Ibope dá 22 pontos a mais para Rigotto










Ibope dá 22 pontos a mais para Rigotto
Outro levantamento, divulgado anteontem, diminui diferença para 14,6

As pesquisas de intenção de voto estão mostrando números diferentes entre si no segundo turno das eleições no Rio Grande do Sul, sempre com o candidato Germano Rigotto (PMDB) à frente de Tarso Genro (PT).
O Ibope divulgado ontem pelo jornal ""Zero Hora" mostra diferença de 22 pontos percentuais a favor de Rigotto. Já a pesquisa realizada pelo instituto do jornal ""Correio do Povo" e divulgada anteontem diminui essa margem de diferença. De acordo com a consulta, Rigotto tem 14,6 pontos percentuais a mais do que Tarso.

Em outra pesquisa, divulgada quarta-feira pelo instituto Cepa, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), a diferença era de 23 pontos, o que corrobora os números apresentados ontem pelo Ibope.
De acordo com o Ibope, Rigotto tem 57% dos votos totais, contra 35% de Tarso. Há, ainda, 2% de brancos/nulos e 6% que de indecisos. A pesquisa, que ouviu 2.000 eleitores em cem municípios gaúchos, foi realizada entre os dias 8 e 10. A margem de erro é de 2,2 pontos para mais ou menos.

Segundo a pesquisa do ""Correio do Povo", Rigotto tem 54,6% dos votos totais, contra 40% de Tarso há, ainda, 2,2% de votos brancos/nulos e 3,2% de indecisos. A margem de erro é de 2,2 pontos para mais ou menos.

A pesquisa do Cepa, também divulgada no jornal ""Zero Hora", apresentava Rigotto com 58,8%, contra 35,8% contando 1,4% de brancos/nulos e 4% de indecisos. Assim como na pesquisa de ontem, não se trata apenas dos votos válidos.

Os dois candidatos têm já suas estratégias montadas para esta semana: Tarso quer participar de quantos debates forem possíveis. Rigotto está evitando os debates, abrindo mão até mesmo dos que já haviam sido marcados.

O peemedebista aceitará no máximo três discussões. Ele pretender mostrar vínculos com o candidato tucano à Presidência, José Serra, falará em união no Estado evitando citar o passado e, paradoxalmente, mostrará problemas do governo petista.

Tarso vai mostrar seus vínculos com Lula, apresentar as ligações de Rigotto com o ex-governador Antônio Britto (PPS) e o presidente FHC, relatar as obras sociais executadas pelo governo do PT e mostrar sua trajetória como gestor público e homem de diálogo. Também tentará quebrar os ressentimentos com o PDT.


PT cresce 63% nas Assembléias Legislativas
Partido de Lula elegeu 147 deputados estaduais e se tornou a única sigla a ter representantes em todas as 27 unidades da Federação

O Partido dos Trabalhadores elegeu 147 deputados estaduais e distritais e suas bancadas cresceram 63,33% em relação aos eleitos pela sigla em 1998. O partido de Luiz Inácio Lula da Silva tem o maior número somado de parlamentares nos Estados. É, também, o único a ter representação no Poder Legislativo de cada uma das 27 unidades da Federação.

A eleição do último dia 6 foi a melhor da história do PT, sigla fundada em 1980. Os primeiros números divulgados pela Justiça Eleitoral mostraram que os petistas passaram a ter a maior bancada da Câmara dos Deputados, em Brasília. Agora, sabe-se também que o PT é hegemônico nos Estados: tem a maior bancada, sozinho ou em conjunto com alguma outra sigla, em sete unidades da Federação inclusive em Estados importantes como São Paulo e Minas Gerais.

O crescimento do PT nos Estados (63,33%) foi maior do que o obtido pelo partido na Câmara. O PT elegeu 59 deputados federais em 98. Neste ano, conquistou 91 cadeiras e passou a ter a maior bancada, mas em termos percentuais o avanço foi de 54,24%.

A Folha fez um levantamento das bancadas eleitas para a Câmara dos Deputados e para as Assembléias Legislativas nos pleitos de 1994, 1998 e 2002. Depois da redemocratização do Brasil, essas foram as três eleições em que os parlamentares foram escolhidos na mesma votação com o presidente da República. Fernando Collor foi eleito presidente em 1989, mas o Congresso só foi renovado em 1990.

PSDB
Apesar do grande avanço do PT, os números demonstram que está se consolidando um novo grande partido no país: o PSDB. Diferentemente do que previam alguns analistas políticos, os tucanos continuam com um saldo positivo no período FHC, apesar de o candidato a presidente da sigla, José Serra, não ter terminado o primeiro turno na frente.

Em 1994, o PSDB elegeu 97 deputados estaduais. Neste ano, foram 138 as cadeiras conquistadas em 20 Estados um crescimento de 42,27%.

Na Câmara, também houve crescimento do PSDB. Os tucanos elegeram 63 deputados federais em 1994 e 71 neste ano, um avanço de 12,70%.

Se se compara as bancadas tucanas eleitas em 98 com as conquistadas agora, só então é verificada uma perda. Mas como o PSDB permanece acima do seu patamar do início do Real, é possível dizer que a "onda vermelha" apenas fez com que o partido de Fernando Henrique Cardoso voltasse a um patamar semelhante ao que ocupava no início do Plano Real.

PPB
Pior foi o efeito que os anos FHC tiveram sobre outros quatro partidos fernandistas tradicionais: PMDB, PFL, PPB e PTB. Não importa a soma ou o cruzamento feito. Essas siglas perdem sempre -seja no período 1994 a 2002 ou apenas na comparação de 1998 com a eleição atual.

O caso mais dramático de todos é o do PPB, sigla que representa a centro-direita e tem como suas maiores expressões Paulo Maluf (derrotado para o governo de São Paulo) e Esperidião Amin (forçado a ir para o segundo turno nas disputa pelo governo de Santa Catarina). O PPB elegeu 86 deputados federais e 166 estaduais em 1994. Era uma potência. Depois da eleição deste ano, caiu para 49 federais (menos 43,02%) e 93 estaduais (menos 43,98%).

Apesar de todas as perdas, o PPB ainda é a quinta maior força da Câmara. Tem deputados federais eleitos em 21 unidades da Federação. Consegue essa abrangência por ser uma agremiação antiga, derivada diretamente da Arena, partido que deu sustentação ao regime militar (1964-1985).

Depois do PPB, o partido que mais sofreu perdas nos anos FHC foi o PMDB. Em 1994, era o maior do país: elegeu 107 deputados federais e 205 estaduais. Agora, caiu para 74 federais e 134 estaduais quedas de 30,84% e 34,63%, respectivamente.

O PFL perdeu pouco na Câmara durante o governo de FHC: só cinco cadeiras (5,62%), caindo de 89 para 84 deputados federais. O PTB saiu de 31 para 26 deputados federais (uma queda de 16,13%).

Esquerdas
No espectro da esquerda e da centro-esquerda, além do PT, quase todos os partidos registraram ganhos. A exceção ficou por conta do PDT, presidido por Leonel Brizola que tentou e não conseguiu se eleger senador pelo Rio de Janeiro.

O PDT teve queda contínua nos anos FHC. Em 1994, elegeu 34 deputados federais e 88 estaduais. Agora, conseguiu 21 cadeiras na Câmara dos Deputados e 62 nas Assembléias Legislativas.

Já o PSB, de Anthony Garotinho e Miguel Arraes, e o PPS, de Ciro Gomes, avançaram nos anos FHC -podem ser chamados agora de partidos médios.

Os socialistas do PSB elegeram 15 deputados federais em 1994 e na eleição deste ano foram para 22. O PPS saiu de apenas 2 para 15. Nas Assembléias Legislativas, essas siglas tinham 32 e 3 cadeiras, respectivamente. Agora, 59 e 41.

Nanicos
Os partidos nanicos continuam a manter uma parcela mais ou menos constante de 5% a 10% das cadeiras na Câmara e nos Legislativos dos Estados.

Um caso notável de perda de espaço é o PMN (Partido da Mobilização Nacional). Aliou-se formalmente a Luiz Inácio Lula da Silva nesta eleição, mas saiu pior do que entrou na comparação com o desempenho em pleitos anteriores.

Em 1994, o PMN elegeu 4 deputados estaduais e 18 estaduais. Agora, saiu das urnas com 1 federal e 9 estaduais.

O PL (Partido Liberal) fez um caminho igual ao do PMN, mas com resultado inverso. Os liberais começaram pequenos em 1994, elegendo 13 deputados federais. Com fama de fisiológicos, foram para apenas 12 em 1998. Havia risco de a sigla ser extinta em próximas eleições. Dependia da cooptação de parlamentares voláteis no plenário do Congresso.

A direção do PL fez então uma aposta de risco: aliou-se a Lula na eleição presidencial. Os liberais elegeram sua maior bancada na Câmara: 26 deputados. Um crescimento de 100% na era FHC.

Partido Verde
O PV (Partido Verde) finalmente conseguiu eleger mais de um deputado federal. Agora, começará 2003 com cinco cadeiras na Câmara dos Deputados. Nas Assembléias Legislativas, os verdes terão 11 representantes, sendo cinco deles em São Paulo.


Lula usa "artimanhas" contra debate, diz Serra
Tucano, que passou o domingo gravando programas, afirma estar "intrigadíssimo" com atitude de petista

O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, disse ontem que o PT faz uso de "artimanhas" para que o candidato do partido, Luiz Inácio Lula da Silva, não participe de debates.

"Nós estamos com a nossa agenda flexível para poder adaptá-la aos debates. Eles estão dizendo que têm de viajar. Essa é uma artimanha para não ter debate. Por que fogem do debate?"

Serra afirmou estar "intrigadíssimo" e "curiosíssimo" devido ao fato de o "PT não querer debater".
Ao ser questionado se ele também havia ficado "intrigado" nas campanhas presidenciais de 1994 e 1998, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso não participou de debates, o tucano disse: "Não tem nada a ver. Em 94 e 98 não teve segundo turno".

Para o tucano, o fato de o PT afirmar que o governo faz "terrorismo econômico", ao atrelar a alta do dólar a incertezas da eleição, é outra "artimanha" para não haver debates. "Eles estão com a seguinte estratégia: tudo que for debate é terrorismo", disse Serra, que, ao ser questionado sobre a alta do dólar, respondeu: "Não sou cronista de economia".

O tucano disse, no intervalo de gravações para o horário eleitoral, considerar "dentro das expectativas" a pesquisa Datafolha que o coloca com 32% contra 58% de Lula.


Lula tem 60% e Serra, 30% no Vox Populi
Margem de erro é de dois pontos

A primeira pesquisa Vox Populi realizada depois da votação de primeiro turno aponta 60% do total de intenções de voto para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e 30% para José Serra (PSDB).

O levantamento do instituto, realizado na quinta e na sexta, apurou ainda 6% de indecisos e 4% que manifestaram disposição para votar branco ou nulo no segundo turno, no próximo dia 27.

Segundo cálculo do Vox, no critério de votos válidos (que exclui brancos e nulos e distribui os indecisos proporcionalmente à intenção de voto de cada candidato) o petista aparece com 67% e o tucano com 33% dos votos.
Na última pesquisa do Vox antes do primeiro turno, feita na antevéspera da votação, a simulação de confronto final entre os dois candidatos apontava 53% para Lula e 34% para Serra.

O cientista político Marcos Coimbra, diretor do instituto, esperava encontrar diferença menor. "Era de supor que o resultado refletisse uma certa frustração pelo fato de Lula não ter ganho no primeiro turno, mas isso não aparece nos números", diz.

Encomendada pelo "Correio Braziliense", a pesquisa ouviu 2.500 eleitores. Sua margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.


Campanha no rádio deve ser mais agressiva
A estratégia adotada pelo PT e pelo PSDB no primeiro turno eleitoral de reservar para o programa de rádio as ironias e críticas mais pesadas aos adversários deverá ser reforçada a partir de amanhã.

As duas campanhas estudavam, na semana passada, ampliar o espaço de crítica dos programas.

O PSDB volta com o caricato âncora Tony Show da Paraíba, que não teve "papas na língua" para alfinetar os adversários de José Serra no primeiro turno.

Quem deverá ter mais espaço na propaganda tucana é o Beto 45, analista político fictício. Interpretado por Ruy Rodrigues, sócio do marqueteiro Nizan Guanaes, o personagem entrava no ar exclusivamente para ataques ácidos. Agora, só com a mira no petista, deve ter mais tempo no ar. O embate virá embalado por um tom popular e bem-humorado.

No caso do PT, a propaganda no rádio deve ter seu conteúdo mais "casado" com o da TV do que no primeiro turno. Para isso, Duda Mendonça, marqueteiro da campanha petista, decidiu dar à direção do programa de rádio uma sala dentro de sua produtora. Antes, toda a equipe ficava em um estúdio em outro lugar da cidade.
O tom crítico deve subir também. O quadro "Mudanças Brasil", usado principalmente para satirizar o governo, foi muito bem avaliado pela coordenação da campanha e deve ganhar espaço. O programa, que terá praticamente o dobro do tempo, deverá estrear novos quadros e um deles pode ser reservado apenas para o confronto com José Serra.


Casal Garotinho herda "brizolismo"
Rosinha se elege resgatando o eleitorado de antigos redutos de Brizola e Chagas Freitas

Secretária de Ação Social do governo de Anthony Garotinho, Rosinha Matheus (PSB) se elegeu governadora do Rio de Janeiro como herdeira de uma tradição clientelista e assistencialista adotada por Chagas Freitas (PMDB), nos anos 70, por Leonel Brizola (PDT), nos 80 e 90, e por seu marido, a partir de 1998.

Com 51% dos votos válidos, Rosinha reaglutinou o eleitorado de antigos redutos brizolistas e chaguistas (Baixada Fluminense e zonas oeste e norte da capital), que havia se pulverizado a partir de 1994 entre o PT, de Benedita da Silva, e o PSDB, do ex-governador Marcello Alencar. Graças ao marido, Rosinha também incorporou os votos do interior.

"Há uma continuidade no padrão de negociação política entre Executivo e políticos locais desde Chagas até Garotinho, passando por Brizola", afirma o historiador Carlos Eduardo Sarmento, da Fundação Getúlio Vargas.
Governador do antigo Estado da Guanabara (1971-1975) e do Rio (1979-1983), Chagas Freitas comandava uma rede de lideranças locais que, em troca de obras e cargos, faziam campanha para políticos chaguistas. Era a chamada política da "bica d"água". "Tratava-se do acesso aos bens públicos mais básicos. Aquilo que devia ser universalizado, necessitava da figura do intermediário, que fazia o contato entre população e poder público", diz Sarmento.

Com a abertura política, no início dos anos 80, as associações de moradores ocuparam o papel dos antigos chefes locais e o chaguismo perdeu força política.O que facilitou a transferência de votos da Baixada e das zonas oeste e norte para Brizola, então uma liderança histórica e carismática, recém-chegada do exílio, que se elegeu governador, em 82.

"Mas, ao contrário do chaguismo, o brizolismo assumiu [o governo" sem máquina. Brizola se elegeu sem maioria na Assembléia e foi obrigado a compor com o PMDB chaguista para governar", afirma o cientista político João Trajano Sento-Sé, da Uerj (Universidade do Estado do Rio).

Os chefes locais do chaguismo foram substituídos em boa parte por líderes de associação de moradores. Ex-presidente do Conselho de Representantes da Famerj (Federação das Associações de Moradores do Rio), Almir Paulo de Lima diz que alguns secretários "cooptavam" lideranças comunitárias em troca de voto.
"Em alguns casos, as associações de moradores tiveram participação até na indicação de funcionários para os Cieps", afirma.

Sarmento confirma a prática: "O sistema de admissão de alunos nos Cieps [Centros Integrados de Educação Pública" era assistencialista. Havia uma demanda muito maior do que ofertas de vagas. Eram usados padrões políticos de seleção".

Religião
Eleito governador pelo PDT em 199 8, com apoio do PT, Garotinho levou ao assistencialismo político um novo ingrediente: o vínculo religioso. "Garotinho usou as igrejas, o templo, como fórum de intermediação política, como fazia o Brizola com as associações de moradores e Chagas com os seus líderes locais", afirma o cientista político Antônio Carlos Alkmim, da PUC do Rio.

Para Sento-Sé, da Uerj, é muito cedo, porém, para falar em "garotinismo". "Em 1998, o Garotinho tem um desempenho muito bom na capital em função da aliança com o PT, principalmente com Benedita. O primeiro pleito que ele pode ser identificado como fenômeno eleitoral é a partir da eleição da Rosinha este ano."

Na geografia do voto, Brizola, Garotinho e, agora, Rosinha conseguiram, percentualmente, mais votos na Baixada que no Estado.

Enquanto no Estado a governadora eleita teve 51,3%, no antigo reduto brizolista ela conseguiu 63,1%. Brizola, em 1990, teve 60,8% dos votos no Estado e 72,6%, na Baixada.

No segundo turno de 1998, Garotinho teve 46,9% no Estado e 49,2% na Baixada.

Para Alckmin, que estudou os mapas eleitorais das eleições para governador desde 82, a diferença é que, enquanto Brizola cresceu da capital e da Baixada para o interior, Garotinho fez o caminho inverso. "Garotinho só entrou no eleitorado do Rio, especificamente os da zona oeste e norte, por causa da aliança do PDT, seu partido, com o PT de Benedita."


Artigos

E se o Palmeiras for campeão?
Vinicius Torres Freire

SÃO PAULO - Quem lê os detalhes da pesquisa Datafolha fica a pensar que é mais fácil o trágico Palmeiras vencer o campeonato brasileiro numa final contra o meu infeliz Flamengo do que José Serra (PSDB) bater Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Serra, de resto, é palmeirense.

A campanha recomeça apenas hoje, certo, mas parece que Serra entra em campo com três jogadores a menos. Consideradas as categorias em que o Datafolha divide a população, o tucano só vence entre aqueles para quem o governo FHC é ótimo/bom (só 23% do eleitorado) e entre os tucanos (4% do total). Não importa renda, instrução, sexo, interior ou capital. Lula vence em todos os casos.

Serra precisa de vasta migração de votos. No mínimo, precisa de que um número de eleitores equivalente a duas vezes a população da cidade do Rio de Janeiro deixe de votar no petista. Mas, logo de cara, 7% dos serristas mudaram para Lula (só 3% dos lulistas fizeram o inverso).

O apoio de FHC a Serra só deve prejudicar o tucano, a julgar pelo Datafolha: deve fazer com que a distância de Lula para o tucano cresça ainda mais. A herança do primeiro turno também é pesada para Serra. O tucano e o petista vão dividir meio a meio o espólio eleitoral de Anthony Garotinho e Ciro Gomes. De onde Serra vai tirar os votos para cobrir a distância para o petista?

Entre os lulistas de primeira hora, 77% dizem que não mudam o voto por causa de um debate. Tanto no eleitorado de Garotinho como no de Ciro, 40% podem rever o voto. É razoável supor que, desses eleitores que podem repensar sua escolha, metade é Lula, metade é Serra. Pois bem. Caso TODOS os eleitores de Lula, Garotinho e Ciro que deixaram a porta aberta para a mudança optem por Serra e NENHUM serrista mude de idéia, Serra teria uns 52% dos votos. A depender dos debates, parece que o PSDB terá de achar um cadáver muito feio no armário de Lula.

Como diz o Clóvis Rossi, lógica e eleição costumam se estranhar na América Latina. Mas Serra, hoje, depende de um surto de absurdo para chegar ao governo em 2003.


Colunistas

PAINEL

Calendário eleitoral
Reta final da eleição, o governo federal aumentou em outubro o limite de gastos de ministérios nos quais há grande concentração de emendas para projetos de interesses de parlamentares. Por outro lado, reduziu o teto dos ministérios da área social.

Linhas de crédito
Ministério em cujo orçamento há grande concentração de emendas de parlamentares, a Integração Nacional ampliou seu limite de gastos de R$ 286 mil para R$ 772 mil. O do Esporte subiu de R$ 205 mil para R$ 320 mil. O da Secretaria de Desenvolvimento Urbano, de R$ 287 mil para R$ 752 mil.

Outra prioridade
Em contrapartida, o Desenvolvimento Agrário teve seu limite de gastos reduzido de R$ 697 mil para R$ 596 mil. A Educação, de R$ 7,1 bi para R$ 6,7 bi. E o teto das Comunicações foi diminuído de R$ 517 mil para R$ 371 mil. Nesses órgãos, não há emendas de parlamentares.

Caneta real
Os dados sobre limites de gastos dos ministérios constam dos decretos 4.120, de fevereiro, e 4.415, de outubro, ambos assinados por FHC. A previsão inclui o que sobrou do Orçamento de 2002 e os restos a pagar que ficaram do ano de 2001.

Sonho de parlamentar
Senador eleito pelo PL do ES, Magno Malta desabafou anteontem com jornalistas, em encontro da campanha de Lula: "A Globo não me deixa cantar no "Domingão do Faustão", pois acha que sou da Igreja Universal. Mas sou da Igreja Batista..."

Moeda de troca
Blairo Maggi (PPS), governador eleito em MT, apareceu no encontro do PT de apoio a Lula, anteontem em SP, e foi aplaudido. Mas, no Estado, mandou avisar à bancada petista que só fará campanha para Lula se receber adesão "incondicional" do partido na Assembléia.


Jogo de sedução
PMDB e PFL já travam uma disputa surda no Senado para ver quem inicia o ano com a maior bancada. Tradicionalmente, o maior partido faz o presidente da Casa. As duas siglas -hoje com 19 senadores cada uma- já fizeram propostas de filiação a parlamentares.

Juntos novamente
Na Câmara, PMDB e PSDB articulam a formação de um bloco parlamentar a fim de impedir que o PT faça o presidente da Casa em 2003. Juntos, somariam 145 deputados, contra 91 do PT.

Roteiro final
Cesar Maia (PFL) acha que Serra tem de mudar totalmente o tom da sua campanha na fase final: "Quando a percepção do eleitor é a de que se trata de capítulo novo da mesma novela, o resultado do primeiro turno se repete. Quando acha que é uma nova novela, a eleição zera".

Registro público
Paulo Octávio (PFL-DF) será o senador com o maior patrimônio declarado no próximo mandato. Recém-eleito, o empresário tem R$ 100,8 mi em bens registrados na Justiça Eleitoral, segundo o site Controle Público.

Samba de campanha
O empresário Jorge Ferreira mandou fazer 200 cópias de CDs com samba criado por Noca da Portela em homenagem a Lula. Uma delas foi entregue ao presidenciável, que prometeu repassá-la a Duda Mendonça para ver se a encaixa no horário eleitoral.

Balança desregulada
A Associação dos Juízes Federais vai iniciar campanha para que seja mudada a composição dos TREs (hoje formados por seis juízes estaduais e um federal). Segundo a entidade, os federais foram "sistematicamente vencidos" nas votações nos TREs, citando AC, MA, PA e TO.

Lobby jurídico
Ministros de tribunais superiores defendem que Jefferson Péres (PDT) assuma a relatoria da reforma do Judiciário no Senado. O atual relator, Bernardo Cabral (PFL), não foi reeleito.

TIROTEIO
De Flávio Dino, da Associação dos Juízes do Brasil, sobre a subida do dólar:
- Nada mudou em setores das elites econômicas do Brasil e do exterior: odeiam eleições.

CONTRAPONTO

Poder de persuasão
O capitão Dalmo Teixeira foi eleito prefeito da cidade paraibana de Juru na década de 80. Logo após tomar posse, o político convocou os agricultores da região para uma reunião a fim de discutir os efeitos de uma longa seca que abateu a região:
- Quero dizer aos senhores que fiz um ofício para os presidentes do Banco do Brasil e do Banco da Paraíba - disse, com ar solene.
- Na carta, peço a eles que consigam para as vítimas da seca empréstimos agrícolas com prazos curtos e ju ros longos.
No meio da platéia, um agricultor de aparência humilde corrigiu o prefeito:
- Capitão, é o contrário! Prazos longos e juros curtos.
Irritado, Teixeira rebateu:
- Desde que o dinheiro venha, os pronomes não têm a menor importância!
E a reunião continuou. Com a platéia em silêncio.


Editorial

RUMOS DO AJUSTE

Seja quem for o vencedor nas eleições presidenciais de 27 de outubro de 2002, a economia brasileira em 2003 está condenada a continuar a batalha para superar a crise do balanço de pagamentos. Dependendo da linha de crédito aberta junto ao FMI, a política econômica brasileira dificilmente será expansiva no médio prazo (próximos 6 a 12 meses).

A restrição externa dita o ajuste, pois o FMI exige cortes de gastos públicos e contenção da atividade econômica para supostamente salvaguardar a solvência externa.

Além do FMI, a oferta de crédito nos mercados internacionais está deprimida acima de tudo como expressão da crise de confiança que atingiu o coração do sistema, os mercados financeiros de Nova York.

O modelo de abertura externa e de liberalização, no entanto, parece irremediavelmente desprestigiado.
Fala-se em novas agendas que substituam o Consenso de Washington, ainda que retendo valores como qualidade da gestão pública, competitividade e estabilidade de preços.

A lista de processos de estabilização questionados ganha mais um caso. Resta saber quais serão as mudanças na política econômica, nos próximos anos, ainda que o país não esteja condenado à ruptura total com o modelo anterior e esteja obrigado a seguir parâmetros muito estritos em 2003, sob a vigilância do FMI.
A questão já não é a de recorrer ou não ao Fundo, mas sim a de criar condições para definir como e quando será possível sair dessa UTI.

Ou seja, o ajuste é inevitável, mas os rumos desse ajuste podem variar.

Nos últimos anos, por exemplo, o governo FHC aprofundou continuamente a dependência financeira do capital externo, tornando inevitável não apenas a ida ao FMI, mas também o retorno periódico a essa organização multilateral que ao menos em princípio zela pela estabilidade dos países em desenvolvimento.
O futuro governo precisará cumprir o acordo com o Fundo se quiser escapar de uma crise de confiança que leve à ruptura com o padrão de liberdade de capitais que vigora no sistema financeiro internacional.
Ao mesmo tempo, é preciso fazer do ajuste fiscal e monetário uma oportunidade para criar políticas sustentáveis de competitividade, gestão de recursos públicos e refinanciamento nos mercados internacionais.
O próximo presidente terá, portanto, um duplo desafio: continuar a fazer um forte ajuste econômico no curtíssimo prazo e, ao mesmo tempo, dar-lhe um rumo sustentável.


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10/14/2002


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