Inocêncio diz que Serra não serve nem para vice do PFL







Inocêncio diz que Serra não serve nem para vice do PFL
O líder do PFL na Câmara, deputado federal Inocêncio Oliveira (PE), disse ontem em Recife que a candidatura da governadora Roseana Sarney (MA) à Presidência é "irreversível" e que seu partido não aceitará que o PSDB realize uma "operação abafa" para minar a pré-candidata do PFL.
Ao comentar a suposta operação para inviabilizar Roseana, Inocêncio afirmou que o ministro José Serra (Saúde), principal presidenciável tucano, não tem cacife eleitoral nem para ser candidato a vice na chapa da governadora: "Ninguém discute que Serra é o melhor ministro do governo, mas quando perguntam em quem vai votar, não votam nele. Serra não tem empatia com o eleitorado".
Na última pesquisa Datafolha, realizada de 19 a 21 de novembro, Roseana tinha 16% das intenções de voto, contra 8% de Serra, no cenário em que apareciam juntos.

Ontem, Serra não quis comentar as declarações do líder do PFL: "Nada de eleição, estou aqui por saúde", disse o ministro em Recife, na inauguração de uma fábrica de medicamentos do Laboratório Farmacêutico de Pernambuco.
O contra-ataque à suposta operação do Planalto para minar a candidatura Roseana vem do deputado que, contrariado com o apoio de FHC a Aécio Neves a presidente da Câmara, disse em janeiro que nunca mais poria os pés no palácio: "Se alguém me vir lá, pode me chamar de homem sem caráter, sem moral". Em 13 de setembro, o mesmo Inocêncio se reuniu com FHC no Planalto.
O deputado disse acreditar que a estratégia do PSDB, hoje, não é a de minar a candidatura de Roseana, mas a de fortalecer um nome no partido, "que não tem ainda um candidato viável". "É como digo, quem tem quatro [pré-candidatos" não tem nenhum", disse, referindo-se a Serra, Tasso Jereissati (CE), Paulo Renato Souza (SP) e Dante de Oliveira (MT).

Inocêncio disse que o PFL tem "consciência" de que tem dado "tudo" para manter a base "pelo sentimento da governabilidade". Mas, "no momento próprio", o PFL avisará que não abrirá mão da candidatura de Roseana, nem que para isso seja obrigado a entregar os cargos no governo.
O momento próprio, para Inocêncio, é fevereiro. Nos cálculos dele, em março, Roseana vai ter de 25% a 28% das intenções de voto e não haverá mais possibilidade de aliança porque o quadro estará definido: "Lula e Roseana estarão pau a pau. "Quem estiver junto vai agregar forças. O PSDB corre o risco de ficar sozinho".
Um dos coordenadores da campanha de Roseana, Inocêncio disse que a melhor opção para o PMDB é se aliar ao PFL e citou o deputado federal Michel Temer (SP), presidente do PMDB, como candidato a vice "ideal" na chapa da governadora maranhense.

As divergências regionais entre o PMDB e o PFL -sobretudo na Bahia, Piauí e Rio Grande do Norte- dificultam a concretização de uma aliança em 2002. Até em Pernambuco, onde os dois partidos são aliados, o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) prefere uma aliança com o PSDB. Além disso, o PFL está negociando uma aliança preferencial com o PPB.
O governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) disse que o apoio de Inocêncio a uma aliança do PFL com o PMDB é importante, mas não definitiva. "Acho que o quadro só será definido em março do próximo ano", afirmou Jarbas. "Ele tem peso dentro do PFL, mas continuo achando que os três partidos, se quiserem ganhar a eleição, têm que se entender."
O vice-presidente Marco Maciel (PFL) disse que coligação não visa apenas ganhar eleição. "Ganhar eleição é importante, mas não é tudo. Não adianta ganhar e não conseguir governar", afirmou.


Ciro e ministro retomam acusações
Pré-candidatos à Presidência da República, o ministro José Serra (PSDB) e Ciro Gomes (PPS) voltaram ontem a trocar acusações em mais uma amostra do que poderá ser o confronto entre os dois caso confirmem suas participações na disputa.
Apesar de se recusar a falar sobre política, Serra, que esteve ontem em Pernambuco para a inauguração de uma fábrica de medicamentos, abriu exceção apenas para criticar seu desafeto.
"Ciro Gomes é o político brasileiro que diz mais mentiras por centímetro quadrado", afirmou.
"Ele mente tanto que mente até em questões das quais não tira proveito", completou. "O bom mentiroso é aquele que mente inutilmente. Até isso ele faz."

""Havia 11 pessoas na sala. Um delas era Tasso Jereissati, na época presidente do PSDB", respondeu Ciro ontem, por intermédio de sua assessoria de imprensa, referindo-se à reunião em que Serra teria dado demonstrações de que não apoiava o Plano Real.
Em entrevista publicada anteontem pelo jornal "Correio Braziliense", Ciro declarou que o ministro foi "pior inimigo do Plano Real". Ainda acusou Serra de ter sabotado ""o quanto pôde" o plano e de ser o ""camarada" com o maior número de indicações para cargos na burocracia brasileira.
Em julho, os dois já haviam protagonizado uma série de ataques mútuos, depois de Ciro ter comparado um jantar entre o presidente Fernando Henrique Cardoso e empresários às reuniões da Oban -organização paramilitar criada em 1969 para combater a luta armada e que se transformaria em um órgão de tortura.
Na ocasião, Serra classificou Ciro como ""oportunista" e ""irresponsável" e lembrou que o pré-candidato começou sua vida política no PDS, originário da Arena.

A rivalidade entre os dois pré-candidatos ganha agora um novo contorno, já que o governador Tasso Jereissati (PSDB), tradicional aliado de Ciro no Ceará, disputa com Serra a indicação tucana para a sucessão de FHC.
Mesmo diante da possibilidade de concorrerem ao mesmo cargo, Ciro e Tasso mantém uma constante troca de elogios.
No PSDB existe o temor de que, se for preterido, Tasso possa vir a apoiar o pré-candidato do PPS na disputa. Oficialmente o governador nega essa possibilidade e promete acatar a decisão do partido.
Serra conseguiu ontem criar um clima de expectativa na platéia ao afirmar em seu discurso que pretendia retornar ao laboratório em 2002, "como senador", para a inauguração de uma fábrica de medicamentos sólidos.


PFL usa TV para atacar PT e contrapor Roseana a Lula
Com o objetivo de polarizar a candidatura presidencial da governadora Roseana Sarney (MA) com a de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o PFL paulista atacou ontem a administração da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), durante o horário do partido na TV.
A estratégia, que seguiu orientação da cúpula nacional da legenda, procurou fixar em Marta os rótulos da incoerência, por supostamente estar contrariando suas promessas de campanha, e do radicalismo, associando o PT ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Quando foi eleita em 2000, Marta foi apontada como a mais importante vitrine do PT para a eleição presidencial. Desfrutando de baixa popularidade e acusada de assumir posições semelhantes às de adversários da sigla, a prefeita tende hoje a se transformar no telhado de vidro de Lula.

"O PT é bom para criticar, mas não sabe governar", afirmou o programa pefelista. "Incompetência se escreve com PT."
Em contrapartida, o partido de Roseana se apresentou como "moderado", de "centro" e procurou transformar as frequentes críticas que recebe de alinhamento automático com os mais variados governos em qualidade.
O programa priorizou ataques a pontos polêmicos da gestão petista em São Paulo, como o aumento da tarifa do ônibus de R$ 1,15 para R$ 1,40 e a proposta petista de IPTU progressivo, que prevê isenção para 1,6 milhão de pessoas em troca do aumento de alíquota -de 1% para 1,6%- para os imóveis mais caros.
"Xô, petelho. Larga do meu bolso. Larga do meu pé", dizia um dos vários jingles do programa.
O horário ainda definiu o PFL como o responsável pela criação do fundo de combate à pobreza e pelo aumento do salário mínimo e o PT, como o patr ocinador de um "trem da alegria" na cidade.
"O trem da alegria está aí, e a maquinista é a Marta Suplicy. O trem da alegria não é para você. Essa boquinha é só para a turma do PT", dizia outro dos jingles, referindo-se à criação de 788 novos cargos sem concurso por Marta.
"Você pode não saber, mas você tem muita coisa é do PFL", afirmou o programa, em uma paródia a um slogan petista.

A primeira parte da propaganda foi uma reprise de parte do horário partidário anterior dedicado a Roseana. Dizendo-se vítima de discriminação, ela afirmou que o próximo governo deveria ser o da "correção" dos erros da atual administração. Comandado pelo marqueteiro Iran Pessoa de Melo, consultor do PFL nacional, o programa foi feito pela produtora PMP Comunicações, de Curitiba.

Paraná e RS
O PFL do Paraná reservou quatro minutos do programa do partido para o prefeito de Curitiba, Cassio Taniguchi, se defender no caso do caixa dois de campanha.
Sem citar o tipo de investigação de que é alvo, o prefeito disse que "não seguirá na prática triste de criticar, jogar pedras, fazer calúnias e se ater à política da inveja".
No RS, sobraram farpas para o suposto envolvimento do governo petista com o jogo do bicho.


Acordo do PMDB com Itamar tenta adiar racha do partido
O PMDB e o governador Itamar Franco (MG) devem fechar hoje em Brasília acordo pelo qual a prévia para a escolha do candidato da sigla à Presidência será adiada de 20 de janeiro para a segunda quinzena de março. Além disso, o universo de votantes deve ser ampliado de 4.000 para 16 mil.
O acordo foi costurado pelo ex-governador paulista Orestes Quércia, mas nenhuma das partes envolvidas tem certeza se esse cronograma será cumprido. Itamar ainda hesita entre disputar a reeleição e deixar o governo para tentar uma volta ao Planalto.
Mesmo assim, Itamar, que chegou a Brasília ontem à tarde, fez questão de dizer que só aceitará o adiamento se a prévia for realizada antes de abril. "Aí não tem acordo. Aqui ninguém é bobo", disse o governador mineiro.

Em abril termina o prazo legal para que ocupantes de cargos executivos se afastem a fim de disputar a eleição de 2002. Setores do PMDB que mais se opõem a Itamar pensaram em propor a prévia para abril, mas Michel Temer (SP), presidente da sigla, optou pela segunda quinzena de março, como querem "itamaristas" e a maioria dos senadores do PMDB.
"Não há vantagem política em realizar a prévia em 20 de janeiro", disse Temer. De fato, sendo o partido mais dividido da base aliada, o PMDB seria o primeiro a definir um rumo, o que não interessa a nenhum de seus segmentos. Por enquanto. Os governistas esperam a definição do candidato do governo, e a oposição, a evolução de Itamar nas pesquisas.

Além disso, Itamar está sendo pressionado pelos aliados mais próximos a disputar a reeleição ao governo de Minas. Seria mais seguro e o deixaria à vontade para apoiar um candidato de oposição à Presidência. A vitória na prévia, argumentam esses aliados, não asseguraria o apoio do PMDB à sua candidatura, pois o partido sairia dividido da disputa.
Além de Itamar e Temer, participarão da reunião de hoje o senador Pedro Simon (RS), que também é pré-candidato, Quércia e os líderes na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), e no Senado, Renan Calheiros (AL). De todos, Geddel é o único que não vê com bons olhos a ampliação do universo de votantes na prévia, que passaria a incluir cerca de 12 mil vereadores do PMDB, como queria Itamar. Em minoria, o líder resolveu debochar: "Vou propor que votem 6 milhões de filiados".
O acordo só não sairá se Itamar impuser alguma nova condição, o que é pouco provável. Nesse caso, Temer diz que fará a prévia em janeiro, do que jeito que a Executiva Nacional determinou, ou seja, com cerca de 4.000 votantes. Mas, para valer, o acerto ainda terá de ser respaldado mais adiante pela Executiva da sigla.


Petistas são "sectários", diz Alckmin
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), classificou ontem como "velho sectarismo" a avaliação contida no esboço de plano de governo do PT, segundo a qual a administração Alckmin é comparável à de Paulo Maluf (PPB). Ambos são adversários do PT na sucessão estadual.
Um esboço do plano foi aprovado anteontem no 15º Encontro Estadual do PT paulista, em Serra Negra (PT). No texto, "as candidaturas Alckmin e Maluf expressam forças políticas responsáveis pela situação de crise em que o Estado e o país se encontram".

Para Alckmin, que declarou voto em Marta Suplicy (PT) contra Maluf no segundo turno da eleição para a prefeitura paulistana em 2000, a avaliação petista é sintoma de atraso: "É o velho sectarismo. Quem não é do meu time, não tem valor. Isso é uma política extremamente atrasada. Não é essa política que a gente deve fazer".
O governador ainda ironizou a decisão petista, também aprovada no encontro estadual, de recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) caso sua candidatura ao governo do Estado em 2002 seja oficializada pelo PSDB. "A eleição é só no ano que vem. Isso mostra que estão com medo de urna, com medo do povo", disse.
A controvérsia em torno da viabilidade legal da candidatura Alckmin, vice por dois mandatos e que assumiu o governo paulista após a morte do titular Mário Covas, em março, foi objeto de deliberação do Tribunal Superior Eleitoral, que, por sete votos a zero, a considerou constitucional.

O governador julgou "positiva" a iniciativa do presidente Fernando Henrique Cardoso de instituir um colegiado de lideranças tucanas, que inclui Alckmin, para definir depois do Carnaval o candidato a presidente pelo PSDB.
Apesar de julgar "importante para a governabilidade" a manutenção da atual aliança com os demais partidos governistas, Alckmin disse que defenderá no colegiado a manutenção do PSDB como cabeça da chapa, independentemente das pesquisas, atualmente desfavoráveis aos tucanos.
No mais recente levantamento do Datafolha, a governadora Roseana Sarney (PFL-MA) aparece como segunda colocada, com 19% das intenções de voto, atrás de Lula, do PT (32%). No melhor cenário para um tucano (sem a presença de Roseana), José Serra, em quinto lugar, tem 10%.
Alckmin esteve ontem na Universidade Metropolitana de Santos para abrir o fórum Juventude, Novos Caminhos, promovido pela Secretaria Estadual da Juventude, Esporte e Lazer.


Garotinho diz querer Erundina governadora
O governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), pré-candidato a presidente, disse ontem que apóia o lançamento da candidatura da deputada federal Luiza Erundina ao governo de São Paulo.
"Ter Erundina disputando o governo paulista é certeza de que estaremos nas eleições para ganhar", disse. Erundina chegou a ser apontada como candidata a vice na chapa que será encabeçada pelo governador, durante o Congresso Nacional do PSB, realizado no último fim de semana, mas a deputada disse que prefere a disputa pelo governo.


TJ confirma sequestro de bens de Maluf
O desembargador Roberto Soares de Lima, do Tribunal de Justiça de São Paulo, negou recurso da defesa do ex-prefeito Paulo Maluf e manteve o sequestro de bens e dinheiro em nome dele, de seus familiares e das empresas Red Ruby Ltd. e Blue Diamond Ltd. na ilha de Jersey. A decisão em caráter liminar, datada da última sexta, confirmou a sentença da juíza Silvia Maria de Andrade, da 4ª Vara da Fazenda Pública.
No dia 22 de novembro, ela decretou o bloqueio de "bens e importâncias" a pedido do Ministério Público paulista. A ação cautelar contra a família Maluf prevê o exame de contas bancárias e aplicações financeiras de que é beneficiária e o bloqueio judicial de eventuais quantias encontradas em bancos do paraíso fiscal localizado no canal da Mancha.

Na ação, são citados nominalmente os bancos Citibank, americano, e Deustche Bank, alemão, como supostos depositár ios do dinheiro. As decisões da Justiça paulista não são auto-aplicáveis no exterior. Dependem da boa vontade das autoridades de Jersey, já que a ilha não mantém acordo de cooperação judicial.
Os documentos serão traduzidos para o inglês, chancelados pelo Ministério da Justiça e encaminhados às autoridades do paraíso fiscal por via diplomática.

Ofício
A família Maluf tem negado a posse de dinheiro no exterior, a despeito de ofício da polícia financeira da Suíça ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão do Ministério da Fazenda, confirmando a abertura de conta em nome das empresas Blue Diamond Ltd. e de sua sucessora, Red Ruby Ltd., no Citibank de Genebra, em 1985.
Segundo o mesmo documento, o dinheiro foi transferido para a agência do banco em Jersey, em 1997. A Red Ruby Ltd., com sede nas Ilhas Cayman, paraíso fiscal do Caribe, foi aberta pelo Cititrust, subsidiária do Citibank, e tem Maluf como beneficiário.
As decisões mais recentes da Justiça paulista contradizem o discurso do ex-prefeito na propaganda eleitoral gratuita do PPB. Maluf tem usado o espaço em rádio e TV para ressaltar decisões da Justiça favoráveis a ele. Os programas foram gravados antes da decretação do sequestro dos bens.
Na época da gravação, Maluf tinha sido excluído da ação dos precatórios pela juíza federal Adriana Soveral, da 8ª Vara Criminal, beneficiado pela lei que determina a redução pela metade do prazo de prescrição de crimes atribuídos a septuagenários. Maluf fez 70 anos em setembro.


Artigos

Fraudes intelectuais
CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Entendo perfeitamente, embora não justifique, o apego do governo e da sociedade argentina ao câmbio fixo.
Vivi no país em períodos de hiperinflação e sei muito bem o quanto ela é devastadora, do ponto de vista econômico, social e até anímico. Sei muito bem o que é receber o salário e sair, desesperado, atrás de uma casa de câmbio para converter pesos em dólares de forma a evitar ter em mãos, ao final do dia, apenas papel pintado sem valor.
O que não entendo é a fraude que o governo argentino está impondo ao fazer crer que desvalorizar o peso significaria a volta da hiperinflação. É óbvio que a desvalorização sempre tem custos, mas, depois do indizível sofrimento dos últimos anos de retração, o choque da desvalorização dificilmente será mais grave do que a morte lenta provocada pela asfixia do câmbio fixo.

Se o problema fosse só da Argentina, paciência ou azar dela.
O diabo é que também no Brasil há essa tendência a fraudar o debate público. Tome-se, por exemplo, o caso de políticas industriais, um anátema para o governo Fernando Henrique Cardoso. Autoridades econômicas e supostos especialistas têm dito e repetido que políticas industriais do passado só beneficiaram meia dúzia e não devem se repetir.
Que houve problemas com as políticas industrias, houve. Mas supor que sempre haverá problemas ao adotá-las é, antes e acima de tudo, fracassomania. É supor que o brasileiro é congenitamente incapaz de se valer de políticas que a maioria dos grandes países adota ou adotou.
Ou, para voltar ao caso argentino, é vender o peixe podre de que desvalorizar equivale a provocar a volta da hiperinflação. Num caso como no outro (e em muitos mais), ou é má-fé ou incapacidade de raciocinar.


Colunistas

PAINEL

Metralhadora giratória
Encurralado pela queda nas pesquisas e pelo crescimento de Roseana Sarney, Ciro Gomes (PPS) resolveu partir para o ataque contra Lula e José Serra. O candidato do PPS instruiu aliados a criticarem o "despreparo" do petista e a "arrogância" e a "deslealdade" do ministro.

Arma de dois canos
Ciro considera que disputará com Lula um lugar no segundo turno. A outra vaga seria de um candidato governista. Por isso quer bater no ministro e em FHC para firmar a imagem de antigovernista. E atacar o petista para mostrar-se como a melhor opção da oposição.

Namoro ou amizade?
Ciro procurou ontem Brizola no Rio para tentar desfazer o mal-estar provocado pela filiação de Antônio Britto ao PPS. "Estamos reatando o namoro. Do noivado e do casamento ainda há alguma distância. Mas quem sabe...", diz um pedetista.

Operação limpeza
Pedro Piva (PSDB), dono da Klabin, recebeu em Brasília um carregamento de papel higiênico, lenços descartáveis e guardanapos. Usará o material para presentear amigos no Natal.

Comitê eleitoral
Serra quer convidar o prefeito de Vitória, Luiz Paulo Vellozo Lucas, para ser o coordenador político de sua campanha.

Campanha na rua
Gugu deu mais uma forcinha a Serra. Domingo, o tucano falou por oito minutos no programa do apresentador sobre o caso do menino dos "ossos de vidro". "A sua presença aqui é fundamental", disse Gugu a Serra.

Precaução mineira
A ala itamarista do PMDB deverá apresentar hoje abaixo-assinado pedindo a realização de uma convenção no dia 16. Um terço dos convencionais do partido está na lista. A intenção é definir o colégio eleitoral e as regras das prévias a fim de evitar manobras dos governistas.

Cara a tapa
A oposição apresentará hoje requerimento pedindo nova perícia no painel de votações da Câmara. O objetivo é fazer com que a votação de hoje das mudanças na CLT seja nominal, a fim de constranger os governistas e dificultar a aprovação.

Pressão sindical
A CUT deve espalhar hoje em Brasília cartazes com nomes e fotos dos deputados que votaram a favor da flexibilização da CLT na semana passada.

Namoro liberal
Mesmo namorando Lula e o PT, o PL não deixou de flertar com Paulo Maluf. Dias atrás Francisco Rossi e Valdemar Costa Neto estiveram com o ex-prefeito. O pepebista quer o apoio dos liberais em SP.

Um dia a casa cai
Carlos Cintra, desafeto de ACM, venceu ontem a eleição para a presidência do TJ da Bahia. Teve 18 votos, contra dez do carlista Amadis Barreto.

Aula particular
O economista Michal Gartenkraut, guru de Roseana, também é conselheiro de Hugo Napoleão (PFL), recém-empossado no Piauí. Resta saber se o novo governador gasta com ele outro R$ 1,3 mi - valor pago pelo Maranhão ao consórcio integrado por empresa de Gartenkraut.

Departamento pessoal
Presidentes de Câmaras municipais entregam hoje a Aécio Neves proposta de mudança da emenda que limita em 70% os gastos do Legislativo com pessoal. Segundo eles, algumas Casas são obrigadas a "inventar" despesas para se adequar à lei.

Visita à Folha
Joseph Couri, presidente do Simpi (Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias do Estado de SP), visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Antônio Gonçalves, diretor de comunicação e de relações institucionais da Assimpi (Associação Nacional dos Simpi).

TIROTEIO

De Jefferson Peres (PDT), analisando as pesquisas:
- Dois terços dos eleitores sentem-se órfãos. Rejeitam Lula, antipatizam com Serra e não acreditam nos outros. Roseana também não entusiasma ninguém. Mas, por ser mulher, tem grandes chances de vencer.

CONTRAPONTO

Caneta emprestada
Júlio Campos, então governador de MT (83-86), usava canetas de cores diferentes ao encaminhar os pedidos de aliados para seus secretários. A tinta preta indicava que o caso deveria ser atendido imediatamente. A azul, que deveria aguardar um pouco, e a vermelha, que a demanda deveria ir para o lixo.
Certa vez, Aroldo Antunes (Transportes) recebeu quatro pedidos em cor preta, o que não era comum. Achou aquilo estranho e decidiu procurar Campos.
O governador, que assinava muitos despachos por dia, não se lembrou dos casos. Na dúvida, mandou que fossem atendidos. Anos depois, o deputado e amigo de Campos, Chico Monteiro, perguntou a ele:
- Lembra-se daqueles pedidos que for am para o Aroldo? Fui eu quem os enviou. Imito sua assinatura direitinho...
E deu prova ali mesmo, num guardanapo de papel.


Editorial

A SEPTICEMIA ARGENTINA

O que está em curso na Argentina, com o nono pacote econômico do governo Fernando de la Rúa, é muito mais que uma decisão técnico-econômica. Trata-se, antes e acima de tudo, de uma tentativa insuportável de perpetuar uma sangria econômica e social sem precedentes.
É verdade que a decadência econômica da Argentina se arrasta há pelo menos meio século. Mas é inegável que a gestão De la Rúa deu formidável contribuição para agravar profundamente as condições sociais.
A Argentina tem hoje número recorde de desempregados (2,283 milhões ou 16,4% da população economicamente ativa). Contando os subempregados, que são 2,120 milhões, o total de pessoas em situação dramática vai a 4,5 milhões ou 31,3% da força de trabalho.

A Argentina registrou neste ano também o recorde de pobreza na Grande Buenos Aires. São 31,5% vivendo abaixo da linha de pobreza, contra 28,9% em 1991, o ano em que foi vencida a hiperinflação.
Por fim, a Argentina de hoje detém também o maior nível de desigualdade social em 30 anos, com os 10% mais ricos ganhando 26,4 vezes mais que os 10% mais pobres.
São números sombrios em qualquer circunstância, mas que se tornam avassaladores quando se recorda que em 1929 havia mais veículos por habitante em Buenos Aires do que em Londres.

O que a crise está provocando de mais grave não é tanto o aumento quase diário do chamado "risco-país". A crise está destruindo capital humano e afetando duramente o psiquismo dos argentinos.
Seria ilusório supor que existe uma saída fácil. Qualquer que seja, custará sangue. Mas a Argentina, ao longo deste ano, já verteu sangue demais para defender o indefensável, o câmbio fixo. Deixar o câmbio flutuar será, certamente, um choque, mas os indicadores sociais acima expostos mostram que ele é preferível à septicemia que vai matando o paciente um pouco a cada dia, com muita dor.


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12/04/2001


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