José Fortunati assume candidatura ao governo do Estado
José Fortunati assume candidatura ao governo do Estado
O vereador mais votado da história de Porto Alegre, José Fortunati, assumiu sua candidatura ao governo do Estado nas eleições de 2002 pelo PDT. Depois de 22 anos de militância no PT, Fortunati protagozinou uma das mais sérias defecções já sentidas pelo partido.
Crítico às relações internas e externas do PT, o candidato promete a realização de um amplo debate do programa de governo do PDT com a sociedade que, segundo ele, deverá ser aplicado em todo o Estado, pondo fim à bipolarização política.
Fortunati intensificará sua campanha eleitoral a partir de novembro, coincidindo com o lançamento do livro "O Fascínio da Estrela", escrito em parceria com o também ex-petista, vereador Antônio Hohlfeldt.
Jornal do Comércio - O senhor é candidato ao governo do Estado nas eleições de 2002?
José Fortunati
- Quando negociei meu ingresso no PDT, em momento algum discuti com a direção partidária qualquer cargo para 2002. Todos os pressupostos que me levavam a fazer a reflexão com o PDT se baseavam na ocupação de determinado espaço e trânsito para continuar com meu trabalho, algo em que eu não vinha tendo sucesso no PT. A partir do momento em que minha ficha foi abonada, em 22 de setembro, comecei a percorrer o interior do Estado, quando houve um pré-lançamento de minha candidatura. O que mais me surpreendeu, positivamente, foi que, no dia seguinte ao meu ingresso no partido, em Carlos Barbosa, o ex-governador Alceu Collares tomou a palavra e foi o primeiro homem público da direção partidária a lançar meu nome. O rastilho incendiou e, em todas as cidades onde estive, os pré-lançamentos continuaram acontecendo. A partir dessas manifestações, do calor humano e do carinho com que as lideranças e a base do PDT têm me recebido, me coloco claramente como pré-candidato ao governo do Estado.
JC - Único até o momento, não?
Fortunati
- Quando ingressei, falava-se nos nomes dos deputados Collares, Vieira da Cunha e Pompeo de Mattos. Em muito pouco tempo, tive manifestações dos três lançando minha candidatura. Sou pré-candidato, mas temos uma caminhada pela frente. Devo me reunir, nos próximos dias, com a executiva e as bancadas federal e estadual do PDT visando a definição de uma estratégia para percorrermos o Estado partidariamente e, até o início de dezembro, organizarmos uma grande manifestação política de lançamento da minha candidatura em Porto Alegre.
JC - A estratégia de campanha começa com esses roteiros pelo interior e o contato com as bases?
Fortunati
- Já estou fazendo isso. No final de semana anterior, percorri dois mil quilômetros. Estou em campanha, primeiramente interna no PDT. É importante que os pedetistas me conheçam pessoalmente e possam dialogar comigo e eu, ao mesmo tempo, quero conhecer o PDT. Só não estou indo a mais cidades porque sou grande, mas não sou dois.
JC - O senhor se surpreendeu com a recepção calorosa dos trabalhistas?
Fortunati
- O PDT está vivendo um processo de revitalização, que iniciou há aproximadamente três anos. Esse processo sacudiu o partido, que se dinamizou e se democratizou de forma intensa. Com isso, o PDT está dando possibilidade para que todos os setores se manifestem. O partido vive um momento muito rico de sua organização interna. Eu cheguei na hora certa no lugar certo. Os pedetistas responsáveis pela revitalização acabaram vendo em mim uma espécie de símbolo desse processo e me escolheram como porta-voz da continuidade da revitalização. Esperava ser recebido de forma fraterna, mas o acolhimento que o PDT me deu e a maneira como o partido vem vivendo com tamanha intensidade a vida política me surpreendeu. A vida interna, a vitalidade e a garra do PDT projetam possibilidades eleitorais muitos fortes para 2002.
JC - Como tem sido sua convivência com o presidente nacional do partido, ex-governador Leonel Brizola?
Fortunati
- Quando iniciei o diálogo sobre meu ingresso no PDT, fui ao Rio de Janeiro e conversei com Brizola por mais de cinco horas. Meu respeito ao governador foi ampliado, devido à lucidez fantástica de seus 80 anos, à memória privilegiada, ao engajamento político com o País, à preocupação com os destinos do Brasil e ao respeito dele às lideranças que fazem a política do PDT e dos outros partidos. A imagem do velho caudilho que manda e desmanda no partido se desfez. Brizola é a grande liderança do PDT, indiscutivelmente, e ele é ouvido em todas as questões para que possamos aproveitar sua experiência, que ninguém desconhece. Minha relação com ele tem sido de muito carinho, respeito e incentivo. Encontrei em Brizola o estuário para continuar com esta luta e ele é um dos responsáveis por eu estar me sentindo completamente à vontade no PDT.
JC - Nesta semana, o senhor participará de um roteiro com Brizola. Estão previstas novas manifestações em torno de seu nome para o governo?
Fortunati
- Já estou sabendo de antemão que essas manifestações deverão ocorrer. Há unanimidade sobre o lançamento de uma candidatura própria do PDT e meu ingresso no partido foi acolhido com alegria por todos os filiados. Meu nome está sendo consolidado pelas próprias lideranças partidárias como consenso para disputar o Palácio Piratini em 2002.
JC - Cogitaria concorrer ao Legislativo?
Fortunati
- Fui deputado estadual, federal e vereador, ficando cerca de onze anos no Legislativo. Sempre me dei muito bem, devido à minha boa interlocução com as lideranças de todos os partidos políticos e à minha capacidade de diálogo diante das divergências. Respeito os que pensam diferente. Mas, a partir do momento em que ocupei a vice-prefeitura de Porto Alegre, o Executivo me seduziu completamente. Me apaixonei pelo trabalho e me envolvi plenamente na função, vivendo a cidade 24 horas por dia e buscando soluções para os problemas. Hoje, indiscutivelmente, gostaria de conduzir meu trabalho político no Executivo.
JC - Como avalia a aproximação entre o PDT e o PMDB no Estado, visando uma aliança para as eleições de 2002?
Fortunati
- Não descarto qualquer reflexão com os partidos que conformam um determinado espectro partidário. Iniciamos o ano conversando com o PTB e o PPS, mas a entrada do grupo do ex-governador Antônio Britto no PPS causou sérios problemas para a consolidação de uma frente trabalhista. Isso afastou o PDT também do apoio ao presidenciável Ciro Gomes. A saída de Britto do PMDB abriu um canal de diálogo com aquele partido. A possibilidade da candidatura de Itamar Franco à presidência da República, tratada anteriormente por Brizola, consolida a aproximação no Estado. A coligação no Rio Grande do Sul dependerá do quadro nacional.
JC - O fato de o PMDB ainda estar participando do governo federal não traz conseqüências negativas para o PDT, em caso de uma aproximação?
Fortunati
- Qualquer aliança tem vantagens e desvantagens. O PPS se consolidou como um partido moderno na reflexão sobre o marxismo e o socialismo, e essa é uma grande vantagem. A desvantagem é o ingresso do Britto que, durante muito tempo, remou contra as idéias trabalhistas, especialmente no que diz respeito à venda do patrimônio público. Já o PMDB tem uma imagem forte e consolidada no Estado, com centenas de prefeitos e vereadores e uma força popular muito grande. Em compensação, participa da sustentação do governo Fernando Henrique, o que contraria completamente a filosofia do PDT. Ou seja, nem uma aliança nem outra estariam imunes de pontos fracos, que fragilizariam o processo do ano que vem.
JC - Como analisa a possibilidade de apoio do PDT à candidatura do governador Itamar Franco à presidência?
Fortunati
- Não acredito que o PDT se envolva com a candidatura de Itamar sem que outros pressupostos sejam avaliados. O primeiro deles é a saída do partido do governo federal, assumindo uma postura mais independente e autônoma. Além disso, o PMDB precisa apresentar um programa de governo nacional. Também precisamos fazer uma discussão séria sobre os destinos do Estado, porque o PDT fez oposição séria ao governo do PMDB. O partido já se coligou com o PDS uma vez e a população não aceitou. Matematicamente, a soma dos votos dos dois partidos venceria a eleição, mas os gaúchos não aceitaram devido ao confronto de idéias e aos programas diferenciados. O PDT tem grandes possibilidades de construir um leque de alianças para 2002, chegando à vitória, mas o eleitor cobrará coerência nas idéias e no programa do ano que vem.
JC - O programa de governo já está sendo elaborado?
Fortunati
- Não. Neste momento, a preocupação é organizar uma agenda no interior no Estado, cuja movimentação deve se intensificar em novembro. Formaremos grupos de trabalho para discutir os vários temas que dizem respeito ao Rio Grande do Sul. Depois, apresentaremos um pré-programa que será discutido com a sociedade. O PDT é um dos poucos partidos capazes de ter uma ampla interlocução com os movimentos sociais, e faremos isso. O futuro governador do Estado não deve dialogar somente com quem o elegeu. Precisamos acabar com a bipolarização de 1994 e 1998. Se não tomarmos iniciativas concretas de coesão, o Estado passará por dificuldades ainda maiores do que as que vem enfrentando. Hoje, o Executivo gaúcho não dialoga com o governo federal e isso é um equívoco.
JC - Pelo conhecimento que tem do PT, seu prognóstico é de que a escolha do candidato ao governo seja por consenso ou através de prévia?
Fortunati
- A grande piada do momento é a apresentação da proposta de consenso no PT. Existem dois candidatos em franca campanha. Tanto Tarso quanto Olívio estão viajando pelo interior para apresentar suas propostas.
JC - O PT será o principal adversário da oposição em 2002?
Fortunati
- Ninguém pode menosprezar a força de um governo. Qualquer partido que esteja no Executivo tem armas que seus adversários não têm, como a chave do cofre e a caneta, então, pode tomar iniciativas concretas que os demais candidatos não podem. Há um desgaste, mas o poder de cooptação é fantástico. O principal adversário da oposição é o PT que, com toda a certeza, estará no segundo turno das eleições do ano que vem.
JC - O PT está cumprindo as promessas de campanha?
Fortunati
- Não. São coisas distintas. Olívio apresentou um bom programa de governo mas, com o passar do tempo, foi se esquecendo de suas promessas de campanha. Muitas vezes exagerou no discurso, como no salário dos professores ou no assentamento de dez mil famílias, mas percebeu que não basta vontade política. O PT passou a ser um governo com uma soberba muito grande e com uma certa prepotência no trato com as questões públicas e com a própria sociedade.
JC - O caso do Clube da Cidadania abala a credibilidade do PT?
Fortunati
- Há um discurso e uma prática diferenciadas no PT, que alimentou uma CPI contra o governo Collares em cima de discursos e opiniões muito fortes e verdades absolutas. Quando assumiram o governo, as mesmas pessoas mudaram radicalmente o discurso e tentaram mostrar à sociedade que quaisquer iniciativas que questionem o governo são mentirosas, injustas e feitas de má-fé. Também há o nepotismo. O PT sempre fez discursos contrários fortes mas, depois que assumiu o governo, a sogra, a esposa ou a irmã dos petistas são diferentes dos parentes dos outros. O PT está se fragilizando muito com isso. No caso do Clube da Cidadania, podemos estar diante de uma ilegalidade, por isso a CPI deve continuar investigando.
Relator pode recomendar impeachment de Olívio Dutra
O relator da CPI da Segurança Pública, deputado Vieira da Cunha (PDT) afirmou ontem que o relatório final, a ser entregue no dia 14 de novembro, poderá apontar para um pedido de impeachment do governador Olívio Dutra. Vieira, no entanto, teve o cuidado de afirmar que ainda existem novos depoimentos importantes a serem ouvidos pela comissão e que uma medida dessa natureza só será tomada após a comprovação de todas as denúncias apontadas pela gravação de um CD contendo diálogo entre o ex-chefe de Polícia Luiz Fernando Tubino e Diógenes de Oliveira, presidente do Clube de Seguros e Cidadania.
"Dependendo do resultado final das investigações o relatório poderá apontar ou não para um pedido de impeachment", declarou Vieira. Para o parlamentar será difícil para o governador dissociar-se das suas ligações de amizade com Diógenes de Oliveira, que foi seu secretário de transportes na prefeitura e destacou que "o PT e o Clube de Seguros são irmãos siameses".
O governador Olívio Dutra, que embarcou ontem para Dacar, Senegal, onde participa de um encontro do Comitê Internacional do Fórum Mundial Social, voltou a negar o envolvimento do governo com a corrupção, prometendo continuar a agir com rigor, juntamente com o Ministério Público contra a banda podre da polícia. "O secretário Bisol está mandatário para apresentar todos os documento para a CPI".
O governador disse que não vê nenhum motivo para um pedido de afastamento do cargo, "a não ser de vindita política, sem sustentação, desta propositura". Olívio reafirmou que não autorizou a conversa com o delegado Luiz Fernando Tubino, seu ex-chefe de polícia, e que a atitude de Diógenes de Oliveira é "totalmente reprovável". Ele defende também que o partido deve tomar as medidas cabíveis contra o seu filiado.
O líder do governo, Ivar Pavan (PT), disse ter ficado inicialmente abalado com o conteúdo do diálogo entre
Diógenes e Tubino. O deputado petista salientou, entretanto, que a partir da entrevista coletiva do presidente
do Clube de Seguros da Cidadania, em que ele assume total responsabilidade pela iniciativa e afirma que nenhum integrante do governo sabia do encontro, afasta qualquer envolvimento do PT e do governador Olívio Dutra. Pavan, no entanto reconhece que a imagem do partido fica abalada frente ao impacto da guerra de versões apresentadas na CPI. Amanhã, a executiva estadual do PT se reúne para avaliar as denúncias feitas por Diógenes de Oliveira.
Comissão retoma os trabalhos
Hoje, a CPI da Segurança retoma os trabalhos em meio a forte repercussão da gravação da conversa em que o presidente do Clube de Seguros da Cidadania Diógenes de Oliveira, ex-secretário dos transportes dos governos de Olívio Dutra e Tarso Genro na prefeitura da capital, pede ao ex-chefe de polícia Luiz Fernando Tubino que "alivie a pressão" sobre os banqueiros do jogo do bicho
Tanto Tubino como Diógenes já assumiram que são suas as vozes da gravação, mas o presidente do Clube de Seguros da Cidadania nega a participação do governador no caso. "Dei um carteiraço por minha conta, sem a autorização de Olívio. Foi uma bravata para testar o chefe de polícia", destacou Diógenes.
Apesar da gravidade do conteúdo da fita apresentada pelo delegado Wilson Müller Rodrigues, o cronograma de depoimentos foi mantido pela CPI. Pela manhã, falarão sobre o aumento dos índices de violência e os investimentos no setor, o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Gérson Nunes Pereira e o chefe da Polícia Civil, delegado José Antônio Araújo. A tarde é a vez do secretário substituto da Justiça e Segurança, Lauro Magnago.
As denúncias vinculadas ao jogo do bicho, voltam a ser analisadas somente no dia 1º, com o depoimento de quatro doadores do Clube da Cidadania. No dia 5 será a vez dos deputados ouvirem o presidente e o diretor do Clube de Seguros da Cidadania, Diógenes de Oliveira e Daniel Verçosa. Diógenes promete fazer revelações sobre lavagem de dinheiro no Estado. No dia 9 vão depor os secretários da Fazenda, Arno Augustin, e da Segurança José Paulo Bisol, que deverá apre sentar um dossiê com os processos sobre a chamada "banda podre
Autônomos podem pagar mais Imposto de Renda
Governo e parlamentares estudam a possibilidade de aumentar a tributação, pelo Imposto de Renda, sobre trabalhadores autônomos de profissões regulamentadas. Dessa forma, ficaria garantido um crescimento nas receitas do governo - o que abriria espaço para aliviar a carga tributária dos assalariados da classe média, com uma correção maior da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF).
Os técnicos da Comissão de Orçamento constataram que um advogado, por exemplo, paga mais IR se se sujeitar às regras aplicadas às pessoas físicas do que se recolher o IR como uma pessoa jurídica (empresa). No primeiro caso, ele pagará até 27 5% sobre seus rendimentos. No segundo caso, seu rendimento será tributado em apenas 4,8%. Os técnicos avaliam que essa situação é muito díspar, de modo que poderia haver alguma medida para aproximar os resultados das duas formas de taxação.
A idéia encaixa-se nos princípios acordados entre parlamentares e governo, numa reunião realizada na quarta-feira passada, para discutir a correção da tabela do IRPF. Segundo informou o líder do governo na Câmara, deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), ficou acertado que, em primeiro lugar, a mudança na tabela não deverá trazer perda de arrecadação.
Em segundo lugar, será promovida maior justiça tributária. "Justiça tributária é reduzir a taxação nas faixas intermediárias de renda e aumentar mais nas faixas mais altas", informou.
Ele explicou, porém, que ainda não é possível saber que faixa salarial seria considerada um rendimento alto. "Depende das simulações que a Receita está fazendo", disse. Por isso, informou, ainda não é possível saber quem ganha e quem perde com a correção da tabela do IRPF.
A taxação sobre autônomos será discutida hoje numa reunião de técnicos da comissão de Orçamento com assessores do secretário da Receita Federal, Everardo Maciel.
Conclusões irão a debate no Fórum Mundial
O primeiro Fórum Mundial da Educação (FME) terminou sábado com a divulgação Carta de Porto Alegre pela Educação Pública para Todos, que contém diversas propostas idealizadas durante os quatro dias de discussão. A Carta continuará recebendo idéias e contribuições até janeiro de 2002, quando será realizado o segundo Fórum Social Mundial, também na Capital, onde o documento será apresentado. Segundo a Prefeitura, já está sendo projetado o FME do ano que vem. "Depois disso, o evento deverá ser bianual", diz o secretário municipal de Educação, Eliezer Pacheco. O local de realização do próximo Fórum ainda não está definido, mas já cria a expectativa de acolher 20 mil participantes.
Foram 10 mil participantes de 60 países diferentes, 80 palestrantes e 1.200 delegados, que puderam votar o conteúdo da Carta. Entre as principais prioridades citadas na Carta, está uma educação pública de qualidade, longe da mercantilização. Além disso, o Fórum concluiu que há necessidade de "uma ampla solidariedade entre movimentos sociais (como o MST), alternativas populares e para a mudança nas propostas econômicas mundiais e luta por mudanças no mercado de trabalho"
O prefeito Tarso Genro elogiou a organização do Fórum. "Porto Alegre está se tornando um ponto de referência mundial em eventos políticos deste nível", destacou. No sábado, aconteceram várias manifestações de apoio vindo da platéia, que aplaudiu a despedida dos palestrantes. Também ocorreram shows culturais, principalmente que exaltavam a cultura da América Latina, enquanto a carta estava sendo redigida. Todo o documento pode ser acessado na página oficial do Fórum na internet: www.forummundialdeeducacao.com.br.
A campanha do Mosaico de Livros arrecadou cerca de 5 mil obras doadas, que construiram a palavra paz pintada no chão do gigantinho. Elas irão compor a biblioteca universal. A VI Marcha dos Sem aproveitou o êxito do Fórum Mundial da Educação para mobilizar cerca de 40 mil pessoas na passeata, na última sexta-feira.
Seminário debate acidentes químicos
O I Seminário sobre Acidentes Químicos - Atuação da Mídia se realiza amanhã, em Porto Alegre, com o propósito de discutir os problemas decorrentes de acidentes com cargas tóxicas. Dados mundiais indicam que o Brasil é o segundo país do mundo em número de vítimas de acidentes com produtos químicos. A abertura deverá contar com o ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho.
O debate, no Ritter Hotel, é destinado a profissionais e estudantes de comunicação social e promovido pela Associação Riograndense de Imprensa (ARI) e Ulbra, com a coordenação da Politizar. O seminário vai propor - no horário das 8h30 às 17 - um debate com dados técnicos e sobre legislação, contando com a mediação de jornalistas.
Multidão ignora o calor e vai à Feira do Livro
Perseguindo o verso perfeito para o que lhe vai na alma? Lá estava ele, Luiz de Miranda, um poeta na multidão que a Feira do Livro está atraindo à Praça da Alfândega. Aliás, mesmo que isso não tenha sido explicitado pelos organizadores, o destaque da 47ª Feira do Livro de Porto Alegre é mesmo a poesia. A começar pelo monumento que homenageia Carlos Drummond de Andrade e Mario Quintana. Portanto, a partir de agora a praça é do livro e dos poetas. No primeiro final de semana, a Feira foi visitada por 270 mil pessoas.
Zélia Gattai compartilha a saudade
Foi quando o companheiro de mais de meio século adoeceu que ela decidiu passar para o papel o que é a linguagem muito próppria dos Amado. Assim nasceu Códigos de Família, o livro que a escritora Zélia Gattai, viúva de Jorge Amado, lançou e autografou sábado à tarde em Porto Alegre, na 47ª Feira do Livro. O livro resume, carinhosamente, cinqüenta e seis anos de vida em comum, com muitas lutas, conversas, viagens e também muito romance.
Jorge Amado e Zélia se conheceram em 1945. Agora, ela é "candidatíssima" à cadeira que ele ocupava na Academia Brasileira de Letras. Enquanto aguarda a eleição, que será realizada em dezembro, cuida da saudade e responde com sorrisos e acenos à curiosidade de multidões como a da Feira do Livro, na Praça da Alfândega.
Zélia nasceu com o talento dos contadores de histórias e já fez isto até em francês, na Ilha de Reunião, perdida no Oceano Índico. Ela até pensa numa explicação para isso: "Eu venho de uma época em que não havia televisão, não havia rádio, o cinema era mudo. Quando eu era menina, o divertimento das crianças era ouvir histórias", conta a escritora.
A irmã caçula entre cinco mulheres tomou gosto pela coisa. "Minha mãe era uma pessoa que estudou pouquíssimo, mas adorava a leitura. Depois, para não ter que ficar segurando vela durante o namoro das minhas irmãs, os namorados delas me davam uma revista", revela. Daí para virar uma contadora de histórias, não demorou muito. Mesmo assim, Zélia só publicou o primeiro livro aos 63 anos: Anarquistas graças a Deus
narra a saga da família Gattai e se tornou um sucesso de crítica e público. Depois, vieram mais onze livros.
Resgatando as lembranças e a paixão
No período que antecedeu o dia 6 de agosto de 2001, quando Jorge Amado morreu, Zélia encontrou nos códigos da família uma forma de sair da depressão. "Jorge teve degeneração da retina e isto o impedia de ler e de escrever, o que era essencial para ele. A nossa vida era muito alegre, com muitos amigos, a casa sempre cheia. Com a doença, ele se calou, acho que foi uma forma de revolta, de protesto", conta Zélia, que fez de tudo para curá-lo, sem resultado. Mesmo assim o escritor continuou se comunicando com ela até o fim de sua vida, mas através de gestos. "Ele puxava a minha mão e a acariciava para eu sentir a presença dele".
Em Códigos de Família
Que está sendo lançado na Feira do Livro pela Editora Record, estão expressões inventadas pelos Amado e por amigos que freqüentavam a casa do Rio Vermelho, em Salvador. Lendo o livro, descobre-se o que, para os Amado, significavam expressões como: Eu, Paulo?, Zezé Leoni, Quem acha encaixa, Tarde piaste e gelato sono io.
Este é o primeiro livro e a primeira viagem desde o último triste agosto de Zélia. E voltar a Porto Alegre é, para ela, relembrar alegrias e calores. Foi na capital gaúcha que passou a lua-de-mel com Jorge Amado. Com os olhos úmidos de saudade, lembra momentos inesquecíveis. E conta um deles:
Hospedados na residência de Henrique Scliar, pai do escritor Moacyr Scliar, tinham que subir uma escada muito grande, pois a casa ficava em cima de uma fábrica de colchões. Num dia de muito calor, Jorge disse que estava cansado demais para subir a escada. Zélia então pegou-o no colo e o levou, despertando a ira de Dona Maria, a empregada da família Scliar, que xingou o escritor.
A força de Zélia e um amor sem fim pelo marido mantiveram acesa a chama da paixão em que os códigos ocupavam um espaço importante. A saudade que ficou, ela quer compartilhá-la com seus leitores. Códigos de Família
é isso: a feliz cumplicidade dos Amado ao alcance das mãos, dos olhos e do coração de quem abrir o livro.
Empresas de Caxias avaliam construção de hidrelétrica
A produção de energia em usinas com capacidade para 30 MW na bacia do Taquari-Antas é um investimento altamente rentável. A opinião é do diretor da Energética Assessoria em Administração de Energia, João Paulo Duarte de Oliveira. A empresa está coordenando os estudos para a implantação das usinas. Oliveira, no entanto, aponta o pedágio elevado cobrado pela Rio Grande Energia (RGE) como um entrave aos planos de três empresas caxienses – Eberle, Marcopolo e Siderúrgica Tomé –, interessadas em investir no projeto de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), buscando o auto-abastecimento de energia elétrica.
“O retorno é de 20% ao ano, o que significa que em cinco anos os empreendedores estarão contabilizando superávit. A variável a ser considerada aí é o comportamento tarifário. Como as tarifas sendo reajustadas acima da inflação como vem ocorrendo, o tempo de retorno pode ser menor”, explica o diretor. A Eberle, com um consumo de 12 MW, a Marcopolo, que precisa de 7 MW, mais a Siderúrgica Tomé, com seus 6 MW de consumo seriam parceiras na construção de uma usina com capacidade de 30 MW. Os 5 MW restantes seriam vendidos. Os contatos com os detentores de aproveitamentos – empresas de energia responsáveis por projetos em andamento junto a Associação Nacional de Energia Elétrica (Aneel) – já vêm sendo feitos. De acordo com Oliveira, o valor orçado como referência é de aproximadamente US$ 1.600,00 por KW instalado.
O projeto das PCHs considera a construção de uma usina e a sua geração de potência. Como a distribuição é feita exclusivamente pelas redes das concessionárias, a produção é entregue à concessionária, e as empresas ganham o direito de apropriar energia em qualquer lugar do Brasil, mediante o pagamento de um pedágio para utilizar as redes das concessionárias.
A esperança de Oliveira e dos empresários da serra atendidos pela RGE, que tem pedágio 30% superior ao que cobra a AES, reside na promessa da Aneel de equalizar estes custos, hoje sem qualquer regulamentação. “Esse processo está em andamento e, se for adotado, transforma o projeto numa grande alternativa de negócio”, garante o coordenador dos estudos. Nem mesmo o debate sobre os aspectos ambientais preocupa deve preocupar os investidores. A bacia Taquari-Antas, entre Tainhas e Guaporé, corre predominante em caixas naturais. Paredões de rocha maciça e peraus inaproveitáveis para a agricultura que facilitam a construção de barragens. Oliveira chama a atenção também para a alternativa turística que surgirá com os lagos e toda uma cultura náutica e aquática.
Artigos
O terrorismo globalizado
Eduardo K. M. Carrion
O episódio de 11 de setembro último, considerado por alguns como um marco da história presente, e seus desdobramentos têm suscitado distintas e diferentes análises. Os aspectos a serem examinados são múltiplos, em decorrência mesmo da complexidade do fenômeno. Gostaria aqui de destacar apenas alguns elementos dessa complexidade.
Política e Terrorismo
A política, embora nem sempre prescinda da violência econômica, social, cultural ou mesmo simbólica, deve ser a superação da violência física. A institucionalização da política, em especial da política democrática, através de regras e instituições social e coletivamente aceitas e legitimadas, propõe-se a superar o mítico estado de natureza da guerra de todos contra todos. Ainda que em situações de excepcionalidade, como a guerra, que, conforme caracterização clássica, é a continuação da política por outros meios, retrocedamos ao estado de natureza, a situação de normalidade da política é a de resolução dos conflitos através, exatamente, de regras e instituições. O terrorismo, por sua vez, caracteriza-se pela exacerbação da violência física e, assim, pela negação da política. Suscitar o terror é negar as regras e as instituições que instauram a política. Não há como legitimar o terror que, aliás, costuma manifestar-se contra a população civil. Coisa distinta são os atos de guerra em face da invasão estrangeira ou da dominação colonial, por exemplo, direcionados contra alvos militares ou o aparelho militar opressor e não contra a população civil.
O terrorismo, em que pese suas aparentes justificativas ideológicas, cada vez mais confina com a criminalidade. Têm sido realçadas suas insuspeitas relações com o narcotráfico e com as mafias. A "globalização" do terrorismo, o novo terrorismo, a exigir uma resposta também global, instabiliza as relações internacionais, militarizando cada vez mais a vida política internacional. Alguns referem-se mesmo a um novo tipo de guerra instaurada pelo novo terrorismo, uma guerra agora "fluída". Demais, o terrorismo globalizado pode deixar a sociedade civil mundial sob constante ameaça, sob estado de sítio permanente, sobretudo em face da apreensão dos terrorismos químico, biológico ou nuclear, sempre possíveis. Aceitar o terrorismo como instrumento da política é não só voltar ao estado de natureza, retirando ainda qualquer previsibilidade ao processo político, como também regredir em termos de processo civilizatório. No contraponto barbárie x civilização, seguramente o terrorismo alimenta a barbárie.
Terrorismo e Religião
O novo terrorismo revela um importante um componente religioso. Aliás, a religião tem sido historicamente utilizada como instrumento para as mais diversas reivindicações, demandas e pretensões no plano social. Essa realidade tem-se acentuado nas últimas décadas em decorrência da chamada crise das ideologias e dos projetos globais de transformação social. Muitas vezes, em face da ortodoxia dominante, a contestação manifesta-se através das heresias ou correntes não ortodoxas. Ao referir-se um componente religioso do novo terrorismo, trata-se, na verdade, do fenômeno do fundamentalismo religioso. Embora o cristianismo e outras religiões não estejam totalmente livres de uma reincidência no fenômeno do fundamentalismo, o Islã tem sido hoje um terreno ideológico privilegiado e fértil para tanto, na medida em que se propõe a instaurar por ele mesmo regras e instituições justas. O mundo muçulmano é, em grande parte, um mundo teocrático, onde não chegou ainda a haver uma efetiva secularização da vida política, social e cultural. Desde pelo menos o início do século passado, houve reiteradas tentativas no mundo muçulmano de laicização do poder, em suma, de modernizaç
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