Heráclito diz que não tem "qualquer relação" com Daniel Dantas
Dizendo-se cansado de, ao longo dos últimos seis anos, ter sido taxado por "setores bem conhecidos da Casa" como amigo do banqueiro Daniel Dantas, preso na terça-feira (8) pela Polícia Federal sob a acusação de lavagem de dinheiro e corrupção, o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) esclareceu nesta quarta-feira (9) o seu relacionamento com a família Dantas. Ele afirmou que não tem qualquer relação com Daniel Dantas, mas, sim, uma amizade antiga com a sua irmã, Verônica Dantas, e o seu concunhado.
Heráclito disse que foi obrigado a conhecer Daniel Dantas quando, durante a instalação de comissões parlamentares de inquérito (CPIs), foram criadas duas bancadas, uma para defender os interesses do Citibank e outra para defender os interesses do banco Opportunity, de propriedade de Dantas. O senador disse que, na época, se restringiu a defender Verônica Dantas de um aparato montado para prendê-la quando prestasse depoimento na Câmara dos Deputados.
- Mas, a partir de hoje, já vi que não tem jeito, vou assumir o título de amigo do senhor Daniel Dantas. Até porque existem os amigos do Waldomiro [Diniz], existem os amigos dos 'aloprados', existem os amigos dos condenados, de quem carrega dólar na cueca. Acho que dentre as opções, é a 'menos pior' - disse.
Para Heráclito, a operação da Polícia Federal que resultou na prisão de Daniel Dantas já estava sendo anunciada há muito tempo. Segundo ele, o motivo seria "a insatisfação e a mágoa" do diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, por ter sido relacionado em uma lista como sendo um dos detentores de contas em paraíso fiscal. O senador revelou que, há cerca de 20 dias, conversou com Lacerda em seu gabinete sobre mais um ato de violência praticado pela PF em nova tentativa de prender Verônica Dantas. Para o senador, outro motivo para esse tipo de operação é a existência de uma divisão na Polícia Federal.
- Se é golpe contra o sistema financeiro, eu pergunto por que até este exato momento o Banco Central não tomou nenhuma medida contra esse banco [Opportunity]? Se o banco atenta contra o sistema financeiro neste momento de tanta sensibilidade, por que a omissão do Banco Central? - quer saber o senador.
Heráclito também questionou os pedidos de prisão contra uma jornalista que, segundo ele, teria revelado em sua matéria "algo que não interessava à linha de apuração da PF", e contra o ex-deputado Luiz Eduard Greenhalgh, que atuava como advogado. Para ele, esse é um exemplo de abuso. Segundo o senador, graças ao juiz, que negou os pedidos de prisão, o fato não foi consumado.
O parlamentar ainda classificou como "criminosas e tendenciosas" as gravações telefônicas feitas pela polícia e questionou por que foram selecionados trechos para divulgação e só foram presas pessoas ligadas ao banco Opportunity, sendo os demais envolvidos protegidos.
Heráclito disse que, "de maneira leviana", foi passada uma informação para a imprensa que fez com que ele fosse procurado para falar sobre uma gravação em que conversava com Daniel Dantas sobre a possibilidade ou não de o filho do presidente da República, o Lulinha, ter negócios ou sociedade com ele.
- Desafio que provem qualquer ligação minha. Por que a PF deixou vazar e não foi apurar o fato? - perguntou.
O senador também negou informação de que teria conta em paraíso fiscal e disse que renunciará ao mandato se alguém provar a acusação. Heráclito lembrou os vários episódios em que foi vítima de acusações falsas, como quando teve sua bagagem revistada na cidade de Barreirinhas, por um juiz e um promotor, sob a legação de que estaria levando dinheiro para a campanha de um candidato do PT à prefeitura local. Outro episódio relembrado por Heráclito foi a acusação de que teria financiado o caseiro Francenildo de Souza, cujas revelações levaram à renúncia do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci.
- Tive minhas contas bancárias invadidas por um diretor do Banco do Brasil conhecido como Mixirica. Mas ninguém me empareda. Não fiz e não faço vida pública com fins inconfessáveis. Nunca recebi carro importado de bicheiros e nunca defendi a legalização do jogo com fins inconfessáveis. É preciso que as insinuações tenham um limite - finalizou.09/07/2008
Agência Senado
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