equivale a pós-capitalismo, um estágio de superação do que existe hoje", declara. Segundo Garcia, o PT não propõe um governo socialista, mas um programa de mudanças "que instaure uma dinâmica própria no país".

"Propomos reformas econômicas, sociais e políticas que se chocam com certos aspectos fundamentais do capitalismo e resultam em distribuição de renda e socialização do conhecimento."
O seminário, para ele, não tem o caráter de "compensar" a militância pelos movimentos acelerados rumo ao centro que o partido tem adotado. "O PT é um partido que pensa. Não podemos fazer uma marcha cega, temos de nos guiar por determinados valores. Esse é o sentido do seminário", diz.

Grosso modo, as posições de Garcia traduzem o pensamento da cúpula moderada do PT, que tenta se equilibrar na corda bamba, defendendo o socialismo ao mesmo tempo em que nega a destruição do capitalismo. É a facção, majoritária, de Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu, e Marta Suplicy, entre outros.
Na corrente oposta, Pomar, representante da minoria radical -quer perfaz 30% do partido- diz que muitos dos que se definem como socialistas no PT são, na verdade, social-democratas.

"Doutrinariamente, defendem liberdade, mercado, e Estado controlando os excessos da propriedade privada. Mas não mencionam a propriedade coletiva nem a eliminação do capitalismo", diz.
Para ele, a maioria do partido enxerga que o socialismo é uma estratégia de longo prazo, que não está na ordem imediata do dia e muito menos na agenda de 2002. "A prioridade deles é chegar ao poder e eliminar o neoliberalismo, nem que tenham de se aliar a setores do empresariado e a partidos que não são de esquerda, como o PL", diz Pomar, que é contra a estratégia. "Combater a doutrina neoliberal não basta."
O seminário sobre socialismo é promovido pelo PT, pela Fundação Perseu Abramo (seu órgão de estudos políticos) e pelo Instituto Cidadania (ONG de Lula). Até 19 de novembro, haverá outros quatro debates.
Hoje, na sede do partido, no centro de São Paulo, haverá o lançamento de dois livros de personalidades ligadas ao PT


Aliança é combinação transitória, diz Candido
Antonio Candido, 83, um dos maiores intelectuais brasileiros e fundador do PT, não condena a possível aliança da legenda com o PL nem acredita que haja excesso de pragmatismo dentro do partido. Para ele, as alianças devem ser "combinações transitórias" e não "capitulação ideológica": uma "flutuação tática" para que o partido alcance seus objetivos.

Mas o risco de o PT cair num "reformismo da boca para fora" existe. "Nenhum partido de esquerda, por melhores que forem as intenções, está livre disso."
Professor emérito da USP, crítico literário e autor do clássico "Formação da Literatura Brasileira" (1959), Candido afirma que existe uma dialética na política socialista, que "consiste em modular a atividade política distinguindo bem o que é transitório e o que é alvo final". Leia abaixo a entrevista dada à Folha, por escrito.

Folha - Parece haver um descompasso entre os seminários sobre socialismo e democracia promovidos pelo Instituto Cidadania, ligado ao PT, e a orientação política do partido, cada vez mais moderado e pragmático, a ponto d e flertar com o PL para as eleições de 2002. Como as coisas se encaixam?
Antonio Candido - Sinceramente, não creio que haja esse descompasso. Para mencionar algo óbvio, em toda atividade política há dois níveis, desde que não se trate de mero oportunismo. Dois níveis que nem sempre coincidem exatamente, e o esforço deve ser no sentido de fazê-los coincidir o mais possível. Assim é que o PT tem objetivos remotos, que podem ser resumidos como esperança de uma sociedade realmente igualitária. Este é o seu norte, que inspira a prática de cada momento, e os seminários são feitos com vistas a ele. E há objetivos imediatos, ligados à conquista do poder para ter condições de tentar a realização quanto antes da esperança. Esta é a conduta política no dia-a-dia de uma sociedade desigual, excludente e desumana, como a nossa. Se o partido esconder, deformar ou puser de lado aquela esperança, então, sim, estará abandonando os seus ideais e transformando a tática do momento em princípio diretor (como faz a maioria dos partidos).
Não creio que isso esteja acontecendo no PT, porque a cada oportunidade os seus órgãos e os seus líderes continuam afirmando os seus princípios e a sua deliberação de caminhar segundo eles. Por isso costumo dizer que a política socialista é essencialmente bifocal, combinando a busca do futuro e a injunção do momento num esforço simultâneo. Os órgãos de comunicação costumam nos cobrar alternadamente tolerância quando lhes parece que somos radicais e radicalidade quando lhes parece que somos tolerantes. É a dialética deles. A nossa consiste em modular a atividade política distinguindo bem o que é transitório e o que é alvo final.

Folha - O PT não ruma para se afirmar como o verdadeiro partido social-democrata brasileiro?
Candido - É bom lembrar que "social-democracia" já foi expressão nobre no universo das lutas sociais, pois se caracterizou por atividades políticas fecundas e conquistas espetaculares no sentido de arrancar do capitalismo o que exigiam os trabalhadores organizados. Isso se deu sobretudo na Europa, com ponto alto nos países de língua alemã. Depois, lá mesmo, foi ficando uma espécie de "amaciador" das relações entre capital e trabalho, perdendo muito da radicalidade. No Brasil, foi sempre um conceito comprometido, desde que em 1945 Getúlio Vargas o utilizou para denominar um partido de direita marcado pela sinuosidade tática e a capacidade infinita de negociar.
Digo isso para concluir que, se o PT for um partido com a consciência teórica e a força militante da velha social-democracia européia, seria excelente, a despeito do nome. Mas sei que a sua pergunta não se refere a isso e penso que pode ser interpretada assim: será que o PT vai acabar num vago reformismo da boca para fora, que o levará a se unir a partidos de direita, descaracterizando-se ao longo das concessões eleitoreiras?
Reconheço que a sua indagação é oportuna, porque este é o perigo maior dos partidos de esquerda que aceitam o jogo democrático estabelecido, feito de contemporizações, transigências, alianças por vezes estranhas. Nenhum partido de esquerda, por melhores que forem as intenções, está livre disso. Lembre que mesmo o monolítico PCB apoiou em 1946 Adhemar de Barros para o governo de São Paulo... O importante, penso eu, é que tais arranjos sejam combinações transitórias e não signifiquem capitulação ideológica, além de serem condições para avanços substanciais. Neste sentido, atividade como a do nosso seminário, entre outras, são necessárias para manter o rumo certo. Pessoalmente, creio que o PT saberá mantê-lo, inclusive devido à amplitude do seu leque ideológico, que, sempre dentro do socialismo, facilita o ajustamento às necessidades de flutuação tática nos diferentes momentos.

Folha - Passado um ano e meio do início do seminário, qual o balanço que o sr. faz? A discussão deve instruir a prática política do PT?
Candido - Acho que os seminários foram oportunos e deram bom resultado. Uma coisa que me impressionou bem foi a atmosfera de tolerância entre expositores, comentadores e debatedores.
Como sabe, o PT possui várias tendências, o que é bom, porque sabemos no que deram os partidos monolíticos na história do socialismo. As nossas tendências às vezes se enfrentam com vivacidade, discordam, disputam, mas acabam aceitando as decisões da maioria, o que mostra a unidade fundamental. Os seminários deixaram clara a importância da diversidade na troca de idéias e no esforço de conhecimento. É um traço positivo que influi de maneira também positiva na prática.


Cerca de 2 mi participam do Círio
Cerca de 2 milhões de romeiros participaram ontem da procissão do Círio de Nazaré, em Belém (PA), uma das maiores festas religiosas do país. A estimativa foi feita pela organização -não houve contagem independente.
A procissão começou por volta das 6h e percorreu cerca de 5 km entre a catedral da Sé e a basílica de Nazaré. Os fiéis acompanharam a imagem de Nossa Senhora de Nazaré durante seis horas e meia pelas ruas de Belém.
Os devotos atenderam ao pedido da organização da festa e vestiram branco para simbolizar a paz mundial, em referência aos atentados terroristas nos EUA, que aconteceram no mês passado, e a retaliação contra o Afeganistão.

Os postos móveis de saúde do evento atenderam pelo menos 20 pessoas que desmaiaram devido ao calor de 32C. Os romeiros seguiram a tradição religiosa percorrendo o trajeto descalços e segurando a corda que conduz a imagem da santa. Muitos passaram a noite ao lado da corda para garantir sua vaga.

Como em toda festa desse porte, o Círio atraiu diversos políticos. Acompanharam a passagem da santa governadores como Almir Gabriel (PSDB-PA) e o cearense Tasso Jereissati (PSDB), um dos pré-candidatos de seu partido à Presidência em 2002. Outro presidenciável tucano, o ministro José Serra (Saúde), também esteve presente, assim como o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Nenhum deles falou sobre política.
As comemorações continuarão por mais duas semanas. O Círio é realizado no segundo domingo de outubro desde 1793. A estátua da santa teve origem na cidade de Nazaré na Galiléia, em Portugal.


Produção de máquinas deve crescer 30%
A indústria de bens de capital (máquinas e equipamentos, majoritariamente), considerada pelo IBGE como o principal suporte do crescimento industrial brasileiro de 3,9% de janeiro a agosto, deve crescer até mais de 30% este ano, dependendo do setor.
Segundo o presidente da Abdib (Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústria de Base), José Augusto Marques, a produção de equipamentos para a indústria de petróleo deverá crescer este ano mais de 30%, superando a estimativa feita no início de 2001.

O empresário disse que não se trata de uma bolha de crescimento sustentada pela procura por geradores elétricos, trazida pelo racionamento de energia, mas de uma expansão, sustentada por projetos de longa maturação, que deverá se estender por 2002, "se não houver nenhuma catástrofe".
Segundo Marques, o crescimento de 16,3% até agosto na indústria de bens de capital (dado do IBGE) foi sustentado principalmente por três setores: equipamentos para petróleo, equipamentos para a construção e equipamentos para energia elétrica.

A produção de equipamentos para as próprias fábricas, que em agosto deste ano cresceu 14% em relação a agosto de 2000, também está em expansão. Mas a Abdib já considera satisfatório se ela atingir um crescimento de 10%.
Sobre a indústria de equipamentos para energia elétrica, Marques diz que seu crescimento tem influência da maior procura por geradores. Mas destaca que a expansão tem origem mais antiga, na produção de equipamentos para novas usinas e linhas de transmissão, licitadas pelo governo para o setor privado desde 99.

As novas hidrelétricas em construção, como a de Serra da Mesa, e m Goiás, e as obras rodoviárias dos contratos de concessão de rodovias ao setor privado são, segundo a Abdib, os principais motores da expansão na indústria de equipamentos para a construção.

Luiz Carlos Delben Leite, da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas), é menos otimista. Segundo ele, a produção está aquecida, mas o número de novos pedidos vem caindo.
Os dados da Abimaq mostram que o faturamento da indústria de máquinas cresceu 30,4% de janeiro a agosto, mas Delben Leite avalia que, no fechamento do ano, esse crescimento deve ficar em 15%.
Segundo ele, o crescimento, em parte, deve ser creditado a um um efeito estatístico gerado pela retomada de encomendas nos últimos anos, após quase uma década de encolhimento. "Na década de 80, a indústria de bens de capital faturava US$ 25 bilhões por ano. No ano passado, ela faturou cerca de US$ 10 bilhões", disse.
Para Delben Leite, as encomendas atuais decorrem de projetos que começaram há muito tempo. Com a retração da economia este ano, avalia, o crescimento do setor não vai passar de 4% em 2002.


Empréstimos e compras aumentam
Os dados de financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e os das compras da Petrobras confirmam as estatísticas do IBGE e das entidades setoriais sobre o crescimento da indústria de bens de capital.
Os empréstimos do banco estatal para a compra de máquinas e equipamentos atingiram R$ 3,6 bilhões até setembro, crescendo 28,6% em relação aos R$ 2,8 bilhões do mesmo período de 2000.

Somente para a compra de máquinas agrícolas, a Finame, agência do BNDES especializada em financiamentos para máquinas e equipamentos, emprestou até setembro R$ 1,8 bilhão, com crescimento de 102% sobre o mesmo período do ano passado.
Na área de energia elétrica, os dados da Finame mostram que só para a compra de geradores a subsidiária financiou 711 unidades, no total de R$ 57 milhões. Do total de geradores financiados, 675 foram negociados a partir de maio, quando o governo decidiu que faria o racionamento de energia.

Os números, até agosto, referentes às compras da Petrobras, a maior consumidora de equipamentos pesados do país, também confirmam o crescimento da indústria de bens de capital no país.
A estatal comprou R$ 781,75 milhões nos oito primeiros meses deste ano, com crescimento de 13,6% sobre as compras do mesmo período do ano passado (R$ 688,08 milhões).


Artigos

Guerra sem alvos
CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Pode parecer falta de respeito - e é mesmo. Não levo as guerras a sério, apesar das mortes que provocam, da destruição que espalham, do ódio que alimentam.
Escombros e cadáveres à parte, acho ridículo qualquer tipo de guerra. Desde a do Peloponeso, narrada por Tucídides, até a atual, narrada pela CNN, incluindo a das cervejas, entre a Brahma e a Antarctica.
Botar um avião que custa mais de US$ 2 bilhões contra um casebre que nem vale US$ 1.000 - é uma piada, piada de humor negro infelizmente, mas piada.

No final da última semana, a guerra teve uma trégua, não por causa de um feriado religioso do inimigo, mas por falta de alvos a atacar.
Há alguma coisa de errado em tudo isso. O equipamento de um lado é de última geração, mecanismos complicadíssimos, projetados por uma guerra cósmica contra adversários galácticos, quando as pistolas pioneiras de Flash Gordon não passam de peças de museu.

Do outro lado, temos os homens da caverna, entocados como os trogloditas da Idade da Pedra, mas dispondo de uma tecnologia artesanal - embora pareça um paradoxo: tecnologia e artesanato.
Na imagem mais divulgada de Osama bin Laden, durante a semana que passou, o que mais chamou a atenção foram o relógio digital e o microfone - ambos antigos, o Silvio Santos exibe relógio e microfone mais modernos. O fuzil ao lado do terrorista só é mais recente do que os mosquetões modelo 1918, usados na 1ª Guerra Mundial.

Já assinalaram o caráter assimétrico desta guerra. Arsenal cósmico contra cavernas pré-históricas. Mas não se pode acusar os Estados Unidos de crueldade. Eles é que sofreram a crueldade de um ato terrorista sem igual na história.
E, apesar de seus armamentos, que levam a destruição, mas antes a anunciam, continuam sofrendo a crueldade do terror que pode explodir a qualquer instante.


Colunistas

PAINEL

Sinal dos tempos
FHC chegaria em último lugar em uma hipotética eleição presidencial disputada apenas por ex-presidentes da República, segundo pesquisa do Instituto GPP, ligado à UFRJ. O tucano teria 15,8%, atrás de Itamar Franco (22,2%) e de José Sarney, que seria eleito com 31,8%.

Memória fraca
O bom desempenho de Sarney empolgou o PFL. Segundo a sigla, a pesquisa desmonta a tese de que Roseana poderia ser prejudicada em 2002 pela imagem do governo do pai. Mas adversários dizem que é fácil fazer a população recordar os tempos de superinflação dos anos Sarney.

Show particular
Luiz Antônio de Medeiros foi ao show de Eric Clapton na quinta passada para testar sua popularidade após as acusações de que desviou US$ 2 milhões de um instituto que presidiu. O deputado comemorou muito o fato de não ter sido vaiado. Resta saber se alguém o reconheceu...

Cofre fechado
De 366 programas previstos no Orçamento da União, 31 (8,5%) não receberam nenhum centavo de investimento até o fim de setembro. E 70% dos projetos obtiveram menos de 50% do previsto. O levantamento é do Inesc, ONG que acompanha a execução dos gastos.

Prioridade social
Projetos de saneamento básico e de infra-estrutura estão entre os que receberam zero de investimento. Programas do Ministério da Saúde também foram mal contemplados, como o de saúde mental, que recebeu apenas 0,23% do previsto.

SOS Fundap
A associação dos funcionários da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap) de SP enviou um pedido de socorro ao Ministério Público. Alckmin e Covas teriam desencadeado processo de esvaziamento do órgão. Em 95, havia 150 técnicos. Hoje, são 60.

Tema de campanha
ACM diz que pretende retomar o caso da violação do painel na eleição de 2002. "É bom para esclarecer de uma vez por todas que o PT realmente votou no corrupto (Luiz Estevão)."

Tampa aberta
O caso do painel eletrônico, que provocou a renúncia de ACM, ainda causa mal-estar no Senado. Laudo da PF confirmou conclusão da Unicamp de que o sistema possibilita a adulteração de votos. Mas ninguém quer colocar o dedo na ferida.

Dúvida cruel
A movimentação dos Covas em favor de Tasso deixou aliados de Serra em SP sem saber o que fazer. Se forem ao evento preparado pela família para promover o cearense, vai parecer que apóiam sua candidatura. Se faltarem, estarão sendo deselegantes com a dona Lila.

Afinidade por região
Ao ser questionado sobre quem é o seu candidato preferido para a Presidência, Albano Franco (PSDB-SE) elogia Serra e Tasso antes de insinuar sua preferência: "Você sabe como é, eu sou governador no Nordeste".

Rodízio de cargos
Paulo Renato (Educação) jantará hoje com deputados estaduais do PSDB-SP. O ministro vai insistir na tese de que está na disputa pela Presidência. Mas a real intenção do tucano é amarrar sua candidatura ao Senado.

Guerra interna
O PT prevê uma briga pesada no diretório do RS entre Olívio Dutra e Tarso Genro pela candidatura ao governo do Estado.

Discurso e prática
De Valdemir Garreta, secretário de Marta, sobre Heloísa Helena (PT) dizer que a prefeita legitima argumentos "fraudulentos" de FHC ao reclamar de CPIs na Câmara de SP: "Mais uma vez a senadora, que se auto intitula radical, serve de instrumento à direita para atacar o PT".

TIROTEIO
Do ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB), sobre o PT negociar o apoio do PL para a sucessão de FHC:
- O PT passou anos criticando o PSDB pela aliança com o PFL, que é um partido neoliberal. Agora, faz de tudo para ter o apoio do PL, um partido liberal puro, em 2002. Vai entender...

CONTRAPONTO

Centralismo democrático
Dias atrás, Antônio Britto, recentemente filiado ao PPS, participou de um jantar com deputados e senadores de seu novo partido. O encontro aconteceu em um restaurante espanhol de Brasília. Entre um prato de paella e uma taça de vinho, os aliados de Ciro Gomes discutiram a estratégia eleitoral para 2002.
Após o jantar, os parlamentares decidiram tirar uma foto com o ex-governador do RS. O senador Roberto Freire tentou organizar a fotografia:
- Vamos dividir pela altura. Os mais altos ficam atrás e os mais baixos, na frente. Assim todo mundo aparece.
Britto ouviu a sugestão e provocou Roberto Freire:
- Roberto, quando cheguei a Brasília, em 88, você mandava na Constituinte. Voltei em 94 e você mandava no governo Itamar. Agora, volto e você quer mandar até no fotógrafo! Dá uma chance para outro mandar!


Editorial

CRÍTICA AO DUALISMO

O presidente Fernando Henrique Cardoso tem se mostrado equilibrado ao manifestar-se sobre a crise que se abate sobre o planeta depois dos atentados aos Estados Unidos. Não tem deixado faltar aos norte-americanos a solidariedade que lhes é devida nem a Washington o apoio, dentro das módicas possibilidades ao alcance das autoridades brasileiras, na tarefa de investigar a autoria do odioso ato.

Mas, pelo menos em duas ocasiões, FHC não deixou de manifestar pontos de vista divergentes daqueles produzidos a partir da Casa Branca e de Downing Street -residência oficial do primeiro-ministro britânico. Foi assim quando tomou o cuidado de prevenir contra aqueles que reconheciam na luta contra o terrorismo um conflito tradicional -contra um país ou contra um grupo específico de nações.
Na quinta-feira passada, em ato de formatura de novos diplomatas, FHC teceu críticas a um repisado argumento do presidente George W. Bush, o de que quem não está com os EUA nessa ofensiva está contra os EUA. "A tendência ao pensamento binário -ou está com o bem ou está com o mal- é muito perigosa e muito comum", argumentou o presidente brasileiro.

FHC chegou a esboçar linhas de ação para a atuação externa brasileira que se coadunariam com uma posição menos adesista e mais independente. Defendeu que a instância de mediação para este e outros conflitos internacionais seja o G-20. Esse grupo, de que o Brasil faz parte, reúne as economias desenvolvidas e em desenvolvimento mais representativas do planeta. Questionou a legitimidade, para esse fim, do G-8, que reúne a Rússia e as sete nações mais ricas.

O que é triste constatar é que essa e outras manifestações retóricas do presidente da República não tenham contribuído, efetivamente, para um reordenamento do poder em escala global. As nações em desenvolvimento, mesmo as mais importantes como Brasil, México e Índia, continuam alijadas dos fóruns em que são tomadas as grandes decisões.


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10/15/2001


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