KANDIR ADVERTE QUE CRISE NÃO ACABOU E GARANTE QUE GOVERNO NÃO QUER TAXAS ALTAS DE JUROS



Na sua exposição aos deputados e senadores, durante debate, hoje (dia 22), no Congresso Nacional, o ministro do Planejamento, Antonio Kandir, afirmou que a crise financeira internacional ainda não acabou e poderá ter desdobramentos ainda mais graves. Por isso, declarou, é preciso que se tenha uma estratégia para enfrentar os desafios. O ministro garantiu que não é desejo do governo manter as taxas de juros elevadas por muito tempo, porque isso criaria condições para uma nova aposta contra o real e poderia gerar uma recessão profunda.

- Só tem consistência política a defesa do real se não vier acompanhada de um processo de necessidade de manter a taxa de juros alta pormuito tempo. Por isso é necessário um ajuste fiscal muito grande - disse.

Kandir fez uma exposição didática para tornar claros os motivos pelos quais o Brasil se encontra hoje em uma nova situação e uma crise internacional afeta o país e o quotidiano de cada um. O ministro disse que a crise levou à desvalorização de quantitativos monumentais de ativos financeiros - mais de 2 trilhões de dólares, em todo o mundo -, e que a capacidade de financiamento foi reduzida - isto é, houve uma crise de liquidez internacional, com a falta de dinheiro para emprestar ou a extrema cautela dos que têm condições de fazer empréstimos, o que afeta especialmente os países com déficits maiores.

- Alguns países mais ameaçados pela falta de liquidez passam a ser passíveis de terem suas moedas desvalorizadas de maneira abrupta - disse Antônio Kandir,acrescentando que a sociedade brasileira não quer, em nenhuma hipótese, a volta da inflação. E salientou que o governo está adotando medidas para afastar ataques ao real.

O ministro relacionou, em seguida, as nove características dos países com maior propensão a ter um ataque especulativo: regime de câmbio rígido, moeda extremamente valorizada, sistema financeiro muito desequilibrado, importante desajuste em suas contas externas e também em suas contas públicas, enorme dificuldade na sua capacidade de financiamento, dificuldades políticas para fazer ajustes, ativos extremamente valorizados e sistema econômico onde a captação de poupança externa e interna não seja canalizada para produtos exportáveis ou que concorram com os importados.

Para evitar ataques ao real, segundo Kandir, o Brasil montou sua ação sobre 13 linhas básicas: uso das reservas e instrumentos de natureza cambial, aumento da taxa de juros, ajuste fiscal, defesa de uma ação firme em favor do real, reformas administrativa, previdenciária e fiscal, criação de condições para que o conjunto das medidas não represente uma forte desaceleração da economia, apoio às exportações, crescendo a um nível mínimo de 7% ao ano, fim da concorrência desleal da importação - com a edição breve de decreto estabelecendo códigos de valorização aduaneira -, operações especiais de importação, atuação sobre a conta de serviços, estímulo ao investimento direto estrangeiro, operações que facilitem a colocação de papéis no exterior e redução do prazo para emissão e renovação de papéis emitidos no exterior.

Kandir disse também que o governo está empenhado, em âmbito internacional, numa luta política em favor de um debate em direção a uma regulamentação que desestimule práticas pouco prudentes no mercado financeiro.

O ministro defendeu a necessidade de uma discussão profunda sobre o momento vivido pelo Brasil e pelo mundo e de uma ação conjunta - Executivo, Congresso Nacional e sociedade - para a superação das dificuldades. Ele elogiou a votação, pela Câmara dos Deputados, da reforma administrativa, afirmando que ela melhorará as contas públicas e criará condições para que o Estado sirva melhor ao cidadão, e a votação, pelo Senado, do Fundo de Estabilização Fiscal, que permitirá uma "melhor administração dos recursos públicos".



22/11/1997

Agência Senado


Artigos Relacionados


Reginaldo Duarte condena altas taxas de juros

LEVY DIAS CRITICA AS ALTAS TAXAS DE JUROS

JEFFERSON PÉRES CONDENA ALTAS TAXAS DE JUROS

SARNEY CONDENA AS ALTAS TAXAS DE JUROS APLICADAS NO BRASIL

Antonio Carlos apresenta projeto contra altas taxas de juros

Jereissati condena manutenção de altas taxas de juros pelo Banco Central