Jobim reafirma preferência do governo por caça francês. Senadores querem acompanhar negócios
O governo só decidirá o modelo de caça a ser usado na renovação da frota da Força Aérea Brasileira depois de receber, na segunda-feira (21), as ofertas finais dos três concorrentes envolvidos no processo, disse na quarta-feira (16) o ministro da Defesa, Nelson Jobim, em reunião da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE).
O ministro admitiu que existe uma preferência política pela francesa Dassault, produtora dos jatos Rafale, como já havia afirmado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva após encontro com o presidente francês Nicolas Sarkozy na celebração de 7 de setembro. Mas reiterou que a decisão final vai depender da análise das propostas da própria Dassault, da norte-americana Boeing, que fabrica o F-18, e da sueca Saab, produtora do Gripen NG.
- O negócio não está fechado. Há uma opção pela França, basta que ela cumpra a promessa de transferência de tecnologia. Vamos analisar as ofertas e ver o que significa a transferência irrestrita de tecnologia e o preço competitivo anunciados pelos franceses - disse Jobim, para quem a forte competição entre os três produtores é "ótima" para o Brasil.
Acompanhamento
Os senadores da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional querem acompanhar de perto as negociações finais para a compra dos caças que vão renovar a frota da Força Aérea Brasileira. Renato Casagrande (PSB-ES), autor do requerimento para a realização da audiência, sugeriu que a comissão volte a debater as negociações com Jobim, se preciso em reunião secreta, depois da entrega das ofertas finais pelos concorrentes.
- O Congresso Nacional vai ter que aprofundar o debate sobre a defesa nacional. Com esse acordo, o Brasil muda de patamar. E é preciso saber se não há como se desenvolver sem avançar sem um projeto audacioso de defesa - disse Casagrande.
O senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) lamentou que unidades do Exército localizadas no Nordeste experimentem atualmente situação de "pobreza absoluta", ao mesmo tempo em que se anuncia a compra de aviões e submarinos para a Aeronáutica e a Marinha. Ele considerou ainda necessário saber o que o Brasil receberá da França, em troca da preferência para a compra desses equipamentos militares.
Na opinião do senador Heráclito Fortes (DEM-PI), a comissão deve solicitar ao governo informações detalhadas sobre cada proposta feita ao Brasil para a venda dos caças. Ele questionou, por exemplo, o alto preço de manutenção dos caças franceses Rafale, em comparação aos norte-americanos F-18.
Transferência de tecnologia
Por sua vez, o senador João Tenório (PSDB-AL) considerou "pouco claras" as propostas feitas até o momento por norte-americanos e franceses no que diz respeito à transferência de tecnologia para a produção dos aviões. Da mesma forma, o senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) disse ser necessário saber o que norte-americanos e franceses chamam, respectivamente, de transferência de tecnologia "necessária" e "irrestrita".
O presidente da comissão, senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), questionou por que os novos submarinos, também constante do acordo em negociação com a França, terão como base o Rio de Janeiro e não outra cidade do litoral brasileiro, como Fortaleza (CE). O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) observou igualmente que a grande maioria dos investimentos para renovação das Forças Armadas será feita no Centro-Sul do país. Ele concordou ainda com a proposta de Casagrande para a realização de uma reunião secreta com Jobim, para discutir a compra dos novos caças.
Após declarar sua simpatia pela França, o senador José Agripino (DEM-RN) demonstrou preocupação com a real disposição do governo francês em transferir tecnologia para o Brasil. Ele citou artigo publicado no jornal londrino Daily Telegraph, segundo o qual a Inglaterra ganhou a Guerra das Malvinas com a ajuda de países como a França, que teria negado à Argentina transferência de tecnologia empregada nos mísseis Exocet. Ao final da reunião, o senador Augusto Botelho (PT-RR) manifestou preocupação com a situação do Exército, no momento em que as prioridades do governo parecem destinadas à renovação da Marinha e da Aeronáutica.
18/09/2009
Agência Senado
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