Serra confirma Fraga e tenta acalmar mercado
Serra confirma Fraga e tenta acalmar mercado
Candidato diz que a definição da direção do BC e as suas diretrizes econômicas podem reverter o dólar
O candidato José Serra (PSDB) garantiu ontem que, caso seja eleito, manterá Armínio Fraga na presidência do Banco Central. Segundo ele, a definição do nome de Fraga e a política econômica que adotará num eventual governo seu já seriam suficientes para reverter as expectativas do mercado e reduzir o dólar. Ontem, o dólar fechou, pela primeira vez na semana, em queda de 3,04%, cotado aR$ 3,6650. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em alta de 0,86%.
Serra, durante entrevista ao Grupo Estado, disse que a sua política está baseada num tripé macroeconômico: a manutenção do câmbio flutuante, a responsabilidade fiscal e o cumprimento de metas inflacionárias.
Além disso, o tucano afirmou que a manutenção do superávit primário e o aumento do superávit comercial por meio de elevação das exportações ajudarão a acalmar o mercado.
Segundo o candidato, a alta do dólar, que terça-feira atingiu o maior valor (R$ 3,78) desde o início do Plano Real, se deve a uma "avaliação equivocada" por parte do mercado. "Os fundamentos da economia brasileira são razoavelmente sólidos. O dólar alto é fruto de uma avaliação equivocada de gente que ainda pensa que a capital do Brasil é Buenos Aires", disse Serra.
Para o tucano, os recentes sobressaltos que ocorreram no mercado de câmbio não são responsabilidade do presidente Fernando Henrique. "O governo tem uma política fiscal eficiente e fez uma boa negociação com o FMI".
Serra acredita que as oscilações do mercado tem relação mais estreita com a corrida eleitoral do que com o atual governo. "É natural que o mercado fique tenso, querendo saber o que pensam os candidatos que têm chances de ganhar".
Afirmou que, se vencer as eleições, não irá propor nenhum tipo de alteração no acordo de socorro financeiros que foi fechado pela equipe do ministro da Fazenda, Pedro Malan, com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Na entrevista, Serra defendeu a necessidade de mudanças na legislação trabalhista, que deve ser precedida por um amplo debate com a participação de toda a sociedade, mas sem preconceitos. Segundo ele, a questão da legislação trabalhista não impede o crescimento do emprego.
Indecisos estão na faixa dos 30%
Os indecisos, que são, aproximadamente, 30% do eleitorado, de acordo com as pesquisas, deixam o quadro eleitoral no dia 6 incerto, segundo a diretora do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) Márcia Cavallari. De acordo com Márcia, os candidatos José Serra (PSDB), Anthony Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS), que estão abaixo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na mais recente pesquisa do instituto, divulgado terça-feira, têm chances de chegar ao segundo turno.
De acordo com o levantamento, Lula tem 41%, Serra, 18%, Garotinho, 15%, e Ciro, 12%. "O quadro hoje mostra um grande espaço para mudanças, principalmente se for considerada a soma de intenções de voto com os eleitores que poderiam ainda ser conquistados", disse ela, durante uma palestra sobre perspectivas para as eleições deste ano, organizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos (Cebeu).
Márcia afirmou que o Ibope constata que, cada vez mais, os eleitores decidem o voto muito mais tarde. "Hoje, eles esperam ver o que está ocorrendo e ficam acompanhando o que cada um faz." Segundo a diretora do Ibope, a eleição acaba no último dia de campanha, que será 3 de outubro, quando os candidatos se enfrentarão no último debate na televisão.
Queda causa racha na campanha de Ciro
A colocação em quarto lugar nas pesquisas eleitorais abriu uma crise na candidatura de Ciro Gomes (PPS). Ontem, o candidato não aceitou a proposta do assessor econômico Mangabeira Unger de formar uma frente de oposição ainda no primeiro turno e rompeu com o economista.
Unger apostava na criação da frente oposicionista a fim de apoiar a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas, garantindo a sua vitória no primeiro turno.
Outro aliado de Ciro, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) admitiu ontem que o candidato não chegará ao segundo turno.
O economista teria se reunido sábado à noite com Anthony Garotinho (PSB) para apresentar a proposta de criação da frente. A coordenação de campanha de Garotinho, no entanto, já havia descartado a hipótese de renúncia mesmo antes do encontro com o economista.
Assessores de Ciro Gomes informaram que, por causa do que aconteceu, Unger não estaria presente no lançamento do programa de governo coordenado por ele, que será lançado amanhã, em São Paulo. O último encontro entre Ciro e o economista teria acontecido semana passada, em uma reunião para acertar detalhes sobre o programa de governo.
"O Ciro somente vai para o segundo turno se houver um fato de grande repercussão nacional", disse ACM, um dos principais aliados do candidato. Ele disse também que "tem dúvidas" em relação à realização de um eventual segundo turno.
"Pelo que as pesquisas estão demonstrando, Lula tem amplas possibilidades de liquidar o jogo no primeiro tempo", afirmou.
ACM não quis comentar os erros que teriam levado o candidato Ciro Gomes a despencar nas pesquisas de intenções de voto.
Lula pede que o PT evite o "salto alto"
O candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) determinou ao comando de sua campanha e aos diretórios estaduais petistas em todo o País que ajam sempre pensando no segundo turno da eleição.
Ninguém deve sair das ruas, afirmou Lula na tentativa de evitar o "salto alto" no partido, levando em conta que os recentes resultados das pesquisas eleitorais de intenção de votos apontam para a possibilidade de vitória do candidato no primeiro turno.
"Nós vamos trabalhar pensando no segundo turno. Vamos manter nossa mobilização para termos a maior votação possível no primeiro turno, de forma que possamos passar para o outro turno em vantagem sobre o segundo colocado, que não sabemos ainda quem será", disse o deputado Aloizio Mercadante (SP). "Tudo o que Lula nos tem dito é para que ninguém seja contaminado pelos resultados das pesquisas", afirmou petista.
Garotinho sugere fechar as fronteiras
O candidato Anthony Garotinho (PSB) ocupou ontem o horário eleitoral na televisão do candidato de seu partido ao governo de São Paulo, Carlos Roberto Pittoli, para criticar o governo Fernando Henrique Cardoso na área da segurança.
"Só tem um jeito de resolver o problema da segurança no Brasil: é fechando nossas fronteiras", afirmou Garotinho.
"O governo Fernando Henrique foi omisso e permitiu que nossa Polícia Federal chegasse a um ponto deplorável", afirmou o candidato do PSB no horário eleitoral.
ANJ prevê mudança no papel da mídia
O presidente da Associação Nacional de Jornais, Francisco Mesquita Neto, afirmou durante o Max Mídia 2002, que está sendo realizado até hoje em São Paulo, que a tendência do mercado de comunicação é dividir o setor entre empresas produtoras de conteúdo e empresas de canais de distribuição, que vão investir fortemente em telecomunicações. Ele acredita que nessa nova estrutura, a receita publicitária será substituída pela venda de conteúdo.
Para exemplificar sua previsão, mostrou que na década de 90 a convergência de mídia substituiu a concorrência acirrada por públicos e anunciantes. No novo modelo, os grupos de mídia se fundiram às empresas de informática e telecomunicações. Essa nova estrutura teria supervalorizado certos veículos, principalmente os de Internet.
Diretor superintendente de O Estado de S. Paulo, Mesquita Neto acaba de ser reele ito presidente da ANJ, a entidade que representa os jornais de todo o País. A diretoria da ANJ é composta ainda pelos vice-residentes: Demócrito Rocha Dummar, de O Povo (CE); Jaime Câmara Júnior, de O Popular (GO); João Roberto Marinho, de O Globo (RJ); Luís Frias, da Folha de S. Paulo (SP); Mário Gusmão, do Jornal NH (RS); Nelson Sirotsky, de Zero Hora (RS); Paulo Cabral de Araújo, do Correio Braziliense (DF); e Sylvino de Godoy Neto, do Correio Popular (Campinas, SP).
Roriz garante que combate os grileiros
Nenhum outro governador combateu tanto a ocupação irregular de terras e a ação dos grileiros quanto Joaquim Roriz. É o que procurou mostrar seu programa eleitoral na tarde de ontem. Roriz, garante sua assessoria de campanha, vem, desde seu primeiro governo, combatendo os loteadores clandestinos e reprimindo os funcionários públicos que atuam com eles. Exemplo foi a área de 4.500 hectares que ele salvou da ação dos grileiros e incorporou ao Jardim Botânico do DF. No total, são 450 ações contra a grilagem tramitando na Justiça, fora a prisão de diversos envolvidos, entre eles, um delegado de polícia.
O programa de Roriz destacou a revitalização do Siv-Solo que, quando ele assumiu o governo, tinha apenas cinco veículos velhos, dois deles quebrados. Roriz aumentou a frota do Siv-Solo para 25 carros novos e fortaleceu o departamento com mais de 90 funcionários. Nesses quase quatro anos o Siv-Solo já derrubou 34 quilômetros de muros e 1.567 quilômetros de cercas, que equivalem a distância entre Brasília e Salvador.
Mas, enquanto Roriz explica, os demais candidatos pedem justificativas. Orlando Cariello, do PSTU, acha que a população de Brasília tem o direito de saber tudo sobre essa questão das terras.
Carlos Alberto acha que o DF tem mar sim, mas um mar de lama e afirma que chegou a hora de varrer do DF esses mafiosos que estão acabando com as terras do povo.
Rodrigo Rollemberg não quis comentar sobre grilagem de terras.
Desta vez, ele cedeu espaço à mulher para mostrar que o eleitorado feminino terá vez no seu governo.
E Trotta preferiu atacar o trânsito. Segundo ele, a população não pode permitir o domínio dessa indústria de multas.
Magela optou mostrar que tem propostas concretas para a juventude, como a Bolsa Primeiro Emprego, a Universidade Pública do DF, o Passe Livre e os Clubes de Lazer.
Banco Central prevê nova alta da gasolina
Aumento de preços causado pelo risco de guerra e queda do real frente ao dólar já forçam um reajuste
A alta do preço do petróleo e a elevação da taxa de câmbio no Brasil indicam novos reajustes nos preços da gasolina e comprometem a promessa do governo Fernando Henrique Cardoso de terminar seu mandato com queda nos preços dos combustíveis.
A avaliação do Copom (Comitê de Política Monetária, órgão do Banco Central) é de que, no ano, em vez da redução dos preços haverá uma alta de 3,3%. Até agosto, o Copom ainda previa uma queda de 0,8% no ano nos preços da gasolina. A nova projeção consta da ata da última reunião, divulgada ontem pelo BC.
No início do ano, a gasolina teve queda de 25% decorrente da abertura do mercado. Descontada essa queda, a ANP autorizou reajuste de 28,32% nos preços na refinaria até 30 de junho, data do último aumento. Com isso, o aumento real da gasolina foi de 2,24%. Acontece que nem todo esse aumento é repassado para o consumidor.
Segundo cálculos do BBV Banco e do Espírito Santo Security, se for repassado para a gasolina, o repique dos últimos dias do dólar e das cotações internacionais do petróleo e dos derivados elevaria o preço do combustível de 25% a 30%. As instituições consideram na conta o dólar a R$ 3,60 – um aumento de quase 30% desde o último reajuste da gasolina, em 30 de junho – e o petróleo a US$ 31 o barril.
A gasolina e o diesel subiram pela última vez no fim de junho. Os aumentos foram de 6,75% e 9,5%, respectivamente. Desde então, a crise cambial se intensificou, e uma guerra no Iraque tem se tornado mais provável.
Mesmo assim, empresários do setor de petróleo dizem que o governo não mexerá no preço dos derivados até o final do processo eleitoral. Motivo: evitar pressões ainda maiores na inflação, já que o preço dos alimentos tem sofrido impacto da alta do dólar.
Se a defasagem apontada pelos especialistas se converter em reajuste nas bombas, o litro da gasolina subirá do atual R$ 1,744 para R$ 2,25 na média nacional, segundo projeção feita a partir de dados da ANP. Quem gasta hoje R$ 78 para encher um tanque de 45 litros desembolsará R$ 100.
Prós e contras
O que indica alta
O que segura o preço
Aberta linha de crédito para pequeno produtor
Juros serão de 4% ao ano, os menores do mercado, e o BRB fará o repasse, que tem um limite máximo de R$ 7 mil
Os mini, micro e pequenos produtores rurais do Distrito Federal ganharam ontem uma nova linha de crédito. Os recursos, provenientes do arrendamento de terras rurais do DF serão repassados pelo Banco de Brasília com uma das menores taxas do mercado, 4% ao ano. Cada produtor poderá pegar no máximo R$ 7 mil para aplicação em custeio e investimento.
A nova linha de crédito, lançada ontem pela Secretaria de Agricultura, deverá atender inicialmente 60 produtores – os primeiros a apresentarem cartas-consultas – que desenvolvem atividades vinculadas ao Pró-Rural, o programa de desenvolvimento rural do GDF. À medida que novos recursos forem arrecadados com o arrendamento de terras, novas propostas de financiamento serão atendidas.
"Essa modalidade de financiamento representa uma medida de incentivo à produção e tem também um caráter social para o meio rural, pois permite que o produtor pague os empréstimos com a produção", diz o secretário de Agricultura, Aguinaldo Lélis.
O DF tem entre 70 mil e 80 mil produtores rurais, sendo que 80% são de pequeno porte – mini, micro e pequenos. A produção é voltada principalmente para os grãos (soja, milho e feijão), hortaliças, aves e suínos. Há ainda alguma atividade voltada para a pecuária de leite e de corte.
Aos poucos, porém, com a implantação do Pró-Rural em dezembro de 1999, novas atividades têm sido incorporadas pelos produtores. A Secretaria de Agricultura já registra produção nas áreas de apicultura, piscicultura e floricultura, além da criação de avestruzes (agora incluída no Pró-Rural) e de bufálos, que já conta com um rebanho de 500 cabeças. A meta do Pró-Rural é estimular segmentos que não existiam no DF ou que eram praticados de forma amadora.
Os candidatos aos financiamentos devem estar ainda com a situação regularizada na Secretaria da Fazenda.
É considerado mini-produtor ou microprodutor rural quem tem renda bruta anual até R$ 10 mil; de R$ 10 mil até R$ 30 mil, pequeno produtor; e acima de R$ 30 mil, os demais. Essa classificação é a aplicada pelo Banco do Brasil e valerá para a nova linha de crédi to.
Como obter o empréstimo
Pró-Rural é a alternativa
Os recursos do arrendamento de terras serão emprestado prioritariamente aos produtores de pequeno porte. Mas, segundo o economista Júlio Moraes, assessor da Secretaria de Agricultura, isso não significa que médios e grandes produtores não possam também ser beneficiados. "Todas as cartas-consultas serão analisadas. Depois de atendidos os mini, micro e pequenos os demais poderão também ter sua vez", explica ele.
Além disso, os produtores rurais contam com os recursos do Pró-Rural, nos mesmos moldes do crédito rural oficial, que podem ser utilizados em custeio, investimento e comercialização. Nesse caso, o produtor rural pagará juros entre 6% e 8,75%, dependendo do porte e destinação dos recursos. E terá um incentivo fiscal. No Pró-Rural, a alíquota do ICMS que varia de 12% a 17% cai para 1%, linear.
Nos dois casos, tanto no Pró-Rural quanto no financiamento com recursos do arrendamento de terras rurais, o procedimento para obtenção do crédito é o mesmo. Júlio Moraes recomenda que, em primeiro lugar, o produtor procure o escritório da Emater mais próximo para receber orientação sobre a viabilidade ou não do financiamento e se ele se enquadra em um dos 17 programas do Pró-Rural. "Um técnico vai dizer se é hora ou não de pegar o financiamento, mesmo sendo ele mais barato", justifica.
Cumpridas essas etapas, o produtor deverá encaminhar à Secretaria de Agricultura uma carta-consulta. O material será analisado tecnicamente, terá a documentação conferida e será submetido ao Conselho de Política e Desenvolvimento Rural, que aprovará ou não o crédito.
Brasileiro ganha cada vez menos
IBGE mostra que renda média do trabalhador, no País, diminuiu 3% entre julho de 2001 e julho deste ano
A renda média do brasileiro caiu 3% entre julho de 2001 e julho deste ano – está em média R$ 802,09, pouco mais de quatro salários mínimos – de acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). É o 19° mês consecutivo de queda. Segundo o IBGE, a tendência de queda do rendimento dos trabalhadores se manteve.
Curiosamente, no período janeiro a julho deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, os trabalhadores com carteira assinada foram os mais prejudicados, tiveram queda de 4,7% em seus rendimentos, seguidos pelos que trabalham por conta própria, perderam 4,5%. Mas, os empregados sem carteira assinada apresentaram um ligeiro aumento de 0,4%. Segundo especialistas, a redução na renda brasileira foi provocada pelo crescente número de autônomos de 4%.
Em termos reais, o rendimento médio manteve-se constante entre julho de 2001 e julho de 2002. Houve crescimento no rendimento dos empregados sem carteira de trabalho assinada (0,8%), queda no rendimento das pessoas que trabalharam por conta própria (-1,9%) e dos empregados com carteira assinada (-0,7%), no mesmo período, em que a inflação medida pelo IBGE, de 9,16%, não foi nada constante.
O gerente de uma tortaria do Conjunto Nacional, Lucian Wagner Varela, 38 anos, diz que sente na prática que o brasiliense, no caso, está com o salário mais baixo.
"O poder aquisitivo caiu muito. As pessoas estão ganhando menos do que ganhavam antes e o desemprego aumentou. A falta de emprego empurra as pessoas para o mercado informal. Ganhando menos, gastam menos, e nós somos obrigados a mandar mais funcionários embora. É um ciclo vicioso que o governo tem que acabar", desabafa.
Desemprego está em 7,3%
A ligeira queda da taxa de desemprego aberto no País, de julho (7,5%) para agosto (7,3%), não impediu que o índice "continue alto", segundo a economista Shyrlene Ramos de Souza, analista do departamento de emprego e rendimento do IBGE. A taxa média do desemprego de janeiro a agosto deste ano atingiu 7,3%, percentual bem superior à média do mesmo período do ano passado, que foi de 6,2%.
Segundo Shyrlene, os indicadores com base de comparação de iguais períodos do ano anterior são os mais eficientes para análise da tendência do mercado de trabalho. "A tendência permanece de crescimento do desemprego", disse.
A analista do IBGE sublinhou também que o número de pessoas ocupadas tem apresentado maior crescimento no setor informal da economia. No acumulado de janeiro a agosto deste ano a ocupaçao cresceu 1,7%, puxada especialmente pelo aumento dos empregados sem carteira de trabalho assinada, que foi de 4,1%, ritmo bem mais veloz do que a expansão dos com carteira (1,8% no período).
Além disso, comentou Shyrlene, a ocupação também cresceu no ano nos setores que pagam menores salários e têm maior número de vagas informais, como comércio e serviços, ambos com 2,7%.
"Se levarmos em consideração os efeitos da informalidade e do desemprego, é melhor que cresça a primeira do que o segundo. Mas é claro que o melhor seria se os postos de trabalho gerados fossem mais seguros para os trabalhadores", afirmou Shyrlene.
Obra causa desabamento no Rio
Secretaria de Urbanismo confirma que reforma provocou acidente em edifício
Um edifício de seis andares que abrigava um hotel, um restaurante e um chaveiro desabou ontem, no Rio de Janeiro, na Rua Primeiro de Março, perto da Rua do Rosário, no centro da cidade.
O desabamento ocorreu por volta das 15h20 e, segundo testemunhas, o pânico tomou conta das pessoas que passavam pelo local. Houve gritos e correria. Três pessoas, com crise nervosa e levemente feridas, foram medicadas no Hospital Souza Aguiar. Até as 20h30, quando as buscas foram interrompidas, nenhuma vítima havia sido encontrada sob os escombros, embora houvesse a informação de que duas pessoas estariam desaparecidas.
A causa do acidente foi uma reforma que estava sendo realizada no restaurante do prédio. Em nota oficial, a Secretaria de Urbanismo do Rio confirmou que "o desabamento ocorreu quando operários retiravam o mezanino do térreo, abalando a estrutura do prédio". O documento afirmava ainda que as obras não contavam com a supervisão de nenhum engenheiro ou técnico responsável.
O vice-presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio, Jacques Cheric, explicou que "qualquer mudança na parte estrutural deixa o edifício comprometido". Segundo Cheric, as chuvas dos últimos dias na cidade também podem ter contribuído para o acidente.
De acordo com testemunhas, houve tremores e ruídos estranhos antes do desabamento, o que teria feito com que a maioria das pessoas saísse do prédio.
Cerca de 230 homens, entre policiais militares, bombeiros, equipes da Defesa Civil, da Light e da companhia de gás, se mobilizaram durante toda a tarde e à noite para resgatar possíveis vítimas.
Equipes de resgate realizavam um trabalho lento e artesanal nos escombros para tentar localizar soterrados. Porém, nenhuma pessoa, viva ou morta, foi encontrada.
O grupamento especial de busca e salvamento do Corpo de Bombeiros usaram equipamentos especiais, como um detector acústico, para facilitar a localização de vítimas. Cães farejadores também foram utilizados na busca.
Dez prédios do quarteirão foram esvaziados e isolados para vistoria, porque, segundo bombeiros, havia o risco de novos desabamentos.
O prefeito César Maia esteve no local. Ele informou que dois grupos ligados à Prefeitura estavam trabalhando para avaliar as condições da construção. Segundo Maia, 70 edifícios do centro foram notificados há 120 dias por obras irregulares nas fachadas, incluindo o que desabou.
Havia gente no prédio, diz porteiro
O porteiro Raimundo Barbosa de Mello, que trabalhava no prédio que desabou, conseguiu escapar com vida. Ele disse que escutou um barulho estranho, seguido de vários estalos. O porteiro correu para o meio da rua e, minutos depois, viu toda a estrutura do prédio desabar.
Raimundo disse que havia pessoas no edifício e que chegou a bater na porta de alguns quartos do Hotel Rosário, que funcionava no local, mas ninguém atendeu.
De acordo com o copeiro Leandro da Silva, que trabalha em um restaurante ao lado do edifício que desabou, pessoas que almoçavam saíram correndo, assustadas com o barulho.
O edifício tinha 40 anos. A rua onde estava localizado, a Primeiro de Março, é uma das mais movimentadas do centro. Lá estão marcos históricos, como o Paço Imperial e a Igreja da Ordem Terceira da Penitência, além da Assembléia Legislativa.
Artigos
Quem financia a violência?
Sylvio Guedes
Há dois meses, diante da comoção nacional causada pela brutal morte do jornalista Tim Lopes, afirmei, neste espaço, que muitos cariocas tinham sérios motivos para se considerar sócios da degradação de sua linda cidade, já que eles (citando especifica, porém não genericamente, imprensa e meio artístico) foram os introdutores da cocaína no ambiente social do Rio de Janeiro nos anos 70 e 80 – contribuindo, a meu ver decisivamente, para a formação de um generoso mercado consumidor da droga, sem o qual os traficantes que hoje impõem o terror não teriam se tornado tão poderosos.
A repercussão do artigo superou os limites até do Brasil, impulsionada por essa extraordinária ferramenta de difusão da informação e de democratização do debate que se chama Internet. Recebi dezenas de e-mails, para não mencionar os comentários veiculados em sites que reúnem profissionais de comunicação como o Maxpress e o Comunique-se. Para minha alegria, a maioria concorda comigo. Muitos me criticaram. Outros tantos me desancaram. Alguns poucos deram a entender que não encaravam o tema de um ponto de vista, digamos, distanciado. Mas esses, sem medo de errar, vestiram a carapuça.
Não escrevi de ouvir dizer nem quis culpar a imprensa ou os artistas pela situação hoje vivida pelo Rio. Mas seria muito cinismo negar que nas redações e nos camarins a cocaína foi endeusada por centenas de pessoas, como se ela pudesse oferecer a energia e a inspiração. O pó branco que produziu Fernandinho Beira-Mar, Elias Maluco, Marcinho Vepê e tantos outros era, e ainda é, consumido largamente entre as classes média e alta.
Quem quiser saber um pouco mais sobre a relação de causa e efeito existente entre quem compra um envelope de pó e o poderio do crime organizado pode apreciar o brilhante trabalho que realiza a ONG Parceria Contra as Drogas, produtora de filmetes e anúncios impressos de altíssima qualidade, a exemplo do que ocorre, há décadas, nos Estados Unidos. Um desses filmes, em exibição nas emissoras de TV, mostra um trombadinha atirando em um cidadão indefeso e, com as imagens em retrocesso, vai revelando todo o caminho percorrido por aquela arma até chegar às mãos do menor matador. E lá no início de tudo – habilmente, no fim do comercial – aparece um garotão classe média comprando drogas da mão de um traficante.
Quem financia a violência? Quem arma as quadrilhas e destrói o tecido social brasileiro? Quem dá aos traficantes parte de seu salário, ou dinheiro surrupiado de casa, para comprar drogas. Tudo é decorrência deste ato unilateral e definitivo.
Colunistas
CLÁUDIO HUMBERTO
Combate à especulação
É verdade que a expectativa de uma guerra entre Estados Unidos e Iraque joga uma onda de incerteza sobre o mercado financeiro e que as posições defendidas pelo Partido dos Trabalhadores nos últimos anos contribuem para o medo de uma vitória de Lula sobre os investidores estrangeiros. Mas o Governo Federal poderia ter mais cuidado e empenho para evitar as gigantescas oscilações do dólar.
Justamente no momento de maior oscilação, com o Banco Central limita a venda de dólares ao mercado, alegando que as empresas de hedge já haviam suprido suas necessidades. Diante da nova pressão, anuncia que recomprar os títulos cambiais, que – justiça seja feita, não estavam com capacidade de rolagem e precisavam mesmo ser comprados.
Ocorre que ficou fácil para os credores em dólar do governo. A eles tornou-se mais vantajoso jogar o dólar nas alturas, e o governo, sem fôlego, não conseguiu intervir. Agora vai pagar mais caro ao mercado.
É um jogo pesado de especulação que deve ser combatido com rigor. O Banco Central tem a lista dos bancos com posições grandes em papéis cambiais e sabe quem está operando com volumes intensos no mercado financeiro. Autoridade monetária não serve só para ajustar câmbio e juros, mas também para fiscalizar especuladores, que jogam contra o País.
Editorial
AMERICANOS NO ATAQUE A LULA
O "eixo do mal" Lula-Fidel Castro-Hugo Chávez continua na ordem do dia do noticiário nos Estados Unidos, "bem no nosso quintal após o 11 de setembro", segundo site conservador de notícias newsmax.com, clamando contra a "ameaça terrorista ao sul da fronteira". Autor de Contra Toda a Esperança, o famoso escritor e dissidente cubano Armando Valladares não poupa Lula no Diario de Las Américas, de Miami. Ativista dos direitos humanos na ONU, critica os elogios de Lula a Fidel e sua afinidade com o venezuelano Chávez. E ataca o empréstimo do FMI negociado por FhC.
Tudo combinado
Lula, Ciro e Garotinho trocaram comunicação, ontem. É que eles suspeitam de uma operação, capitaneada por José Serra, para inviabilizar o debate da Rede Globo, dia 3. Os três combinaram comparecer de qualquer maneira, deixando o ônus do cancelamento no colo do rival tucano.
Ciro fica
Serra pode dormir em paz: Ciro jura que não renunciará, ajudando Lula a vencer no primeiro turno. Pesquisas encomendadas pela Frente Trabalhista indicam que Ciro continua no páreo e até pode chegar ao segundo turno.
País rico é outra coisa
O brasileiro Elias Estephan tem provocado a curiosidade em Las Vegas (EUA). É que ele teria acumulado nos cassinos perdas que já chegam a US$ 2,5 milhões. No hotel "The Venetian", onde esteve hospedado, informam que ele é residente em Goiânia (GO).
Nossos escravos
Ao contrário do que disse o ministro Paulo Ribeiro (Justiça), elogiando FhC por "reduzir em 90% o trabalho escravo", há no País 25 mil trabalhadores nessa condição, segundo dados da Pastoral da Terra citados pelo senador Waldeck Ornéllas (BA). O ex-ministro da Previdência afirma que desde 1995, início dos anos FhC, só três pessoas foram condenadas pelo crime.
Milagre
Garotinho diz que Deus o ajudou a subir no Ibope, chegando ao empate técnico com Serra. Usar Deus na campanha é pura mania de grandeza: os concorrentes usam só santinhos.
Tela Quente
O filme em cartaz n a tela da Globo, "Ascensão e Queda do Primeiro Reichstul", foi muito bem recebido pelos petistas. A turma de Lula viu na demissão do ex-presidente da Petrobras, que andou às turras com o Sindicato dos Petroleiros, uma "sinalização importante".
Falha freudiana
FhC disse que a alta do dólar não tem nada a ver com a economia real. Ele queria dizer com o real na economia.
Obra engenhosa
Revoltada por perder a licitação para administrar o aterro sanitário de São Gonçalo (RJ), a Construtora Queiroz Galvão recorreu com a certidão 401/2002 do Crea-RJ, provando que o secretário de Obras, Emanoel Osório, era o responsável técnico da vencedora. Errado. O secretário processa a construtora e o Crea, que reconheceu o erro e anulou a certidão.
O Leão é manso
Foram confeccionados em Santo Ângelo (RS) 5 mil uniformes com tecidos apreendidos pela Receita Federal. Serão distribuídos nas escolas públicas.
Custo alto
A Procuradoria da Fazenda Nacional está em pé de guerra contra o secretário da Receita Federal Everardo Maciel, que quer autonomia para demitir servidores sem precisar do parecer dos procuradores, como ocorre atualmente. Experientes, os procuradores prevêem graves prejuízos à União, porque os demitidos seriam facilmente reintegrados pela Justiça.
Caros colegas
O presidente do Sindicato dos Jornalistas do RJ, Nacif Elias, informa que só falta patrocínio para a publicação do dossiê Tim Lopes, que não foi suspenso, mas "modificado em seu projeto original". Antes assim, depois da desistência da Esso e de um processo na Justiça contra a Rede Globo.
Verba reciclada
Os R$ 3,5 milhões do Governo Federal obtidos pelo deputado Ronaldo Cezar Coelho (PSDB-RJ) para a Prefeitura de Nova Iguaçu foram despejados no aterro sanitário que uma empresa privada administrará. A área é de proteção ambiental, o Ministério Público está de olho, e as obras só foram reiniciadas após briga na Justiça do Rio.
Nunca fui santa
Só tem uma explicação para Elba Ramalho aparecer na campanha de Serra depois de cantar Lulalá em 1998: admiradora de ETs, Elba foi abduzida.
Problema capilar
Já o ministro da Economia argentino, Roberto Lavagna, que não é bobo, garantiu ao FMI que "não arrancará os cabelos" se o acordo fracassar. Perderia os poucos que tem.
Lula também lá
Os compatriotas fora do País preferem Lula, segundo pesquisa do site de jornalistas brasileiros na Alemanha www.abknet.de. O petista teve 55,91% dos votos, a maioria de brazucas nos EUA. Ciro Gomes ficou em segundo, na enquete em 16 países.
Poder sem pudor
Do outro mundo
Chefe político de Pouso Alegre (MG), o coronel Joaquim Mariano Campos Amaral, já aos 88 anos, andava indisposto, sem apetite e mal-humorado. Sua filha mais nova insistia:
– Papai, tome esta sopa.
– Não gosto de sopa, minha filha. Não quero.
– Tome, papai. Esta sopa está do outro mundo.
– Então, tomo. Estou precisando mesmo me acostumar com a sopa do outro mundo...
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09/26/2002
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