JEFFERSON PÉRES DIZ QUE SAIU DO PSDB POR DIVERGÊNCIAS REGIONAIS
"Mudo de partido semmudar de postura", afirmou nesta sexta-feira (29) o senador Jefferson Péres(PDT-AM), que na véspera comunicara seu desligamento do PSDB para ingressar no PDT.Identificado há algum tempo pela imprensa como "tucano rebelde", por adotarposições independentes em relação à orientação partidária, ele acrescentou que foicompelido a procurar uma nova legenda "por divergências insanáveis" com adireção do PSDB no Amazonas. Jefferson Péres disse que está deixando o PSDB "semqueixas em relação ao governo". Admitiu que teve muitas divergências, "mas emnenhuma ocasião fui pressionado". No entanto, reconheceu que ao concretizar suasdiscordâncias através de votos no plenário, criou constrangimentos dentro da bancada. -Nunca abdiquei de criticar o governo, como agora não abrirei mão de criticar aoposição. E quando o governo apresentar uma proposta que beneficie o país, darei o meuapoio. Todos os sete senadores que o apartearam foram unânimes em reconhecer aintegridade moral e a retidão de princípios de Jefferson Péres. O senador Ramez Tebet(PMDB-MS) reconheceu que "é muito raro" ocorrer uma mudança de partido comoesta. - Em um país onde se troca de partido como se troca de camisa, a decisão dosenador Jefferson Péres se constitui numa exceção. De tal modo isto é verdade, que aninguém ocorreria cogitar que por trás dessa mudança existe outra coisa que não seja abusca por um espaço mais propício para o exercício dos seus ideais. Jefferson Péreslembrou que está tramitando no Senado o projeto de reforma política, que inclui entresuas propostas a fidelidade partidária, e sugeriu aos senadores que tomem algumasprecauções para impedir que esse instituto venha a se tornar "uma ditadura".Ele fez o alerta considerando as razões que o levaram a deixar seu antigo partido paraingressar em outro, e observando que futuramente algo semelhante possa ocorrer com outroparlamentar. Em aparte, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) afirmou que a troca departido no caso de Jefferson Péres segue o caminho inverso ao da fisiologia. "A vidados homens é escrita por seus gestos", disse Requião, acrescentando que gostariaque o PMDB fosse o novo partido de Jefferson, mas admitiu: "A essa altura o PMDB nãoo merece, porque se submeteu voluntariamente, apesar da crise que o país estáatravessando". Jefferson Péres disse que entrou no PSDB porque é um homem deesquerda e ouviu do senador Lauro Campos (PT-DF), em aparte, que não era ele - Jefferson- quem estava deixando o PSDB, mas o partido que o abandonou ao se distanciar dasocial-democracia. Marina Silva (PT-AC) e Ademir Andrade (PSB-PA) também reconheceram asafinidades do senador com as esquerdas. Marina lembrou que um companheiro de partido,"desses radicais, mesmo", havia lhe perguntado como era a atuação de JeffersonPéres no Senado. Isso porque, segundo a senadora, ele achava estranho que um homem como osenador, "correto e intransigente com suas idéias", fizesse parte da baseparlamentar desse governo. - É que também sou um xiita quando se trata de princípios -brincou Jefferson. Em aparte, o senador Paulo Guerra (PMDB-AP) admitiu que o políticopode se ver obrigado "a mudar de partido para não mudar seu ideário". Por suavez, Lúdio Coelho (PSDB-MS) observou que Jefferson foi vítima de problemas localizadosdentro do PSDB, "tanto que ele passou para um partido menor" - disse. A senadoraEmília Fernandes (PDT-RS) afirmou que Jefferson encontrará no PDT um espaço adequadopara exercer suas posições políticas. Apesar de divergir de Leonel Brizola em algunsaspectos, Jefferson disse que o presidente de honra do seu novo partido tem a liderançade um homem marcante na história do país. - Estou de pleno acordo quando Brizola condenaa privatização da Petrobrás, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica - ressaltouJefferson.
29/01/1999
Agência Senado
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