João Paulo quer maior enfrentamento a Jarbas






João Paulo quer maior enfrentamento a Jarbas
Prefeito está preocupado em manter, em 2002, seu bom relacionamento administrativo com o governador, mas quer discutir com os partidos de esquerda um maior “enfrentamento político” à aliança liderada por Jabras

O prefeito João Paulo (PT) continuará zelando pelo diálogo com o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), mas não pretende que a parceria administrativa entre Prefeitura e Estado “confunda” o papel de oposição ao Palácio das Princesas. O prefeito pretende, agora em janeiro, logo que voltar do recesso de dez dias no litoral alagoano, reunir os partidos de esquerda para ativar o enfrentamento político ao Governo.
Segundo João Paulo, é preciso que as legendas marquem uma posição “conjunta e definitiva” de oposição ao Palácio. O petista se refere, sobretudo, ao bloco do PPS liderado pelo prefeito de Petrolina, Fernando Bezerra Coelho, que não se contém em insinuar aliança com Jarbas Vasconcelos.

Ao defender um acirramento na oposição ao Governo, João Paulo converge para a tese defendida pelo deputado federal e adversário ferrenho de Jarbas, o deputado federal Eduardo Campos (PSB).
Uma das sugestões para marcar essa nova posição é combinar formas de atuação entre os partidos. A idéia é fazer uma divisão de tarefas entre as legendas. Os detalhes serão tratados na reunião sugerida pelo prefeito para esse mês.
João Paulo dá demonstrações de que, a partir de agora, está disposto a desempenhar um papel mais ativo, também, na articulação da unidade das oposições para a sucessão estadual. O assunto já começou a ser tratado, em conversas isoladas, com alguns dirigentes das esquerdas, durante as festividades de final de ano. Na ocasião, o prefeito alertou, porém, para o seu papel nesse processo de coordenação da sucessão. O receio de João Paulo é que a sua atuação política interfira no relação administrativa com o Palácio das Princesas.

Nas conversas que vem mantendo, o prefeito se confessou preocupado com o imbróglio – sem poupar nem seu partido, o PT – que vem se tornando as articulações dos partidos de oposição. Um assunto que pretende defender na pauta da reunião das esquerdas acerta em cheio o Partido dos Trabalhadores: a posição de não definir nomes para chapa até o mês de março. O PT saiu na frente e lançou o secretário de Saúde do Recife, Humberto Costa (PT), ao Governo do Estado.

Antes de mergulhar para valer na sucessão, o prefeito deu um mergulho nas águas de Boa Viagem, no primeiro dia do ano que lhe reserva muito trabalho. Ontem pela manhã, João Paulo fez a sua tradicional caminhada no calçadão e tomou um banho de mar. Antes do descanso de dez dias, que começa dia cinco, o prefeito reunirá o primeiro escalão na quinta-feira (04), no Mar Hotel. Na ocasião, serão definidas as metas da administração para esse ano.


Prefeito tenta impor mais agilidade à equipe administrativa
Além de incrementar os investimentos em marketing, o prefeito João Paulo (PT) pretende dar mais agilidade à administração em 2002. Essa será uma das metas que começa a ser discutir amanhã com o secretariado, na reunião que vai definir o planejamento administrativo para esse ano. Hoje, o prefeito reúne a equipe de coordenação de Governo. O ‘seleto’ grupo é quem avaliza as ações previstas no Governo do PT.

Segundo avaliação do primeiro ano, João Paulo constatou que muitas das ações programadas ficaram emperradas, em função da burocracia que rege a gestão da máquina pública. Para corrigir isso, o prefeito pretende fazer um remanejamento e até incorporação de funções em algumas secretarias.

Outro desafio de João Paulo para 2002 será a contenção dos gastos com as empresas da administração indireta. Segundo revelou o prefeito, houve um acréscimo de 20% nesse quantitativo, contra 8% das empresas da administração direta. O prefeito solicitou um estudo para detectar as causas.

João Paulo começa 2002 com R$ 60 milhões em caixa – superávit do ano – e, com esses recursos, pretende dar o pontapé nos investimentos. A previsão do prefeito é investir R$ 100 milhões esse ano e alavancar a primeira gestão do PT no Recife que, segundo pesquisa Datafolha, publicada na segunda-feira (31) pelo JC, está sendo reprovada por 30% dos recifenses.


Freire ataca o Planalto e tenta reforçar Ciro Gomes
O PPS começa, agora em janeiro, uma caravana pelos Estados para combater o que o partido entende como “contrapropaganda” do Palácio do Planalto à candidatura presidencial de Ciro Gomes. Nos próximos dias 15, 16 e 17, a executiva nacional se reunirá, em Brasília para definir os detalhes da maratona.

Segundo antecipou o presidente nacional do partido, senador Roberto Freire, a idéia é correr o País, ativando o PPS com a montagem de núcleos de coordenação da campanha de Ciro nos Estados. O partido pretende dividir a empreitada com o seu principal aliado, o PTB, que vem sendo alvo de assédio do PSDB do presidente Fernando Henrique Cardoso.
“Há em curso no Brasil uma campanha, orquestrada pelo Palácio do Planalto, para desestabilizar a candidatura de Ciro Gomes. Isso, porque Lula (presidenciável do PT) é o adversário que eles desejam e o Palácio está trabalhando para isso. Mas nós não iremos ficar parados. Ativaremos a campanha para combater essa estratégia”, informou Freire.

A “contrapropaganda”, denunciada pelo senador está expressa, segundo ele, em reportagens “plantadas” nos grandes jornais de circulação do País. Roberto Freire cita o “boato” de que uma possível candidatura do governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), excluiria Ciro Gomes da disputa. Os dois são ex-aliados políticos mas mantêm uma relação pessoal. Depois, a tentativa de vincular o presidenciável pós-comunista ao ex-presidente Fernando Collor (PRTB). E, agora, a de desestabilizar a aliança do PPS com o PTB.

O senador assegura que as conversas com o PTB “estão muito bem encaminhadas”, com repercussão, inclusive, na sucessão de alguns Estados, como Rio Grande do Sul, Pará e Maranhão.
O PPS se esforça para levar o apoio do PTB a Ciro de olho no tempo de TV dos trabalhistas. São dois minutos e 33 segundos que ajudarão o PPS a não ficar espremido nos 44 segundos a que tem direito. Roberto Freire, no entanto, não se preocupa com as condições adversas à candidatura Ciro.
“Isso tudo ainda está no campo da política. Quando partirmos para a campanha, a realidade será outra. A direita que se prepare para enfrentar Ciro, não Lula. Lula é bom para eles”, desafiou.


Pesquisa terá de ser registrada no TSE e TREs
SÃO PAULO – Os institutos de pesquisa serão obrigados a registrar, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e nos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), sondagens sobre intenção de voto. Terão de informar quem contratou a pesquisa, quanto custou, a origem do dinheiro, o período de apuração, os locais visitados e o questionário utilizado.
Segundo o relator das instruções eleitorais no TSE, ministro Fernando Neves, a medida, que começou a vigorar ontem, serve para que os concorrentes possam se certificar se os dados apresentados estão corretos. As empresas também devem indicar os nomes dos responsáveis, para que respondam em caso de irregularidades.

O registro deve ser feito até cinco dias antes da divulgação dos resultados. Até a eleição de 2000, a obrigatoriedade de registro de pesquisas vigorava a partir de abril. Para o advogado e ex-ministro do TSE José Eduardo Alckmin, o critério de antecipar o registro não é ruim. Um ano antes das eleições as pesquisas já podem ter uma influência mais direta no pleito.

URNAS – As urnas eletrônicas terão seu teste decisivo este ano. Embora as urnas eletrônicas estivesse m presentes em todo o País na disputa municipal de 2000, eram apenas os cargos de prefeito e vereadores em disputa. Este ano os eleitores – cerca de 114 milhões – terão de votar para presidente, governador, deputados federais e estaduais e dois senadores por Estado.
Para que não pairem dúvidas sobre o processo eleitoral, o tribunal está preparando as instruções que vão ajudar a regê-lo. “Queremos fixar as regras do jogo antes do jogo”, diz Neves.


Chuvas destroem centro histórico da cidade de Goiás
SÃO PAULO – Menos de um mês após ser oficializada como patrimônio histórico da humanidade, a cidade de Goiás (a 130 quilômetros de Goiânia) teve seu centro histórico praticamente destruído pelas chuvas. Foram 15 horas de chuvas intensas entre o final da tarde de domingo e a manhã de anteontem. Não houve vítimas.

Várias casas desabaram e os desabrigados foram levados para igrejas e escolas nas proximidades. O levantamento completo, contendo o número de desabrigados e de prédios atingidos, não foi concluído.
O prefeito Boadyr Veloso (PPB) decretou estado de calamidade no município, atualmente com 22.092 habitantes. Cerca de 150 homens da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros foram deslocados para a região.

O Rio Vermelho, que corta a cidade, transbordou atingindo casas ribeirinhas e prédios históricos. A casa da escritora Cora Coralina, um dos endereços mais famosos da cidade de Goiás, foi alagada e teve a estrutura comprometida. Parte do acervo do museu dedicado à escritora foi destruída. Um dos símbolos da entrada dos bandeirantes em Goiás, a Cruz do Anhangüera, acabou sendo arrastado pelas águas, que também abriram uma cratera de cerca de 70 metros próximo ao Mercado Municipal.


Colunistas

Pinga-Fogo - Inaldo Sampaio

O jogo da aliança
As eleições de outubro próximo colocarão mais uma vez à prova os atributos de liderança do governador Jarbas Vasconcelos. Ele já dá sinais de que poderá ser candidato à reeleição - como quer, deseja e espera a aliança PMDB/PFL/PSDB -, mas ainda não disse oficialmente que abandonou o desejo pessoal de chegar ao Senado.
Por isso, a base aliada deve tomar cuidado ao anunciar estratégias eleitorais que prejudiquem o que foi “vendido” na campanha de 98 ao eleitor: chegar ao governo para executar um programa de modernização estrutural do Estado.
O discurso deve apontar para novas promessas ou reconhecer que nem tudo pôde ser feito. Se tirar vantagem do avanço na infra-estrutura, enfrentará o social, onde falta muito a ser feito.

Tudo azul para o prefeito
João Paulo repetiu, ontem, o que fazia, quando criança, com o pai: “descarregou” as “coisas ruins” de 2001 nas águas de Boa Viagem. De óculos de mergulho e sunga, ambos na cor azul, o prefeito não teve sorte, porém, ao mergulhar: saiu da água com pedaço de plástico grudado nas costas. Mas prometeu que irá reforçar, mesmo, o marketing da Prefeitura do Recife. A falta dele explicaria o 7º lugar no Datafolha. A mesma queixa de Roberto Magalhães, sem a mesma rejeição.

Votos de Romário
O presidente da Assembléia, Romário Dias, diz esperar que em 2002 não seja necessário cortar o ponto de deputados faltosos às sessões plenárias. Garante que ninguém quer constranger ninguém, mas quem faltar, sem justificar, terá menos dinheiro no final do mês. “É obrigação do trabalhador; o deputado não pode ser diferente”, compara.

Preto no branco
A partir de hoje os institutos de pesquisa devem registrar, no TSE e TRE, as sondagens sobre intenção de voto. Terão de informar quem contratou a pesquisa, custo, origem do dinheiro, período de apuração, locais visitados e o questionário usado. Para os concorrentes avaliar se os dados estão corretos, diz o ministro do TSE Fernando Neves.

Ada quer mais “diversidade” na Cultura
A nova presidente da Fundação de Cultura do Recife, Ada Siqueira, defende a realização de megaeventos na cidade. Tudo bem, mas isso nada tem a ver com a promoção da diversidade cultural tão prometida pelo PT.

Prefeitura ainda não sabe vender o peixe
O secretário João Roberto Peixe (Cultura) não gostou nadinha da expressão que João Paulo usou para se queixar da “falta” de marketing da Prefeitura. “A gente precisa vender o peixe”, garantiu o prefeito na reunião do secretariado.

Terra em perigo
A Campanha da Fraternidade da CNBB de 2002 terá como tema a Busca pela terra sem males. Referência a um mito dos índios guaranis que pregava a conquista de uma terra “sem dor, doença ou morte”. O tema foi escolhido devido ao aumento da tensão entre donos de terras e índios em PE, SC, MT e RR.

PFL no ataque
O PFL pernambuco promete para este mês o lançamento de um site na Internet com ataques e denúncias contra a administração petista no Recife. O alvo é o prefeito João Paulo, embora em 7º lugar entre os prefeitos mais votados no País. Mas, na verdade, quer mesmo é atrapalhar a campanha de Lula no Estado.

“Roseana Sarney está na faixa dos que reconhecem os méritos do governo e querem uma opção segura. José Serra não consegue ocupar esse espaço”, garante o prefeito César Maia (Rio) em entrevista à FSP. “Estamos pacientemente esperando que o PSDB entenda que não tem alternativa viável eleitoral”, diz.

O Tribunal de Justiça de Pernambuco terá uma nova mulher, a segunda em toda a sua história, a partir de março. Será nomeada desembargadora, por antiguidade, a juíza Maguie Lins de Azevedo, 63 anos. Ela já esteve no plenário do TJ, ano passado, como substituta, cobrindo a licença de um desembargador.

Foi um vexame para a maioria dos políticos. O Show do Milhão, no SBT/TV Jornal, mostrou que nem todos estão preparados para tudo. Anthony Garotinho (PSB) faturou apenas R$ 15 mil; e Paulo Maluf (PPB) prejudicou a equipe. Mas a visibilidade na TV acabou compensando qualquer constrangimento.

O Ministério das Relações Exteriores permite, pela primeira vez na sua história, que as inscrições para o concurso de admissão à carreira de diplomata sejam feitas também pela Internet. Pelo endereço eletrônico www.cespe.unb.br/diplomacia. Entre 7 de janeiro a 22 de fevereiro. O curso é oferecido pelo Instituto Rio Branco.


Editorial

O algodão em evidência

O governo Jarbas Vasconcelos festeja o fato de que, na safra deste ano, o cultivo do algodão em nosso Estado teve um crescimento de "mais de 1.500% no sertão e 915% no agreste". Quem lida com estatística percebe que isso só foi possível porque a produção nos anos anteriores esteve próxima do zero. De qualquer forma, é fato bastante promissor que voltemos a cultivar um produto de que Pernambuco foi líder absoluto, até o Século XIX.

O incentivo governamental para a lavoura do algodão consiste não só na distribuição das sementes, mas também no acompanhamento técnico. Os resultados altamente positivos alcançados no ano passado nos levam a crer que, associando-se ao cultivo das áreas irrigadas, o algodão ajude a impulsionar a economia do semi-árido, e até contribuir para a uma retomada da pujança de nossa indústria têxtil.

O historiador Denis Antonio Bernardes, em sua introdução ao texto "Notícia sobre a Cultura do Algodoeira na Província de Pernambuco pelo chancelier Boilleau", encontrado por ele no Arquivo do Quai D'Orsay, na França, afirma que "a cultura do algodão insere o agreste e o sertão em pleno surto da economia capitalista mundial", destacando, ainda o caráter democrático dessa produção agrícola. De fato, era ela praticada por pequenos produtores rurais, sendo nisso muito diferente, portanto, da monocultura canavieira da Zona da Mata. Ademais, estava associada a outros cultivos agrícolas, e suas folhas serviam como ração par a o gado, que era "solto no algodoal uma vez feita a colheita".

O informe do diplomata Boilleau é datado do mesmo ano, 1826, que, segundo Othon L. Bezerra de Mello, houve a fundação de uma primeira fábrica, composta de oito teares de madeira, movidos a mão. Mas a experiência fracassou, e só cinqüenta anos depois, em 1876, foi fundada a fábrica de tecidos da Madalena. Apresentando dados de 1928, aquele industrial pernambucano, em artigo para a Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico, afirma que a "indústria de tecidos em Pernambuco representa a terceira riqueza do Estado, vindo logo em seguida ao açúcar e ao algodão".

O vice-cônsul Boilleau dissera, em sua "Notícia", que nenhuma outra Província brasileira poderia competir com a de Pernambuco, em termos de cultura algodoeira. Naquele tempo, se descaroçava o algodão manualmente, e ele era trazido para o Recife no lombo de cavalos. O diplomata já fala dos atravesadores que se aproveitavam das dificuldades financeiras dos pequenos produtores e compravam antecipadamente (a preço vil) as suas futuras colheitas.

A produção industrial têxtil começou a decair, em Pernambuco, por não suportar a concorrência com fábricas mais modernas instaladas em outras partes do Brasil. Depois, na década de 1960, houve uma tentativa de modernização, orientada pela Sudene, mas logo esse esforço de planejamento viu-se prejudicado pelo surgimento dos fios sintéticos.

Hoje em dia, o tecido de algodão começa a se valorizar novamente em todo o mundo. Daí, a preocupação do Governo em reativar esse produto agrícola. Parece haver chegada a hora de cuidarmos com competência de um vegetal que pode ser produzido na área das secas e volta a parecer muito atraente para um mundo cada vez mais consumista.

Se o governo do Estado está distribuindo sementes e oferecendo acompanhamento técnico aos pequenos produtores do Agreste e do Sertão que resolveram enfrentar o desafio do algodão, é hora também de não esquecer as denúncias do vice-cônsul Boilleau, e estabelecer uma linha segura de comercialização da produção. Os atravessares estão sempre por perto, esperando alguma dificuldade maior dos plantadores, para comprarem por quase nada o que custou tanto a eles e ao Estado.


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01/02/2002


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