JÚLIO EDUARDO: SOBERANIA SOBRE A AMAZÔNIA É INCOMPATÍVEL COM DESENVOLVIMENTO TRADICIONAL



Ao comentar matéria de capa do último número da revista Veja, sobre pesquisas que registram o aumento das queimadas na Amazônia e estimam o impacto ambiental das obras previstas no programa do governo federal Avança Brasil, o senador Júlio Eduardo (PV-AC) disse que muitos não dão atenção a essas pesquisas, na ilusão de que o antídoto à cobiça internacional sobre a região estaria num desenvolvimento de tipo tradicional. Na sua opinião, a Amazônia não comporta o modelo de crescimento econômico que pautou o progresso dos países do norte do mundo e do Centro-Sul do Brasil, baseado no uso de combustíveis fósseis e na conversão de áreas de floresta em áreas para pasto ou agricultura.

- É por isso que a experiência do Acre e do Amapá e de algumas prefeituras precisariam se transformar em políticas públicas de amplitude regional. É isso que estamos conseguindo a duras penas com os programas de apoio ao extrativismo e às iniciativas de empresas que passam a adotar os planos de manejo para extração de madeira e outros produtos - defendeu.

Conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) citados na revista e destacados pelo senador, a Amazônia já perdeu cerca de 14% de sua cobertura original e, a cada ano, perde em torno de 20 mil quilômetros quadrados. De acordo com previsão de desmatamento feita pelo Instituto de Pesquisas da Amazônia (Ipam), com as obras previstas no Avança Brasil, haverá um incremento de até um quarto dos 20 mil quilômetros quadrados devastados todos os anos. O programa prevê a construção de oito mil quilômetros de estradas, dez portos, quatro aeroportos novos ou ampliados, dois gasodutos, três usinas hidrelétricas, duas hidrovias, milhares de quilômetros de linhas de transmissão de energia e mais de 1.400 quilômetros da Ferrovia Norte-Sul.

Se ao longo da Belém-Brasília foram derrubados 55% da vegetação numa faixa de 50 quilômetros de cada lado da estrada, na Cuiabá-Santarém, aberta nos anos 70 e cuja pavimentação está prevista no Avança Brasil, "o desmatamento pode espalhar-se por até 200 quilômetros lateralmente ao asfalto", comparou o senador.

É verdade que o ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, já afirmou que os projetos do governo federal previstos para a Amazônia poderão ser revistos, mas Júlio Eduardo considera que essa preocupação de longo prazo do ministro é isolada e não tem respaldo no núcleo de poder do governo.

As projeções de destruição da floresta citadas por Júlio Eduardo foram contestadas em aparte pelo senador Gilberto Mestrinho (PMDB-AM), para quem elas não têm base científica. Na sua opinião, deve estar em curso algum projeto ambiental para a região, daí a matéria da revista. A seu ver, o papel dos representantes da Amazônia é o de mostrar a realidade: não estaria havendo desmatamentos nem incêndios. "A população precisa trabalhar a floresta para sobreviver, pois o país tem desigualdades demais", disse.

21/11/2000

Agência Senado


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