João Paulo tem segurança reforçada









João Paulo tem segurança reforçada
Assistência militar do prefeito adota medidas especiais a partir de hoje

Mesmo a contragosto, o prefeito do Recife João Paulo (PT), terá sua segurança reforçada a partir de hoje. João Paulo chegou ontem de uma viagem a Aracaju (SE), mas hoje, às 8h, embarca para São Paulo, onde participa do sepultamento do prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel. João Paulo e a direção nacional do PT tentarão agendar ainda hoje uma audiência com o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Os petistas pedirão providências do Governo Federal contra a onda de violência de que vêm sendo vítimas lideranças petistas no País. O chefe da assistência militar da Prefeitura do Recife, coronel José Ramos, informou ontem que a decisão de reforçar a segurança deve partir do prefeito, mas, mesmo sabendo que João Paulo não goste da idéia, é de responsabilidade da assistência militar mantê-lo fora de perigo. "Devemos tomar medidas para segurança dele. Vou solicitar a João Paulo uma reunião para conversarmos sobre o assunto", avisou.

O prefeito recebeu a notícia do assassinato de Celso Daniel com indignação. "Apesar da gravidade da situação, ainda existia a esperança de que nosso companheiro voltasse para sua família e seu trabalho em segurança. Agora, essa esperança morreu junto com ele", argumentou.

A falta de informações sobre a autoria do seqüestro seguido de morte, segundo João Paulo, aumenta o nervosismo dos quadros petistas em todo o País. "Um seqüestro, por si só, já é traumatizante. A hipótese de que a motivação do crime tenha sido política nos causa ainda mais revolta. A sensação que temos é de que ninguém mais está seguro, ninguém", enfatizou.

Por questões de segurança, João Paulo não divulga o esquema montado para protegê-lo. "O que posso dizer é que não posso mais pensar em segurança como sendo um luxo. Trata-se de uma necessidade. Mas não quero que isso se transforme em uma neurose", minimizou.

Adiamento - A direção estadual do PT decidiu suspender o seminário que estava sendo realizado neste final de semana, em Aldeia, para traçar estratégias eleitorais para este ano. O assassinato e a série de atentados a lideranças petistas levou a executiva do PT a pedir ao Governo do Estado reforço policial não apenas para o prefeito João Paulo, mas todos líderes petistas no Estado.

O presidente regional do PT, Paulo Santana, informou que a direção ainda não discutiu como será feita essa segurança. De acordo com fontes ligadas ao prefeito, o esquema de segurança de João Paulo ganhará reforço especialmente durante as visitas às comunidades, eventos noturnos e viagens ao Interior do Estado, que devem ser freqüentes ao longo do ano, em virtude das eleições.


Prefeito do PT é assassinado
Corpo de Celso Daniel é encontrado em estrada, crivado de balas

JUQUITIBA - Quatro meses depois do trauma provocado pelo assassinato do prefeito petista de Campinas, Antônio da Costa Santos, o Partido dos Trabalhadores sofre nova baixa: o seqüestro e morte do prefeito de Santo André, Celso Augusto Daniel, coordenador do programa de Governo da campanha presidencial de Luís Inácio Lula da Silva. O corpo do prefeito, que havia sido seqüestrado na noite de sexta-feira, foi encontrado crivado de balas calibre 9 milímetros, ontem, às 7h40, em Juquitiba, a 70 quilômetros de São Paulo. O cadáver estava caído no leito de uma estrada de terra batida, a 200 metros da Rodovia Régis Bittencourt (BR-116), que liga São Paulo a Curitiba. O caseiro José Carlos de Souza, que toma conta de uma chácara localizada na estrada, deparou-se com o corpo quando ia para a cidade e ligou para a polícia.

No local, os policiais apreendeeram oito cápsulas deflagradas. O cadáver só foi identificado como sendo o do prefeito de Santo André, com a chegada do agente funerário Iran Moraes Redua, que o conhecia. Depois da perícia, o corpo foi removido para o Instituto Médico-Legal da regional Oeste da capital. O delegado-geral da Polícia Civil, Marco Antonio Desgualdo, acompanhou a remoção.

O delegado de Itapecerica da Serra, Alexandre Pascoal Constantinou, que respondia pelo plantão regional, foi o primeiro a chegar no local. "O corpo estava em decubito lateral, mas ainda não sabemos se foi executado ali, pois não havia sangue." Ele disse que a estrada é considerada um ponto de desova de cadáveres. Em novembro, foi encontrado o corpo de uma mulher morta com cinco tiros, e a cerca de um ano, um carro abandonado com um cadáver no porta-malas.

Testemunhas disseram ter visto um veículo com as características da Blazer preta usada pelos seqüestradores de Daniel, por volta da meia-noite, na Cachoeira de França, um bairro de chácaras lozalizado na região. A estrada onde o corpo foi encontrado dá acesso a este bairro. Também foi vista uma Kombi branca em alta velocidade.

O delegado seccional de Taboão da Serra, Romeu Tuma Júnior, que assumiu as investigações, disse que a circunstâncias do crime não permite descartar nenhuma hipótese. "Sabemos que houve uma execução, mas ainda desconhecemos a motivação do crime." Ele acha que tanto pode ter sido um seqüestro com o objetivo de pedir resgate, em que os autores, ao saberem a identidade da vítima, resolveram matá-la, quanto uma ação criminosa dirigida contra o prefeito. "Só vamos saber quando as investigações avançarem mais".

Como palpite,Tuma Júnior considera mais provável que não tenha sido um caso de seqüestro para fins de resgate. "Porque iriam dar tantos tiros se não era preciso?" O prefeito do PT foi morto com pelo menos oito disparos, uma vez que o corpo apresentava 14 perfurações. As balas usadas são do tipo transfixiantes.

Ontem à tarde, ele ouvia as testemunhas na delegacia de Juquitiba. Além do caseiro, que encontrou o corpo, davam depoimentos dois turistas que viram os veículos suspeitos e as pessoas que afirmaram ter ouvido tiros. Às 16 horas, um helicóptero da Polícia Civil começou as buscas na tentativa de localizar na região, veículos abandonados.

Tuma Júnior ainda não sabe se continuará à frente das investigações ou se o caso passará a ser investigado pela Delegacia de Homicídios da capital. O delegado está incubido do caso referente ao atentado a bomba sofrido pelo prefeito de Embu, Geraldo da Cruz (PT), no dia 28 de novembro último. Ele contou que as investigações sobre o atentado estão avançadas e caminham na direção de um crime político. Tuma Júnior revelou que há indícios de envolvimento de um grupo denominado Farb na ação.


São Paulo anuncia recompensa de R$ 50 mil por informações
Alckmin vai propor a FHC medidas para conter escalada da violência

SÃO PAULO - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), anunciou, ontem à tarde, que o Governo estadual pagará R$ 50 mil para quem fornecer informações que levem à prisão dos integrantes da quadrilha que assassinou o prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT).

Alckmin disse que assinou um decreto regulamentando a chamada Lei da Recompensa, aprovada pela Assembléia Legislativa, que prevê pagamentos de R$ 5 mil a R$ 50 mil nesses casos. "Essa é uma guerra", disse o governador, ao destacar seu empenho na prisão dos autores do crime.

AUDIÊNCIA - Alckmin anunciou que além de providências estaduais, o Governo paulista proporá uma série de medidas de caráter legal e administrativo ao Governo federal para conter a escalada da violência. Ele disse que terá audiência com o presidente Fernando Henrique Cardoso, hoje, às 17h, no Palácio do Planalto, para apresentar as propostas.

A contratação emergencial de 6 mil jovens para a execução de atividades burocráticas exercidas atualmente por policiais foi outra providência anunciada pelo governador no plano estadual, para reforçar o policiamento nas ruas.

O governador de São Paulo manifestou profunda consternação e indignação diante "de tamanha barbárie e tamanha crueldade" e revelou detalhes de negociações com um possível representante da quadrilha, das quais chegou a participar juntamente o senador Eduardo Suplicy ( PT-SP).

O presidente da Câmara dos Deputados, Aécio Neves (PSDB-MG), disse que a agenda da segurança se tornou prioridade no cenário político nacional. Revelou que, em fevereiro, tão logo retorne do recesso parlamentar, a Câmara instalará, pela primeira vez, uma comissão permanente de segurança pública, que reunirá, analisará e votará todas as propostas que tramitam na casa sobre o tema.

Segundo Neves, a criação dessa comissão, que terá status semelhante ao das comissões tradicionais, como de Justiça, de Economia e de Comunicação, foi aprovada na última semana da sessão legislativa de 2001, mas não foi divulgada.

"Teremos 35 deputados dedicando-se, integralmente, à questão da segurança pública no País", disse o presidente da Câmara. "Vamos concentrar tudo num lugar só na Câmara, ver quais são as prioridades e as votar". Ele lamentou o assassinato de Celso Daniel. "É algo que choca a todos nós", disse. "Estou perplexo".

De acordo com Neves, é fundamental que se vá fundo nas investigações para identificar os autores do crime. "Isso atinge não só ao PT, mas a todos nós", afirmou. Ele não quis comentar a possibilidade de o crime ter conotações políticas. "Não se pode antecipar julgamentos", disse. O combate à criminalidade, advertiu, tem de ser uma ação coletiva. "Precisamos de uma ação coordenada do Governo federal, dos Estados e dos municípios".


"Governo vai quebrar cartel"
Entrevista : Paulo de Tarso Ribeiro

No jogo de pressão para atingir a redução de 20% no preço da gasolina na bomba, prometida pelo presidente Fernando Henrique, o Governo decidiu atacar os cartéis. Baixou medidas, convocou entidades e conclamou a população a apontar onde existem indícios do crime. Ganhou um xerife: o secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça (SDE), Paulo de Tarso Ribeiro. Ele pode até não admitir, mas está se transformando na principal figura da força-tarefa criada pelo Planalto para combater a cartelização. "Meu papel é o de cumprir a Lei e investigar".

Ribeiro conta que leva tempo para se provar a existência de um cartel. Mas espera que as medidas tomadas pelo Governo - de pedir apoio ao Ministério Público e à Polícia Federal - diminuam os prazos das investigações. "O Governo não vai tolerar que a renúncia da carga tributária que foi procedida seja apropriada por outro que não o consumidor", afirma. Ele garante que a presença da PF no grupo de trabalho é mais do que necessária. Em alguns casos investigados, foram descobertas ameaças de morte para aqueles que não se enquadrassem no que foi acertado pelo grupo.

Até hoje, ninguém foi punido por formação de cartel no setor de combustíveis no Brasil. Mas se depender do secretário, isso não deve demorar. Ele lembra que a ajuda dos consumidores é importante na hora de denunciar a manipulação artificial e súbita nos preços. E as investigações podem não ficar restritas apenas à cadeia de postos revendedores. Segundo Ribeiro, a SDE está aguardando levantamentos da Agência Nacional do Petróleo (ANP) para verificar se há indícios de formação de cartel também na rede de distribuidoras.

DIARIO DE PERNAMBUCO - Como se caracteriza um cartel? Basta encontrar igualdade nos preços do produto ou existem ainda outros aspectos que são observados?
Paulo de Tarso Ribeiro - Paralelismo de preço é uma condição necessária, mas não suficiente. Quer dizer, o fato de postos estarem cobrando o mesmo preço não indica a formação de cartel. Só existe o cartel quando além do paralelismo temos a conduta combinada e o poder de mercado. Não adianta eu e você resolvermos fazer um cartel para vender combustível porque não temos poder de mercado. Só quem tem poder de mercado tem condição de impor preço. Esse é o primeiro ponto. O segundo é que haja o acordo entre todos. A prova de cartel é demorada, exige uma ação integrada não apenas da Secretaria de Direito Econômico como do Ministério Público, que é quem pode quebrar os sigilos telefônico e bancário de quem estiver sendo alvo da investigação.

DP - O Governo constituiu um grupo de trabalho que envolve os ministérios da Fazenda, Justiça, Minas e Energia, a Casa Civil e a Agência Nacional do Petróleo (ANP). De que forma esse grupo vai atuar?
Ribeiro - Ele vai estudar as medidas regulatórias do mercado de combustíveis, dessa transição. Temos um fato novo que é a retirada da carga tributária pelo Governo federal de 25%, quando substituiu a Parcela de Preço Específica (PPE) pela Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico (Cide). É esse fato novo, acompanhado pela liberação da importação, que vai fazer a concorrência atuar. O Governo tirou a tributação em cascata, está tornando este setor mais competitivo. Esse grupo vai examinar quais as medidas que esses ministérios podem tomar visando a regular o setor adequadamente, por isso a ANP está presente, e vai combater os cartéis de uma forma eficaz.

DP - Quais foram as medidas determinadas pelo Ministério da Justiça?
Ribeiro - O ministro Aloysio Nunes determinou várias. A primeira é que a SDE procure os ministérios públicos de modo que eles possam nos ajudar nesta investigação. Os ministérios públicos não podem fazer issosozinhos porque o cartel também exige uma análise econômica, e é a secretaria que tem condição de fazer para eles. Outra medida é que, em toda investigação onde houver indício de crime contra a ordem econômica, vai ser remetida cópia para a Polícia Federal, para que seja aberto um inquérito.

DP - Qual a importância da Polícia federal nesse processo?
Ribeiro - Ela entra porque o cartel é um problema policial. Não tem conversa. A PF tem uma estrutura nacional. Nas delegacias vai ser criado um setor específico de crimes contra a ordem econômica.

DP - É uma forma de não centralizar os trabalhos apenas em um lugar, como foi imaginado inicialmente.
Ribeiro - Ao invés de criar uma especializada, em Brasília, que teria problemas para atuar no Brasil inteiro, eles vão aproveitar as que já existem. Onde houver delegacias de crimes contra o patrimônio, vão colocar também contra a ordem econômica. Há um decreto do presidente. A estruturação dessas delegacias é um problema interno da Polícia Federal, que ela deve resolver, talvez com uma portaria.

DP - As denúncias de formação de cartel são antigas. Alguns datam de 1999 outros de 2000.
Ribeiro - Existem 123 processos antigos na secretaria. Alguns já fortemente instruídos estão sendo enviados para o Conselho Administrativo de Direito Econômico (Cade). Verificamos casos em Florianópolis, Salvador, Belo Horizonte e em Goiânia, onde foi observado que o sindicato estava induzindo os filiados a estabelecer a mesma margem de lucro.

DP - A ANP enviou um parecer informando que no Recife também há indícios de cartelização...
Ribeiro - Fizemos ações conjuntas com o Ministério Público na capital pernambucana e esse processo também está bem instruído. Esperamos que o Cade possa julgar isso o mais rápido possível. A decisão final se confirma ou não o cartel é do Cade, que também diz qual será a punição.

DP - Quais as punições previstas para quem for pego por formação de cartel?
Ribeiro - Existe mais de uma possibilidade de punir. Ela pode ser multa de 1% a 30% do faturamento. Também pode ser o cancelamento do registro dos postos, que ficam sem poder operar. A pessoa também pode ser presa. Isso está previsto em Lei.

DP - Alguém já foi punido no Brasil por formação de cartel no mercado de combustíveis?
Ribeiro - Que eu tenha conhecimento, no setor de combustíveis ninguém ainda foi punido. O primeiro caso pode ocorrer em Florianópolis, agora que está pautado pelo Cade. Imagino que o julgamento deve acontecer nesta semana ou, no máximo, na outra. Eles estão acelerando o processo.

DP - É difícil, então, provar a existência do cartel?
Ribeiro - A análise é complexa. No mundo inteiro, leva um ou dois anos para provar a existência dele. Esperamos trazer isso para prazos mais razoáveis a partir da colaboração com a Polícia Federal e com os ministérios públicos.

DP - Quais as táticas de convencimento utilizadas pelos acusados?
Ribeiro - Em Florianópolis, por exemplo, foi constatado que eles fizeram acordo, combinação de preço. Eles chegaram a ameaçar de morte quem não cumprisse o preço combinado. As conversas telefônicas contendo as ameaças foram gravadas, com autorização judicial.

DP - As investigações sempre apontam para a participação dos sindicatos?
Ribeiro - Quando sugerem preços ou margem de comercialização, os sindicatos estão incorrendo em violação, é claro.

DP - Tanto o presidente da Federação Nacional dos Revendedores (Fecombustíveis), Gil Siuffo, quanto os presidentes dos sindicatos estaduais negam veementemente que exista cartel no País. Siuffo chegou até mesmo a divulgar um carta acusando o senhor de culpar os postos pela queda menor no preço do produto...
Ribeiro - Ele tem direito disso. Acontece que a Secretaria de Direito Econômico tem o poder de investigação. Se há indícios de formação de cartel no mercado, cabe à secretaria investigar.

DP - Na carta, de três páginas, o presidente da Fecombustíveis diz que suas ameaças através da mídia não são o caminho para um órgão do Governo que está em posição de arbitragem...
Ribeiro - Primeiro: a SDE não tem o poder de arbitragem do qual elefalou. Segundo: a secretaria e o secretário não estão fazendo nenhuma ameaça. Foi feito um ato concreto, um convênio com o Ministério Público, e um decreto visando a integrar a Polícia Federal nos trabalhos. Isso não pode ser encarado como ameaça. No mundo inteiro, os cartéis são investigados pela polícia. Aqui, ela vai trabalhar conjuntamente com a secretaria. O que a SDE está fazendo é se preparar para cumprir a Lei. Não quero polemizar com o presidente da Fecombustíveis nem com ninguém. Não mando recados. Meu papel é o de cumprir a Lei e investigar. Se há indícios de formação de cartel, vamos investigar e pronto.

DP - Os Procons também serão chamados para o trabalho conjunto. Como irão trabalhar?
Ribeiro - O Departamento de Defesa do Consumidor e a SDE vão mandar uma circular para todos os Procons, para que os órgãos acompanhem onde há flutuação artificial de preço, de modo que possamos ter uma cruzada contra o cartel. Vamos ter a ANP monitorando, os Procons monitorando, vamos abrir inquérito com a Polícia Federal, vamos procurar o Ministério Público. O Governo não vai tolerar que a renúncia da carga tributária que foi procedida seja apropriada por outro que não o consumidor. Isso tem que ser apropriado pelo consumidor, pelo setor econômico todo e não apenas por meia dúzia.

DP - E como o consumidor poderá ajudar?
Ribeiro - A ajuda dos consumidores é importante na medida que eles denunciem combinação, uma manipulação artificial súbita nos preços.

DP - A quem a população deve recorrer se tiver suspeita de que os preços não parecem ser reais?
Ribeiro - As pessoas devem procurar a ANP, sempre. E também devem recorrer aos Procons.

DP - Existem indícios de formação de cartel apenas na rede de postos revendedores ou também nas distribuidoras?
Ribeiro - Estamos aguardando os levantamentos da ANP para ter uma melhor análise sobre isso.

DP - Isso quer dizer que elas também podem ser investigadas e se tornar o próximo alvo do Governo?
Ribeiro - Possivelmente, se houver suspeitas e elas forem fortes o suficiente paradar prosseguimento à investigação.

DP - O mercado livre, da forma como ele é apresentando hoje, é um incentivo para a formação de cartel?
Ribeiro - Todo mercado livre é propício para o cartel porque ele é propício para a competição. Se os agentes econômicos puderem se cartelizar, eles evitam a competição, que, de certa maneira, poderia dar a eles lucros adequados com o mercado. O cartel produz lucros artificiais, que não estão de acordo com a realidade do mercado.

DP - Em uma entrevista, Gil Siuffo chegou a afirmar que o tabelamento era mais vantajoso para eles.
Ribeiro - Não sei. Se é o que eles pensam...

DP - Qual a contribuição efetiva dessas medidas de combate à cartelização para baixar os preços como pretende o Governo e sonham os consumidores?
Ribeiro - A contribuição já vem sendo dada. A partir do anúncio da ação do Governo, os preços começaram a cair e estão caindo. Esperamos que eles continuem a cair a partir de uma ação que integre as medidas de repressão ao abuso do poder econômico com medidas de regulação do setor.

DP - Além do combate ao cartel, que outras ações caberão ao grupo de trabalho criado pelo Governo?
Ribeiro - Vamos examinar, por exemplo, uma proposta para que as distribuidoras de combustível também possam deter a operação dos postos. Isso pode sinalizar uma forte queda do preço do mercado, aliada à possibilidade de a BR Distribuidora ter junto aos seus postos uma ação no sentido deles praticarem um preço mais compatível com essa nova realidade de mercado.

DP - O Governo pede para a BR Distribuidora cobrar mais barato. Isso não pode ser encarado como cartel?
Ribeiro - Não, de jeito. Nenhum. A BR pode perfeitamente praticar um preço mais baixo na medida em que dá exclusividade àqueles postos. A idéia é que o Governo tenha um conjunto de medidas.

DP - Há quem interprete toda essa ênfase em cumprir a redução prevista pelo Governo como uma medida eleitoreira. O senhor concorda?
Ribeiro - Não há nada de eleitoreiro nisso. Pelo contrário. Queremos ter um setor mais saudável do ponto de vista econômico. O Governo vai quebrar o cartel. Não tenho dúvida disso.


Começa movimentação de cargas no Tecon Suape
Desembarque de contêineres no Navio San Nicolas começou ontem às 20h

O San Nicolas deixa hoje o Porto de Suape levando um marco importante. É o primeiro navio a desembarcar no Tecon Suape, arrendado no ano passado pelo grupo filipino Internacional Container Terminal Service (ICTS) ao Governo estadual. O desembarque do primeiro contêiner, às 20h, também marca uma redução drástica no tempo de operação no terminal. O trabalho com os 300 contêineres - metade para desembarque, 142 para cabotagem e oito com carga - estava previsto para terminar em oito horas, duas a mais que o anunciado inicialmente, mas mesmo assim um recorde diante das 36 horas gastas até ontem.

O presidente do Tecon Suape, Fernando Mota, disse que o navio atracou dentro do planejado - às 19h. Explicou que 20 pessoas estavam operando com o San Nicolas, num ritmo de 40 contêineres por hora para que o serviço fosse executado até às 4h da madrugada de hoje. "É um recorde", comentou. Segundo ele, dois portêineres e dois transtêineres estavam sendo utilizados na operação. Executivos da Hamburg Sud, responsável pelacarga importada, um dos quatro armadores que já assinaram contrato com o Tecon, acompanharam a operação. O secretário de Desenvolvimento Econômico, Carlos Eduardo Cadoca, e o diretor-presidente de Suape, Fernando Jordão, também estiveram no local.

A operação do San Nicolas é o primeiro teste para o Terminal de Contêineres de Suape, que será inaugurado oficialmente no mês de março. Por enquanto, estão funcionando, além das máquinas necessárias, os prédios da administração e da Re ceita Federal.

O grupo filipino ganhou a licitação do Tecon pagando 250% de ágio sobre o preço mínimo e já investiu US$ 20 milhões para conseguir seu objetivo: chegar ao topo do ranking dos terminais no Brasil. Vai ter que brigar com grandes concorrentes - os portos de Salvador (BA), Sepetiba (RJ) e Santos, em São Paulo. O Tecon Suape pretende movimentar este ano 100 mil Teu's (unidade de contêiner de 20 pés). O volume é 33% maior do que o que o do ano passado. Vai ter que baixar o custo da mão-de-obra para garantir a atração denovas cargas com preços mais competitivos.


Governo vai pesificar totalmente economia
BUENOS AIRES - O governo argentino deixou claro, ontem, que vai promover a total pesificação da economia do país e que não haverá novas flexibilizações nos depósitos congelados na rede bancária, o curralzinho, nos próximos três meses. Adiantando-se à reação barulhenta dos poupadores, em novos panelaços, a equipe econômica sinalizou que o poder aquisitivo dos depósitos bancários em dólares, convertidos em pesos pelo câmbio oficial, será preservado por meio da indexação a indicadores inflacionários. Também antecipou que, em seis ou oito meses, o país começará a sair da crise.

Ontem, o ministro do Interior, Rodolfo Gabrielli, confirmou que os depósitos em dólares seriam transformados em pesos de acordo com a cotação oficial 1,40 peso por dólar. Mas tratou de reiterar a garantia de igual capacidade de compra dos depósitos, seguindo a mesma linha de recentes declarações do presidente argentino, Eduardo Duhalde. No último sábado, Duhalde havia enterrado sua promessa de posse de devolver os depósitos na mesma moeda ao admitir que seria impossível cumprí-la.

"Se os dólares não existem mais, o que há de se fazer é cumprir com o que o presidente disse e fazer com que as pessoas recebam o equivalente em pesos", afirmou Gabrielli. "Não há outro caminho. As pessoas têm de saber que suas economias serão respeitadas".

Em entrevista publicada ontem pelo jornal Clarín, o ministro da Economia, Jorge Remes Lenicov, afirmou que o poder aquisitivo dos depósitos será mantido com o ajuste a um indicador monetário. De acordo com os seus cálculos, o impacto da inflação nos preços, até o momento, foi de apenas 1,9% e caminha bem. Entretanto, para o jornal La Nación, Remes Lenicov sugeriu que a indexação não deverá se estender a todos os setores da economia argentina, ao declarar que os salário não serão corrigidos por indicadores inflacionários. No caso brasileiro, a indexação garantiu parcialmente a recomposição de perdas salariais na época de inflação elevada. Mas tornou-se um dos mecanismos mais difíceis de ser desmontado pelo Plano Real.

Em ambas as entrevistas, Remes Lenicov tentou explicar os caminhos que está seguindo. A flexibilização do curralzinho, que entra em vigor na terça-feira, foi uma saída rumo à pesificação da economia, e não à dolarização, conforme declarou.


Colunistas

DIÁRIO POLÍTICO - César Rocha

Crime e democracia
O debate sobre a morte do prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, corre o risco de seguir um caminho equivocado. Este da falta de medidas efetivas para combater a violência cotidiana, dramática, que atinge a todos. O caso do petista Daniel é especial. E merece tratamento adequado. Pelos fortes indícios de ser crime político - o segundo contra um prefeito petista - e pela falta de informações mais precisas sobre quais as intenções dos assassinos. Eles são realmente os que mandaram as cartas ameaçadoras aos prefeitos do PT de São Paulo? Vão tentar ou já estão cumprindo as ameaças? A ação desse grupo se generalizará em São Paulo e no Brasil? Não resta dúvidas que a violência cotidiana enfraquece a construção da democracia brasileira. Ela leva as pessoas ao ceticismo, à falta de esperança, a radicalismos. Precisa ser combatida de forma efetiva e com o maior rigor, o que não tem sido feito pelos governos Federal e estaduais. Mas o crime contra Celso Daniel não apenas fragiliza, desmoralizaa democracia. E não porque a vítima, nesse caso, foi uma autoridade. A questão aqui não é defender tratamento privilegiado - o que tem sido rotineiro no triste espetáculo de violência cotidiana. Trata-se de defender instituições políticas importantes para a consolidação da democracia. O PT, goste-se ou não dele, representa a principal força de oposição do País. É parte da diversidade política, sem a qual nenhuma democracia ou País se constrói com justiça.

Raul Henry (PMDB) falava na festa de José Mendonça (PFL), sexta-feira, em Belo Jardim, que ainda não entrou no clima de campanha para deputado. Por perto, Mendonça Filho (PFL) tentou ajudar: "É melhor guardar energia, qualquer erro agora é fatal".

Fritura
O secretário de Defesa Social, Gustavo Lima, circulava tranqüilo na festa de José Mendonça, na sexta. Nem imaginava o que deputados da base governista diziam, sem meias palavras, sobre a atuação dele.

Articulação
Mendonça Filho, governador em exercício, conversou bastante nos últimos dias com o prefeito de Petrolina e adversário, Fernando Bezerra Coelho (PPS). Coelho tem interesse em zerar o déficit de saneamento básico do município. Faltam pouco mais de R$ 25 milhões. Como o Governo pode ajudá-lo, tem sido cortez.

PPS
O drama do PPS na sucessão estadual é simples, segundo gente do partido. Para reeleger Ranilson Ramos estadual e Clementino Coelho (irmão de Fernando Bezerra) federal, é preciso 140 mil votos. O caso de Roberto Freire é especial. Ele está sem base para deputado e sem palanque para a reeleição ao Senado. Ou seja, sem coligação, o partido naufraga.

Garotinho I
O governador do Rio e presidenciável do PSB, Anthony Garotinho, soube, no Recife, do anúncio da candidatura de Luíza Erundina ao Governo de São Paulo. Um telefonema dela, recebido quando ia ao Aeroporto dos Guararapes, fez Garotinho vibrar e decidir ir para São Paulo, onde jantou com ela na sexta-feira.

Garotinho II
Garotinho disse no Recife que quanto mais usarem sua religião contra ele, melhor. Isso porque, segundo avalia, os protestantes de todas as igrejas se sentem ofendidos e acabam "fechando" com sua candidatura.

Semeando
O deputado federal Eduardo Campos (foto), do PSB, esteve em 14 cidades da Zona da Mata, Agreste e Sertão, entre sexta-feira e domingo. Em plena campanha para governador, tem feito uma cruzada anti-Jarbas. Além de reunir lideranças do partido, aproveita para soltar o verbo contra o Governo nas rádios do Interior.


Editorial

NASCE UM PRESIDENTE

Os norte-americanos terminaram o Século 20 em meio a um ciclo venturoso sem paralelo na História. Com a extinção da União Soviética e da Guerra Fria, não havia mais um grande inimigo externo a ameaçar a segurança no território continental dos Estados Unidos. E a prosperidade econômica era algo jamais visto, pela intensidade e duração, em tempos de paz.

Tal tranqüilidade não foi abalada sequer pela tumultuada eleição de George W. Bush no ano 2000. Havia dúvidas se os votos, contados de forma equivocada, eram suficientes para conferir-lhe a vitória. Mas o candidato da oposição, a Justiça e a maioria dos eleitores preferiram evitar a contestação de modo a preservar a instituição da Presidência da República.

Bush tomou posse há um ano, porém como um presidente fraco. Pesquisas indicavam que para apenas 20% dos norte-americanos o governo, em geral, acertava em sua conduta. Na década de 60, 60% da população aprovava o governo. Tudo o que os eleitores queriam de Bush era que ele incomodasse o mínimo possível.
Mas a percepção dos norte-americanos sobre o Mundo, sobre si mesmos e sobre seu presidente mudou de modo radical com os atentados do dia 11 de setembro. O pensador britânico Thomas Hobbes (1588-1679) afirmou que os Estados foram criados porque as pessoas precisavam proteger-se da vida "desagradável, violenta e curta". Diante de riscos antes esquecidos ou não imaginados, dobrou o número dos norte-americanos a apoiar o governo sem questionamento.

O revés do terrorismo teve sinais trocados para a popularidade do presidente, que atingiu o patamar dos 80%, onde segue estacionada. Não se pode, porém, dizer que Bush teve apenas a sorte de encontrar desgraças pela frente. O presidente empreendeu eficiente campanha militar no Afeganistão. Conseguiu derrubar o regime Talibã, o que, no começo, não parecia tarefa fácil.

Os maiores desafios de Bush, porém, parecem estar por vir. A economia entrou oficialmente em recessão pouco depois dos atentados — e por conta deles o público deu menos atenção ao assunto do que seria normal. É de esperar, porém, que os impasses econômicos se tornem mais evidentes à medida que a guerra e o terrorismo percam um pouco de importância. A unanimidade política que se construiu em torno do presidente também dá sinais de fraqueza. E não poderia ser diferente em um ano de eleições parlamentares. Guerra, retração econômica e obstáculos políticos fizeram-se presentes nos quatro mandatos de Franklyn Delano Roosevelt (1933-1945). Resta saber se, como naquela época, serão enfrentados nos próximos anos por um grande estadista.


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01/21/2002


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