Jornalista relata circunstâncias que o levaram a tomar conhecimento do "grampo"



O jornalista Luiz Cláudio Cunha descreveu aos membros do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar nesta quinta-feira (3) a ordem cronológica e as circunstâncias dos acontecimentos que o levaram a tomar conhecimento do episódio de instalação de escutas telefônicas clandestinas na Bahia.

Luiz Cláudio Cunha relatou que, em 30 de janeiro, participava de uma reunião, no Senado, da ala dissidente do PMDB, quando encontrou-se com o jornalista Fernando César Mesquita. Pediu a este dados sobre possíveis esquemas de corrupção envolvendo o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e o Ministério dos Transportes. Fernando César, então, colocou-o em contato com o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que, por sua vez, neste mesmo dia, convidou-o para uma conversa em seu gabinete.

No encontro, segundo o jornalista, Antonio Carlos lhe disse que havia mandado grampear o deputado Geddel e que dispunha de informações obtidas em mais de 200 horas de conversas gravadas clandestinamente. O senador, continuou o jornalista, entregou-lhe um volume de 170 páginas com o resumo das conversas. Os grampos, disse Luiz Carlos Cunha, estenderam-se do dia 19 de maio a 21 de agosto do ano passado e aconteceram em plena campanha eleitoral. Foram registradas 126 conversas em 232 números telefônicos, em um total de 36 horas de gravações.

As gravações contêm, ainda conforme o jornalista, conversas graves de negociatas e liberações de verbas orçamentárias entre Geddel e autoridades de cinco ministérios - Agricultura, Transportes, Integração Nacional, Esporte e Planejamento, Orçamento e Gestão - e também com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Conforme Luiz Cláudio Cunha, o senador pediu-lhe que utilizasse as informações apenas para elaborar uma pauta, sem publicar a maneira como haviam sido obtidas. Antonio Carlos teria dito que confiava na palavra do jornalista de que seria resguardado como fonte das revelações e contou que todo o material das escutas havia sido destruído por seus autores.

Luiz Cláudio disse que no dia 4 de fevereiro a jornalista Sônia Filgueiras, também da IstoÉ, presenciou, à distância, uma conversa entre Geddel e o delegado da Polícia Federal Paulo Lacerda. Em conversa posterior com o deputado, Geddel contou aos repórteres da revista que havia sido grampeado na Bahia.

No dia 5 de fevereiro, os jornalistas da IstoÉ ficaram sabendo que a Polícia Federal já havia aberto inquérito sobre o caso e investigava o envolvimento de pessoas da própria Secretaria de Segurança Pública da Bahia, como o policial Alan Farias, um dos autores das escutas.

Segundo Luiz Cláudio, diante das novas informações, a editoria da revista decidiu que iria publicar o esquema das escutas, pela gravidade dos fatos que envolviam o episódio, mas pediu ao jornalista que tivesse uma nova conversa com o senador, para resguardar-se de uma negativa futura.

No dia 6 de fevereiro, o jornalista ligou para o senador, aí gravando a conversa, e pediu que este autorizasse a publicação do material. Solicitou também as fitas e CDs com as conversas gravadas. Na fita, a voz imputada ao senador declara que não autoriza a publicação pelo fato de as mesmas terem sido obtidas ilicitamente. E nega mais uma vez a existência de qualquer resquício do material das escutas clandestinas.



03/04/2003

Agência Senado


Artigos Relacionados


CFC tem reunião para tomar conhecimento de auditorias

Sindicato relata agressão e ameaça de morte contra jornalista

Sarney lembra circunstâncias da aprovação de Paulo Vieira para diretoria da ANA

SUPLICY APRESENTA DOCUMENTOS QUE LEVARAM ÀS DECISÕES DO BC

Investigações já levaram ao afastamento, demissão, cassação ou renúncia de 63

Ministro da Justiça analisa erros que levaram aos crimes em Luziânia