Hospital notifica mais casos de abuso sexual entre crianças



Quase 50% das vítimas de abuso sexual atendidas pelo Hospital Pérola Byington (SP), em 2008, eram crianças menores de 12 anos. Esse número foi revelado pela psicóloga Daniela Pedroso, que atua no Serviço de Atenção à Mulher em Situação de Violência Sexual do hospital, em audiência pública realizada, nesta quinta-feira (7), pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia. Segundo ressaltou, é comum a criança sofrer o abuso dentro da própria casa ou na casa do agressor, que na maioria das vezes é o pai, o padrasto, um morador da comunidade, um tio, o avô ou outro conhecido da família (líder religioso, professor ou vizinho).

Nesses 15 anos de funcionamento do serviço, foram realizados 18.740 atendimentos a crianças, adolescentes e mulheres violentados sexualmente, dos quais quase 64% dos casos se referiam a menores. Em relação ao tempo de duração do abuso, Daniela Pedroso informou que, dos casos notificados no período contra crianças e adolescentes (11.966) - estes mais violentos praticados por moradores da comunidade e pelo pai biológico- 90,8% se revelaram crônicos e repetidos.

- E por que muitas crianças não contam (o abuso)? As muito pequenas não entendem o que ocorre como algo errado ou proibido, já que é feito por quem deveria protegê-las. É preciso manter um diálogo aberto com a criança e dizer que ninguém pode tocar o corpo dela se ela não quiser - orientou.

De acordo com a psicóloga, a divulgação de casos de pedofilia na mídia tem levado muitas crianças abusadas sexualmente a tomar coragem e contar o seu drama para a mãe. Isso também repercute positivamente no atendimento psicológico, acrescentou, pois é comum a criança revelar detalhes da agressão já na primeira entrevista ou em um desenho livre.

Daniela Pedroso afirmou serem raros casos de estupro contra crianças, embora 27% dos 705 abortos realizados pelo Pérola Byington entre 1994 e 2008 terem sido feitos em crianças e adolescentes. A psicóloga adiantou ainda que, em algum momento do drama pessoal, muitas vítimas, inclusive crianças, chegam a cogitar o suicídio como forma de pôr fim à dor e ao sofrimento. Ela recomendou ainda que a vítima de violência sexual procure ajuda de um serviço de saúde antes mesmo de fazer a ocorrência da agressão em uma delegacia.

Com a proximidade do fim da CPI da Pedofilia, seu presidente, o senador Magno Malta (PR-ES), apontou como grande virtude da comissão "acordar" a sociedade para esse crime "nocivo, desgraçado".

- A pedofilia é a última instância da degradação moral, emocional e psicológica do ser humano. Já teremos uma sociedade mutilada para frente - lamentou.

Para evitar novos traumas às crianças abusadas, passíveis de ocorrer ao terem de relembrar várias vezes a agressão, Magno Malta defendeu que o depoimento prestado ao psicólogo ou ao conselho tutelar seja válido para uso da Justiça. Daniela Pedroso comentou que um relatório psicológico seu já foi usado como prova e ajudou a levar à condenação um agressor.

Magno Malta também acolheu sugestão apresentada pela SaferNet Brasil de se elaborar um projeto para criar uma "lei de responsabilidade humana" destinada a punir o gestor público que deixar de cumprir o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Outra proposta acolhida pelo parlamentar foi de convidar o psiquiatra Cláudio Cohen, professor da Universidade de São Paulo e coordenador do Centro de Estudos e Atendimento Relativos ao Abuso Sexual (Cearas), para participar de audiência pública na CPI da Pedofilia.



07/05/2009

Agência Senado


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