FHC inicia transição








FHC inicia transição
Assustado com a desconfiança demonstrada pelo mercado financeiro em relação ao acordo fechado com o FMI, presidente quer marcar reuniões com candidatos à sucessão para pedir que anunciem logo sua política e equipe econômica

O mercado financeiro voltou a demonstrar que testará até o limite o poder de fogo do Banco Central para conter a alta do dólar. Desde a abertura dos negócios, ontem, houve forte pressão sobre a moeda norte-americana, provocando grande movimentação no Palácio do Planalto para reverter o clima de pessimismo que domina o país.

Assustado com o mau-humor dos investidores, que se recusam a considerar um bom negócio o empréstimo de US$ 30 bilhões do Fundo Monetário Internacional para o Brasil, o presidente Fernando Henrique Cardoso pediu a seus auxiliares para marcar uma reunião com os candidatos à Presidência da República. Ele quer retirar de cada um deles o apoio formal aos termos do acordo com o FMI. Dos US$ 30 bilhões aprovados pela instituição, US$ 24 bilhões serão desembolsados em 2003.

Segundo expectativa dos operadores de dois importantes bancos estrangeiros, o presidente deverá repetir aos quatro políticos a seguinte análise sobre as razões da persistência da crise do dólar: 1) Escaldados com os fortes prejuízos que tomaram na Argentina e nos Estados Unidos, especialmente com escândalo da falência da Enron, os bancos estão fugindo de novos riscos; 2) Além de todas as providências já tomadas pelos candidatos para conferir credibilidade a seus programas de governo, é preciso que eles dêem mais um passo. Precisam adiantar decisões sobre nomes de suas equipes e medidas concretas para consolidar a economia que se comprometem a adotar logo após a posse.

A movimentação do Planalto se intensificou depois do fechamento do mercado, a ponto de o ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente, divulgar nota sobre o encontro com os presidenciáveis. O dólar foi cotado a R$ 3,15, com valorização de 4,3%. O risco-país disparou 10,7%, atingindo 2.219 pontos. O Brasil retornou à terceira posição de mais arriscada nação para o capital estrangeiro, ultrapassando o Uruguai, cujo sistema financeiro esteve à beira da falência na semana passada.

Nessa lista, o país só está atrás da Argentina (6.888 pontos) e da Nigéria (2.712 pontos). A Bolsa de Valores de São Paulo caiu 2,62%. O C-Bond, título mais negociado da dívida externa brasileira, registrou desvalorização de 5,41%, cotado a US$ 0,52 — isto é, metade de valor de emissão.

‘‘Todos esses números refletem a distância cada vez maior entre os candidatos do PSDB, José Serra, e do PPS, Ciro Gomes, nas pesquisas de intenção de voto’’, afirmou o diretor de Mercado de Risco do BES Investimentos, Carlos Guzzo. ‘‘Cada disparada do preço do dólar representa a diferença maior em favor de Ciro contra Serra na preferência do eleitorado’’, ressaltou o executivo. Na sua avaliação, o mercado sabe que a munição efetiva do Banco Central é de aproximadamente US$ 15 bilhões, e não se intimidará em especular com o valor futuro da moeda norte-americana.

Na última pesquisa do Instituto Vox Populi, divulgada no domingo, Ciro apareceu em segundo lugar na preferência do eleitorado, com 29%. O líder Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, tinha 34%, mas perderia no segundo turno em uma eventual disputa com o presidenciável da Frente Trabalhista.

A ação do governo para acalmar o mercado envolveu, também, o presidente do Banco Central, Arminio Fraga, e o ministro da Fazenda, Pedro Malan. Logo pela manhã, Fraga disse que o BC poderá oferecer novas linhas de crédito às empresas brasileiras, que não estão conseguindo refinanciar suas dívidas no exterior. Este mês, vencerão quase US$ 2 bilhões entre principal e juros das dívidas. Débitos que os bancos estrangeiros se recusam a alongar.


Teste será na quinta-feira
Boa parte do nervosismo registrado no mercado financeiro está associado à expectativa dos investidores sobre a capacidade do governo de refinanciar US$ 2,5 bilhões em títulos públicos cambiais que vencerão na próxima quinta-feira. ‘‘Será um teste importante de confiança para o Tesouro Nacional, que vem enfrentando dificuldade para rolar a dívida pública no período pré-eleitoral’’, disse o consultor Danny Rappaport, da Tendências. ‘‘O mercado está pedindo títulos cada vez mais curtos e com juros mais altos’’, ressaltou.

Esse, porém, será apenas um dos vários obstáculos que o governo terá até o segundo turno das eleições presidenciais, em outubro. No dia 1º de setembro vencerão US$ 280 milhões e, no dia 11, US$ 1 bilhão. No dia 1º de outubro, o Tesouro terá de rolar ou resgatar US$ 687 milhões. No dia 17 de outubro, quando a disputa deverá estar restrita a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PPS), segundo as atuais pesquisas, vencerão US$ 3,853 bilhões.

No total, o governo terá que contar com a boa vontade do mercado para refinanciar US$ 8 bilhões até uma semana antes do segundo turno. Pela cotação de ontem do dólar (R$ 3,15), serão R$ 25,2 bilhões. Metade do que o governo alega ter em caixa para resgatar os títulos na recusa dos investidores.

Os analistas chamam a atenção para o teste de confiança do governo acontecer em meio à nova arrancada dos preços do dólar e à divulgação de números da inflação de agosto. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a prévia do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) alcançou 1,01%, ante o 0,82% fechado na primeira semana de julho. Em São Paulo, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) informou que a primeira prévia do IPC-Fipe ficou em 0,79%, índice superior à inflação fechada do mês passado, de 0,67%.

Outra má notícia: as ações dos maiores bancos brasileiros despencaram na Bovespa por causa da desconfiança generalizada que ronda o setor bancário mundial diante da concordata da US Airways, com dívidas de US$ 8 bilhões. Os papéis do Unibanco caíram 12,05%. Os do Bradesco, 6,5%. Os do Itaú, 4,89%, e os do Banco do Brasil, 2,96%.


US Airways derruba bolsas no mundo
O pedido de concordata do grupo US Airways trouxe mais pessimismo para o mercado acionário americano, que já sofria com o novo escândalo contábil envolvendo a WorldCom. Para piorar, os investidores — que passaram a semana passada apostando em nova queda dos juros nos Estados Unidos — já não acreditavam que Alan Greenspan, o presidente do Federal Reserve (o Fed, banco central americano), e seus colegas optariam por uma nova redução na taxa.

A mudança de expectativa — aliada ao efeito US Airways — derrubou as principais bolsas do planeta ontem, com os investidores vendendo papéis para embolsar os lucros dos bons negócios da semana passada. Na Bolsa de Valores de Nova York, o índice Dow Jones fechou em queda de 0,65%. A onda de pessimismo chegou a Tóquio, onde a bolsa encerrou o dia em baixa de 2,50%. Espalhou-se pelos principais pregões da Europa. O de Frankfurt despencou 3,02%, o de Paris recuou 2,42%, e o de Londres retrocedeu 2,50%.

No Brasil, a notícia ajudou a derrubar a bolsa paulista, que caiu 2,62%. O recuo foi influenciado também pelo mau humor do mercado com as sucessivas quedas do candidato do governo, o tucano José Serra, nas pesquisas de intenção de voto para presidente da República no Brasil.

Sexta maior operadora aérea dos Estados Unidos, a US Airways Group Inc. pediu concordata no domingo. Ela foi a primeira grande companhia de aviação americana a fazer o pedido desde que os ataques terroristas de 11 de setembro detonaram a atual crise da indústria aérea.

Os ativos listados pela empresa no pedido somam US$ 7,83 bilhões e as garantias, US$ 7,81 bilhões. A companhia aérea pretende sair da concordata no primeiro t rimestre de 2003. As ações da US Airways não foram negociadas em Wall Street ontem. No mercado paralelo, os títulos eram vendidos a US$ 0,50 por unidade contra os 2,45 dólares negociados no fechamento sexta-feira na Bolsa de Nova York, o que significa uma queda de 79,6%.

A US Airways é a sétima companhia aérea dos Estados Unidos e figura entre as 15 primeiras do mundo. Apresentou o pedido de concordata como a melhor forma de se reestruturar, protegida dos credores, considerando que poderá retomar o funcionamento normal no primeiro trimestre de 2003. Para financiar sua reorganização, a US Airways anunciou que obteve US$ 500 milhões de um consórcio liderado pelo Credit Suisse First Boston e o Bank of America.

No Brasil, as empresas áreas também passam por dificuldades. O caso mais grave é o da Transbrasil, que completou oito meses de paralisação sem dar sinal de retomada das atividades. Depois de várias tentativas fracassadas de venda, as ações da empresa continuam na mão da família do fundador Omar Fontana e de seu principal sócio, Antônio Celso Cipriani. ‘‘A situação continua a mesma’’, diz o porta-voz da companhia, Carlos Badra. Os telefones da empresa estão desligados e parte de sua estrutura no Aeroporto de Congonhas está sendo utilizada pela empresa de táxi aéreo de Cipriani, a Target.

TAM e KLM juntas
Numa tentativa de se fortalecer no mercado e driblar a crise, a companhia aérea holandesa Royal Dutch Airlines (KLM) e a TAM anunciaram ontem uma parceira para estimular a venda de bilhetes para a classe executiva no Brasil. Os passageiros da KLM que viajarem do Brasil para a Europa até 10 de dezembro pela classe business ganharão um final de semana pago na rede de hotéis Sol Meliá ou um crédito de US$ 150 para uso em qualquer rota doméstica da TAM. Estão na lista da promoção bilhetes de ida e volta para dez países: Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Alemanha, Suíça, Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca e França — exceto Paris.


Bancos desistem de Serra
Analistas que apostaram na vitória de Serra avisam a seus clientes que o candidato do PSDB está praticamente fora do segundo turno da eleição presidencial no Brasil

A economista Emy Shayo, do Bear Stearns, um dos maiores bancos de investimentos dos Estados Unidos, costuma dizer, nas conversas com amigos, que a candidatura de José Serra (PSDB) à Presidência do Brasil foi enfiada goela abaixo do mercado financeiro. Como ela, outros economistas de renome em Nova York e Londres afirmaram, em várias oportunidades, que Serra foi o candidato possível, não o desejável pelos investidores estrangeiros. Críticas à parte, o mercado encampou o presidenciável tucano a ponto de apostar todas as fichas na sua eleição.

A menos de dois meses do primeiro turno, no entanto, essa confiança começa a se esfacelar. Em relatórios despachados ontem para seus clientes, o banco inglês Barclays Capital, o alemão Dresdner Kleinwort Wasserstein e a consultoria IdeaGlobal, que presta serviço para os principais fundos de investimentos do mundo, admitem que ‘‘está praticamente impossível’’ para Serra chegar ao segundo turno da disputa pelo comando do Brasil.

O economista-chefe de Pesquisas Econômicas para a América Latina da IdeaGlobal, Ricardo Amorim, é enfático no seu texto. Ele diz ainda esperar por um aumento nas intenções de votos de Serra depois do início dos programas eleitorais gratuitos na televisão a partir do próximo dia 20. ‘‘Mas estou cada vez mais desconfiado de que esse crescimento não será suficiente para garantir uma vaga no segundo turno, tamanha é a distância de Serra em relação a Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e de Ciro Gomes, do PPS’’, afirma. ‘‘Agora, nós acreditamos na vitória de Lula ou de Ciro’’, ressalta.

Os economistas Neil Dougall e Nuno Câmara, do Dresdner, chamam a atenção, logo na primeira página no Latam Macro News, para o fato ‘‘negativo’’ de Lula permanecer na liderança das pesquisas. Mas o que realmente preocupa os especialistas do banco alemão é a consistência da candidatura de Ciro Gomes. ‘‘Estamos preocupados, porque nem mesmo um escândalo envolvendo o candidato do PPS — as denúncias contra o ex-coordenador de sua campanha José Carlos Martinez, do PTB, com Paulo César Farias, ex-tesoureiro de Fernando Collor de Mello — foi suficiente para derrubá-lo nas pesquisas (e impulsionar Serra)’’, destacam. ‘‘Se não conseguir melhorar sua posição o mais rapidamente possível nas pesquisas, Serra corre o risco de ver rachar a aliança do PSDB com o PMDB, que dão suporte a sua candidatura’’, assinalam.

Jose Barrionuevo e Gustavo Rangel, do Barclays Capital, ressaltam que é quase inviável a Serra chegar entre os dois finalistas na disputa pela sucessão de Fernando Henrique Cardoso. ‘‘A recuperação de Serra (na preferência do eleitorado) é muito difícil e o possível racha entre seus aliados poderá beneficiar Ciro Gomes’’, afirmam. Para Carlos Guzzo, Diretor de Mercado do BES Investimentos, instituição controlada pelo Banco Espírito Santo, de Portugal, os investidores tanto já acreditam na vitória de Ciro, que trabalham com a possibilidade de o candidato do PPS adotar um discurso pró-mercado logo depois do início dos programas gratuitos na tevê.

‘‘Ciro vai moldar seu discurso mais ao centro para atrair o apoio que ainda está com Serra. Não será surpresa, inclusive, se o candidato do PPS anunciar que manterá Arminio Fraga na presidência do Banco Central no primeiro ano de seu eventual governo’’, diz Guzzo. Ele afirma, ainda, que a sentença de morte da candidatura de Serra, caso o tucano não decole nas pesquisas, será dada pelo mercado financeiro nos primeiros dez dias da propaganda eletrônica.

O candidato do PSDB, porém, não esmorece. Diz, mesmo para os incrédulos, que a única pesquisa válida é a das urnas no dia 6 de outubro. ‘‘E eu serei o vencedor’’, garante Serra. O problema é que nem seus assessores mais próximos acreditam mais nisso.


PSDB perplexo com efeito teflon de Ciro
É crescente o nível de ansiedade na campanha presidencial do senador José Serra (PSDB). Não exatamente por causa do desempenho sofrível nas pesquisas de intenção de voto. O que vem tirando o sono dos estrategistas tucanos é o fato de Ciro Gomes, da Frente Trabalhista (PPS, PTB e PDT), seguir mais de 15 pontos percentuais à frente mesmo depois das denúncias e acusações que desabam sobre ele há mais de uma semana.

O bombardeio mais recente, surgido no noticiário do fim de semana, revela a condenação de Ciro num processo movido pelo microempresário Atualpa Parente, dono de um armazém na cidade de Sobral, no interior do Ceará. Candidato a deputado estadual em 1982, Ciro mandava bilhetes a Parente, pedindo-lhe que entregasse material de construção a eleitores. A conta seria paga pela Prefeitura Municipal, depois do pleito. Na época, o município era administrado pelo pai do candidato.

Atualpa Parente trocou mercadorias por bilhetes com a assinatura de Ciro durante três meses. Depois da eleição foi cobrar a dívida na prefeitura, mas os funcionários negaram-se a quitá-la. Ele afirma ter recorrido ao deputado eleito. Dele também não conseguiu solução para o papagaio. Resolveu entrar na Justiça. Perdeu em primeira instância, mas ganhou quando o caso chegou ao Tribunal de Justiça. Condenado, Ciro pagou o que devia.

Num primeiro momento, o presidenciável negou-se a falar sobre o episódio com Atualpa Parente. Ontem, porém, fez um comentário rápido. Ao Correio, disse que considera o caso encerrado. A prova disso, segundo Ciro, é o apoio de Parente à sua candidatura a presidente. Entre os marqueteiros de José Serra fala-se com certo espanto do desfecho desse e de outros casos levantados durante o primeiro debate entre os presidenciáveis, promovido pela TV Bandeirantes há uma se mana. No estúdio da Band, Serra envolveu Ciro numa polêmica quanto ao salário mínimo, revelando que ele jamais pagou o equivalente a US$ 100 quando ocupou o Ministério da Fazenda, entre setembro e dezembro de 1994.

Desde então, Serra não perde oportunidade de desmentir Ciro. Divulgou a informação de que ele estudou em colégios privados, ao contrário do que costuma dizer. Quer carimbá-lo como um mentiroso compulsivo. Faz isso desde que pesquisas de opinião detectaram no eleitorado uma espécie de hipnose com o candidato da Frente Trabalhista. Mesmo longe de cargos públicos há oito anos, ele é visto como um sujeito honesto, sincero e confiável.

Entre os estrategistas de Serra, a avaliação é de que os programas de TV do PPS, PTB e PDT catapultaram Ciro, em junho, mas a imagem de bom moço é que o consolidou como o segundo das pesquisas, atrás somente de Lula. Serra pretende destruir tal percepção. Até aqui as contradições de Ciro não arrefeceram o entusiasmo da opinião pública. Por isso mesmo, a carga contra ele vai aumentar a partir do dia 20 de agosto, quando começa o programa eleitoral gratuito no rádio e na TV.


Agenda dos candidatos a presidente

Lula
• PT
Estará no Paraná. Lula embarca de manhã para Umuarama e à tarde segue para Curitiba.

Ciro
• PPS
Faz campanha na Associação de Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB), em São Paulo. À tarde, participa do ciclo de entrevistas da Folha de S.Paulo.

Serra
• PSDB
Passa o dia em São Paulo gravando programas para a propaganda eleitoral gratuita.

Garotinho
• PSB
O candidato também grava programas para o horário eleitoral gratuito, no Rio de Janeiro.

José Maria
• PSTU
Participa de caminhada, às 9h, contra a mercantilização do ensino, da Universidade de Brasília (UnB) até a Esplanada dos ministérios.

Rui Pimenta
• PCO
Participa de caminhada e faz uma palestra na cidade de Baueri, em São Paulo.


Agenda dos candidatos a governador (DF)

Benedito Domingos
• PPB
Passa a manhã e a tarde em corpo-a-corpo pelo DF. Às 17h, participa da solenidade de entrega da Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho.

Carlos Alberto
• PPS
Pela manhã, faz campanha em uma das estradas de acesso à Câmara Federal e grava programa de TV. À tarde, reúne-se com coordenadores da campanha. À noite, encontra-se com líderes da área cultural de Ceilândia.

Geraldo Magela
• PT
Pela manhã, dá entrevista ao DFTV, da Rede Globo. À tarde, participa da Campanha Contra a Mercantilização da Educação, na UnB, e faz campanha no Recanto das Emas.

Joaquim Roriz
• PMDB
Não divulgou.

Rodrigo Rollemberg
• PSB
Pela manhã, faz campanha na entrada do Senado. Em seguida, grava o programa eleitoral de TV.

Expedito Mendonça
• PCO
Faz campanha no Setor Comercial Sul.

Orlando Cariello
• PSTU
Pela manhã, participa da Campanha Contra a Mercantilização da Educação, na UnB. À tarde, vai a manifestação na Esplanada dos Ministérios sobre o mesmo assunto.

Guilherme Trotta
• PRTB
Passa o dia em gravação para o horário eleitoral.


Erro na hora do voto
Tribunal Superior Eleitoral altera a ordem dos cargos na cédula eleitoral e incentiva a cola para reduzir e amenizar os equívocos dos eleitores na escolha dos candidatos

A urna eletrônica, o xodó dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral, será usada nos 5.507 municípios brasileiros nas eleições de outubro. A geringonça, porém, é imperfeita para alguns eleitores. Com tantos números para digitar, eles se confundem e erram — principalmente os de renda e escolaridade baixas. A constatação foi feita nas eleições de 1998, quando o equipamento foi usado por 61 milhões de pessoas em 537 cidades.

Este ano, as urnas eletrônicas estarão à disposição dos 115 milhões de eleitores. Com o aumento no número de usuários, ou melhor, de eleitores, o tropeço involuntário preocupa — a ponto de o Tribunal tomar providências para amenizar os efeitos dos erros dos eleitores. ‘‘Uma parcela do eleitorado erra, mesmo’’, afirma o presidente do TSE, Nelson Jobim. Em entrevista ao Correio, ele disse acreditar que 3% do eleitorado, mesmo querendo acertar, deverá errar o voto no momento de teclar os números dos seus candidatos preferidos.

A previsão é feita a partir do exemplo das eleições para governador no Distrito Federal, em 1998. Parte do eleitorado brasiliense errou involuntariamente no primeiro turno das eleições de 1998, o que confundiu os institutos de pesquisas, que apresentaram Joaquim Roriz (PMDB) como ganhador. O que se viu nas urnas, porém, foi exatamente o contrário. Cristovam Buarque (PT) venceu o primeiro turno com 43% dos votos contra 39% de Roriz. O eleitor errou à medida que votava na urna eletrônica, fazendo confusão com os números e pressionado pelas pessoas que aguardavam na fila.

‘‘Houve erro em Brasília. Fizemos um estudo que comprovou o equívoco do eleitor na hora de votar’’, reconhece Jobim. O cálculo que demonstra o erro do eleitor brasiliense é simples. Basta analisar o percentual de votos nulos entre o primeiro e o segundo turno no Distrito Federal. No primeiro turno, 5,1% dos votos foram nulos, caindo para 1,7% na segunda rodada de votação.

‘‘O eleitor errou. As pesquisas de opinião no primeiro turno apontaram Roriz como vencedor porque a intenção do eleitorado era essa. Na hora da votação, porém, o eleitor menos instruído de Roriz errou. Por isso o alto índice de votos nulos’’, diz Ricardo Penna, diretor do Instituto Soma. A tese é a de que no segundo turno, com apenas governador e presidente concorrendo, o eleitor conseguiu validar o voto.


Artigos

Governo, oposição e Pitágoras
Jarbas Passarinho

Winston Churchill dizia: ‘‘Não pode ser líder de governo quem não o defende das medidas impopulares ou das piores coisas de que ele é acusado’’. Quando líder do governo João Figueiredo, lendo essa passagem da vida de Churchill, coloquei-a sob o vidro que cobre a minha mesa de trabalho e a segui escrupulosamente. Defendi decisões, isso sim, algumas vezes vencendo resistências de meu próprio pensamento, mas não da minha consciência. É o ônus de ser governo no embate comum contra o jogo da oposição, freqüentemente astucioso. É o que vem fazendo sempre o ministro da Fazenda.

Dizia Carlyle ser a economia uma ciência do desespero. De Roberto Campos é esta frase: ‘‘A economia dizem ser a pseudociência de alcançar a miséria com o auxílio da estatística’’. Hélio Beltrão, que economista não era, imputava-lhe a dura missão da repartição da escassez . O ministro Malan tem estado mais próximo da definição de Hélio Beltrão. No governo FHC, a defesa do governo — pelo menos a que repercute na mídia — tem cabido a ele. Comporta-se como o líder que segue a prescrição de Churchill, ao repartir nestes últimos anos a escassez. Às críticas dos candidatos de oposição à Presidência da República responde com inalterável elegância e comedimento nas palavras.

Tendo recorrido sucessivamente ao remédio amargo do FMI, paga esse preço. Ainda que não tenha experiência de exercício de mandato parlamentar, comporta-se nas convocações às comissões técnicas como um veterano líder na defesa de governo com inalterável equilíbrio, nos gestos, no tom da voz e na resposta muitas vezes reveladora da presença de espírito. O ocorrido com o deputado Mercadante é um exemplo. Ao sarcasmo do jovem petista, que se referira ao custo da tinta de sua caneta (supondo-a no mínimo uma Mont Blanc), o ministro de pronto mostrou-a, acrescentando ser ‘‘uma caneta ordin ária’’. Além de desarmar o opositor, foi elegante. Não disse que era uma Bic, para poupá-la de ser ordinária...

Tem agido como se líder do governo FHC fosse, a contestar o PT e o neotrabalhista Ciro Gomes. Diante da resistência dos candidatos oposicionistas ao FMI, conjugado com o Banco Central, obteve surpreendente acordo de aporte previsto de 30 bilhões de dólares. Mas só 6 bilhões serão disponíveis até dezembro. Os restantes 24 serão desembolsados ao longo de 2003. Nenhuma assinatura foi preciso obter dos candidatos críticos. Maliciosamente, disse Malan que tudo seria mais fácil ‘‘se os principais candidatos expressassem de forma clara algo de que estamos convencidos: de que esse acordo serve aos interesses do país’’.

A ironia está, desde logo, que não inclui Garotinho entre os ‘‘principais candidatos’’, nem o do PSTU. A sagacidade do líder do governo está em deixar à oposição, se vencedora, na alternativa de contar, se quiser, com 24 bilhões de dólares aos juros de apenas 2% ao ano, ou de não fazê-lo e explicar ao povo porque não o faz. Recusa difícil de justificar sob o ângulo dos ‘‘interesses do país’’. Lembrou, não sem uma ponta de ironia, a Carta do PT: ‘‘Vamos preservar o superávit primário o quanto for necessário para impedir que a dívida interna aumente e destrua a confiança na capacidade do governo de honrar os seus compromissos’’. É o atendimento público do que Malan exigia (ele não usa verbo arrogante), isto é, sugeria, quanto à manutenção de metas fiscais.

Talvez ao ministro seja difícil explicar o crescimento da dívida pública. Ciro Gomes acusa que desde 1994 cresceu mais de dez vezes, de 60 para 600 bilhões de reais. Serra diz que não passou de três. Pitágoras inventou o número, mas essa discrepância é enorme. Malan terá de imitar Malba Tahan, que ‘‘provava que 5 era igual a 3’’ na aritmética das ilusões, pois declarou que o crescimento fora de 40%. Vai lembrar-se de Churchill...


Editorial

CANDIDATOS NA TEVÊ

A campanha para a Presidência da República tem praticamente monopolizado a atenção da mídia. Jornais, tevês e rádios abrem os espaços possíveis para os presidenciáveis. Os demais cargos — governador, senador e deputado — ficam em plano secundário, relegados muitas vezes ao esquecimento.

É bem-vinda, pois, a iniciativa da TV Bandeirantes de promover debates com os postulantes ao governo. No dia 11, foi a vez dos pretendentes ao Palácio do Planalto. José Serra, Ciro Gomes, Luiz Inácio Lula da Silva e Anthony Garotinho submeteram-se a questionamentos de repórteres e dos adversários. Foi possível ver homens de carne e osso, com sua força e fragilidades, sem a maquiagem imposta por marqueteiros que, não raro, os transformam em personagens de ficção.

Uma semana depois, a mesma tevê abriu espaço para os candidatos ao governo de 14 estados e do Distrito Federal. Na capital da República, há oito pretendentes ao Palácio do Buriti. Por questão prática, os cinco mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto foram convidados a participar do debate. Segundo entendimentos da Justiça, os oito deveriam ter vez. A saída foi substituir o debate por entrevista.

Foi pena. Os candidatos perderam-se em generalidades. Desfiaram um rosário de boas intenções. Prometeram revolução no ensino, nos transportes, na saúde, na segurança, na moradia, no meio ambiente. Tinham respostas para o desafio das invasões, do desemprego, da ameaça da falta de água, do cinturão de pobreza que cerca Brasília.

Sem temer questionamentos, alguns deixaram de responder a perguntas que lhes foram dirigidas. Desviavam a questão para assuntos que lhes pareciam mais convenientes ou palatáveis. Abundaram respostas prontas e decoradas, preparadas para a ocasião. Sobraram discursos de auto-exaltação e promessas mirabolantes.

Faltou consistência às propostas. Construir um hospital em cada cidade do Distrito Federal, por exemplo, concretizaria o sonho de milhares de moradores. Todos os dias, homens, mulheres e crianças são obrigados a sair de casa de madrugada, enfrentar longas filas e nem sempre conseguir atendimento nos concorridos hospitais da rede pública. Mas como obter recursos para a obra? E para as demais? Ninguém informou.

Apesar dos delírios — demagógicos ou não — é importante que os candidatos saibam que a população quer ouvi-los, especialmente os apontados como favoritos. A presença dos chamados nanicos não deve constranger os campeões de votos, cuja ausência deixa a impressão de arrogância e desprezo pelo eleitorado.

Até seis de outubro, os candidatos que faltaram à primeira rodada, entre os quais o governador Joaquim Roriz, terão tempo de reavaliar a situação e se redimir. E, aos que cumpriram a agenda democrática de comparecer e se expor, fica a lição de não desperdiçar a preciosa cota na TV com promessas ou declarações sem objetividade. Televisão pode eleger. Mas também pode decapitar aspirações.


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08/13/2002


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