Grupos ideológicos das mais diversas tendências contaram com representantes na Constituinte
No início dos anos 1980, o Brasil se pacificava com a Lei da Anistia, o fim da censura, o retorno ao país de centenas de brasileiros perseguidos pelo regime militar e as primeiras eleições diretas para os governos dos estados depois de duas décadas. Entre anônimos e célebres, foram muitos os exilados que voltaram a tempo de participar de uma das mais importantes eleições parlamentares de nossa história, a que escolheu os integrantes da Assembléia Nacional Constituinte, em 1986.
A liberdade recuperada permitiu que estivessem representadas no Congresso as várias correntes de pensamentos, e do debate e do embate entre elas resultou o texto que agora completa 20 anos. Jovens ou experimentadas lideranças da direita, da esquerda e do centro participaram da elaboração da Constituição, enquanto outros políticos de grande expressão acabaram ausentes por estarem exercendo cargos executivos como de governador ou prefeito.
Figura mais emblemática da Constituinte, o deputado paulista Ulysses Guimarães alinhou sua biografia de resistência à ditadura ao lado de liberais e conservadores, comunistas e social-democratas, monarquistas e republicanos, integrantes dos governos militares e ferrenhos adversários do regime de 1964. Se de um lado havia Afonso Arinos, Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso, do outro encontravam-se nomes como Jarbas Passarinho, Delfim Netto e Roberto Campos.
Entre as lideranças de esquerda havia espaço tanto para nomes egressos do período pré-golpe, como o legendário governador pernambucano Miguel Arraes e os ex-dirigentes da União Nacional dos Estudantes (UNE) Vladimir Palmeira e José Serra, até jovens lideranças que cresciam no rastro do surgimento do novíssimo Partido dos Trabalhadores, como o metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva e o sociólogo Florestan Fernandes.
Com o andamento dos trabalhos e o surgimento natural das polêmicas, foram se formando grupos ideológicos bastante definidos, o mais famoso deles o chamado "Centrão", que reunia expoentes do pensamento conservador como Roberto Cardoso Alves, Ricardo Fiúza, José Lourenço e Amaral Netto. Outros nomes que viriam a ter relevante papel na política brasileira nas décadas seguintes também deram mostras de sua capacidade de articulação durante a Constituinte, como o hoje ministro da Defesa e ex-ministro do STF, Nelson Jobim, o falecido deputado Luís Eduardo Magalhães e os ex-candidatos à Presidência Guilherme Afif Domingos, liberal, e Roberto Freire, comunista.
Sylvio Guedes / Jornal do Senado
29/09/2008
Agência Senado
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