Garotinho radicaliza opção religiosa para ter sobrevida









Garotinho radicaliza opção religiosa para ter sobrevida
Arraes condena nova tática eleitoral de campanha que vive crise

Enfraquecida pela falta de recursos financeiros, a campanha presidencial de Anthony Garotinho (PSB) decidiu radicalizar sua identificação com os segmentos evangélicos na esperança de voltar a crescer. Segundo Garotinho, no próximo domingo haverá um "clamor" por sua candidatura em todas igrejas evangélicas do país.

"Presbiteriana, batista, metodista, Assembléia de Deus, Universal, Paz e Vida, as igrejas independentes, as pequenas denominações, todas elas, estarão fazendo em todas as cidades do Brasil um clamor de cinco minutos no culto da noite em favor daquele propósito que Deus colocou no meu coração", disse.

A declaração foi feita ontem por Garotinho no programa "Na Paz do Senhor de Coração", da FM Melodia, rádio evangélica que pertence ao ex-deputado Francisco Silva. O programa, diário, é retransmitido para 11 Estados e para o Distrito Federal. O comando da campanha acredita que se dobrar a intenção de votos entre os evangélicos, Garotinho terá chances de estar no segundo turno. A estratégia explica a ênfase religiosa que o ex-governador do Rio passou a imprimir nos últimos dias a seus discursos eleitorais.

Na semana passada, o candidato se reuniu com líderes das 14 maiores igrejas evangélicas do país (tradicionais e pentecostais), em Belo Horizonte (MG). No encontro, foi exibida pesquisa da coordenação da campanha na qual Garotinho aparece em primeiro lugar entre os evangélicos.

Uma das medidas práticas será a montagem de 5 milhões de comitês familiares. A campanha vai entregar folhetos, cartazes e vídeos com pregações do candidato para serem divulgados por famílias evangélicas, que deverão fazer o papel de cabos eleitorais.

Segundo o coordenador da campanha, Márcio França, a pesquisa do partido ouviu evangélicos e não-evangélicos e constatou que Garotinho tem 37,5% dos votos dos evangélicos e 9,1% dos não-evangélicos consultado. França afirmou que a meta é atingir 70% dos votos dos evangélicos para garantir Garotinho no segundo turno.

Racha
A estratégia está rachando o partido. Ontem, em reunião da cúpula do PSB com Garotinho, em Brasília, o presidente do partido, Miguel Arraes, e o vice candidato, José Antônio Almeida, condenaram a tática.
"Não tem sentido falar só para evangélicos. Devemos falar para todos os brasileiros, católicos, adeptos do candomblé, espíritas, sobre assuntos que tocam a todos", disse Arraes, sem confirmar a "evangelização" da campanha.

"Não há porque voltar a um discurso de um segmento da sociedade. O discurso deve ser das nossas propostas", afirmou Almeida.

No final da reunião, Garotinho afirmou que não haverá "evangelização" da campanha. Segundo ele, a estratégia é fortalecer a campanha entre um segmento que tem disposição de votar nele.

Renúncia
A avaliação geral da campanha e da direção do PSB é de que dificilmente Garotinho renunciará. Assessores avaliam que o desgaste da renúncia poderia inviabilizá-lo em outra eleição presidencial. Além disso, ele continua a contar com o principal apoio dentro do PSB, que é o presidente do partido, Miguel Arraes, que ontem novamente o defendeu.

O vice-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, diz que a falta de dinheiro é o principal problema da campanha. Em função disso, Amaral explicou que a estratégia adotada, desde a semana passada, foi a de concentrar a campanha em segmentos onde Garotinho tem mais força e capacidade de crescimento -evangélicos e Estado do Rio.

Isso fez com que o candidato abandonasse compromissos já assumidos com os candidatos a governador do partido na Bahia, Pará, Ceará, São Paulo, Rondônia e Distrito Federal, causando fortes reações contra a candidatura.

"Pode escrever aí: fui abandonado pelo Garotinho e a direção nacional do PSB", afirmou o candidato do PSB ao governo do Pará, Ademir Andrade.

TV Globo
No programa da Melodia de ontem, Garotinho criticou a Rede Globo. "Estou precisando realmente da oração de todos os meus irmãos, porque eles da TV Globo" estão me perseguindo só porque eu sou evangélico. É uma discriminação religiosa. Parece que não gosta de crente."

Em nota respondendo a Garotinho, a Central Globo de Comunicação afirmou: "O telespectador é testemunha da nossa isenção e equilíbrio na cobertura da campanha eleitoral. Dentro do mesmo princípio ético, nossa linha editorial determina o respeito a todas as religiões. Essas duas premissas não conflitam com a nossa missão de denunciar irregularidades envolvendo candidatos, sem distinção de espécie alguma."


Ibope dá vitória para Ciro no 2º turno
Vantagem do candidato do PPS sobre Serra cresce de 7 para 13 pontos

Pela primeira vez em levantamento realizado por um dos principais institutos, o líder da disputa presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), perde para um de seus atuais adversários em simulação do segundo turno da eleição.

Segundo a pesquisa mais recente do Ibope, Ciro Gomes (PPS) bateria o petista em eventual confronto final por 47% a 40%.

Assim como ocorreu com o Vox Populi divulgado na segunda-feira passada, o novo Ibope mostra o crescimento da distância entre Ciro, segundo colocado, e José Serra (PSDB), terceiro.

Aumentou de 7 para 13 pontos percentuais a vantagem do candidato da Frente Trabalhista sobre o tucano. Ciro, que tinha 22% das intenções de voto no levantamento anterior do instituto, agora aparece com 26%. E o tucano passou de 15% para 13%.

Ao mesmo tempo, diminuiu de 11 para 7 pontos a diferença entre o ex-governador do Ceará e o candidato do PT, que manteve os mesmos 33% da sondagem apresentada há uma semana.

Ciro foi o único a se movimentar fora da margem de erro, de 2,2 pontos. Anthony Garotinho (PSB) oscilou de 10% para 11%.

Encomendado pela Rede Globo para divulgação no "Jornal Nacional" de ontem, o levantamento ouviu 2.000 eleitores em todo o país entre 21 e 23 de julho.

O momento captado pela pesquisa é bastante semelhante ao registrado pelo Vox, que realizou seu campo nos dias 20 e 21.

Empate em segmentos
Além do ineditismo do resultado da simulação da etapa final, Márcia Cavallari, diretora do Ibope Opinião, chama a atenção para alguns resultados segmentados da disputa de primeiro turno.

De acordo com o levantamento, a situação é de empate técnico entre Lula e Ciro em grupos como mulheres, eleitores de instrução superior e média, pessoas na faixa etária de 35 a 49 anos e habitantes de pequenos municípios.

"Segmentos mais informados e de renda mais elevada, responsáveis por parte do movimento ascendente do candidato do PPS nas pesquisas, têm um voto menos volátil, que não se perde com tanta facilidade", diz a diretora do Ibope Opinião.

Ela observa ainda a penetração de Ciro entre eleitores que aprovam a administração FHC. Entre os que a classificam como "boa", Ciro está cinco pontos à frente de Serra, o candidato do governo.


Tasso diz não ter "obrigação ética" com Serra
Tucano critica o que considera favores do Planalto a seu rival estadual e afirma que não irá romper com Ciro "jamais"

O ex-governador do Ceará Tasso Jereissati, candidato ao Senado pelo PSDB, acusa o governo Fernando Henrique Cardoso de estar liberando "fortunas" de forma "esquisita" e "escandalosa" para favorecer o candidato tucano José Serra e seus aliados do PMDB. No Ceará, os peemedebistas são viscerais adversários de Tasso.

Uma dessas "fortunas" seria de R$ 25 milhões para pequenos cimentados que não custam mais que R$ 15 mil ou R$ 20 mil cada um. Tasso ligou para velhos aliados tucanos, do governo e da campanha Serra, e susp endeu a liberação. "Seria um escândalo. O FHC deveria se sentir eternamente grato a mim e me dar três beijos na testa pela suspensão", disse ele à Folha em entrevista anteontem, no seu escritório particular.

Tasso não admite explicitamente, mas não há dúvidas de que suas relações com o Planalto e com a campanha de Serra estão virando uma guerra. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Folha - Por que o sr. só fala no Ciro Gomes na campanha aqui no Ceará? Ele é o seu candidato?
Tasso - Você está falando isso por causa daquela fita clandestina de comícios? Houve um grande equívoco na interpretação daquilo. Não se tratava de manifestação pró-Ciro. Era apenas uma manifestação da nossa campanha estadual, em cima da nossa realidade estadual. Nenhum de nós pediu voto para Ciro, fez apologia de Ciro. O nome dele foi falado? Foi, claro. Ele é um político do Ceará. Foi vereador, prefeito e governador aqui. Quando falo ao povo dos últimos 16 anos de governo aqui, tenho que lembrar que parte disso [90-94" passou pelo Ciro.

Os outros políticos no palanque eram Patrícia Gomes (PPS), candidata ao Senado, como eu, que foi primeira-dama no governo Ciro, e o senador Lúcio Alcântara (PSDB), candidato ao governo, ex-vice dele. Como não citá-lo? Mas não citamos pedindo voto.

Folha - E por que não citaram o nome do candidato tucano, Serra?
Tasso - Não citei o Serra porque todo o clima era local, o evento era local. Mas, na verdade também, eu não me sinto na obrigação de citar o Serra. Não me sinto na obrigação de ter um comportamento ético e político em relação ao Serra. Sinto-me, sim, com a obrigação de ter um comportamento ético e político com o meu partido -e nisso eu vou até o fim.

Folha - Por que o sr. não se sente comprometido com o Serra?
Tasso - Porque, desde o início, eles, lá, tiveram grandes discussões sobre qual o palanque que iriam querer no Ceará para a campanha para a Presidência. Veja lá os arquivos da própria Folha e você vai ver que eles discutiam se o palanque do Serra seria o nosso ou seria o do nosso adversário direto, o PMDB. Agora, há sinais provados, comprovados e repetidos de ajuda concreta para o palanque do adversário. Quem me desobrigou de qualquer compromisso, portanto, foi o próprio comando da campanha majoritária.

Folha - Há um outdoor do Serra logo na saída do aeroporto. Quem colocou lá?
Tasso - E eu sei lá?! Não tenho a menor idéia. Nosso pessoal no comitê aqui nunca recebeu material nenhum da campanha do Serra. Então deve ter sido o pessoal do comitê adversário que botou lá.

Folha - E quem gravou os dois comícios em que o sr. só fala do Ciro?
Tasso - Isso é chocante! É chocante e repugnante que, depois de tudo o que aconteceu nos últimos meses neste país, eu também esteja sendo filmado, seguido, gravado clandestinamente, com fins políticos. E também que depois chegue tudo anonimamente, covardemente, à redação da Folha.

Não fiz nada escondido, nada amoral, nada antiético. Não precisavam ter me gravado. Eu diria a mesma coisa, igualzinha, para a Folha, no Palácio do Planalto, no Rio, em qualquer lugar. Foi uma gravação clandestina repugnante.

Folha - O que o sr. quis dizer com "tudo o que aconteceu nos últimos meses neste país"?
Tasso - Isso tudo que todo mundo sabe: os grampos, as gravações da Roseana [Sarney (PFL-MA), ex-presidenciável e ex-governadora", essas perseguições.

Folha - Mas quem o sr. acha que gravou os seus comícios?
Tasso - Alguém ligado à campanha do Serra, para tirar vantagem.

Folha - O próprio Serra estaria por trás?
Tasso - De jeito nenhum. Ele não faria isso. Foi gente querendo tirar vantagem da campanha dele.

Folha - Que gente e que tipo de vantagem?
Tasso - Um dos problemas da aliança que foi feita com o PMDB é que parte dos aliados só entrou nela para tirar vantagem. Conseguir benesses, verbas, favores do governo federal. Com certeza, o próprio Serra nem sabe.

Folha - A que o sr. atribui o mau desempenho de Serra nas pesquisas?
Tasso - Eu só posso falar pelo Ceará e quero deixar muito claro que, independentemente de eu trabalhar ou não pelo Serra, de eu querer ou não, o fato é que o Ciro é um político do Ceará e tem força própria aqui. Ponto. Em todos os momentos, ficou clara a importância para nós de uma união com o Ciro aqui. Nós temos uma união, um projeto que é uma referência nacional. Esse projeto é o que eu mais prezo na minha vida pública. Houve muitas pressões para eu romper com o Ciro, mas isso eu não vou fazer jamais.

Folha - Em 98, FHC ficou em terceiro aqui no Ceará, mas com uma diferença pequena em relação ao Ciro. Por que a diferença tão grande hoje contra o Serra? Na sua opinião, a culpa é do candidato?
Tasso - Na campanha do FHC, nunca tivemos palanque duplo aqui e nunca houve dúvida e discussão sobre qual seria o partido e o palanque dele no Ceará. Naquela eleição também havia candidato do PMDB aqui, mas nunca existiu e nunca se falou em palanque duplo, que é igual a palanque zero. Essa é uma diferença fundamental. O que está em jogo é o prestígio dado aos aliados locais. E, se isso acontece aqui, também deve estar acontecendo na campanha do Serra em outros lugares.

Folha - O Serra vai para o segundo turno?
Tasso - É difícil saber quem vai para o segundo turno. Ainda tem muita campanha pela frente.

Folha - Como estão suas relações com o Planalto?
Tasso - Há sinais concretos de ajuda à campanha adversária. Anteontem [segunda-feira" mesmo, tivemos um susto, quando soubemos, quase por acaso, que seria suspensa a assinatura da estadualização do Porto de Pecém, que seria nesta semana. Sabe a pedido de quem? Do senador Sérgio Machado [do PMDB, principal adversário do grupo de Tasso". Agora este é o homem do governo federal aqui no Ceará. É quem dá as cartas. E isso é de uma ironia!

Folha - Que outras vantagens Machado conseguiu do governo?
Tasso - Eu soube, também quase sem querer, que eles estavam liberando R$ 25 milhões do DNOCS [Departamento Nacional de Obras Contra as Secas" para o senador e para três deputados do PMDB. Seria um escândalo. Aí, eu liguei para o Scalco [Euclides Scalco, secretário-geral da Presidência" e para o Pimenta [da Veiga, um dos coordenadores da campanha de Serra" avisando. Para sorte deles, a liberação foi suspensa. O FHC deveria ficar eternamente grato a mim, deveria me dar três beijos na testa.

Folha - Por quê? Qual era o escândalo?
Tasso - Porque essa dinheirama toda era para fazer "passagens secas". Sabe o que é isso? São pequenos cimentados, de R$ 15 mil, R$ 20 mil, para que carros e carroças possam atravessar os chamados "riachos secos", que só existem em épocas de chuva e somem na seca. Como iriam dar R$ 25 milhões, uma fortuna dessas, e ainda por cima sem concorrência pública? O interesse era única e claramente eleitoral. Aliás, era tudo muito esquisito. Parece que eles do governo" estão na mão desse pessoal do PMDB". O Lúcio protestou, eu liguei, e eles vetaram. Quer dizer, suspenderam.

Folha - Sua relação com a campanha do Serra e com o Planalto está virando uma guerra?
Tasso - Guerra? De jeito nenhum. Eu só tenho amigos na campanha e no governo...


Ciro se encontra com empresários
Assessor do Ministério da Fazenda fez os convites para café da manhã

O candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, participou anteontem de um café da manhã fechado, em São Paulo, para um grupo restrito de empresários de diferentes setores.

A Folha apurou com vários empresários que eles foram convidados a participar do encontro por Flávio del Comuni, ex-superintendente da Receita Federal em São Paulo e atualmente chefe do escritório de representação do ministro da Fazenda, Pedro Malan, em São Paulo.

A reunião também contou com a presença do senador Roberto F reire (PE), presidente do PPS.

A Folha apurou que Flávio del Comuni sempre foi uma pessoa bastante ligada a Everardo Maciel, secretário da Receita Federal. Comuni ocupava o cargo de superintendente da Receita Federal em São Paulo até julho do ano passado, quando saiu para ser o representante do ministro da Fazenda na capital paulista.

Ele despacha ao lado da sala do ministro da Fazenda, no prédio da Receita Federal em São Paulo.

Segundo a assessoria da Receita Federal, Flávio del Comuni deixou a superintendência da Receita em São Paulo por motivos pessoais e seu trabalho mereceu um moção de elogio de Everardo Maciel. Procurado pela Folha durante todo o dia de ontem, Flávio del Comuni não respondeu às ligações telefônicas.

De acordo com o que a Folha apurou, o café da manhã contou com a presença de cerca de 20 empresários, num hotel em São Paulo. No dia anterior, Ciro Gomes tinha participado, pela manhã, de uma reunião na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e, à noite, de um encontro com artistas.

Entre os empresários, estavam no café da manhã Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq (Associação Brasileira da Indústria de Brinquedos), Romeu Chap Chap, presidente do Secovi (Sindicato da Habitação), Merheg Cachum, presidente da Abiplast (Associação Brasileira das Indústrias de Plástico), e Luís Fernando Antônio, diretor da Fiesp e presidente da Visteon no Brasil.

Segundo a Folha apurou, Ciro Gomes garantiu aos empresários que, caso seja eleito, irá criar canais permanentes com a indústria através de câmaras setoriais para discutir a cadeia produtiva de cada um dos setores.

Ciro disse também que essas câmaras contarão com a presença de trabalhadores do setor, além do governo.
De acordo com os empresários, Ciro Gomes também fez duras críticas à globalização. De acordo com o que a Folha apurou, o candidato disse que, entre a indústria brasileira e a globalização, ele irá ficar com a indústria, mesmo que a produção de um determinado bem seja mais cara no Brasil do que em outro país.

Ciro Gomes também garantiu que irá manter a Zona Franca de Manaus, mas como plataforma de exportação.
De acordo com o que Folha apurou, a idéia dele se assemelha bastante a tese já defendida pelo atual ministro do Desenvolvimento, Sérgio Amaral.

Segundo a Folha apurou com alguns dos empresários, Ciro Gomes não fez nenhuma crítica aos membros do atual governo.

No café da manhã, também compareceram empresários ligados ao setor de portos, ferrovias, telecomunicações e combustível.


FHC acredita em virada de Serra nas pesquisas
O presidente Fernando Henrique Cardoso procurou minimizar a importância das pesquisas eleitorais neste momento da campanha e afirmou ter convicção de que a situação poderá ser revertida em favor do candidato do governo, José Serra.

Questionado se já considerava a eleição perdida, pelo fato de Serra aparecer na última pesquisa do Ibope empatado tecnicamente em terceiro lugar com Anthony Garotinho (PSB), FHC afirmou que, "se fosse por pesquisas, na verdade já haveria um presidente do Brasil há muitos meses".

Em viagem ao Equador para encontro de cúpula dos presidentes da América do Sul, FHC diz que não está preocupado com o fato de haver dois candidatos de oposição na liderança das pesquisas: "O resultado atual é consequência do desempenho do candidato na TV e no rádio".


Inventário de PC contradiz líder do PTB
Dívida de José Carlos Martinez não consta de lista de PC; coordenador de Ciro diz que ação foi registrada legalmente

O inventário de Paulo César Farias é contraditório com a versão do coordenador-geral da campanha do candidato à Presidência Ciro Gomes (PPS), deputado José Carlos Martinez (PTB-PR), sobre um empréstimo que o hoje parlamentar recebeu de PC no começo da década de 1990 e que ainda não pagou na íntegra.
Martinez afirmou que o empréstimo foi registrado legalmente, e não concedido sem informação à Receita. Mas o inventário dos bens e direitos de PC, morto em junho de 1996, não faz menção ao dinheiro que ele ainda teria a receber do deputado.

PC Farias foi tesoureiro de campanha de Fernando Collor, presidente afastado em 1992. No governo Collor (1990-92), chefiou um esquema para auferir ganhos ilicitamente. Em 1998, o inventário relacionou o que ele possuía e devia e os valores que teria a receber. Conforme o inventário, seus bens e direitos somavam R$ 3.906.103,00. As dívidas fiscais, R$ 85.201.881,91. O patrimônio negativo era de R$ 81,3 milhões.

As 82 páginas do inventário foram obtidas pela Folha em março de 1999 em Maceió, numa apuração sobre as circunstâncias dos assassinatos de PC e sua namorada, Suzana Marcolino.

A lista de bens é minuciosa. Inclui até uma luminária (valia R$ 15) e uma chaleira (R$ 30). No capítulo ""créditos" (""direito de receber o que se emprestou", conforme o ""Aurélio"), há referência a R$ 40 mil emprestados à Florag -Florestamento, Reflorestamento e Agropecuária Ltda.

Nenhuma palavra é dita sobre a dívida de José Carlos Martinez.

Os herdeiros de PC são seus filhos Ingrid, 16 anos em junho de 1996, e Paulo Augusto César, que tinha 14 anos. O tutor dos adolescentes era o deputado Augusto Farias (PPB-AL), irmão de PC e também inventariante.

A dívida -não se sabe se todo o montante original ou parte restante- de Martinez com PC foi tornada pública em setembro de 1999 por Augusto em entrevista à Folha. Os deputados confirmaram o valor, então R$ 3 milhões.

Mas divergiram quanto à razão: para Augusto, o dinheiro se referia à participação de PC como sócio [oculto, já que seu nome não aparecia formalmente" da CNT, emissora de TV controlada por Martinez e parentes. Martinez disse que foi só um empréstimo.

Segundo a revista ""Veja" da semana passada, Martinez disse a uma Comissão Parlamentar de Inquérito no início dos anos 90 ter pago integralmente um empréstimo recebido de PC. Na última sexta, ele e Augusto Farias afirmaram que Martinez continua pagando a dívida, em parcelas.

Nenhum dos dois diz em que ano foi feito o empréstimo, nem se houve mais de um. Nem qual era o seu valor original (em 22 de setembro de 1999, dia da entrevista de Augusto, R$ 3 milhões representavam US$ 1,6 milhão). Nem quanto já foi pago. Nem quanto precisa ser saldado. Nem se o devedor é mesmo Martinez pessoalmente ou a CNT.

É possível que Martinez tenha registrado em cartório o contrato em que obteve o empréstimo e o declarado à Receita, enquanto PC tenha sonegado o negócio, que por esse motivo não teria aparecido no inventário. Isso será possível saber se o coordenador da campanha de Ciro mostrar documentos, o que não fez até agora.
O que se sabe, segundo Martinez e Augusto Farias, é que os laços do primeiro com a família de PC não acabaram: Martinez continua fazendo pagamentos regulares para liquidar o empréstimo.

Ciro afirma não ver problemas. Referiu-se ao empréstimo de PC como ""negócio privado feito com declaração de Imposto de Renda, tudo normal, há dez anos".


Frente quer separar Ciro do caso Martinez
A campanha de Ciro Gomes quer abafar o episódio envolvendo o presidente do PTB, deputado José Carlos Martinez (PR), e o empresário PC Farias, que foi tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor.
Em reunião ontem, Ciro disse que não falará mais sobre o empréstimo de PC a Martinez porque isso não diz respeito a sua campanha, mas a negócios privados do deputado. A decisão da Frente Trabalhista é deixar para Martinez a tarefa de explicar seu relacionamento com PC Farias.

Segundo o líder do PTB na Câmara, Roberto Jefferson, o episódio levou Martinez, na noite de terça-feira, a pedir afastamento da coordenação-geral da campanha de Ciro. Jefferson d eclarou ainda que o presidenciável não aceitou o pedido.

Também disse ser contra a saída de Martinez do comando da campanha: "Para nós, o assunto está encerrado, morto".

Ele argumentou que o empréstimo foi legal: "O dinheiro era legal, foi declarado, está no inventário de PC, o Martinez nem era deputado, o PC nem era investigado, foi um contrato particular entre dois empresários. O que o Ciro tem a ver com isso?".

Pessoas próximas a Ciro negam, entretanto, que o pedido de afastamento tenha sido feito. Argumentam que o episódio foi fabricado pelo PTB para tentar fazer com que Martinez possa sair fortalecido do caso devido à suposta reafirmação de Ciro de que quer mantê-lo na função.

O ex- senador Antonio Carlos Magalhães (PFL) anunciou que vai se encontrar com Ciro nos próximos dias, em São Paulo.


Artigos

Alca, pegar ou largar
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - Acho que já contei essa historinha neste espaço, mas é forçoso repeti-la.
Em um dia da campanha eleitoral de 1989, a comitiva de Luiz Inácio Lula da Silva, hoje como então candidato do PT, ficou bloqueada em um aeroporto do interior do Paraná. Problemas meteorológicos, mecânicos, sei lá.

O fato é que ficaram horas inutilizados, enquanto seu grande adversário, Fernando Collor de Mello, percorria o país a bordo de uma frota de jatinhos e/ou helicópteros que, em cada cidade que chegava, parecia réplica de filmes da guerra do Vietnã.

Depois de muito tempo, o Espinosa, guarda-costa do Lula, sindicalista metroviário, nome e alma de filósofo, resolveu desabafar:

"Companheiros, se tudo der certo, se nada, mas absolutamente nada, der errado, se conseguirmos tudo o que precisamos, estaremos é ferrados" (uso "ferrados" por motivos, digamos, estéticos, já que a palavra não foi exatamente essa).

Pois é. Quando Horácio Lafer Piva, o presidente, e os jovens técnicos da Fiesp terminaram ontem de apresentar o estudo sobre os efeitos da Alca para o Brasil, não consegui resistir à tentação de contar essa história.

A pilha de problemas que o Brasil tem pela frente para negociar com os Estados Unidos (no fundo, a Alca é uma negociação EUA/Brasil ou, no máximo, EUA/Mercosul) é tão formidável que, mesmo que todos sejam atacados, ainda assim estaremos "ferrados".

Detalhes do estudo, o leitor encontrará no caderno Dinheiro. Palmas para a Fiesp por ter feito as contas na ponta do lápis, em vez de apelar, como tantos, para o puro palpite.

Ainda está em tempo de pegar ou largar. Mas, se for para pegar, o país (governos, empresários, sociedade organizada) tem que se mexer furiosamente. "Ou fazemos isso ou o rolo compressor dos Estados Unidos nos leva de roldão", constata Piva.

Dramático? Não, apenas sincero.


Colunistas

PAINEL

SOS Garotinho
Anthony Garotinho (PSB-RJ) mandou um recado ao Planalto, por meio de um deputado do PPB-RJ: sua campanha precisa de recursos. Se não conseguir financiadores, poderá ser obrigado a desistir. Nesse caso, apoiaria Ciro Gomes (PPS).

Bênção pastoral
Com cada vez menos apoio no PSB, Garotinho esteve com Edir Macedo há cerca de um mês e conseguiu autorização do bispo para fazer campanha nos templos da Igreja Universal.

Conta própria
O candidato do PSB, porém, não terá o apoio oficial da Universal. "Cada Estado decidirá quem irá apoiar. Garotinho não é nosso candidato, mas tem os votos de cerca de 80% dos fiéis", diz o deputado Bispo Rodrigues, coordenador político da igreja.

Produto de marketing
Lula-2002 passou a ser chamado na esquerda do PT de "candidato de laboratório". Explicação: o discurso, o tom de voz e o sorrisos exibidos em frente às câmeras de TV foram milimetricamente planejados com base em pesquisas qualitativas.

Adversário premiado
Dirigentes do PT chegarão hoje à Paraíba para tentar acalmar Avenzoar Arruda, candidato do partido ao governo do Estado. Ele está inconformado com o acordo de Lula com o governador Roberto Paulino (PMDB), que tenta a reeleição.

Acidente de percurso
Na caminhada de José Serra em SP, ontem, havia quatro bonecos de cerca três metros de altura representando tucanos paulistas, Alckmin entre eles. Mas faltou o do presidenciável. Explicação dada pelo PSDB-SP: o de Serra quebrou o nariz na convenção do partido em SP.

Nova mudança
Prosseguem as mudanças na equipe de Serra: o jornalista Inácio Muzzi assumirá o comando da assessoria de imprensa da campanha do tucano.

Túnel do tempo
Orestes Quércia (PMDB) contratou o marqueteiro Toni Cotrim, que fez parte da equipe de Lula em 1989 e 1998. O jingle de sua campanha ao Senado será o velho "O sol nasceu pra todos e também pra você, vote Quércia, vote Quércia, PMDB".

Chá da tarde
FHC recebeu discretamente o governador José Ignácio (PTN-ES) na última terça-feira. No dia seguinte, o ministro Paulo de Tarso (Justiça) foi a Vitória e anunciou uma parceria com o governo do Estado para o combate ao crime organizado.

Prata da casa
O governo de José Ignácio esteve ameaçado de sofrer uma intervenção federal a pedido da OAB. Um dos motivos era a suposta conivência do governo com o crime organizado. O governador foi dirigente do PSDB por mais de dez anos.

Missão secreta
Nizan Guanaes, marqueteiro de Serra, mandou uma equipe de TV investigar a passagem de Ciro Gomes pela Universidade Harvard (EUA) em 95. O PSDB espalha que o candidato do PPS foi apenas aprimorar o sotaque.

Carga pesada
Ciro participará na próxima sexta de um comício na Bahia ao lado de ACM. O candidato do PPS desfilará pela cidade no "trio da vitória", como está sendo chamado o carro que anima a campanha do PFL-BA (Paulo Souto, ACM e César Borges).

Motivo de força maior
Em reunião com prefeitos, anteontem, Alckmin sentiu a falta de Luiz Tortorello, de São Caetano. O prefeito viajara ao Paraguai, a fim de assistir a um evento eleitoralmente mais interessante para ele: a vitória do time da cidade na Libertadores.

Visita à Folha
Rodrigo Antônio de Paiva, que tenta obter no TRE o registro de candidato do PL ao Senado por MG, visitou ontem a Folha.

TIROTEIO

De Rodrigo Rollemberg, candidato do PSB ao governo do DF, sobre Garotinho:
- Não existe candidatura do PSB, existe um projeto pessoal do Garotinho. A história do PSB está comprometida por sua postura messiânica e evangélica. Seria melhor que desistisse.

CONTRAPONTO

Sacro e profano
Leonel Brizola, líder do PDT e candidato ao Senado pelo Rio, fez um comício no último sábado no bairro de Nova Aurora, em Belfort Roxo (RJ), onde moram cerca de 40 mil pessoas. No palanque, Brizola discursou ao lado do outro candidato ao Senado pelo partido, Carlos Lupi.
Ao final do discurso, Brizola elogiou Lupi e pediu votos para o amigo. O líder pedetista usou um argumento incomum:
- Votem no Lupi também, porque nós somos como Cosme e Damião, um não vive sem o outro.
Cosme e Damião são santos muito populares no Rio. No entanto, para o caso da tese religiosa não colar entre os eleitores, Brizola decidiu reforçar:
- Além disso, o que eu vou ficar fazendo no Senado sem o meu amigo Lupi? Vou ficar olhando para as paredes, para as caras do Antonio Carlos Magalhães e do Jader Barbalho?


Editorial

UM NOVO EQUILÍBRIO

São pobres os termos em que se discute a questão do regime de preços da Petrobras. Fundamentalistas do livre mercado argumentam que qualquer sinalização de que o poder público intervirá mais fortemente na formação de preços da estatal soará muito mal para os investidores internacionais.

A quebra do monopólio estatal sobre o mercado energético é uma realidade restrita quase tão-somente ao que diz a lei. Na prática, a Petrobras ainda domina esse setor no Brasil. É uma fantasia supor que, nesse regime "de fato", haja livre jogo das forças de mercado e, portanto, formação ortodoxa de preços.

O segundo absurdo produzido a partir das premissas da ideologia ultraliberal aplicadas à Petrobras é o de que, num regime de câmbio flutuante, um preço fundamental para a economia, como o de derivados de petróleo, seja atrelado à variação de curto prazo da cotação do dólar. Ora, apenas uma parte, minoritária, dos custos da estatal é dolarizada -a Petrobras extrai mais de 80% do petróleo consumido no país. Além disso, a vantagem fundamental do regime cambial flexível -que é a de atuar como um colchão entre o choque externo e a formação dos preços internos- fica bastante comprometida nesse arranjo.

O que se montou, na realidade, foi um modelo de transferência excessiva de renda do conjunto da sociedade brasileira para a estatal petrolífera (um "imposto" indireto) e para a cadeia de interesses que orbita em seu entorno -com consequências ruins para o controle da inflação e, portanto, para a política monetária. Corrigir esse problema não é retomar o modelo do passado, no qual as estatais eram usadas de maneira populista e irresponsável. Trata-se de um pleito legítimo da sociedade, de encontrar um equilíbrio mais satisfatório entre as necessidades da Petrobras e as da economia brasileira de modo geral.


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07/26/2002


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