Governo gaúcho deverá abrir escritório na China







Governo gaúcho deverá abrir escritório na China
PORTO ALEGRE - O governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra (PT), planeja instalar um escritório de representação comercial do Estado em território chinês nos próximos meses. A proposta já foi apresentada informalmente às autoridades diplomáticas da China e do Brasil na visita de Olívio e de empresários ao país asiático no início do mês. Se o pedido for aceito, o Rio Grande do Sul será o primeiro Estado brasileiro com esse tipo de representação no mais novo integrante da Organização Mundial de Comércio (OMC). O objetivo seria alavancar os negócios com a China, terceiro maior importador de produtos gaúchos do mundo.


Tucanos formalizam hoje data de pré-convenção
Encontro, que definirá o candidato à Presidência, deve ocorrer em 24 de fevereiro ou 3 de março

BRASÍLIA - Apesar da intenção do governador do Ceará, Tasso Jereissati, de retirar temporariamente sua pré-candidatura, a executiva nacional do partido reúne-se hoje à noite para formalizar a data da pré-convenção que escolherá o candidato tucano ao Palácio do Planalto. O encontro deve ser em 24 de fevereiro ou 3 de março. Amanhã, o presidente Fernando Henrique Cardoso vai conversar com os líderes e explicitar sua posição sobre sucessão.

"Tasso abre mão de sua candidatura se o ministro Serra se viabilizar", disse o senador Luiz Pontes (PSDB-CE). "O problema é que Serra fica entre 5% e 8% de preferência, o que não significa que está à frente de Tasso, que tem 5%."

"O ministro fica com a responsabilidade de se viabilizar", comentou um interlocutor de Tasso, ao analisar o debate em curso. Se prevalecer a estratégia a ser defendida por Tasso, o ministro terá de reavaliar seu destino: se ficará no cargo até o prazo de desincompatibilização, ao mesmo tempo em que tentará consolidar sua candidatura, ou se antecipará sua saída e reforçará a campanha.

O líder do governo no Senado, Artur da Távola (PSDB-RJ), afirmou que o governo tem uma pesquisa que dá uma avaliação "altíssima" ao ministro. O problema é que os pesquisados não identificam a figura do ministro com a de um possível candidato. "Temos de dar um jeito de fazer uma conexão entre a força do ministro e a força do candidato", afirmou. Para ele, se Tasso deixar a disputa, Serra não precisará sair do ministério.

Aliança - Aliados de Tasso afirmaram que o governador está irritado com a condução do processo sucessório no PSDB e com o fato de estar envolvido numa rede de intrigas dos grupos que compõem o partido. "Eu não agüento mais esse jogo e tenho o direito de me defender pela dimensão política que tenho", teria dito, em encontro com partidários, em Brasília.

Ainda nesta semana, os presidentes do PSDB, José Aníbal, do PMDB, Michel Temer, e do PFL, Jorge Bornhausen, vão se encontrar para um almoço. O pefelista disse que não deverão avançar muito rumo a uma possível aliança, mas será uma forma de não "perder o contato".


Tasso 'retira' candidatura para pressionar Serra
Argumento do governador é de que vai dar ao ministro chance de crescer nas pesquisas

BRASÍLIA - O governador do Ceará, Tasso Jereissati, deve comunicar formalmente ao presidente Fernando Henrique Cardoso, no jantar que será oferecido amanhã aos principais líderes do PSDB, que vai retirar sua candidatura à Presidência e permitir que seu concorrente mais próximo, o ministro da Saúde, José Serra, possa melhorar o desempenho nas pesquisas eleitorais. Segundo uma fonte no partido, no entanto, trata-se de uma estratégia de Tasso, que poderá reapresentar sua candidatura.

Caso Serra se torne uma opção viável, de acordo com a fonte, Tasso o apoiará em 2002. Se o ministro continuar a apresentar índices baixos nas pesquisas - em penúltimo lugar, seguido por Enéas (Prona) -, o governador cearense considera que o PSDB terá de procurar outro nome e, nesse caso, poderá retomar a sua pré-candidatura. "Não se trata de uma desistência definitiva", ressalta a fonte.

Com mais exposição do que Tasso nos meios de comunicação, o ministro tem obtido índices de intenção de voto entre 5% e 8%, enquanto o favorito da oposição, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tem cerca de 30% e a segunda colocada, Roseana Sarney (PFL), chegou aos 20%. O desempenho de Tasso é mais modesto que o de Serra. Ele oscila entre 3% e 4%. O governador teria decidido sair de cena ao perceber que lutava com um adversário mais forte.

"Tasso acha que não tem como concorrer com Serra hoje", resumiu um político do partido. "Por não ser ministro, ele não tem a mesma exposição e o acesso à mídia que o Serra." Por isso, explica, o governador acha melhor esperar para ver no que dará a candidatura Serra. "Isso pode consolidar ou não a candidatura Serra. Acho que Tasso aposta nisso, pois em janeiro e fevereiro não acontece nada e Serra talvez esteja no mesmo lugar até março."

Sem festa - Tasso cogitou a desistência na semana passada, decisão discutida com o presidente do partido, deputado José Aníbal (SP), e amadurecida no fim de semana, quando comemorou seu aniversário, em Fortaleza. Nenhum quadro graduado do PSDB nem do governo compareceu.

Fernando Henrique e o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), lembraram e telefonaram.
Ontem, Aníbal deixou claro que a desistência vai ocorrer até amanhã. "Só posso dizer que Tasso está para decidir algo. Nas próximas 48 horas, ele vai se pronunciar."

Como observou uma fonte do Planalto, se o governador do Ceará fosse alternativa de interesse das principais correntes, o aeroporto de Fortaleza teria lotado de políticos.
Tasso - que foi lançado pelo governador Mário Covas, morto em março - é o segundo presidenciável do PSDB a retirar seu nome da corrida. O primeiro foi o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, que não fez declarações, mas se deixou a disputa ao perceber que não tinha meios para enfrentar Serra.

A assessores e amigos, disse que, se o jogo estava decidido, não havia motivo para insistir. O argumento é semelhante ao de Tasso. Ele diz que não vai continuar com uma campanha destinada ao fracasso. A viagem que iniciou ontem, ao Sul do País, deve ser a última da pré-campanha e servirá para confirmar que, pelo menos por enquanto, está fora do jogo.


Newton diz que não abre mão de disputa em favor de Itamar
BELO HORIZONTE - O vice-governador de Minas, Newton Cardoso (PMDB), garantiu ontem que não pretende abrir mão de sua candidatura ao Palácio da Liberdade em favor do governador Itamar Franco, caso ele desista de participar das prévias do PMDB, em março, para escolha do eventual representante do partido na disputa presidencial. Itamar e Newton firmaram acordo, em 1998, de que o primeiro concorreria à Presidência e o segundo, ao governo estdual, para viabilizar a chapa de ambos na eleição mineira.

Diante de supostos obstáculos que a comando nacional do PMDB estaria criando para a candidatura de Itamar ao Planalto - o último foi a decisão de que o escolhido nas prévias só saberá que venceu após o prazo final de desincompatibilização, em abril -, aliados do governador começaram a cogitar a possibilidade de que ele tentasse a reeleição.

"Isso é fantasia. Minha campanha já está praticamente na rua e o governador sabe que sou candidato ao governo de Minas", assegurou Newton. "Eu não abrira mão disso, mesmo porque o governador nunca me pediu que o fizesse", completou.

Reunião - No início da noite de ontem, Itamar e aliados aguardavam a chegada ao Palácio da Liberdade de um grupo de parlamentares federais do PMDB, entre eles os senadores Ramez Tebet (MS) e Maguito Vilela (GO).
O objetivo da reunião seria discutir estratégias para mudar algumas regras das prévias, como a que fi xou o anúncio do resultado da votação para depois da desincompatibilização. Itamar considerou a medida "inaceitável" e disse que, se ela prevalecer, a disputa nas primárias será "um pulo no escuro".


FHC elogia Roseana e vê problema só para Lula
Quem tiver eletricidade no ar no momento certo da campanha, ganha Ela (Roseana) vem crescendo não é só porque é mulher; ela é bastante agradável e, ademais, é de um partido da base do governo Fui o presidente da República que menos medidas provisórias editou O Congresso mudou o arcabouço jurídico do Brasil; não posso me queixar delePresidente prevê que vencerá a eleição quem tiver força no "momento certo"

BRASÍLIA - O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem, em entrevista à TV Câmara, que vencerá a eleição presidencial o candidato que, na campanha, for capaz de se identificar com o eleitor no momento certo.
"Quem tiver eletricidade no ar no momento certo da campanha, ganha", disse.
O comentário foi feito logo depois de Fernando Henrique falar a respeito do crescimento nas pesquisas eleitorais da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL).

"Ela (Roseana) vem crescendo não é só porque é mulher; ela é bastante agradável e, ademais, é de um partido da base do governo", afirmou o presidente. Para Fernando Henrique, quem deve ficar preocupado com Roseana não é o governo, é a oposição. "É o Lula." No domingo, Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato do PT, admitiu sua preocupação com Roseana: "Ela poderá ser um problema para nós e precisamos saber como enfrentá-lo."
O presidente disse ainda que é saudável ver uma candidata como Roseana, que não é ministra, ter papel de destaque nesse momento. E acrescentou: "Ela é minha amiga."

Para Fernando Henrique, no Brasil está provado que não é só o partido que vence a eleição, mas quase sempre a pessoa que consegue se identificar com o eleitor. Por isso, segundo ele, é preciso ter eletricidade no ar, no momento certo. "Quero que ganhe gente ligada a mim." O presidente afirmou ainda que seria bom para o País se houvesse um recorde de mulheres na política.
Ele falou também a respeito do legado que vai deixar para seu sucessor, do relacionamento com o Congresso, da reforma tributária, das dívidas externa e interna, do programa de exportações e do projeto que cria a Agência Nacional de avisação Civil (Anac), retirado da Câmara pelo governo.

4 Legado - O presidente afirmou que quando assumiu o mandato, em janeiro de 1995, o País vivia o caos. "A inflação era galopante, não havia credibilidade internacional nem crédito." Disse que, depois de arrumar a casa, deixa para seu sucessor uma dívida externa de US$ 90 bilhões, que, descontadas as reservas de US$ 35 bilhões, representa a dívida líquida de US$ 55 bilhões, cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa dívida, segundo o presidente, foi renegociada em seu governo por 30 anos. Os outros mais de US$ 120 bilhões de dívidas externas pertencem a empresas privadas, não à União.

4 Dídida interna - Essa, segundo o presidente, é mais complicada e representa um pouco mais de 50% do PIB. Mesmo assim, afirmou, se comparada às de outros países, como os da Europa, é pequena, porque lá é superior a 100%. Segundo o presidente, do total de mais de R$ 500 bilhões, R$ 150 bilhões vieram de Estados e municípios, R$ 42 bilhões da diferença a ser paga ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) de planos econômicos passados e de dívidas da Caixa. "Nós reconhecemos dívidas de outros governos", disse. Só isso representa bem mais de R$ 200 bilhões. Com relação a Estados e municípios, eles pagam juros que vão de 7% a 9%, enquanto o Tesouro trabalha com a taxa de 19%. Portanto, as dívidas dos Estados e municípios continuam subsidiadas, afirmou o presidente. "Recentemente, a prefeita de São Paulo (Marta Suplicy, do PT) reclamou dos juros; respondi: a senhora paga muito menos do que no passado."

4Relacionamento com o Legislativo - Fernando Henrique afirmou que tem um bom relacionamento com o Congresso e que a instituição aprovou quase tudo o que o Executivo pediu. Disse que em 1999, com a crise da desvalorização cambial, o Congresso foi muito compreensivo com seu governo. Com relação ao projeto que regulamentou a edição de medidas provisórias, afirmou que concordou com o seu conteúdo, porque ficou muito bom e passou a permitir que o Executivo baixe decreto para assuntos que antes eram exclusivos de MP, como a movimentação de pessoal. "Fui o presidente da República que menos medidas provisórias editou", afirmou, numa conta capaz de contrariar o que habitualmente se diz. Seu raciocínio é de que, proporcionalmente, recorreu pouco às MPs, já que foi o governante que ocupou por mais tempo o Palácio do Planalto desde o sugirmento das medidas provisórias. Além disso, ele alegou ter mais reeditado do que editado MPs.

4 Reforma tributária - O presidente disse que o Congresso não deu seguimento a um projeto que reforma a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e que fica parado falando sobre a cumulatividade do PIS/Cofins.

4Reforma política - É um tema que depende do Congresso, avaliou o presidente. Andou bem no Senado, mas não avançou na Câmara. Em compensação, segundo ele, durante seu governo, o Congresso aprovou leis importantes como a de Responsabilidade Fiscal, as mudanças no Orçamento e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação. "O Congresso mudou o arcabouço jurídico do Brasil; não posso me queixar dele."

4Administração de crises - O presidente voltou a falar de um tema que aprecia muito: que é um expert em crises. Afirmou que nenhum presidente passou por tantas crises quanto ele e conseguiu superar todas. Citou duas: a da Argentina e a atual, dos Estados Unidos depois dos ataques terroristas de 11 de setembro. "Tem de pilotar e não deixar que o barco afunde."

4Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) - O presidente disse que retirou o projeto da Câmara porque há uma crise no setor e o Congresso, compreensivamente, resolveu que a agência deveria resolvê-la. "Agência não é criada para ajudar uma empresa, mas para ajudar o País". Disse que vai aproveitar os relatórios já aprovados pela Câmara para mandar outro projeto que cria a Anac.


PT teme efeito Suplicy
A quantidade e a violência dos protestos relativos ao artigo que tratava, na semana passada, das dificuldades do PT com o senador Eduardo Suplicy, mostra que o partido tem razão quando, no encontro nacional do último fim de semana, em Pernambuco, chegou à conclusão de que essa é a principal e mais delicada questão que os petistas têm a enfrentar agora, na fase de preparação do lançamento da candidatura à Presidência da República.

Seria interessante que algumas pessoas se dessem ao trabalho de raciocinar que a função de quem tem por ofício transmitir e interpretar informações – externando também sobre elas opiniões – não se sustenta na imaginação criativa de quem escreve. A agressividade da maioria dos leitores, além de não corresponder ao equilíbrio de adjetivos com que convivem neste espaço, deveria antes ser dirigida ao PT.

Gente atenta, interessada e politizada, por certo já notou a posição unânime externada pelo comando petista, segundo a qual hoje é um fato o desconforto causado pelo senador Eduardo Suplicy dentro do partido. Esconder ou minimizar tal evidência sim seria um exercício de arrogância, baseado na ilusão de que é possível brigar com a notícia.
Não há nada mais ofensivo para quem trata da análise dos fatos do que a suposição de que haja por detrás dela intenções que não a de relatar o que se passa na política neste período pré-eleitoral. Para dar os nomes certos às coisas, a desconfiança é a de que exista desonestidade intelectual, engajamento partidário ou mesmo outras intenções, como a que aventa um leitor, segundo o qual aqui se considera indiscutível a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva dentro do PT apenas como tática para incentivar o partido a mais uma derrota.

Se os que protestam com tanta veemência acreditam que Lula não poderia ser o candidato do PT, não gostam do partido ou ainda detestam a administração da prefeita Marta Suplicy, o caminho mais curto é simplesmente votar em outro candidato. E não levantar suspeitas sobre o que desconhecem.
Fato é – e esta certeza baseia-se em informações recolhidas não só na cúpula, mas repassadas pelas posições defendidas na base durante o encontro nacional – que o partido se considera hoje numa das situações mais delicadas em que já esteve.

Dispõe do candidato primeiro colocado nas pesquisas e não pretende abrir mão dele. Lula, por sua vez, obedece à lógica quando não se propõe a disputar prévias, muito menos a debater o programa do partido numa fase em que isso significa pura perda de tempo e abertura de guarda ao adversário. É bom repetir, este é o pensamento majoritário do partido.
Partido este cuja maior preocupação agora é não expor Lula a qualquer constrangimento político nem dar a Suplicy a oportunidade de causar um estrago que prejudique não apenas a candidatura presidencial, mas também as estaduais, principalmente em São Paulo.

Ou seja, há um temor de que o efeito Suplicy resvale para o clima plebiscitário, onde se misturem razões não-políticas aos motivos daqueles que, antipetitas enrustidos, acabem por potencializar para o mal uma obviedade que é a recusa de Lula em sair pelo País afora debatendo com Suplicy. Poderiam, aliás, ter apoiado com mais firmeza a postulação feita há um ano por Suplicy quando, então, essa era uma discussão a ser aberta.
Uns não levaram o senador a sério e outros temeram enfrentar o tabu Lula presidente.
O PT hoje reconhece que é prisioneiro de sua própria prática de democracia interna que, neste momento, se confunde com democratismo e impede o comando de tomar decisões (e a que ele gostaria seria a de cancelar as prévias) na condição de colegiado legitimamente eleito.

Mas sabem os petistas graúdos que, vítimas do próprio cacoete de enxergar a vida sem nuances – ou tudo é preto ou bem é branco –, se resolverem que simplesmente não há disputa isso causará um desgaste imenso na opinião pública e também internamente.
Então, no fim de janeiro, o diretório nacional se reunirá para definir as regras da prévia – com toda certeza sem festival de debates – e, até lá, torcer para que o imponderável o ajude. Qual seja, o senador Eduardo Suplicy acenar com a paz, desistir de paralisar o partido em torno de prévias agora e também depois não se transformar num fator de desconforto durante a campanha eleitoral.
“Precisamos escalar uma montanha, não podemos correr o risco de tropeçar numa pedra que nos faça retroceder todo o caminho”, resume o vice-presidente do PT e candidato em São Paulo, José Genoíno.

Falta o básico
Nesses tempos em que analfabetos são aprovados em vestibular, chega-nos um dado desalentador da União dos Vereadores da Bahia. Levantamento feito entre os 5 mil vereadores do Estado constatou que 70% não completaram o primeiro grau. E é óbvio que os baianos não devem estar numa situação isolada do resto do País.


Artigos

Perfil de um candidato à Presidência
JARBAS PASSARINHO

Precatando-se de impugnação por campanhas eleitorais antes do prazo legal, os notórios candidatos à Presidência da República nas próximas eleições falam como se candidatos não fossem. Uns, sem emprego e horário a cumprir, como Ciro Gomes e Lula, dispõem de todo o tempo para visitas, viagens, palestras e entrevistas; outros, não, como Serra, Jeressaiti, Garotinho, Itamar e Roseana, que repartem o tempo, presos ao exercício de cargos públicos, com entrevistas, inaugurações e até fala ministerial em rede nacional Churchill disse ironicamente que a qualificação desejável para quem pretendia ser político era "ter habilidade para prever o que vai acontecer na próxima semana, no próximo mês e no próximo ano, e a mesma habilidade para, depois, explicar por que isso não aconteceu". Retirado da militância política, corro o risco de uma previsão para 2002, a de que Lula chegará ao segundo turno, contra um candidato que não arrisco qual seja, nada obstante a impressionante aparição da jovem governadora do Maranhão, fruto da sua empatia e da vocação de "Scaramouche, fazedor de reis", do eminente senador Jorge Bornhausen.

Sendo Lula o mais certo a travar o embate do segundo turno eleitoral, impõe-se analisar-lhe os atos e as palavras, visando a imaginar o que intentará fazer caso chegue ao Palácio do Planalto, se o que vem dizendo for sincero, e não uma tática, em certos casos, de amaciamento de resistências da burguesia, que procura conquistar. Não recuarei ao Lula do nascimento do PT, partido que surgiu da inimaginável associação das concepções materialista e cristã, o estandarte vermelho da revolução bolchevista saudado por religiosos católicos. Detenho-me no pensamento de Lula expresso em suas entrevistas e declarações públicas, na metamorfose que o fez senhor de uma linguagem elevada, um debatedor que domina com desenvoltura os temas nacionais e internacionais à sua feição.

Por vezes, o presidenciável picado de arrogância, ao desdenhar do ministro da Fazenda, um "funcionário" que não estaria à sua altura. Leio o Lula que reconhece nos governos militares "um exemplo de planejamento na área de infra-estrutura" e os louva pelas estatais que criaram, deplorando a privatização delas, o que chama de "estupro". O que sente saudade da Central de Medicamentos, obra do presidente Médici, sem citá-lo (seria demais para os seus xiitas). O Lula do PT puro, que dizia não aceitar o voto de Ulysses Guimarães e, agora, reformula o pensamento: "Aliança política não deve ser uma questão de princípio. Faz-se de acordo com os interesses do povo e do partido." Em Pernambuco, alia-se a rebentos da tradicional oligarquia dos Coelhos, definindo a aliança como "um acordo pragmático, um laboratório para o pragmatismo que quero ver em 2002". (Dewey deve revirar-se no túmulo pelo que os políticos fizeram do pragmatismo). O "laboratório" incluirá o Partido Liberal, já que aliança não é questão de princípio e, pois, misturará ao socialismo do PT o liberalismo do PL, pondo no mesmo balaio desde os socialistas utópicos a Marx, Keynes e Adam Smith.

Merecedora de caloroso aplauso é a sua repulsa ao Estado assistencialista:
"Não se pode viciar o homem com cestas básicas. Temos de lhe dar condições para que coma à custa de seu suor. O faminto não tem apetite de revolução.
Quando você lhe dá comida, ele fica subserviente." Paradoxo? Matar a fome do faminto à custa de seu suor teria como escopo torná-lo revolucionário? Ora, Lula não se diz revolucionário, mas adepto de "um socialismo que pressupõe democracia".

Ponto alto de sua profissão de fé está em considerar saúde e educação como investimentos, e não como despesa. Irrealista, blasona: "Temos força política para vencer no primeiro turno." Autoconfiante, garante: "Tenho condições de consertar este país." Respondendo a uma operário que indaga como se sente ao desfrutar de alta renda, responde: "Trabalho muito. Ganho R$ 6 mil do PT, brutos, e mais R$ 2 mil do jornal gaúcho Zero Hora por artigo dominical que escrevo, além de R$ 2 mil de aposentadoria que recebo do INSS." R$ 10 mil por mês não é demais para tanto trabalho, convenhamos.
Os artigos requerem elaboração intelectual cuidadosa. A aposentadoria de R$ 2 mil poderia causar inveja aos 13 milhões de trabalhadores que recebem um salário mínimo do INSS, mas não foram "perseguidos pela ditadura militar".

Só trabalharam durante 30 ou 35 an os.
Há, é claro, estafantes viagens ao exterior. Na França, tropeçou ao elogiar os subsídios do governo socialista aos produtores rurais, o que torna inviável a competição dos brasileiros. A comovedora predileção por Fidel Castro fá-lo peregrino constante a Cuba. A foto recente, em Havana, ao lado de Fidel, o mais velho ditador do mundo, nos mostra um pupilo reverente ao ouvir, inebriado, o mestre. Mesmo os burgueses simpatizantes se espantaram ao ler que Lula declarou ser Cuba uma democracia. Ao saudar Fidel, minimizou a velhice do ídolo. Enterneceu-se: "Sua alma continua limpa, porque você não traiu os interesses do seu povo." Na Venezuela, disse ser Chávez (cuja popularidade caiu de 59% em agosto para 37% em novembro) um "centroavante matador" com quem afirma "ter o mesmo pensamento". Ante palavras vãs, melhor seria erguer uma estátua ao silêncio.

O programa do PT certamente consagrará o socialismo estatizante, ao contrário do "trabalhismo de mercado capitalista" de Tony Blair. A política externa, essa está traçada. Se Lula vier a vencer, teremos um eixo Brasília-Havana-Caracas, uma geléia real: o socialismo democrático segundo Lula, no Brasil, a ditadura de partido único em Cuba e um presidencialismo imperial e populista "bolivariano" na Venezuela. Que grande coalizão moderna!


Colunistas

RACHEL DE QUEIROZ

O nono lugar
O grande escândalo deste fim de ano, que rendeu manchetes em quase todos os jornais do País, foi o caso do pedreiro analfabeto que tirou o nono lugar no vestibular de uma faculdade de Direito. Diz o reitor dessa universidade que só havia nove candidatos para 20 vagas; e que, portanto, o pedreiro tirou o último lugar.
Fora isso, o resto foi normal: a moçada, como de costume, na sua grande maioria, sabia pouco ou nada do que lhe foi perguntado. E além do escasso saber, mostrou-se particularmente esquiva aos exames de acesso ao terceiro grau - que é, como em linguagem técnica se chama o ensino universitário.

As causas. Bem, há tanta causa para isso que o problema maior será escolher a mais importante entre elas.
As dificuldades econômicas que acossam as famílias, obrigando os adolescentes a procurar trabalho a fim de ajudar no orçamento, serão talvez a principal causa para o pouco rendimento na vida escolar. Até para a classe média menos desfavorecida já é difícil manter os filhos nas universidades particulares.

Em seguida - ou será paralelamente? - vêm duas causas gravíssimas para o problema: a) o baixo nível do ensino do segundo grau, em praticamente todo o País; b) o grevismo instituído como rotina e desencadeado por motivações que vão das mais justificáveis às mais injustificáveis. Quero dizer a greve que traduz o desespero da classe dos professores, ante a impossibilidade de sobreviver com os ínfimos salários que por quase toda parte lhes são pagos; e a greve por motivação política - já que a politização é um dado impositivo dentro da categoria dos docentes.

Os maus salários produzem maus profissionais, é claro. Porque os bem-dotados, os brilhantes, os competentes dificilmente se deixam prender a uma profissão tão pouco compensadora. Ficam os menos capazes, os tímidos, os despreparados - que também tiveram o seu aprendizado prejudicado pela incompetência do ensino que receberam. A tal história do círculo vicioso.
E então assistimos a essa fuga dos jovens ante o ensino superior. Mal alfabetizados, mal atendidos no primeiro e segundo graus por um professorado sem estímulo ou sem preparação efetiva (nunca esquecer, porém, os abnegados e sábios mestres que continuam teimando em honrar o seu ofício, sejam quais forem as pedras do caminho), que condições têm esses rapazes e moças para enfrentar um curso superior?

Dizem os examinadores que o descalabro principalmente se registra no que diz respeito à língua portuguesa. Os meninos não são capazes sequer de formular uma frase, de expressar um pensamento coerente. E, evidentemente, essa deficiência básica na comunicação prejudica o estudante em todas as outras disciplinas. Até para explicar uma reação química, é preciso saber falar - ou escrever.

O remédio? O remédio seria começar tudo de novo. Desde o pré-primário. Reciclar os mestres, fazer uma seleção penosa, mas indispensável, encaminhando os menos capazes para outras atividades.
E, acima de tudo, descobrir uma fórmula para reacender a mística, a devoção, a vocação dos que procuram o ensino como profissão. Padre, médico, professor - é tudo sacerdócio. Muitos zombam dessa palavra - sacerdócio! -, mas sem ela não se cumprem as grandes tarefas sociais. Se o ofício exige santos, que venham os santos. E talvez haja escondidos por aí muito mais santos do que imaginamos.


Editorial

A conquista de novos mercados

Alguns setores políticos e empresariais, decepcionados com os termos do fast track que o Congresso norte-americano está examinando, estão recomendando que o governo brasileiro saia das negociações para a criação da Alca e passe a negociar acordos comerciais com a China, a Rússia e a Índia, entre outros países. Trata-se de uma visão equivocada, tanto da realidade internacional como dos reais interesses brasileiros. O comércio externo de um país não se amplia por meio da substituição de um parceiro por outro, mas pela agregação de parceiros.

O presidente Fernando Henrique Cardoso deixou claro, em discurso que fez durante a inauguração de uma nova unidade da Cosipa, que o Brasil não abandonará as negociações para o acordo hemisférico. Não pode ser outro o entendimento de suas declarações, segundo as quais as posições que o Brasil tomou na reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Doha, foram apenas "o início de uma luta que promete ser árdua, em função do fast track". O mesmo se depreende da afirmação de que "temos confiança em nós próprios e sabemos que só faremos os acordos que forem interessantes para nós. Negociações comerciais não podem ser confundidas com negociações de soberania". Ou seja, assim como os Estados Unidos estão fazendo, o Brasil também defenderá os seus interesses, e isso se faz na mesa de negociação.

Os termos do fast track que o Senado norte-americano está votando limitam, de fato, as perspectivas de um amplo acordo comercial hemisférico. Mas a sua aprovação final não poderá equivaler a um toque de debandada das negociações. Antes, esse é um sinal de que o Brasil - e com ele os sócios no Mercosul, partes obrigatórias em futuros tratados comerciais - deve ampliar a sua rede de acordos, buscando aprofundar o relacionamento comercial com outros países. É nesse contexto - e não no da substituição da Alca - que o Brasil, liderando o Mercosul, deve abrir ou intensificar as negociações com a China, a Índia e a Rússia. Mas também com a União Européia e com o Pacto Andino e com quantos países mais o Brasil mantenha relações comerciais que não exploram adequadamente os respectivos potenciais econômicos.

O ministro do Desenvolvimento, Sérgio Amaral, revelou, na sexta-feira, que os técnicos de sua pasta estimam que o crescimento das exportações brasileiras, em 2002, será de apenas 5%, o que significaria um decréscimo substancial em relação ao aumento de 6,23% registrado de janeiro a novembro, em relação a igual período do ano passado. A queda se deveria ao desaquecimento da economia mundial.

Eis aí mais um estímulo para que o Brasil crie sistemas de preferência tarifária com outros parceiros.
Com a União Européia, o Mercosul - é preciso lembrar que, desde junho, o Brasil não pode negociar acordos comerciais sem a participação dos membros do bloco - já iniciou negociações, que serão necessariamente lentas por envolverem questões vinculadas à Política Agrícola Comum da UE e por causa, também, do pr ocesso de tomada de decisões de Bruxelas. Mas com o Pacto Andino nada impede que as negociações se acelerem.

Interessa, ainda, ao Brasil - e muito - ampliar o comércio com a Rússia e a China. O Brasil importa 0,8% do total das vendas russas ao exterior e coloca naquele país 1% - principalmente em produtos primários - do que vende ao exterior. Nos dois sentidos, o comércio não ultrapassa o US$ 1,5 bilhão, o que é muito pouco para o potencial comprador da Rússia, que pode absorver produtos industrializados e semi-industrializados brasileiros. Com a China não é diferente. De janeiro a outubro, o Brasil vendeu US$ 1,68 bilhão para aquele país, com um aumento de 93% das exportações em relação a idêntico período do ano passado, o que demonstra que o mercado chinês vinha sendo negligenciado.

Em meados de janeiro, missão comercial brasileira visitará a Arábia Saudita, o Kuwait e os Emirados Árabes Unidos, dentro da estratégia do Itamaraty de buscar novos mercados no mundo árabe. Os 22 países árabes importaram, no ano passado, US$ 172 bilhões, dos quais apenas US$ 1,84 bilhão de produtos brasileiros.
É caso, portanto, não de abandonar a Alca, mas de partir - simultaneamente às negociações para a criação do acordo hemisférico - para a conquista de outros mercados. É o que dita o interesse nacional.


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12/18/2001


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