Inclusp mostra a estudantes de escolas públicas o caminho a universidade



Programas tornam a universidade mais acessível aos estudantes de baixa renda

A dedicação aos estudos levou Darlan Praxedes a realizar o seu sonho: cursar Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP). Aos 20 anos largou o emprego em uma emissora de rádio e se dedicou exclusivamente ao vestibular. Ele e mais 294 estudantes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP pertencem a um universo particular: vieram de escolas públicas.

Darlan e todos esses companheiros têm novo desafio pela frente: serão os Embaixadores da USP. O programa, criado em 2006, foi lançado graças a uma parceria das Pró-Reitorias de Graduação e de Cultura e Extensão Universitária. O Embaixadores da USP propõe uma visita dos alunos (oriundos do ensino público) às suas antigas unidades de ensino para, como representantes da universidade, relatarem suas experiências no vestibular e a rotina da vida universitária.

Os Embaixadores da USP se reuniram no início desse mês na FFLCH para conversar e participar da abertura oficial do projeto. Eles retornarão às suas escolas apresentando palestras que mostram como o Programa de Inclusão Social da USP (Inclusp) funciona, informando datas e incentivando aqueles que não acreditam que alunos de escola pública possam entrar em boas universidades. O Inclusp visa a ampliar a probabilidade de acesso dos egressos do ensino público ao ensino superior, bem como apoiar sua permanência na universidade. A idéia é que a troca de experiências seja positiva para os alunos das escolas estaduais, já que verão que pessoas como eles alcançaram esse objetivo.

Falta informação – “A maioria dos secundaristas não tem informações sobre a USP. Acreditam que a universidade é paga ou, até pior, que não têm condições de enfrentar o vestibular”, afirma Maria Fernanda de Oliveira. Oriunda de escola pública, formou-se em Fisioterapia na Universidade de Campinas (Unicamp), é mestre em Educação Física pela USP e, agora, está no segundo ano de Letras na Faculdade de Filosofia. Com a experiência adquirida, Fernanda participará pela segunda vez do projeto Embaixadores da USP.

“Eu sou um exemplo, bem como o Darlan e seu irmão Danilo, de que ‘o dragão da maldade’ do vestibular da USP é lenda. O aluno tem de se dedicar aos estudos e prestar o vestibular. A pior coisa é que muitos nem tentam competir para ingressar aqui. Pensam que é impossível entrar nesta universidade.”

Fernanda tem razão. A falta de informação é tamanha que das 65 mil vagas destinadas aos isentos, no ano passado, somente 20 mil foram preenchidas. Levantamento realizado pela Pró-Reitoria de Graduação revelou que dos 10 mil ingressantes na USP, 75% vinham de escolas particulares e 25% de instituições públicas.

“Precisamos mudar essa realidade. Para isso contamos com o programa Embaixadores da USP e com a abertura das escolas públicas pelos diretores para receber esses estudantes para que ajudem a levar o projeto adiante”, observa Selma Garrido Pimenta, pró-reitora de graduação da USP.

Ajuda de custo – Os participantes da capital receberão ajuda de custo da universidade no valor de R$ 50. E R$ 100 para estudantes da Grande São Paulo e interior, além de uma cartilha explicativa para ajudar os alunos a esclarecer dúvidas sobre o ingresso na USP. “É uma forma de aproximar a comunidade da universidade. Acredito que algumas medidas adotadas, como o Inclusp, ajuda a ampliar o acesso e a permanência do estudante de escola pública na universidade”, diz Gabriel Cohn, diretor da FFLCH. Para aqueles que acreditam que existem Embaixadores da USP somente na FFLCH, os números da Medicina e da Escola Politécnica (Engenharia) mostram que a realidade é outra. Há oito embaixadores na Medicina e 15 na Poli, todos egressos de escolas públicas em 2007.

Selma destaca outras iniciativas que endossam a idéia planejada pelo Inclusp, que vão além de um simples bônus nas notas da Fundação Universitária para Vestibular (Fuvest). “Queremos aproximar a escola pública da USP e por isso divulgaremos o calendário das isenções nas inscrições da Fuvest em diversos locais, além de promovermos a visita dos embaixadores às escolas públicas”.

Apoio antes, durante e após o vestibular

A Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP realiza até hoje a 3a Feira de Profissões, no câmpus da capital. Participam do evento professores e alunos das unidades de ensino de Bauru, Lorena, Piracicaba, Pirassununga, Ribeirão Preto, São Carlos e São Paulo. Interessados têm a oportunidade de obter informações sobre os mais de 230 cursos de graduação nas áreas biológicas, exatas e humanas, além de conhecer as possibilidades de formação profissional que a USP oferece. Durante a feira, alunos de escolas públicas podem solicitar isenção da taxa de inscrição do vestibular no estande do Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil/Fuvest  e conhecer o Inclusp (site www.inclusp.br/inclusp), que atua na superação das barreiras educacionais que dificultam esse acesso, apoiando a participação do aluno antes, durante e após o vestibular.

O jovem que concluiu o ensino médio em escola pública pode obter inscrição gratuita para o vestibular; somar até três bônus na nota, dependendo do seu desempenho em outras duas avaliações – Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e Programa de Avaliação Seriada da USP (Pasusp). Após o ingresso pode contar com as bolsas de apoio e incentivo para auxiliar sua permanência durante os estudos: Bolsa Fuvest, Bolsa Ensinar com Pesquisa, Bolsa Aprender com Extensão, Bolsa Alimentação, Bolsa Moradia e Auxílio à Moradia, Bolsa Transporte e Bolsa Santander USP de Mobilidade Internacional.

No caso do programa de Moradia, 55% dos alunos da FFLCH residem no Conjunto Residencial da USP (Crusp), informou Marisa Puppi, diretora de programa social da Coordenadoria de Assistência Social da USP (Coseas). Melanie Fernandes Ribeiro cursa o terceiro ano de Geografia na FFLCH e pertence ao Grupo de Estudos de Geografia da Cidade Paulistana. “Ganho uma bolsa de estudos para permanecer aqui na universidade e essa foi uma maneira interessante de aliar o trabalho com os meus estudos sem sair daqui”.

A Escola Politécnica dispõe de um programa de apoio aos seus alunos, oferecido pela Associação dos Engenheiros da Politécnica (Poli). Neste ano, inscreveram-se 146 alunos. Desses, 105 receberam bolsa de um salário mínimo mensal por um ano e 65 deles concluíram o ensino médio em escola pública. Três estudaram dois anos em escola pública e um ano em estabelecimentos particulares. No Programa Afinal da Faculdade de Medicina da USP, houve 79 inscritos neste ano, dos quais 29 completaram o ensino médio na escola pública e um aluno cursou dois anos em escola pública e o último ano em unidade de ensino particular.

Da Agência Imprensa Oficial

(M.C.)



08/10/2008


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