Livro Branco: especialistas do país e exterior reafirmam valor da participação civil em assuntos de Defesa
Quinta capital brasileira a sediar o Seminário do Livro Branco de Defesa Nacional, desta vez em edição internacional, o Rio de Janeiro abrigou especialistas de diferentes matizes teóricos, políticos e ideológicos para debater o tema da Defesa nacional com a participação da sociedade civil. O resultado foi a consolidação da ideia de que o esforço em envolver a sociedade é fundamental para os rumos da Defesa no Brasil.
"Reitero minha expectativa de que o livro constitua um marco de discussão sobre a estrutura de Defesa que o Brasil precisa ter para afinar seu ponto de vista pacífico e agregador", afirmou, na abertura do evento, o ministro da Defesa, Nelson Jobim.
Segundo ele, as correntes políticas ainda estavam arredias com o regime militar à época da constituinte, e acabaram por não definir bem o papel das Forças Armadas. O Livro Branco faz parte do esforço de preencher essa lacuna. "A participação das lideranças civis vai assegurar que o Livro Branco deixe de ser uma platitude ou um conjunto de generalidades", afirmou.
De acordo com Jobim, a dinâmica dos interesses corporativos estabelecidos impede que as mudanças possam acontecer. Por isso, o envolvimento de novos atores civis é fundamental. "Os exemplos históricos dão conta de que, sem essa supervisão, as burocracias militares não serão capazes de se reformar, como de resto não são capazes de se reformar as burocracias civis".
Os palestrantes que se seguiram adotaram um tom parecido. Ekkehard Griep, representante do Ministério da Defesa alemão, saudou a iniciativa brasileira de iniciar a elaboração do Livro Branco. Ele afirmou que, na Alemanha, o Livro Branco existe, sobretudo, como instrumento de transparência. "A sociedade alemã usa o Livro Branco para saber como os recursos na área de Defesa são aplicados", disse.
Para o conselheiro de tecnologia da FIESP, Satoshi Yokota, a sociedade brasileira necessita "referendar e nortear sua política de defesa", o que só pode ser feito a partir de um Livro Branco.
Para o presidente da Eletronuclear, almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, o Livro Branco é uma oportunidade de unir civis e militares em torno de questões chave para o desenvolvimento do País. "Existe timidez nos militares e displicência na sociedade brasileira em admitir a necessidade de um esquema de defesa comparável à grandeza do País", asseverou.
No entender do almirante, o Livro Branco, publicação a ser enviada ao Congresso, não pode deixar de enfatizar o uso da energia e tecnologia como eixos de desenvolvimento da indústria de defesa nacional.
As novas perspectivas do Brasil no cenário mundial pautaram a fala do engenheiro Ozires Silva, personagem importante na criação da Embraer, empresa brasileira de aviação que desfruta de enorme prestígio internacional.
Segundo ele, o Brasil não pode confiar apenas na venda de "commodities" para alcançar o nível de potência mundial. "O Brasil deve seguir o caminho da Coreia, que investiu pesadamente em educação nos últimos 40 anos, ao mesmo tempo em que não descuidou da prioridade em inovação, ciência e tecnologia". Esses temas, afirmou, têm de vir à tona na confecção do Livro Branco.
O Seminário do Livro Branco é realizado com a cooperação da Fundação Trompowsky, instituição que atua no desenvolvimento de projetos de ensino, pesquisa e extensão. Durante o evento, o vice-presidente da Embraer, Orlando José Ferreira Neto, entregou uma maquete do KC 390, aeronave a ser desenvolvida nos próximos anos, ao brigadeiro Oswaldo Terra de Faria, que atuou como piloto brasileiro durante a 2ª Guerra Mundial.
Penúltimo entre os seis eventos previstos para este ano, o seminário do Rio deu sequência aos encontros já realizados Campo Grande, Porto Alegre, Manaus e Recife. Eles foram idealizados para acolher sugestões e insumos destinados a compor um documento de política de defesa para o País, a ser disponibilizado de forma transparente para a sociedade já no próximo ano. O último seminário sobre o Livro Branco será realizado em São Paulo, nos dias 30 e 31 de agosto deste ano, focalizando o tema "Transformação da Defesa Nacional".
O Livro Branco deverá ter sua primeira edição apresentada pelo Poder Executivo ao Congresso até meados de 2012. Para cumprir a tarefa, o governo criou, por meio do Decreto nº 7.438/11, o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI). A coordenação do GTI está a cargo do Ministério da Defesa.
Fonte:
Ministério da Defesa
29/07/2011 15:30
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