Garibaldi recebe Mário Soares
O senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) recepcionou durante três dias, em Natal, o ex-presidente e ex-primeiro-ministro de Portugal Mário Soares. Garibaldi recebeu Mário Soares por designação do presidente do Senado, Renan Calheiros. A visita - a primeira do ex-presidente de Portugal a Natal e a segunda ao Brasil - teve como objetivo firmar intercâmbio cultural entre a Fundação Mário Soares, que ele preside em Portugal, e instituições ligadas à cultura potiguar, como a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico do estado, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a Universidade Potiguar.
Garibaldi afirmou que a vinda de Mário Soares ao Brasil contribui para o engrandecimento da cultura luso-brasileira. O senador lembrou que o ex-presidente português foi um dos principais responsáveis pela consolidação da então Comunidade Européia e destacou que, sob sua liderança, Portugal atingiu um novo patamar de desenvolvimento político e econômico.
- Nós, políticos brasileiros, envoltos em uma realidade de descrença popular e desafiados a promovermos os necessários avanços que façam do Brasil uma Nação desenvolvida, temos muito a absorver das lições de Mário Soares. Se existe um símbolo da moderna democracia portuguesa - da mesma forma que Ulysses Guimarães sintetizou a resistência, no campo democrático, ao governo militar no Brasil - esse símbolo é Mário Soares - ressaltou.
Durante sua permanência na capital potiguar, o estadista português se disse sensibilizado com a cordialidade dos "irmãos brasileiros" e com as várias homenagens que lhe foram prestadas por políticos locais e membros da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras. Ele participou de diversas cerimônias e presenciou a sanção de leis que criaram dois importantes marcos culturais para a cidade de Natal: o Museu de Cultura Popular e o Memorial Natal. Mário Soares, inclusive, assinou o livro "Amigos do Memorial Natal" em segundo lugar. A primeira assinatura será do arquiteto Oscar Niemeyer, autor do projeto do Parque da Cidade, que está sendo construído na capital do Rio Grande do Norte.
O ex-presidente de Portugal proferiu uma palestra na noite de quinta-feira (17) sobre o tema "Portugal e Brasil: conjuntura mundial e União Européia". Durante uma hora de exposição, Soares disse que vê com grande otimismo o papel do Brasil no mundo e observou que, juntamente com outros países emergentes, o país contribui para que o cenário mundial volte a ser multilateral.
- As relações entre nossos dois povos são, e sempre foram, excelentes, de grande irmandade, com profundas raízes históricas, que as reforçam, desde o descobrimento do Brasil, por Pedro Álvares Cabral e os seus navegantes, em 1500 -ressaltou.
Ao relembrar sua experiência de exílio na França, onde permaneceu por quatro anos, Mário Soares contou que, quando retornou a Portugal, empenhou-se em resolver três problemas que afligiam seu país: pôr fim às guerras coloniais, que se prolongavam há 13 anos, em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, sem solução militar; substituir o regime ditatorial "caduco" salazar-caetanista por uma democracia pluralista de tipo ocidental; e fazer com que Portugal aderisse à então Comunidade Econômica Européia (CEE), como contraponto necessário à independência das colônias e à conseqüente perda do chamada império colonial português. Todos esses objetivos foram atingidos, afirmou Mário Soares. E acrescentou:
- E em um espaço de tempo recorde, apesar da turbulência dos primeiros anos que se seguiram à revolução e que procurava fazer de Portugal um país do terceiro mundo ou, pior, transformá-lo em uma espécie de Cuba Européia.
A globalização neoliberal e a "teologização" do mercado como supremo valor, acredita Mário Soares, se não forem regulamentadas por princípios éticos e jurídicos estritos, impostos e fiscalizados pelas Nações Unidas, contribuirão para que o capitalismo, "na sua fase financeiro-especulativa" acabe muito mal, sujeitando a Humanidade a terríveis confrontações. Já com relação à União Européia, ele acredita que alguns Estados-membros a vêem apenas como uma área de livre câmbio e não como um projeto de paz muito mais ambicioso, que leve à criação dos Estados Unidos da Europa.
Ao fazer uma análise do comportamento do presidente americano George W. Bush, Mário Soares comentou que o presidente dos Estados Unidos "vai mal" porque, de uma só vez - na invasão do Iraque -, desrespeitou as regras do direito internacional, ao partir para a guerra sem autorização das Nações Unidas; e dos direitos humanos, ao permitir que soldados norte-americanos cometessem abusos contra prisioneiros. Na avaliação de Mário Soares, a invasão do Iraque foi ainda pior do que representou a guerra do Vietnã.
Já quanto ao governo de Hugo Chávez, que ele classificou de assistencialista e complexo, disse que, apesar de ser amigo do presidente da Venezuela, não concorda com alguns aspectos da política que é desenvolvida naquele país.
Ao final de seu discurso, o ex-presidente de Portugal Mário Soares afirmou que é vontade do povo que seu país pertença ao núcleo mais avançado europeu e que espera que a relação de amizade com o Brasil seja baseada em valores comuns e em laços de uma efetiva solidariedade.
Informações da assessoria de imprensa do gabinete do senador Garibaldi Alves Filho
18/05/2007
Agência Senado
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