Governo inicia amanhã transição administrativa








Governo inicia amanhã transição administrativa
Ministro do Planejamento terá reuniões com coordenadores de programas de governo e acesso aos dados do Executivo começará a ser liberado

BRASÍLIA - O debate sobre a transição com os principais candidatos à Presidência, iniciado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso nos encontros de segunda-feira, terá continuidade na área administrativa do governo. O ministro do Planejamento, Guilherme Dias, reúne-se amanhã em Brasília com os coordenadores dos programas de governo dos quatro principais candidatos para traçar um quadro sobre o andamento da máquina governamental e as prioridades de cada setor. O acesso aos dados do governo começará a ser liberado e será ampliado em novembro, para a equipe do presidente eleito.

Ao contrário dos encontros entre Fernando Henrique e os quatro candidatos mais bem posicionados, as reuniões de amanhã serão dedicadas exclusivamente às questões administrativas. Serão abordados especialmente programas e projetos que vão exigir tratamento prioritário do novo governo, independentemente do presidente que for eleito. Os temas da conjuntura econômica, explicam os assessores do Palácio do Planalto, já foram tratadas pelos presidenciáveis com Fernando Henrique.

Dias terá encontros separados com cada um dos coordenadores dos programas de governo. Confirmaram presença Antônio Pallocci, que cuida da plataforma de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o professor Mangabeira Unger, que assessora Ciro Gomes (PPS), o prefeito licenciado de Vitória, Luiz Paulo Vellozo Lucaz, que deixou o cargo para ajudar José Serra (PSDB), e Tito Ryff, assessor econômico de Anthony Garotinho (PSB).

Apesar do caráter técnico desses encontros, o governo deve apontar a necessidade de manter alguns gastos - especialmente de obras do "Avança Brasil", consideradas pela equipe atual como essenciais para o desenvolvimento social e da infra-estrutura física. A intenção é apresentar uma série de programas que estão sendo implementados e não devem sofrer descontinuidade, como a duplicação da BR-101, a rodovia do Mercosul. "Vamos mostrar as oportunidades e necessidades de investimentos no País que poderão ser aproveitadas tanto pelo setor público quanto pelas empresas privadas", afirmou Dias. "Quem sentar na cadeira de ministro do Planejamento não vai começar do nada, pois terá um completo levantamento das potencialidades e desafios de cada região brasileira."

Ele e o secretário de Planejamento e Investimentos Estratégicos do Ministério do Planejamento, José Paulo Silveira, vão expor as etapas de elaboração do Plano Plurianual (PPA) para o período de 2004 a 2007, onde o próximo governo planejará seus investimentos para três anos e para o primeiro da gestão seguinte. Para cumprir o prazo previsto na legislação e enviar a proposta do PPA ao Congresso no fim de agosto de 2003, sua elaboração terá de começar logo após a posse.

Interlocutor - Na prática, a preparação do PPA já começou, com um estudo das oportunidades de investimentos no País. Por isso, Silveira será nomeado interlocutor deste governo junto aos coordenadores de programa dos candidatos. A idéia é disponibilizar um conjunto de informações gerenciais dos 365 programas de governo, especialmente das 53 prioridades estratégicas do "Avança Brasil" 2000-2003.

O trabalho técnico-administrativo da transição de governo será coordenado pelo ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente. Além deste tipo de reunião de ministros com os coordenadores dos programas de governo dos candidatos, o governo porá à disposição de assessores específicos das principais campanhas presidenciais, a partir de setembro, relatórios sobre andamento de obras e execução de programas.

A ordem do presidente Fernando Henrique é dar a maior transparência possível aos candidatos nesta fase da campanha eleitoral, ampliando o acesso aos dados e a troca de informação a partir de 1.º de novembro, já com a equipe de transição do presidente eleito.


Garotinho ataca programas rivais e faz auto-elogio
Segundo ele, sua primeira participação teve 'aprovação do povo brasileiro'

RIO - O presidenciável Anthony Garotinho (PSB) atacou ontem os programas eleitorais de TV de seus adversários. Segundo ele, os candidatos Ciro Gomes (PPS) e José Serra (PSDB) estão "duvidando da inteligência do povo brasileiro". "O candidato Ciro Gomes coloca no mesmo programa figuras tão distintas quanto Leonel Brizola e Antonio Carlos Magalhães. O que o eleitor vai imaginando?"

O ex-governador do Rio afirmou que Serra deve uma explicação à sociedade.

"Como ele está conseguindo tantos recursos para um programa tão caro como aquele que ele colocou na televisão. Eu fiquei calculando quanto ele gastou só de cachê para Chitãozinho e Xororó, Elba Ramalho, o Gugu Liberato. O povo precisa saber quanto é que isso está custando."

Garotinho também criticou o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.

"Quando você vê os banqueiros saindo de uma reunião e dizendo que podem votar no Lula já no primeiro turno e ele tendo um encontro reservado com o presidente, você fica com a impressão de que o Lula já não é mais aquele", ironizou. Mas elogiou a menção, feita no programa de TV de Lula, ao estaleiro Verolme (em Angra dos Reis). "Gostei muito e quero agradecer o Lula por ter divulgado a reabertura do estaleiro, feita no meu governo. Ele poderia pelo menos ter dado crédito para nós."

O candidato afirmou que realizou uma pesquisa qualitativa para avaliar seu programa de TV e "teve a aprovaçào do povo brasileiro". Ele disse que pretende manter a linha propositiva do programa de TV, apresentando propostas de governo. A única mudança será a inclusão da defesa da realização de um plebiscito sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e a instalação da base de Alcântara, temas que se posiciona contrário.

Garotinho anunciou que voltará a viajar pelo Brasil. Em uma reunião com assessores na tarde de ontem, acertou viagens para 66 cidades brasileiras para os próximos 22 dias.


Serra tenta neutralizar dissidência em Goiás
Após desistência do PMDB local, tucano quer colar imagem à de Perillo, que lidera as pesquisas

GOIÂNIA - O candidato do PSDB, José Serra, esteve ontem em Goiás, pela segunda vez em menos de 15 dias, para tentar neutralizar os prejuízos eleitorais provocados em sua candidatura pela decisão do PMDB do Estado de romper a aliança com o PSDB, devido decisão do governo de federalizar a estatal Companhia de Eletricidade de Goiás (Celg).

Segundo o senador Mauro Miranda (PMDB-GO), 60% dos peemedebistas goianos já fecharam com Ciro, que estará no Estado na sexta-feira. De acordo com Miranda, Ciro lidera as pesquias em Goiás, onde Serra está em último.

A estratégia de Serra para tentar reverter a situação é colar a sua imagem à do governador Marconi Perillo (PSDB), candidato à reeleição e líder nas pesquisas. O candidato tucano chegou a Goiânia à tarde, acompanhado de sua vice, Rita Camata, e do coordenador de campanha, deputado Pimenta da Veiga (PSDB-MG). Ele foi recebido no aeroporto por Perillo e pelo deputado Ronaldo Caiado (PFL).

Um repórter lhe perguntou se estaria direcionando sua campanha para Estados onde candidatos do PSDB estão liderando as pesquisas, Serra limitou-se a dizer que não está "colando nem descolando", mas apenas fazendo campanha.

"Aonde quer que eu vá, tem candidato nosso, tem prefeito nosso, e Goiás é um dos Estados que mais têm prosperado, especialmente nos últimos anos."

O candidato tucano não quis comentar a decisão do PMDB goiano de abandonar sua candidatura. "Não vou comentar nada do PMDB de Goiás. Estou com o governador, que vai ser o futuro governador, a futura senadora Lúcia Vânia, Ronaldo Caiado e vários candidatos que se reelegerão ou que se elegerão pela primeira vez . É o único comentário que me interessa fazer", resumiu.

Serra informou que nesta quinta-feira apresentará detalhes do seu programa para a área agrícola, um setor considerado fundamental devido ao grande potencial para a criação dos empregos que prometeu.

Ele antecipou que um dos pontos é a instituição do seguro agrícola para a agricultura familiar. Outro é criar um fundo de aval para dar garantias aos produtores na tomada de financiamentos.

O candidato fez ainda três promessas para Goiás. Afirmou que, se for eleito, vai concluir a Ferrovia Norte-Sul, fundamental para escoar a produção do Estado; terminar a duplicação da Rodovia Rio de Janeiro-Brasília que passa por Goiânia; e incluir o Estado em programas de desenvolvimento do turismo.

"Só Brasília e Goiânia ficaram de fora de programas para o turismo. Turismo é indústria a céu aberto", afirmou, no corpo-a-corpo pelas ruas.

Ainda hoje, Serra fará comício em Alexânia, outra cidade de Goiás.

Resposta - Durante a passagem por Goiânia, Serra respondeu a ataques do candidato do PPS, Ciro Gomes. Pela manhã, no Rio, Ciro havia definido como "mirabolante" a promessa de Serra de criar 8 milhões de empregos, caso seja eleito. "Para alguém que quer quebrar a Previdência e arma uma loucura para o sistema tributário, certamente, qualquer idéia sensata parece ser mirabolante", reagiu o tucano, referindo-se a propostas de Ciro.

Serra, entretanto, não quis opinar sobre a indicação do economista José Alexandre Scheinkman como assessor econômico da campanha de Ciro.


Lula faz apelo a FHC em defesa de Itamar
Em conversa a sós com o presidente, petista pede ajuda para seu novo aliado

Nos dez minutos em que conversou sozinho com o presidente Fernando Henrique Cardoso, na segunda-feira, o petista Luiz Inácio Lula da Silva ouviu elogios ao seu comportamento e intercedeu pelo mais novo aliado, o governador de Minas Gerais, Itamar Franco (sem partido). "Fiz um apelo ao presidente para que estudasse com carinho o caso de Minas, que está em situação financeira difícil", contou Lula. "Gostaria que o governo discutisse com ele uma saída, porque isso implica problemas salariais sérios no Estado."

Menos de 24 horas depois, Itamar já estava em São Paulo, onde se reuniu com o presidente do PT, deputado José Dirceu (SP). Concordou em montar um roteiro de de viagens com Lula, no mês de setembro, em Minas, São Paulo, Rio e Paraná. Vai subir no palanque petista e participar de comícios. "O caminho para o Palácio do Planalto passa pelo Palácio da Liberdade", resumiu José Dirceu, numa referência à sede do governo mineiro.

Uma nova leva de outdoors com Lula e Itamar foi espalhada por todo o País.

Ao lado do governador mineiro, o apoio explícito: "Prefiro Lula". "Itamar também vai participar do horário eleitoral", afirmou Dirceu.

Questionado por que só ele teve direito a um "segundo turno" de conversa com Fernando Henrique, Lula respondeu com um sorriso. "Eu queria conversar a sós com ele. Não posso?"

Febraban - O petista fez as afirmações no início da tarde de ontem, após participar de um debate com 60 dirigentes de instituições financeiras, na Federação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban). "Foi importante ter vindo aqui porque nessas reuniões o PT consegue se apresentar com cara própria", disse Lula. "Achamos que o setor financeiro deve aplicar menos nos títulos do governo e mais na produção."

Para o presidente da Febraban, Gabriel Jorge Ferreira, o candidato do PT surpreendeu os presentes "de maneira muito favorável". "Tivemos a impressão de que um eventual governo petista não fará loucuras nem agirá à base de canetadas", afirmou Ferreira. Durante a reunião, não foram escancaradas grandes divergências entre os banqueiros e o presidenciável. "Talvez só algumas tonalidades diferentes sobre as reformas trabalhista e da Previdência", disse o presidente da Febraban.

Bem-humorado, Lula disse que pode ter conquistado alguns votos ali. "Pelo menos, quando eu ia saindo, uma moça me pediu um autógrafo", brincou. No encontro, dirigentes da Febraban também mostraram curiosidade sobre o teor do diálogo do petista com Fernando Henrique. "Foi uma conversa civilizada e boa para o Brasil", destacou Lula.

Na opinião do candidato, os US$ 30 bilhões acertados com o Fundo Monetário Internacional (FMI) podem dar uma "certa tranqüilidade para o Brasil conseguir respirar." (Colaboraram Moacir Assunção e André Palhano)


Ciro ataca e diz que 'falta confiabilidade' a Serra
Candidato do PPS ironiza fato de tucano ser candidato do governo e propor mudanças

RIO - O candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, criticou ontem no Rio a promessa de seu adversário do PSDB, José Serra, de criar oito milhões de empregos, se for eleito. Ciro disse que "falta confiabilidade" ao tucano para anunciar criação de postos de trabalho. O presidenciável ironizou o fato de Serra ser candidato do governo e propor mudanças.

"A população quer solução, mas também não quer ser mistificada com propostas mirabolantes. O candidato do governo fala por exemplo em oito milhões de empregos. A pergunta é: por que não fizeram? Por que produziram 11,7 milhões de desempregados e agora que estão precisando do voto do povo vêm falar em continuidade com mudança, mudança com continuísmo, eu sei lá o que é isso", atacou.

Ele comentou a importância do horário eleitoral gratuito, depois de gravar cenas para o programa no alto da favela da Rocinha, a maior do País, na zona sul carioca. Ciro disse que, com a propaganda no rádio e na televisão, a população poderá verificar "quem está preocupado em propor soluções e quem está preocupado em chutar, agredir."

Sobre a colaboração do economista brasileiro José Alexandre Scheinkman, da Universidade de Princeton, na campanha, Ciro afirmou não ver problemas no fato de nem todas as idéias do especialista serem convergentes com a proposta trabalhista. "Quando se traz um professor, ele não está obrigado a estar de acordo com as diretrizes políticas num primeiro momento nem nós estamos obrigados com todas as idéias que ele tem", disse. "É um processo de construção, as melhores idéias serão aproveitadas. Aquelas outras sobre as quais remanescerem divergências não podem ser aproveitadas."

Constatações de idéias divergentes entre os dois, afirmou o candidato, "é tentativa de intriga".

"Estou trazendo de volta para o Brasil uma das maiores cabeças do pensamento econômico mundial."

O presidenciável não quis fazer comentários sobre o encontro com o presidente Fernando Henrique Cardoso, na segunda-feira. Afirmou que ouviu um relato de um "momento de muita delicadeza e muita gravidade na crise financeira".

Ciro disse "compreender que há uma certa desinteligência em setores do mercado em relação às especificidades do Brasil". E reafirmou que, se eleito, cumprirá os contratos firmados pelo atual governo. "É um dever de todo brasileiro que respeita a lei e o Estado de direito democrático."

Bebê - Nas duas horas que passou na Rocinha, gravando cenas para o horário eleitoral gratuito, Ciro conversou com moradores e ouviu um recado da mulher, Patrícia Pillar, de 37 anos. A atriz, que ainda não tem filhos, falou para o candidato, ao pegar no colo a menina Fernanda, de 4 meses: "Estou treinando!" Ciro ouviu impassível, enquanto os companheiros de campanha brincavam com ele.

Bem-humorado, o presidenciável riu do fato de Patrícia ser tão assediada pelos fãs e parar a toda hora para distribuir beijos, autógrafos e conversar com os eleitores. "Ela parece balsa de enchente, pára em qualquer curva de rio", divertiu-se. Ao chegar à favela, Ciro trocou a van onde estava por uma kombi da cooperativa de transporte local e subiu pela rua principal até o alto do morro.

Ele gravou em uma área aberta, dentro de uma vila, de onde se avistava a favela e, em baixo, o bairro de São Conrado, um dos mais sofisticados da cidade. Na gravação, Ciro fez um contraponto entre a favela e os condomínios e lojas elegantes do bairro.


Guerra na TV começa com ataques a Ciro
Serra mostra contradições do candidato e destaca frase em que um eleitor é chamado de ‘burro’

Estacionado em 11 pontos na pesquisa Ibope divulgada ontem, na qual Ciro Gomes (PPS) está 14 pontos acima dele, o candidato José Serra mostrou, já na estréia do horário eleitoral, que está disposto a uma batalha de vida ou morte para chegar ao segundo turno da campanha presidencial.

Primeiro, abriu seus 10 minutos e 23 segundos com um campeão de audiência, Gugu Liberato, contando sua vida e seus méritos, com destaque para o título de “melhor ministro da Saúde do mundo”. Depois, entrou o presidente Fernando Henrique Cardoso escolhendo-o como seu candidato. Por fim, depois de uma exposição competente de seus projetos, desfechou um duro ataque ao rival, ao mostrar cenas em que ele faz declarações contraditórias e até chama de burro um ouvinte de rádio que lhe havia feito uma pergunta. “(Ele) tem de fazer perguntas com mais cuidados, para largar de ser burro” – foi a frase de Ciro, dita durante uma entrevista a uma rádio de Salvador, na Bahia.

A disposição de luta de Serra foi o “grande momento” do primeiro dia da propaganda eleitoral na TV. É um sinal de réplicas, tréplicas e tempestades estão por vir, numa temporada que durará quase 70 horas, com dois programas de 50 minutos por dia, menos aos domingos, até 3 de outubro. Tanto que Ciro, que entrou logo depois dele com uma apresentação bem cuidada, mas sem surpresas, deu o troco uma hora depois, quando inaugurava um comitê em São Paulo. “O dragão da maldade já está apelando para a ignorância”, comentou ele. “Já estamos sentindo o cheiro da vitória, que está chegando”. Perguntado sobre quem seria o dragão da maldade, explicou: “É esse governo aí, que está desesperado e já baixou o nível na primeira hora”.

Alheio à briga pela vice-liderança nas pesquisas, o PT fez de seu candidato, Luiz Inácio Lula da Silva, um misto de professor e mestre de cerimônias nos seus 5 minutos e 19 segundos da noite.

Bem acabado e dirigido, muito melhor à noite do que durante a tarde, o programa petista tentou mostrar equipes competentes e disse aos empresários que “precisa muito deles”.

Mas, como sempre, deixou advertências aos “sonegadores e especuladores” e garantiu que tem “coragem para mudar”. A exemplo de Serra, Lula mostrou força ao exibir dois programas inteiramente diferentes, à tarde e à noite – o da noite incomparávelmente melhor.

Repetindo exatamente o papel que tem ocupado na campanha e nas pesquisas, mais modesto e com muito menos recursos, o candidato Anthony Garotinho (PSB) apareceu jogando na defesa: invocou as figuras de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, para afirmar que eles também foram acusados de demagogos e populistas e que sempre estiveram “ao lado do povo”.

Artistas – Serra lembrou o recorde de 125 emendas apresentadas na Constituinte, em 1988. E, entre uma promessa e outra, como a de criar um Ministério da Segurança Pública, aparições de artistas como Gugu Liberato e Xitãozinho e Xororó.

Coube aos nanicos, em breves momentos, quebrar a monotonia – tarefa para a qual eles já se mostraram insubstituíveis. Rui Pimenta, presidenciável do PCO (Partido da Causa Operário), por exemplo, prometeu um salário mínimo de R$ 1.500 a todos os trabalhadores. José Maria Almeida, do PSTU, defendeu “um calote no FMI”, sem o qual “o Brasil vai virar uma Argentina”.

Na segunda metade do programa, dedicada aos candidatos a deputado – nos quais não houve mudanças da tarde para a noite – , nenhum sinal dos tipos exóticos, com suas propostas e slogans surpreendentes. O “troféu agilidade” pode ir para o PMDB, que apresentou – mas sem mostrá-lo – o novo candidato a governador, escolhido para o lugar de Fernando Morais.

E Enéas, agora batalhando por uma cadeira na Câmara, não perdeu a velha forma: entrando já no finalzinho do programa, ao som da 5.a Sinfonia de Beethoven, ele bradou: “Vocês acabaram de ouvir um festival de mentiras!”


Artigos

A mata, a agricultura e a Nação
Eduardo Diniz Junqueira

Ao chegar ao Novo Mundo, os portugueses depararam apenas com a natureza bruta e índios pelados. Só lhes restou explorar o que a natureza oferecia: madeira, papagaios e outros produtos naturais, como os próprios índios.

O pau-brasil foi a riqueza iminente. Seu colorante vermelho alcançava altos preços e índios para cortar pau a troco de miçangas havia muitos. Foi a primeira agressão à natureza como objeto comercial.

A cana-de-açúcar, trazida da Ilha da Madeira, foi o segundo produto a exigir a derrubada de árvores. O primeiro com fim agroindustrial e o primeiro a alterar de modo significativo a paisagem brasileira, com a derrubada total da mata. O Engenho dos Erasmos, em São Vicente (1532) e, logo em seguida, o de Bom Jesus, no Recife, foram os primeiros a ser fundados. A prática do cultivo da cana-de-açúcar, com a repetição dos cortes, dos replantios, da lenha para as fornalhas, das roças de subsistência e das cidades que nasciam, fazia dela um erradicador da floresta.

Após a da cana, a cafeicultura foi a que mais e mais fortemente contribuiu para a derrubada das matas e, concomitante, o povoamento e progresso do País. Introduzida no Pará, por Melo Palheta, no século 18, foi todavia na província do Rio de Janeiro, no início do século 19, que se deu a sua fulgurante expansão e a conseqüente aceleração do desmatamento definitivo.

Falo em desmatamento definitivo porque, até então, fora da área canavieira, a prática agrícola herdada dos índios e transferida pelos bandeirantes aos emboabas era a da coivara, de cultivo errante. Nela se derrubava o mato, se deitava fogo, se encoivarava a paulama queimada e se cultivavam cereais na cinza ainda quente, durante dois ou três anos, até a terra endurecer. A área abandonada por outra se recuperava pela capoeira. O morgado de Mateus, governador de São Paulo (1765-75), em vão tentou introduzir o uso do arado, que, fixando o lavrador na terra, talvez tivesse criado um panorama fundiário diferente. A prática da coivara sobreviveu até os nossos dias.

O café foi a grande força econômica e civilizadora do Centro-Sul. Subiu o Vale do Paraíba, desbordou para a Zona da Mata mineira, galgou a Serra da Mantiqueira e se derramou pelo Planalto paulista. Derrubou as matas, abriu estradas, criou cidades - Ribeirão Preto é uma das muitas. As derrubadas não se fizeram apenas para devastar a natureza, como insiste certo jargão verde.

Infelizmente, não se pode plantar em terra maninha, como não se pode tirar a meia sem tirar o sapato. São Paulo, de fato, cresceu com o café, com a Abolição, com a imigração, com a República, com a estrada de ferro, à custa do desmatamento e das queimadas para limpeza do terreno. Braudel, no seu livro A Identidade da França, descreve uma Europa, do medievo ao fim do século 18, enfumaçada pelos carvoeiros. Não somos novidade, só estamos fora da moda.

A decantada mata atlântica, cujos remanescentes urge salvar, no meu entender e no que a distribuição florestal naturalmente indica, limita-se às vertentes que diretamente correm para o Atlântico, ao longo do litoral brasileiro, exceto o Amazonas. As outras grandes vertentes do Sul do Brasil, as dos Rios Paraná, Paraguai e Uruguai, se direcionam para a Bacia do Rio da Prata. As matas da vertente do Paraná, que drena aproximadamente três quartos do território paulista, em linhas gerais, se separam das matas da vertente atlântica por uma linha de campos que, do Rio Grande do Sul, corta Santa Catarina, Paraná, entra em São Paulo por Itapetininga, passa por Campinas e segue para Minas Gerais.

A mata atlântica tem espécies vegetais típicas, como também as têm os campos cerrados que se estendem, intercaladamente, com matas, por toda a Bacia do Rio Grande. E, também, nos campos que, partindo de Itapetininga, Botucatu e Campos Novos do Parapanema, separavam as matas do Rio Parapanema das do Rio do Peixe.

Os dois grandes blocos de matas contínuas do Estado de São Paulo eram a mata atlântica (Serra do Mar e Rio Paraíba do Sul) e do oeste paulista (Rios do Peixe, Aguapeí e Tietê). São Paulo, originalmente, tinha, no mínimo, 40% de campos/cerrados, do tipo savana, e não 18% ou 14%, como alguns técnicos registram.

Devemos preservar os remanescentes florestais, na sua expressão natural, e recuperar a vegetação ciliar das nascentes, nos córregos, nos rios e lagoas, no sentido da preservação das águas conjuntamente com a natureza. Mas lembrando sempre que também as plantas cultivadas são eficientes seqüestradoras de gás carbônico da atmosfera.

James Reston, renomado comentarista do jornal The New York Times, em artigo publicado no Estado, comentando sobre a Califórnia que conhecera antes da transformação causada pelo New Deal e a dos anos 1950, escreveu sobre a beleza da paisagem geometricamente disposta dos talhões cultivados pelo homem. Chamou de verdadeiros trabalhos de Hércules o trabalho do agricultor californiano, que transformou a natureza selvagem em deslumbrante panorama artisticamente ordenado e produtivo. Também assim acontece com o agricultor brasileiro: transformou a mata numa nação e o cerrado numa seara.


Editorial

Um país de oportunidades, agora mesmo

Este é um bom momento para fazer negócios no Brasil. Esta é a mensagem que o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, levarão a banqueiros e a investidores internacionais, na próxima semana. Em Nova York, na segunda-feira, eles deverão reunir-se com representantes de algumas das principais instituições financeiras do Primeiro Mundo. Seu objetivo, segundo Fraga, será não só a reativação dos financiamentos comerciais, muito reduzidos nos últimos dois meses, mas a manutenção e até a ampliação de todos os tipos de aplicações.

Uma instituição com grandes interesses no País, o banco espanhol Santander, anunciou em Madri, ontem, que pretende manter uma linha de crédito comercial de US$ 600 milhões para o País. Essa decisão, disse o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Enrique Iglesias, é um estímulo para que outras instituições normalizem o crédito ao Brasil.

O encontro será no escritório regional do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). O governo brasileiro será apoiado, nesse contato com os banqueiros, pelo Fundo Monetário Internacional, pelo Banco Mundial (Bird) e pelo BID, já comprometidos com o grande pacote de financiamento programado para os próximos 15 meses. O diretor-geral do Santander para as Américas, Francisco Luzon, acrescentou seu aval àquele já fornecido pelas instituições multilaterais e pelo Tesouro dos Estados Unidos: o acordo com o Fundo, afirmou, é extremamente positivo e, se o mercado ainda não teve essa percepção, deverá tê-la nas próximas semanas, "porque a economia brasileira continua funcionando".

A mensagem que Malan e Fraga levarão a Nova York não será a de um País à beira da insolvência ou paralisado por uma crise avassaladora. Poderão falar de uma economia com superávit comercial superior a US$ 5 bilhões em 12 meses e com perspectiva de um saldo igual ou maior em 2003. Mostrarão que o déficit em conta corrente vem caindo de forma consistente, a partir de 1999, e tem-se tornado muito mais administrável. Terão como afirmar que o governo está comprometido com a obtenção de um robusto superávit primário - e que a meta fiscal para o próximo ano foi aceita pelos principais candidatos à Presidência. Nenhuma das mudanças pretendidas por esses candidatos implica o abandono da seriedade monetária nem do regime cambial inaugurado há pouco mais de três anos.

Caberá recordar que ocorreram, nos últimos anos, inovações de grande alcance na esfera institucional, como a legislação de responsabilidade fiscal, a reforma dos bancos oficiais e a renegociação com Estados e municípios.

Faltam reformas importantes, de que o próximo governo deverá cuidar, mas o que se fez até agora já constitui um ativo considerável.

As autoridades, além disso, têm sabido reagir às turbulências dos últimos anos, manejando com disposição tanto os freios monetários quanto os controles fiscais. Mas não se têm limitado a ações defensivas. O governo continua ativo nas negociações internacionais de comércio, tem procurado reformular os instrumentos de incentivo à economia e foi capaz, nas últimas semanas, de montar um programa de emergência para financiamento à exportação, com apoio de entidades financeiras multilaterais.

Ontem mesmo, o Banco Central informou ao mercado as condições de uso dos US$ 2 bilhões que deverá destinar a esse tipo de crédito. Esse dinheiro é parte de um total de R$ 14 bilhões, aproximadamente, que instituições governamentais deverão pôr à disposição dos exportadores para que possam trabalhar com alguma normalidade.

No meio de todas as dificuldades que têm afetado a economia brasileira, desde o ano passado, alguns setores vêm exibindo um notável desempenho. O agronegócio continua a crescer, criando empregos e gerando receita em moeda forte. A pauta de exportação tem mudado, com a incorporação de produtos novos e de setores dinâmicos. São dados concretos e não promessas de longuíssimo prazo. Não será o exercício do ritual democrático do voto que destruirá tudo isso. O mercado parece começar a perceber essa verdade simples. Torná-la ainda mais clara será a missão dos que falarem pelo Brasil na reunião de segunda-feira.


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08/21/2002


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