JOSAPHAT MARINHO SE DESPEDE CRITICANDO A GLOBALIZAÇÃO



O senador Josaphat Marinho (PFL-BA) despediu-se nesta quarta-feira (dia 20) do Senado com um discurso no qual sustentou que será difícil reduzir as desigualdades do mundo porque, se a globalização tem expandido conhecimentos, tem também servido para manter disparidades e injustiças, "com o consentimento e a cumplicidade do neoliberalismo".Conforme o senador, todas as estatísticas, inclusive as das Nações Unidas, mostram impressionante desproporção entre o elevado quadro econômico de alguns povos e o padrão de inferioridade da maioria. Citando Emmanuel Todd, ele afirmou que apesar da triste realidade da maioria dos povos, insiste-se em desconhecer que "o mundo homogêneo e simétrico da teoria econômica não existe".Sustentando que as condições de vida no mundo variam da riqueza à exclusão social, com a manutenção de privilégios inadmissíveis, o parlamentar mencionou dados divulgados pelo Le Monde Diplomatique, segundo o qual as três pessoas mais ricas do mundo possuem fortuna superior à soma do produto bruto dos 48 países mais pobres, equivalentes à quarta parte da totalidade dos Estados do planeta. Também informou que, em mais de 70 países, a renda por habitante é inferior à que se verificava há 20 anos, acrescentando que, em escala planetária, cerca de 3 bilhões de pessoas - a metade da humanidade - vivem com menos de dez francos por dia. Outro dado trazido ao plenário pelo senador: dos quatro bilhões de habitantes dos países em via de desenvolvimento, perto de um terço não tem acesso a água potável e aproximadamente dois bilhões sofrem de anemia.Josaphat Marinho condenou essa divisão da humanidade entre privilegiados e desamparados, e pregou a presença firme do poder do Estado, disciplinado pela lei, mas com autoridade adequada para estabelecer a ordem justa possível. "As forças do mercado lutam, preferencialmente, pelo lucro. É imprescindível que o Estado, como instrumento de equilíbrio, garanta a paz social, relativa, decerto, mas fundada em restrições aos excessos do poder econômico privado", salientou. Para o senador, "não há tranqüilidade geral onde o capital domina sem limites e o sofrimento se alastra no desamparo". Referindo-se ao Brasil, ele disse que a estagnação da economia e o aumento do desemprego estão provando que as práticas neoliberais não promoverão a prosperidade nacional. E avisou que se intensifica "a responsabilidade do Poder Legislativo, compelido a traçar fronteiras mais nítidas entre as suas e as atribuições dos outros órgãos constitucionais, notadamente o Executivo, para fortalecer-se na opinião do país". A seu ver, isso só será possível "no regime de uma Constituição estável e aplicada com espírito construtivo".- O Senado e a Câmara têm papel relevantíssimo nesse processo de redimensionamento do sistema político. As duas Casas, engrandecidas pela elevação de suas funções, representam âncoras do regime livre e justo - ensinou o parlamentar.Deixando o Senado aos 83 anos de idade, Josaphat Marinho disse que não reivindica postos, mas espera continuar um militante da democracia e da justiça social. "No chão áspero da rua também há espaço para o combate gerador de esperança", afirmou. Ao lamentar a ausência dos políticos que, com ele, elegeram-se, em 1947 e 1955, Josaphat disse que hoje só restam no Parlamento Antonio Carlos Magalhães (presidente do Senado) e Djalma Bessa (PFL-BA). Citou o nome dos companheiros que morreram, mencionando da Câmara Federal apenas Luís Eduardo Magalhães, "figura moça e já projetada para o futuro". Também manifestou sua gratidão à Bahia e aos parlamentares com quem teve uma convivência cordial, acima de diferenças partidárias.

20/01/1999

Agência Senado


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