Indicação de Meirelles chegou ao Senado ainda no governo FHC para 'acalmar o mercado'
O envio pelo presidente Lula da indicação de Alexandre Tombini para ocupar a Presidência do Banco Central no governo Dilma Rousseff repetirá expediente adotado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso no último mês de seu mandato, em dezembro de 2002. A indicação formal do atual presidente do BC, Henrique Meirelles, para o lugar de Armínio Fraga, foi louvada pelo então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva como um gesto benéfico à transição.
As semelhanças entre as duas transições param por aí. Nesta, a troca de comando na autoridade monetária transcorre sem sobressaltos - até porque Tombini recebeu a bênção dos banqueiros e investidores - e visa a permitir que Dilma conte desde o início com um dos principais titulares de sua equipe, o único que precisa passar por sabatina no Senado.
Meirelles, vindo de um mandato como presidente mundial do Bank of Boston, também era confiável aos olhos do mercado, mas teve antecipada a sua sabatina para acalmar os "ânimos do mercado financeiro", segundo os jornais publicaram à época. Mesmo tendo declarado, por meio de uma "carta aos brasileiros", que seu governo não quebraria contratos e regras consagradas do mundo das finanças, Lula era visto com desconfiança fora de suas hostes.
Dias antes da votação, ocorrida em 17 de dezembro de 2002, o senador Romero Jucá (RR), na época parlamentar do PSDB, chegou a alertar para os riscos de uma demora na definição do comando do BC.
- Sem essa indicação, sem dúvida teremos um buraco negro cujas consequências são de difícil previsão - disse Jucá, hoje líder do governo.
O então senador Artur da Távola (PSDB-RJ) foi um dos que considerou a indicação de Meirelles uma sinalização de que o PT "enfim assumia uma posição realista" em matéria de política monetária.
Henrique Meirelles abrira mão de um mandato de deputado federal, pelo PSDB de Goiás, para ocupar a Presidência do BC. Ainda assim, sua indicação foi questionada por alguns de seus ex-correligionários. O então senador Antero Paes de Barros (MT) citou suspeitas de favorecimento ao Boston, presidido por Meirelles, durante a maxidesvalorização do real efetuada pelo governo em janeiro de 1999.
Problemas como esse não devem ser abordados na sabatina de Alexandre Tombini. Funcionário de carreira do BC, ele já faz parte da diretoria da instituição. E mesmo o futuro profissional de Henrique Meirelles também não deverá ser objeto de questionamentos. Legislação de 2001 (MP 2.255/01) determina que, ao deixar o governo, ministros ou titulares de cargos de natureza especial ou DAS-6 não devem atuar como administradores ou conselheiros de instituições do setor privado nos quatro meses subsequentes à saída da administração pública.
02/12/2010
Agência Senado
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