Paulo Egydio conta trajetória em livro
Serra ressaltou a importância do livro e o caráter do autor, e se disse feliz por ter recebido um exemplar
José Serra participou na noite desta segunda-feira, 17, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo, do lançamento do livro Paulo Egydio conta, do ex-governador de São Paulo (1975-1979) no regime militar Paulo Egydio Martins. A obra foi publicada pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e pela Fundação Getúlio Vargas. Serra ressaltou a importância do livro e o caráter do autor, e se disse feliz por ter recebido um exemplar.
O livro é o resultado de 45 horas de depoimentos concedidos ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da FGV. O lançamento coincide com a inauguração do portal http://www.pauloegydio.com.br, que documentos como relatórios e discursos do período em que foi ministro e governador, além de fotografias.
O livro
Nascido em 1928, Paulo Egydio Martins foi influenciado pelas idéias positivistas do avô paterno e recebeu formação católica da mãe. Descobriu a política enquanto freqüentava a Escola de Engenharia da Universidade do Brasil, onde ingressou no fim dos anos 1940. Foi presidente da UME e diretor da UNE. Antes de terminar a faculdade começou a trabalhar como estagiário na Byington & Companhia, onde logo deu seus primeiros passos como empresário.
Tomou parte do golpe militar de 1964 como empresário. “Nosso objetivo era evitar o golpe da república sindicalista. Agora, nós não estávamos preparados para o que veio depois. Aí eu tenho que reconhecer que nós, civis, fomos completamente ingênuos. Não tínhamos noção de que havia grupos dentro do exército que já planejavam manter o domínio do país, num regime militar, por mais tempo”.
A clássica divisão que havia no Exército entre a ala moderada e a linha-dura permeia boa parte do depoimento. Alinhado com os militares moderados, como Castello Branco e Ernesto Geisel, Paulo Egydio foi ministro da Indústria e Comércio do primeiro e foi indicado pelo segundo para ser governador de São Paulo. Coerente com seus princípios éticos, participou do regime militar com o propósito de trabalhar pelo restabelecimento da democracia no país.
Uma entrevista apresenta suas realizações nos períodos do ministério e do governo, mostrando também os bastidores das relações com políticos, militares e empresários, além de descrições de personagens e situações que ajudam a compreender cenários políticos e visões de mundo.
Durante seu governo aconteceram, no DOI-Codi, as mortes de Vladimir Herzog e Manuel Fiel Filho, que levaram à exoneração do comandante do II Exército, general Ednardo D’Ávila Melo – um dos expoentes do grupo linha-dura –, com o qual Paulo Egydio nunca tivera boas relações. “E não tinha como me entender com aquele homem. Cheguei a ter ódio pessoal dele, pela irresponsabilidade criminosa a que eu estava assistindo”.
Outro episódio marcante de seu governo foi a invasão da PUC, em 1977, onde se realizava um congresso clandestino da UNE. Considerando a UNE uma ameaça à segurança nacional, posição não compartilhada por Paulo Egídio, o presidente Geisel determinou a proibição de qualquer reunião da entidade. O governador não impediu a realização do congresso e só determinou a invasão da PUC quando os estudantes saíram à rua. “Enfrentei uma determinação do presidente da República para tentar manter a conciliação. Fiz isso durante oito horas, até que os estudantes conseguiram alcançar o que queriam. Quando eles viram que eu não intervinha, foram para a rua, que era um recinto público, me obrigando a intervir”.
Em 1975, antes mesmo de tomar posse como governador, Paulo Egydio deu posse a Luiz Inácio Lula da Silva como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. “[Fiz isso] por duas razões: primeiro, porque, como empresário, eu tinha vivido a época do peleguismo, e era uma vergonha ver como os sindicatos eram subornáveis, fracos, como qualquer greve era comprada. Eu tinha um verdadeiro asco disso e admirei a figura do Lula, que se apresentava como um sindicalista totalmente contrário ao peleguismo getuliano. Houve outro detalhe que me influenciou na época: ele derrotou a corrente do velho PCB, representada pelo Paulo Vidal.”
A maior crítica de Paulo Egydio ao regime militar diz respeito ao totalitarismo e à tortura. Ele completa sua avaliação afirmando que “houve uma visão medíocre na maioria dos governos militares sobre os problemas brasileiros. Não foram fundo, como já era público e notório que se deveria ir, numa série de problemas. [...] O governo Castello Branco, sem dúvida, fez grandes reformas: a criação do Banco Central, do BNH e várias outras. Mas nós sabíamos que era preciso muito mais. Pretendeu-se fazer uma mudança política. O que foi que se fez? Criou-se o bipartidarismo, Aquilo foi uma coisa absolutamente ridícula, que não mudou, não mexeu em nada”.
Serviço
Livro: Paulo Egydio Conta
Autor: Paulo Egydio Martins
Editora: Imprensa Oficial do Estado de SP
Preço: R$ 60
584 páginas
Maria Eugênia Cruz com Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
12/18/2007
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