José Maranhão não se convence com explicações de procurador sobre críticas a membros da CMO
O presidente da Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO), senador José Maranhão (PMDB-PB), considerou insatisfatórios os esclarecimentos do procurador-geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), Lucas Rocha Furtado, sobre declarações que fez à imprensa em que põe em dúvida a lisura do trabalho dos integrantes do colegiado nas modificações ao orçamento federal.
O senador anunciou que, em vista disso, encaminhará o ofício apresentado pelo procurador, junto com a matéria publicada em O Globo, na segunda-feira (10), aos presidentes do Senado e da Câmara, para o que definiu como "as providências cabíveis". Não quis antecipar quais as alternativas que considera indicadas para responder ao que considerou "fatos de extrema gravidade".
Na reportagem, o procurador afirmou que se houvesse uma real vontade de melhorar o combate à corrupção, seria preciso mudar todo o sistema de elaboração e execução orçamentária, segundo ele um processo sem critérios conhecidos. E completou: "A impressão é que tudo é feito para permitir que membros da Comissão Mista do Orçamento possam cobrar doações de campanha, o que, em linguagem penal, é cobrar propina de empresário".
O ofício com os esclarecimentos foi lido por Maranhão em reunião da CMO nesta quarta-feira (12). No texto, o procurador lamentou o desagrado que suas declarações provocaram. Disse que não teve a intenção de "ofender a honra ou atacar a conduta" de qualquer parlamentar. O objetivo teria sido exclusivamente, como afirmou, criticar o sistema orçamentário brasileiro, mas com o propósito de aperfeiçoá-lo. Observou que, nas críticas, não mencionou "qualquer parlamentar".
Agravante
Para Maranhão, o fato de o procurador ter feito critica genérica, sem mencionar nomes, constitui uma "agravante". Da forma como foi feita, avaliou, ele atingiu indiscriminadamente todos os parlamentares. Outros parlamentares presentes também criticaram duramente o procurador. Alguns cobraram a presença de Furtado na comissão, outros defenderem que a reparação deve ser buscada na Justiça.
Maranhão confirmou que o procurador já foi convidado a prestar esclarecimentos diretamente à comissão, em data que ainda será marcada. O deputado João Leão (PL-BA), um dos mais revoltados, comunicou que já havia conversado com o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), tendo dele ouvido a confirmação de que já havia acionado a assessoria jurídica da Casa para processar o procurador.
No ofício, Lucas Furtado disse que, na reportagem, teceu críticas gerais ao sistema de elaboração e execução orçamentária. Segundo ele, em razão da "ampla discricionariedade" tanto para a inclusão de rubricas orçamentárias como para a liberação dos recursos, esse sistema propicia "a cobrança de propinas e de compromissos de doação para campanhas políticas". Em reforço, ele transcreveu no ofício trechos de relatório da CMPI das Ambulâncias com conclusões nessa linha.
De acordo com o procurador, o sistema oferece margem para fraudes porque mesmo depois de uma obra ter sido licitada, ainda assim não existe garantia de que, em cada exercício, haverá recursos definidos para a respectiva ação. Além do mais, disse que os recursos somente são liberados se os responsáveis, no Executivo, "julgarem conveniente e oportuna a liberação".
Com base nessa argumentação, o procurador disse que mantinha e reiterava as críticas. Ressalvou mais uma vez, no final da correspondência, que a crítica foi dirigida ao sistema orçamentário, por oferecer "margem a fraudes", mas observou que em nenhum momento chegou a dizer que "qualquer parlamentar tenha cobrado propina ou suborno". Concluindo, manifestou sua crença no Congresso como "único instrumento para a realização da democracia" e se colocou à disposição para novos esclarecimentos.
12/12/2007
Agência Senado
Artigos Relacionados
Veja a íntegra das explicações do procurador-geral sobre investigações do Caso Cachoeira
MEMBROS DA CPI ENTREGARÃO RELATÓRIO AO PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
José Jorge quer explicações de advogado sobre caso Francenildo
Comissão quer explicações de procurador Luiz Francisco
Sarney recebe procurador do Maranhão
José Maranhão pede informações sobre situação fiscal da Paraíba