Rigotto aparece 23 pontos à frente de Tarso
Rigotto aparece 23 pontos à frente de Tarso
Na primeira pesquisa para o segundo turno, candidato do PMDB tem 58,8%, contra 35,8% de concorrente do PT
A primeira pesquisa do segundo turno no Rio Grande do Sul, do instituto Cepa, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), mostrou 23 pontos percentuais de vantagem do candidato do PMDB, Germano Rigotto, em relação a Tarso Genro (PT). Rigotto tem 58,8% contra 35,8% de votos totais. Há 1,4% de brancos/nulos ou nulos e 4% que não sabem ou não opinaram.
No primeiro turno, levando-se em conta os votos totais, Rigotto teve 37,94%. Tarso teve 34,33%. Isso indica que o peemedebista está absorvendo o eleitorado do terceiro colocado, Antônio Britto (PPS), e do quarto, Celso Bernardi (PPB), que declaram apoiá-lo.
O Cepa mostra que 79,7% dos eleitores que votaram em Britto dariam seus votos a Rigotto, e apenas 8% a Tarso. Dos que votaram em Bernardi, 77,8% votarão em Rigotto, e 15,6% em Tarso.
Para a pesquisa, encomendada pelo jornal "Zero Hora", o Cepa entrevistou 1.750 eleitores no dia 8, em 49 municípios gaúchos. A margem de erro é de 2,4 pontos percentuais para mais ou menos.
O quadro se complica ainda mais para o candidato petista na medida em que o PDT, partido que poderia apoiá-lo no segundo turno (PPS e PPB manifestaram apoio a Rigotto), está dividido nas bases. Quanto aos deputados do partido, a maior parte tem se manifestado favoravelmente a Rigotto. O federal Alceu Collares, por exemplo, um dos principais incentivadores da aliança com Britto no primeiro turno, apóia Rigotto. O estadual Vieira da Cunha, que se manteve afastado do apoio a Britto, está indeciso. Outros querem liberar os filiados.
Há expectativa quanto à reação de Tarso em relação à morte, anteontem, do seu principal coordenador, José Eduardo Utzig.
Substituição
Para substituí-lo, são cotados os nomes do deputado estadual eleito Estilac Xavier e do ex-secretário municipal da Indústria e Comércio, Cézar Alvarez.
A Agência Folha apurou ontem que os dois provavelmente atuem em conjunto na função.
Outro dado importante da pesquisa é o de que, no Rio Grande do Sul, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, tem apenas 8,8 pontos percentuais a mais do que o tucano José Serra. Lula tem 49,4%, contra 40,6% de Serra. Tradicional reduto petista, o Estado é uma das regiões que, surpreendentemente, mais votos deram ao tucano já no primeiro turno da eleição.
Serra ataca e diz que país pode virar Venezuela se Lula vencer
Tucano, ao lado de pefelistas, amplia críticas contra PT; prefeito petista vê "terrorismo retórico"
O candidato à Presidência José Serra (PSDB) deu início à campanha do segundo turno pelo país ontem em Goiânia acusando seu adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de "arrogante" e alertando para o risco de o Brasil se transformar em uma Venezuela caso o petista seja eleito. Tucanos e pefelistas aliados que participaram do evento também fizeram discursos duros contra o PT.
"O Lula diz que eu quero debater porque eu não tenho apoios. Ou seja, ele está numa atitude arrogante. É uma arrogância do Lula desnecessária. Ele diz também que tem muitos apoios e eu não. Isso não é verdade e, mesmo que fosse, essa seria uma atitude arrogante", afirmou o tucano em discurso para 4.000 pessoas.
Serra disse que "a população tem o direito de conhecer as propostas dos candidatos para não sofrer decepção, como aconteceu na Argentina e está acontecendo agora na Venezuela".
No país vizinho, a população foi às ruas ontem pedir que o presidente Hugo Chávez que tem afinidades com Lula e enviou um presente ao petista nesta semana para cumprimentá-lo pelas eleições no Brasil- convoque eleições gerais imediatamente.
"Vamos continuar a mudança segura. Vejam o que aconteceu na Venezuela. O que deu prometer sonhos sem pensar na realidade, frustrando e trazendo inquietações, perturbações e um retrocesso para o país", disse Serra.
O discurso mais raivoso foi o do senador eleito Arthur Virgílio (AM), que agora viajará com Serra. "Se Lula cumprir o que disse, o país arruina porque ele prometeu gastar demais." E completou: "Nós prometemos realismo; e ele, o delírio". Para ele, "o eleitor vai escolher se o próximo presidente vai ser Juscelino Kubitschek ou Fernando de la Rúa", em referência ao ex-presidente argentino.
Marconi Perillo (PSDB), governador reeleito, acusou os petistas de serem "perseguidores, prepotentes e incompetentes". "Quem conhece o PT não vota no PT. Vota no PT quem ainda não conhece a demagogia e o populismo do partido." Depois do evento, Serra comentou a alta do dólar dizendo que é uma alta especulativa. "É uma especulação devido à tensão pré-eleitoral. Para acalmar o mercado, posso dizer que, se for eleito, vou baixar o dólar."
O pefelista Ronaldo Caiado também criticou Lula. "Aquele homem não fala o que pensa. Fala o que o seu marqueteiro manda. Ele não sabe governar", afirmou.
Reação petista
O prefeito de Aracaju, o petista Marcelo Déda, rebateu as críticas de Serra e classificou de "terrorismo retórico" a insinuação de que, num governo Lula, o Brasil pode virar uma Venezuela.
Para o petista, o comportamento dos tucanos mostra que "os nervos do PSDB não estão preparados para o segundo turno".
Ele disse que o PT não vai permitir que Serra faça a agenda de Lula, numa referência à cobrança do tucano para que petista participe de todos os debates.
Déda ironizou o fato de Serra ter chamado Lula de arrogante. Segundo ele, é o mesmo que "falar de corda em casa de enforcado".
Sobre as críticas de que o "quem conhece o PT não vota no PT", Déda disse que "o Brasil conhece o governo do PSDB há oito anos e votou no PT".
PTB alega "ódio" a Serra para apoiar Lula
FHC telefonou para José Carlos Martinez, presidente do partido, a fim de tentar reverter tendência pró-petista
No mesmo dia em que o PSB, de Anthony Garotinho, declarou apoio ao presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o PTB, que apoiou Ciro Gomes no primeiro turno, "recomendou" voto no petista no segundo turno.
De acordo com os próprios dirigentes do PTB, em vez de "amor" a Lula, um sentimento de rejeição ao presidenciável tucano, José Serra, foi o motivo encontrado pelo partido para optar pelo petista. Nos Estados em que ainda há segundo turno, apenas o voto para governador é liberado, para presidente não.
Após quatro horas de reunião em Brasília, a cúpula petebista concedeu entrevista afirmando que a decisão foi "unânime", apesar de Roberto Jefferson (RJ), líder do partido na Câmara, defender neutralidade no segundo turno. Jefferson disse que respeitará a decisão do partido, mas não deseja nada dos petistas. "Nem a companhia."
"A decisão [de recomendar voto em Lula" é mais por ódio ao Serra do que por amor ao Lula", disse o deputado José Carlos Martinez, presidente do PTB.
Surpreendido pelo clima anti-Serra da reunião, o presidente Fernando Henrique Cardoso telefonou para Martinez, a fim de reverter a tendência de apoio a Lula.
Segundo a Folha apurou, Martinez disse ter apreço por FHC, mas que Serra e o PSDB o teriam "machucado muito", numa referência aos petardos tucanos relacionando o presidente do PTB a PC Farias (leia texto nesta página).
Ao final da reunião, Martinez telefonou para o presidente do PT, o deputado federal José Dirceu (SP). O petista, também se surpreendeu quando recebeu a notícia, pois esperava que o PTB liberasse os filiados.
Apesar de manifestar desejo pela vitória do petista, o PTB não quis se comprometer com a governabilidade do futuro presidente. Ainda não foi definido se dará sustentação no Congresso a um eventual governo Lula o u Serra, o que só será decidido em janeiro.
Para Martinez, é preciso verificar se os petistas se mostrarão "moderados" ou "radicais". Segundo a Folha apurou, o discurso oficial de dar apoio apenas na campanha serviria para passar a idéia de que o partido não estaria interessado em cargos.
O presidente nacional do PT, José Dirceu, vem tendo conversas com Martinez para formatar o apoio. A idéia é que Lula não compareça a Estados onde o PTB aderiu a adversários do PT, como no Paraná.
São Paulo
Martinez afirmou que, em São Paulo, o PTB dará apoio ao tucano Geraldo Alckmin, que disputa o governo estadual com José Genoino (PT), por uma questão de "tradição" da legenda no Estado.
Já na Força Sindical, a "tendência" é liberar o voto dos filiados tanto no âmbito estadual como no federal. Segundo o presidente licenciado da Força, Paulo Pereira da Silva (PTB), o Paulinho, candidato a vice na chapa de Ciro Gomes, um apoio a Lula agora traria comprometimentos futuros para a central. Mas Paulinho, como membro do PTB, apoiará Lula e Alckmin. A Força se reúne na segunda-feira para decidir como vai atuar no segundo turno.
Na reunião, o PTB aproveitou para fazer um balanço do primeiro turno. Segundo Martinez, a opção de lançar candidato próprio foi acertada. O erro foi a pessoa. "Um candidato a presidente não pode se dar ao luxo de dar declarações fora de contexto, perdidas ao léu", disse, referindo-se a Ciro.
"NY Times" elogia Lula e critica Serra
O jornal "The New York Times", o mais importante e prestigioso diário norte-americano, elogiou na edição de ontem, em seu segundo editorial em importância, o presidenciável petista Luiz Inácio Lula da Silva e criticou a atuação do candidato governista José Serra na campanha até agora.
Intitulado "Uma mensagem de descontentamento do Brasil", o texto diz que o petista é "carismático" e, ao contrário do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, "um democrata empenhado e que levou décadas construindo um partido político nacional".
Já sobre o tucano, afirma que sua campanha no primeiro turno foi "afundada pelo atual desempenho econômico medíocre do Brasil e por seu próprio estilo duro", apesar de elogiar FHC, dizendo que o presidente trabalhou para a aprovação de reformas econômicas necessárias.
O "NYT" diz ainda que, seja qual for o resultado do segundo turno, "Washington precisa prestar atenção à mensagem dada pelos eleitores brasileiros no domingo: para que as reformas de livre mercado prevaleçam na América Latina, mais esforço tem de ser feito para estender seus benefícios de uma pequena elite para as dezenas de milhões atraídas por Luiz Inácio Lula da Silva".
Diz que é essa mesma "maioria empobrecida" que colocou Hugo Chávez no poder na Venezuela e que provavelmente será uma grande força nas eleições presidenciais da Argentina no ano que vem. E conclui: "O Brasil é uma terra de grandes desigualdades, que o próximo presidente terá de despender mais esforços para combater. Um abandono radical das ortodoxias econômicas, no entanto, tem o risco de afugentar investidores, deixando os cidadãos mais pobres mergulhados ainda mais fundo na miséria".
O editorial do diário é um contraponto liberal ao tom conservador que vem adotando seu concorrente, o econômico "The Wall Street Journal", explicitado em texto do último dia 4, cujo título era: "As coisas podem piorar para os brasileiros? É claro que sim".
Nele, além de citar a amizade do petista com o ditador cubano Fidel Castro e Chávez, o editorial dizia que um governo Lula poderia "danificar as finanças do país".
Tucano chama Lula para debate; petista vê 'casca de banana'
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, retomou ontem a estratégia de desafiar Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para debater propostas de governo. Sem citar o nome de Lula, o tucano disse que candidato do PT evita o debate de programas de governo "como se tivesse algo a esconder".
"É como se houvesse um PT emocional, bonito, tranqüilo, o PT do MST e o das administrações públicas", disse Serra, depois de ler discurso em evento em que recebeu apoio da Convenção Nacional das Assembléias de Deus.
"No segundo turno, nós precisamos de menos marketing, menos publicidade e de mais verdade, mais realidade e mais propostas", afirmou.
Há três debates previstos por redes nacionais de TV, mas o PT propõe que apenas um seja realizado e transmitido por um pool de emissoras.
"O debate no segundo turno é fundamental. As posições a respeito do Brasil, as propostas sobre o Brasil precisam ser confrontadas para que se possa fazer paralelos entre elas, para que a população possa escolher o seu caminho", afirmou.
"Cascas de banana"
A Agência Folha apurou que, durante o encontro de Lula com o governador Itamar Franco na sede do Executivo mineiro, ontem, o petista reafirmou a sua intenção de participar de apenas um debate neste segundo turno da eleição. Se isso não for possível, ele disse que só irá ao debate da Rede Globo marcado para o próximo dia 24, três dias antes da eleição.
Na saída, Lula disse que não é "obrigado a pisar nas cascas de banana que eles querem me colocar".
Segundo o petista, Serra está forçando a realização de mais debates porque o tucano não teria muito espaço para percorrer o país fazendo campanha, já que não teria a quem apoiar nos Estados e, portanto, estaria sem palanque. Por falta de uma agenda de campanha, disse Lula, Serra está forçando a realização dos debates.
Serra usa alta do dólar para desafiar Lula
Tucano diz que petista precisa apresentar suas propostas para baixar cotação da moeda dos EUA; PT vê "terrorismo eleitoral"
O tucano José Serra desafiou o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, a debater propostas para baixar a cotação do dólar, que ontem fechou em R$ 3,98.
"O Brasil tem o direito de saber o que o Lula e o José Serra, que são os candidatos no segundo turno, pensam a esse respeito e comparar a posição dos mesmos." O tucano não explicitou sua proposta.
A declaração de Serra surpreendeu porque ele já havia encerrado uma entrevista em Brasília e já se retirava, quando voltou para falar especificamente sobre o câmbio.
"É uma questão típica que os candidatos deveriam estar debatendo. Nós vamos ter de trazer o dólar para baixo. Se nós vamos trazer o dólar para baixo, é preciso que os candidatos apresentem suas propostas. [É preciso" diminuir para que não aumente o pão, não aumente a gasolina, não aumente o biscoito, o macarrão."
A estratégia tucana prevê trazer novamente ao debate eleitoral os supostos riscos econômicos de uma vitória da oposição. Anteontem, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, defendeu que os candidatos explicitem seus compromissos com o controle das contas públicas e o cumprimento de contratos.
Em Belo Horizonte, ao ser questionado sobre a elevação do dólar, Lula afirmou apenas: "Isso tem que perguntar para o Armínio".
Principal porta-voz econômico do PT, o senador eleito Aloizio Mercadante (SP) disse que a alta do dólar não tem relação com as eleições presidenciais, mas pode ganhar força se o governo seguir o caminho de associar a oposição à instabilidade. "Com essa política de o governo tocar fogo na casa para o Serra inaugurar a roupa nova de bombeiro, pode faltar água para o caminhão-pipa."
Segundo sua argumentação, não houve nenhuma atitude nova do PT que justificasse a necessidade de reafirmar as declarações de Lula quanto à economia.
Mercadante chamou de "terrorismo" a atitude do governo, que atribui à expressiva votação obtida por Lula e outros oposicionistas no primeiro turno.
A escalada do dólar, complementa, decorre da ação de especuladores interessados em lucros com títulos do governo corrigidos p ela variação cambial.
Os petistas apontam que estratégia semelhante foi usada antes pelo governo, quando sugeriu que o país corria o risco de se tornar "uma Argentina". E dizem que o PT contribuiu para acalmar os mercados ao apoiar, entre outras coisas, o acordo com o Fundo Monetário Internacional.
"No primeiro turno, [essa estratégia" se voltou contra o país. Precisou a ajuda do PT para tirar o país da crise. Eles [o governo" têm de levar isso em consideração", disse o presidente do PT, deputado José Dirceu (SP).
"Choque de credibilidade"
Coordenador do programa de governo de Serra, o economista Gesner Oliveira, disse que a vitória do tucano representará um "choque de credibilidade" cuja consequência imediata será a queda do dólar, o que permitirá ao país "poupar valiosos recursos". "Serra não se converteu para a política de estabilidade durante o período eleitoral", disse Gesner.
Segundo ele, por essas razões não haveria em relação ao candidato do PSDB a mesma insegurança que os mercados demonstram ter em relação a Lula a quem chama de "cristão novo" em relação à estabilidade.
Deputados eleitos por Enéas são legítimos, diz estudioso
Para Fernando Limongi, do Cebrap, Lula é responsável por bancada recorde do PT
O fenômeno Enéas Carneiro, deputado federal mais votado no país que puxou consigo mais cinco correligionários para o Congresso, é legítimo e faz parte da lógica de um sistema em que se vota em partidos. A avaliação é de Fernando Limongi, 44, presidente do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e professor do Departamento de Ciência Política da USP.
Na contramão do senso comum, o cientista político afirma que, se a idéia é fortalecer o sistema partidário, deve-se aceitar o que ocorreu com os deputados eleitos pelo Prona puxados pelos mais de 1,5 milhão de votos de Enéas. "Se as pessoas que votaram no Enéas tiverem só um representante, elas estarão sub-representadas. Tem que haver uma transferência de votos." Leia a seguir trechos da entrevista.
Folha - Como o sr. vê o crescimento da oposição e, em especial, do PT em todo o país?
Fernando Limongi - O PT teve um crescimento acima do que se esperava. Ninguém projetou que o PT poderia ter crescimento tão grande. Por que é que a gente não previu isso? Porque ninguém pensou na transferência de votos do cargo executivo federal para os demais cargos.
Folha - O Lula foi o grande puxador de votos?
Limongi - O Lula puxou os votos. O que a gente sabe há muito tempo é que o voto para as majoritárias, ou seja, para governador e para presidente, influencia o voto para as proporcionais. Agora a hipótese que se tinha é que o voto para governador era mais forte do que o para presidente nessa puxação de votos. Acho que a gente interpretou errado o resultado das eleições passadas em razão de o Fernando Henrique [Cardoso] ter tido uma coligação ampla que fazia com que essa transferência de votos em cada Estado fosse parar em um determinado partido e não necessariamente no PSDB.
O próprio PT apareceu nas outras eleições com coligações mais amplas do ponto de vista do número de partidos. Você tinha outros partidos com capacidade de participar desse espólio, o que não aconteceu dessa vez. O fato é que o PT cresceu bastante e no país inteiro. O partido deu uma nacionalizada maior, que era um processo que já vinha em curso, mas que ganhou novo aleito.
Folha - A votação de Enéas Carneiro puxou mais cinco deputados do Prona junto com ele, sendo que um deles teve apenas 275 votos. Um resultado como esse impõe uma reforma política?
Limongi - Pelo contrário. As pessoas precisam parar e pensar antes de falar. Se alguém quer fortalecer partido tem que entender que o que vale é o partido. Então quem ganhou voto foi o partido do Enéas.
Folha - Mas essas pessoas votaram no Enéas, não no partido dele...
Limongi - Se o método é proporcional, o número de votos que foram para o Enéas tem que ser transferido e foi isso que aconteceu. Se você fala em fortalecer partidos isso significa que tem que haver mecanismos de transferência de votos. A preferência do eleitor conta primeiro como voto partidário. Se houver o sistema de lista fechada, Enéas aos montes aparecerão. Qualquer um que tenha capital eleitoral próprio estará melhor abrindo seu próprio partido do que participando de um partido "comunitário". Se a lista é fechada, alguém vai determinar quem está em primeiro na lista, quem está em segundo, quem está em terceiro etc. Se eu tenho um partido que é meu, quem comanda sou eu. Quem vai ser o primeiro da lista? Eu.
Então qualquer pessoa como Enéas, que tem capital eleitoral próprio independente do partido, vai querer abrir o seu partido e transferir votos para gente que vai depender inteiramente dele para obter mandato. Ou seja, os partidos vão se oligarquizar mais. E qual vai ser o resultado? Fracionalizar mais o sistema partidário.
Isso aconteceu em Israel, onde o sistema é proporcional com lista fechada. O que acontece com uma minoria religiosa? Ela está muito melhor em seu próprio partido, em que ela própria faz sua lista, do que tendo um lugar secundário na lista de um partido grande.
Se nós somos a favor de fortalecer o sistema partidário, temos que aceitar Enéas como um fenômeno partidário. Se as pessoas que votaram no Enéas tiverem só um representante, elas estarão sub-representadas. Tem que haver transferência de votos.
O argumento de que um determinado candidato teve mais votos do que o médico do Enéas [Vanderlei de Assis de Souza, eleito deputado federal pelo Prona com 275 votos] é um argumento contra os partidos, que diz que o que vale é o voto individual.
Folha - E no caso dos grandes partidos, o que aconteceria se houvesse listas fechadas?
Limongi - Oligarquizaria o partido na hora de fazer essas listas. As lideranças dos partidos vão fechar as opções que nós eleitores vamos ter. Veja o que o [Orestes" Quércia fez no PMDB. Ele disse: "Olha, o único interesse no PMDB é me eleger senador. E submeteu todo mundo, inclusive o candidato a governador, ao seu interesse. Por quê? Porque ele controla o partido. E o que é que vai acontecer se você der a lista fechada? Vai ter um cidadão como esse, um cacique do partido, que vai fazer a lista de cabo a rabo. Nós eleitores vamos ter que aceitar isso. O efeito seria pernicioso.
Folha - Mas não há nenhuma outra opção fora a lista fechada?
Limongi - A outra opção é o voto distrital misto, que é uma parte lista fechada e outra parte distrital. Todo mundo diz o seguinte: voto distrital misto traz o melhor dos dois mundos, o que é bom no distrital e o que é bom no proporcional. Mas ele pode trazer o que é ruim no sistema de lista fechada e o que é o ruim no distrital. Eu acho isso o mais provável.
Folha - Por quê?
Limongi - O distrital personaliza mais, enfraquece o partido, torna a relação mais paroquial porque o deputado vai ser eleito pelos benefícios que traz para o distrito dele e não para o interesse geral. Você está consagrando todo o paroquialismo que se acusa do sistema brasileiro. E na lista fechada, a oligarquia partidária vai deitar e rolar. Eu não diria que necessariamente isso vai acontecer, mas é preciso considerar essa hipótese. Tem várias vezes em que se muda e piora. Por exemplo, a medida [de verticalização das alianças] do [Nelson] Jobim foi feita com essa suposição: "precisamos forçar os partidos a se tornarem mais fortes". Acontece que a forma como o mundo funciona não obedece a planos e projetos mirabolantes.
Folha - Qual será a margem de manobra do próximo presidente, tendo em vista a limitação da edição de medidas provisórias e o fato de que ele deve ter uma menor coalizão de sustentação?
Limongi - Quem quer que ganhe a eleição no Brasil, consegue 50% mais um. Não tem razão para que isso não ac onteça.
Folha - Quer dizer que, sendo Serra ou Lula, o próximo presidente conseguirá estes 50% mais um?
Limongi - Vai conseguir. O Ciro [Gomes" conseguiria, o [Anthony] Garotinho conseguiria. Porque é da lógica das coisas. Quem está na oposição precisa decidir: eu vou ser oposição radical e apostar no fracasso para ganhar daqui a quatro anos ou eu vou participar do governo, ganhar benefícios de ser do governo e mais para frente decido se vou continuar com esse governo nas próximas eleições ou se passo para a oposição. Foi o que fez o PFL e o PTB no governo Fernando Henrique. O incentivo para ser oposição radical não aparece para todo mundo. É muito custoso.
Até porque o presidente do Brasil, a despeito de ter tido limitada sua capacidade de editar medidas provisórias, ainda tem muita coisa para incentivar as pessoas a participarem do governo. Ele controla a agenda legislativa, o Orçamento, a máquina de governo. Você tem coisas a ganhar participando do governo.
Jader se divide entre PT e PSDB no 2º turno
O ex-senador e deputado federal recém-eleito Jader Barbalho (PMDB-PA) ainda não definiu se apoiará ou não o presidenciável José Serra (PSDB) no segundo turno. Essa decisão ainda seria discutida hoje durante reunião da cúpula estadual do partido, na casa de Jader, em Belém.
No segundo turno da sucessão estadual, é quase certo o apoio de Jader à candidata Maria do Carmo, do PT. Ela disputará o governo com Simão Jatene (PSDB). No primeiro turno, a petista teve 25% dos votos, contra 35% de Jatene.
Jader, que foi eleito o deputado federal mais votado do Pará (com 344 mil votos) ajudou seu partido a eleger outros quatro parlamentares para a Câmara. Os votos da "bancada do Jader" somados ao da ex-mulher, Elcione Barbalho, derrotada ao Senado, somam 1,6 milhão de votos.
O flerte entre o PT estadual e o PMDB de Barbalho ficou explícito 24 horas antes das eleições. No sábado, o PT publicou nos jornais locais uma nota oficial sugerindo o segundo voto ao Senado em Elcione Barbalho. "O PT sabia que poderia precisar do nosso apoio no segundo turno", disse um dos caciques estaduais do PMDB.
"O PMDB é um grande partido e nós vamos procurar este apoio", disse ontem Maria do Carmo, que precisa unir forças para enfrentar o candidato do governador tucano Almir Gabriel.
O governador tucano é o principal adversário local de Jader. Seus assessores mais próximos creditam à articulação do governo do Estado os mandados judiciais de prisão sofridos pelo ex-senador. Além disso, dizem, a assessoria de Gabriel se empenhou em divulgar pelo Pará a fotografia de Jader algemado, em fevereiro passado.
O que será debatido na reunião de hoje é se o apoio que eventualmente Jader possa dar a José Serra beneficiará, ainda que indiretamente, os tucanos no Pará.
Artigos
O BC vai ao palanque
Clóvis Rossi
SÃO PAULO - Ao dizer que, da parte do governo, não há muito o que fazer para conter a alta do dólar, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, está encurtando o mandato de um presidente que, uma e outra vez, se comprometeu a governar até 31 de dezembro próximo.
Ninguém espera do atual governo que lance, agora, um novo plano educacional, de saúde, ambiental ou que se proponha a construir uma ponte ligando Manaus a Porto Alegre. Espera-se que administre a crise cambial. Ponto.
Se não tem muito o que fazer nessa área, não tem muito a governar. Como o eleito para suceder FHC só governará a partir de janeiro, até lá o país vai ficar à mercê dos mercados.
Pior: por mais que negue, o presidente do BC não permite outra interpretação, que não a eleitoral, para suas declarações.
Vejamos: no dia 19, o presidente Fernando Henrique Cardoso encontrou-se com os então quatro principais candidatos presidenciais. O que aconteceu? Relata a Folha:
"Depois de se encontrar com os quatro principais candidatos à sua sucessão, o presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que estava satisfeito porque todos haviam assumido o compromisso de honrar o acordo acertado com o FMI (Fundo Monetário Internacional)".
"Todos disseram que vão honrar", afirmou FHC. Ora, o acordo com o FMI prevê exatamente o que Armínio volta a cobrar agora, quando diz que "existe hoje um clima de medo de que não se vá prosseguir numa trajetória de responsabilidade fiscal e de transparência, medo de que não vá haver um compromisso firme com taxa de inflação baixa".
Ou o presidente mentiu há dois meses, ou o presidente do BC resolveu subir no palanque e fazer o mesmo terrorismo eleitoral que a campanha de Serra ensaiou no início e não foi comprado pelo eleitorado.
Colunistas
PAINEL
Pista esburacada
Auditoria feita pelo Tribunal de Contas da União apontou 37 indícios de irregularidades na obra do Rodoanel, que terá um trecho inaugurado hoje por FHC. O relatório, da Secretaria de Controle Externo, levanta suspeita de superfaturamento de até 110% em 15 contratos.
Caixa fechado
Os auditores pedem bloqueio de verbas para o Rodoanel, bandeira de Alckmin. O plenário do TCU ainda não julgou o caso. O texto aponta indícios de falhas na licitação e de deficiência no projeto, que seria incompatível com o tamanho da obra.
Defesa governista
Luiz David, secretário dos Transportes de Alckmin, diz que não há irregularidade e que responderá a todos as suspeitas do TCU: "O Rodoanel é a obra mais barata que SP já fez".
Dia seguinte
Serra reuniu-se com Osmar Dias (PDT) para pedir seu apoio no PR. Estava acompanhado de José Aníbal, que em 2001 pediu a expulsão do senador do PSDB chamando-o de político transgênico ("que quer tirar proveito de ser governo e oposição").
Confidências públicas
Rita Camata procurou Jader Barbalho para pedir seu apoio. Só que a assessoria da vice de Serra ligou para o celular que não é mais do peemedebista. A atual proprietária ganhou o aparelho no Natal, e nada tem a ver com o ex-senador, que deixou a Casa para evitar a cassação.
Ramal de cima
A nova dona do celular de Jader também recebeu ligações de órgãos públicos de Brasília. Certa feita, a pessoa pediu um contato com o ex-senador em nome "da Presidência da República".
Ressaca de campanha
A propaganda de Serra deverá tratar do vinho francês Romanée-Conti 1997, com o qual Lula comemorou seu desempenho no debate da Globo. A garrafa custa cerca de R$ 6.000.
Coleta seletiva
Anteontem, às 9h30, garis da Prefeitura de SP passavam na avenida Nove de Julho, uma das mais movimentadas da cidade, recolhendo dos postes de iluminação a propaganda eleitoral. Detalhe: só deixavam a que pedia voto para Lula e o PT.
Águia de aço
Candidato ao governo do PR, Roberto Requião (PMDB) pousou de helicóptero em plena barragem de Segredo, área de segurança, para fazer imagens para o programa eleitoral. Sem autorização da Copel. A assessoria do senador diz que o pedido foi feito, mas "algum burocrata" demorou a dar a resposta.
Secos e molhados
Ronivon Santiago, acusado de comprar votos no AC, virou mote de piada no Estado. Dizem que o deputado eleito - que em 97 renunciou após a denúncia de compra de votos para aprovar a reeleição- estaria abrindo uma loja: quer comprar no Acre para vender em Brasília.
Baixaria no ar
Uma corrente de e-mails na internet "informa" que o PT "prevê o fim do direito de sucessão [aquisição de imóvel pelo direito hereditário"". Não há uma linha nesse sentido no programa do PT, que hoje vai denunciar o caso à Polícia Federal.
Troca eleitoral
Antônio Rubens Lara deixou ontem a Secretaria da Casa Civil de SP. Vai dedicar-se à campanha de reeleição do governador Geraldo Alckmin. Drausio Barreto assume a pasta.
Visitas à Folha
Edevaldo Alves da Silva, presidente da UniFMU (Faculdades Metropolitanas Unidas) e do Instituto Metropolitano de Altos Estudos, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado do diretor do Núcleo da Saúde da UniFMU, José Aristodemo Pinotti.
Os cineastas Toni Venturi, Alain Fresnot, André Klotzel, André Sturm e Luis Alberto Pereira, diretores da Apaci (Associação Paulista de Cineastas), visitaram ontem a Folha.
TIROTEIO
De Heloísa Helena (PT), sobre ACM (PFL), com quem a petista teve embate no plenário do Senado, ter voltado à Casa:
- Pode vir quente que estou fervendo.
CONTRAPONTO
Meu nome é relógio
Durante a campanha eleitoral, o vice-presidente do TSE, ministro Sepúlveda Pertence, recebeu um pedido de audiência do candidato do Prona a deputado federal por SP Enéas Carneiro. Por acúmulo de trabalho, Pertence teve de marcar a audiência para a meia-noite. Na hora marcada, chegaram ao tribunal Enéas e seu aliado, Ildeu Araújo, que posteriormente foi eleito deputado federal com 382 votos. Após os cumprimentos, Enéas disse que iria ocupar por dez minutos o tempo do ministro. Metódico, explicou:
- Serão oito minutos de conversa e dois minutos de apresentação de um CD-ROM.
No meio da audiência, Enéas parou, olhou o relógio e disse:
- Ministro, vou acelerar, porque já se passaram sete minutos.
Quando o relógio marcou exatos dez minutos, Enéas agradeceu e foi embora, deixando para trás um espantado ministro.
Editorial
RAIO DE MANOBRA
A cotação do dólar, no sistema de câmbio flutuante, depende dos fluxos de oferta e de demanda da divisa, mas não apenas. Depende também, como é notório, das expectativas dos agentes que participam do mercado. Com a retração do crédito externo, o fluxo de dólares vem se revelando minguante já há tempos, mas não parece ter tido piora adicional nos últimos dias. Assim, a nova alta do dólar que ontem fechou a R$ 3,99- parece se dever sobretudo a uma piora de expectativas.
As cotações do dólar no mercado futuro e no paralelo tiveram repique ainda mais forte nos últimos dias e se aproximaram bastante do preço do dólar comercial à vista. Não é bom sinal. Essas cotações vinham se situando claramente abaixo da cotação no mercado à vista. Isso era um indicativo de que preponderava a avaliação segundo a qual o preço à vista do dólar tendia a refluir. Também indicava que a compra de dólares no paralelo não era vista como boa alternativa de aplicação financeira.
A piora de expectativas pode ter diversas origens. Na alta do dólar observada ontem, especificamente, parece ter pesado a interpretação negativa de parcela do mercado quanto a declarações recentes do presidente do Banco Central. Armínio Fraga disse que há limites para o que o BC pode fazer a fim de conter a cotação do dólar. A afirmação parece ter animado alguns a reforçar suas apostas na alta da moeda norte-americana. Certamente há limites para a venda de dólares no mercado à vista pelo BC. Mas ainda há medidas administrativas que, se adotadas, limitariam o espaço para ações especulativas.
Poderia ser cogitada, por exemplo, uma elevação da parcela dos depósitos à vista e a prazo que os bancos têm que depositar no BC, mecanismo conhecido como depósito compulsório. A medida restringiria a liquidez, hoje excessiva. O impacto sobre a atividade econômica não tenderia a ser significativo, pois a oferta de crédito já se encontra inibida pela incerteza. E a sinalização de que o BC segue atento e ativo seria um trunfo valioso na batalha das expectativas.
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10/11/2002
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