Livro conta bastidores de lutas políticas e a trajetória de Sarney no Planalto



Será lançado nesta quarta-feira (dia 29), às 19 horas, no Salão Negro do Congresso, o livro Sarney - o outro lado da história, que reúne depoimentos de ministros e colaboradores do então presidente José Sarney sobre fatos ocorridos no período em que o senador pelo PMDB do Amapá ocupou o Palácio do Planalto, de 15 de março de 1985 a 15 de março de 1990. Bastidores de disputas políticas, dificuldades enfrentadas por Sarney com o Congresso, greves, mudanças econômicas e uma delicada negociação com os militares com o objetivo de fazer o país concluir a transição para a democracia são alguns dos temas abordados pelos autores, sob a coordenação do jornalista Oliveira Bastos.

Os depoimentos foram escritos por João Sayad, ex-ministro do Planejamento, Saulo Ramos, ex-ministro da Justiça, Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda, Almir Pazzianotto, ex-ministro do Trabalho, Ronaldo Costa Couto, ex-ministro da Casa Civil, Bayma Denys, ex-ministro da Casa Militar e Luiz Roberto Nascimento e Silva, ex-assessor de Sarney e também ministro do Interior no governo de Itamar Franco. Além desses depoimentos, o livro traz uma entrevista com Sarney, feita pelo historiador Benedito Buzar, e comentários políticos de Vamireh Chacon, professor de Ciência Política da UnB, e Antonio Dantas, também da UnB, além de professor emérito da Universidade de Cornell (EUA).

O livro, segundo Oliveira Bastos, mostra que existe uma "profunda contradição entre a imagem construída pela mídia a respeito do Sarney presidente e o resultado de sua ação política e administrativa naquela ocasião". Para o jornalista, pouca gente se deu conta de que Sarney criou uma nova visão estratégica para o país, acabando com a guerra fria do Prata e deslocando efetivos da fronteira com a Argentina para o Calha Norte, a emergente fronteira do narcotráfico. Foi essa decisão, observou Bastos, que abriu caminho para o Mercosul, e também foi Sarney quem realmente acabou com a tutela do Estado sobre os movimentos sindicais, provando que a polícia e as Forças Armadas nada tinham a ver com greves de reivindicação salarial. Conforme depoimento de Pazzianotto, Sarney enfrentou pacificamente nada menos do que 12 mil greves em seu governo. Foi também responsável pela ampliação das negociações entre empregados e empregadores, a partir da criação de juntas de conciliação e julgamentos por todo o país.

Para Oliveira Bastos, Sarney colocou um ponto final num ciclo de 70 anos em que o revanchismo foi o maior combustível da política brasileira. O livro conta como Sarney repeliu arroubos de revanchismo de setores do PMDB e fez a abertura política com os militares e não contra estes. A implantação do Plano Cruzado, desde a inspiração do modelo, a partir de um programa semelhante feito em Israel, até o desfecho insatisfatório, devido a erros estratégicos e à falta de balizamento histórico, também é contada no livro. Além disso, são feitas comparações entre o que Tancredo Neves faria se tivesse assumido a presidência da Republica e o que de fato ocorreu com Sarney.

Tancredo tinha o objetivo de delegar à Justiça a decisão sobre a legalização dos partidos comunistas que estavam na clandestinidade, o que poderia retardar bastante esse processo. Já Sarney decidiu legalizar todos esses partidos e receber seus líderes no palácio. A Constituinte foi outra divergência entre ambos: Tancredo tinha a intenção de enviar um projeto ao Congresso feito por uma comissão de notáveis, enquanto Sarney convocou a Constituinte em 1986, dando amplos poderes ao Legislativo.

Avaliando todas as dificuldades pelas quais passou, pelo fato de ter assumido o cargo repentinamente, depois da morte de Tancredo, Sarney fala sobre sua experiência no Planalto e faz uma revelação na entrevista: "Tive que assumir a minha fraqueza para ir me tornando cada vez menos fraco". Foi assim que, depois de receber um ministério pronto, foi mudando aos poucos os rumos da política e governando o país.

28/08/2001

Agência Senado


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