Lula: ‘‘99% me apóiam’’
Lula: ‘‘99% me apóiam’’
Candidato a presidente da República, líder petista diz que tem apoio total do partido, mas que vitória interna de Dirceu fortalecerá sua campanha em 2002
São Paulo — Lula teve ontem um dia de eleitor. Pré-candidato a presidente da República, ele fez campanha aberta para o deputado federal José Dirceu (SP), que tenta conquistar o quarto mandato como presidente do PT. Ambos integram a mesma ala do partido, a moderada Articulação, mas Luiz Inácio Lula da Silva acha que só chegará ao Planalto numa campanha coordenada por Dirceu. Momentos depois de ter votado no diretório municipal de São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista, ele alfinetou o candidato da esquerda petista Raul Pont, ex-prefeito de Porto Alegre.
Lula apontou que seu nome é consenso entre as tendências petistas no que se refere a 2002. Segundo ele,‘‘99%’’ do partido o quer novamente no palanque, independente de quem seja o presidente partidário. Lula inicialmente tentou minimizar as divergências de sua tendência com a da esquerda petista, em especial a ala Democracia Socialista (DS) de Raul Pont, mas acabou partindo para o ataque. A campanha do gaúcho pela presidência da legenda tem crescido nos últimos dias. No programa da DS destaca-se a defesa do rompimento com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a moratória da dívida externa. ‘‘Lá em Porto Alegre ele não fez moratória quando foi prefeito’’, disse ontem Lula, apontando uma incoerência no discurso de Pont.
No que se refere a 2002, o líder petista frisou a necessidade de unir ‘‘pessoas de bem’’ no país, o que para ele significa mais do que uma aliança entre esquerda e direita. ‘‘Até porque não tem ninguém no Brasil que seja mais esquerda do que o PT’’, disse Lula. Ele também garantiu que Dirceu possui o mesmo perfil ideológico dos petistas. ‘‘O Zé Dirceu não só é um homem de esquerda como também alguém que equilibra o PT’’, disse. ‘‘Ele poderá ser o grande timoneiro da nossa vitória no ano que vem’’, completou.
Para o presidente do partido em exercício, deputado José Genoíno, o PT cresceu sob o comando de Dirceu. ‘‘De 1995 para cá, o PT evoluiu, deixou de ter crise com a bancada e com os prefeitos. Até os resultados eleitorais foram melhores sob a direção de Dirceu’’, afirmou Genoíno.
Os partidários de Lula sabem que precisam manter a direção petista caso queiram continuar ditar os rumos do partido em 2002. Desde 1995, quando Dirceu assumiu o comando da sigla, o PT vem mudando seu discurso.
É o que se convencionou chamar de ‘‘PT light’’, que defende mudanças sociais sem afugentar o capital externo e muito menos o empresariado nacional. A mudança de rota ideológica coincide com as vitórias eleitorais do ano passado, quando o partido conquistou cinco prefeituras de capitais.
A esquerda critica a mudança de tom. Não vê com bons olhos a intenção dos partidários de Lula de abrir o leque de alianças para 2002. Além disso, o ‘‘PT light’’ contratou o marqueteiro Duda Mendonça, conhecido por ter feito campanhas do ex-prefeito paulistano Paulo Maluf (PPB). Lula preferiu desconversar quando foi questionado sobre a moderação que ele e seu grupo político vêm imprimindo ao PT. ‘‘Em tempos de apagão, precisamos de um PT light’’, ironizou.
Para o líder petista, o partido que surgirá da eleição de ontem —— a primeira disputa direta para a escolha da direção de uma agremiação partidária ——, é exatamente o que a sociedade quer. ‘‘A cara do partido que sairá é de um partido maduro, consciente e que sabe que chegou a sua vez’’, disse Lula. Segundo ele, as diferenças internas ‘‘simbolizam a grandeza do PT’’.
Com um olho no comando do partido e outro na eleição de 2002, Lula aproveitou para defender seu programa econômico. Afirmou que a crise causada pelos atentados nos Estados Unidos vai influenciar a economia mundial. Por isso, segundo ele, seria necessário que o governo brasileiro priorizasse o mercado interno. ‘‘O PT é o único capaz de fazer esse novo contrato social’’, afirmou, referindo-se ao incentivo à pequena empresa, à reforma agrária, à geração de empregos e defesa da indústria nacional.
Ainda no que se refere à crise nos Estados Unidos, o presidente de honra do PT defendeu a solidariedade ao povo americano. Mas fez ressalvas. ‘‘Os Estados Unidos angariaram muitos inimigos. Eles tem sido pouco benevolentes com o Terceiro Mundo’’, afirmou. Lula negou que tenha pressa em iniciar a campanha eleitoral para a presidência da República. ‘‘Sou um candidato suficientemente conhecido’’, disse. ‘‘Quem está preocupado é o governo. Pergunte ao povo quem são os ministros desse governo e ninguém sabe’’, atacou.
Apesar da provocação, Lula evitou o discurso do ‘‘já ganhou’’. Segundo ele, o governo tem ainda muita força para a disputa de 2002. ‘‘O governo não está morto. Mas ele sabe que a única força que estará no segundo turno será o PT’’, disse. ‘‘Por isso eu gostaria de saber quem é o candidato do governo, até para que possamos fazer nossa estratégia e nossa tática de campanha.’’
Novo dossiê contra Jader
O corregedor-geral do Senado, senador Romeu Tuma (PFL-SP), encaminha esta semana ao Conselho de Ética um relatório sobre o envolvimento do senador Jader Barbalho (PMDB-PA) com fraudes da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Documentos enviados a Tuma pela Polícia Federal dão indícios da participação de Jader em esquema de cobrança de propina para a liberação de recursos da Sudam, extinta este ano após as denúncias de corrupção. Os papéis podem complicar ainda mais a situação de Jader porque desmontam seu último álibi para evitar o processo que poderá levar à cassação do seu mandato: a versão de que é acusado de irregularidades anteriores ao exercício do mandato parlamentar. A PF sustenta que a Jader e o deputado José Priante (PMDB-PA) teriam cometido ilegalidades quando já exerciam o atual mandato.
Segundo Tuma, o dossiê é uma peça importante porque, pela primeira vez, aparecem documentos que comprovam denúncias feitas anteriormente. A PF investigou Jader e Priante durante seis meses. Primo do senador, Priante é apontado como executor das cobranças de comissão de projetos aprovados pela Sudam. Acuado pelas inúmeras acusações e pressionado pelo PMDB, Jader Barbalho renuncia à presidência do Senado amanhã. Ainda esta semana, o Conselho de Ética votará a abertura de processo contra Jader por quebra de decoro.
IR maior para dar aumento
A Comissão Mista de Orçamento do Congresso começa a buscar nesta semana fontes alternativas de receitas para ampliar gastos e equacionar um problema político da proposta orçamentária de 2002: reajustes para o salário mínimo e servidores públicos acima daqueles propostos pelo governo. ‘‘Aumentos mais generosos para o salário mínimo e o funcionalismo público são pleitos dos partidos da oposição e dos aliados do governo. “Não há como ignorá-los”, afirma o relator-geral do Orçamento de 2002, deputado Sampaio Dória (PSDB-SP). O governo propôs apenas 3,5% de reajuste para os servidores em janeiro.
Com pequena margem de manobra, em razão da meta de ajuste fiscal, Dória defende a criação de duas novas alíquotas do Imposto de Renda de Pessoa Física - de 30% e 35%, acima da faixa máxima em vigor, de 27,5%. Grupos parlamentares fazem pressão, ainda, pelo aumento de recursos para a saúde e para investimentos em transportes e irrigação.
FHC no sertão de Alagoas
O presidente Fernando Henrique Cardoso visita hoje São José da Tapera, município localizado a 240 km de Maceió, no sertão alagoano. FHC vai lançar em Tapera o Bolsa-Alimentação, programa para a redução da desnutrição. Com dados de 95, a ONU (Organização das Nações Unidas) divulgou relatório em 98 que apontava São José da Tapera como o município com o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil — obtido com o cruzamento de indicadores sociais como mortalidade infantil, analfabetismo e renda per capita, entre outros.
O índice de mortalidade infantil, que era de 147 mortes de bebês antes de completar um ano, em 95, passou para 65,94 no ano passado. Mesmo assim, o índice equivale a quase o dobro da média brasileira, que é de 34 mortes antes de completar um ano a cada 1.000 crianças nascidas vivas. Os dados do Brasil são considerados altos se comparados com países como Argentina (12 mortes por 1.000), Japão (6) e Cuba (9). Recordista nacional de mortalidade infantil e analfabetismo, Alagoas receberá R$ 12 milhões para a conclusão do Canal do Sertão — obra parada desde 1995. Tapera receberá mais R$ 1,1 milhão para o abastecimento de água na cidade.
Aquecimento para 2002
Pela primeira vez no Brasil, dirigentes de diretórios nacional, estaduais e municipais de um partido são escolhidos por voto direto. 851 mil militantes foram habilitados para a votação, que usou urnas eletrônicas. Líderes dizem que foi dada a largada para a campanha do ano que vem
São Paulo — O PT realizou ontem a primeira eleição direta para a escolha de um presidente do partido no Brasil. Foram convocados a votar 861.953 militantes, que usaram 3.040 urnas manuais e outras 884 eletrônicas. Em disputa, a renovação de 2.834 diretórios municipais, 27 estaduais, além do diretório nacional.
‘‘É um aquecimento para 2002’’, disse o presidente em exercício da sigla, deputado José Genoíno (SP).
O partido inovou ao introduzir a eleição direta. Entre os seis candidatos da disputa, o atual presidente licenciado do PT, deputado federal José Dirceu (SP), deve conquistar seu quarto mandato. A maior dúvida que havia é se Dirceu conseguirá vencer no primeiro turno ou se haverá uma segunda votação, caso ele não atinja 50% mais um dos votos válidos. Os números finais da votação serão conhecidos somente na próxima quinta-feira.
‘‘O PT está fazendo história. Estou convencido que até o mais ferrenho partido de direita agora terá de mudar e fazer eleições diretas também’’, disse ontem o presidente de honra da agremiação, Luiz Inácio Lula da Silva.
campanha na rua
Para a cúpula do PT, a convocação de seus filiados às urnas é uma forma de incentivar a participação deles na vida partidária. Com isso, a tendência majoritária Articulação espera manter a maioria das cadeiras que possui hoje no diretório nacional do partido. ‘‘Não vai mais ter esse negócio de delegado’’, afirmou ontem Genoíno. Tradicionalmente, a esquerda petista tem obtido cargos estratégicos na burocracia partidária. Os grupos moderados só conseguiram reverter essa situação em 1995, quando Dirceu assumiu o primeiro mandato como presidente do partido. Atualmente, possuem 54% das 81 cadeiras do diretório nacional. Querem aumentar a marca ou, pelo menos, não perder poder.
Disputam com Dirceu o ex-prefeito de Porto Alegre, Raul Pont, da tendência Democracia Socialista, integrante da chamada esquerda do partido. Além dele, concorrem os deputados federais Tilden Santiago (MG) e Ricardo Berzoini (SP), ambos de centro; o esquerdista Júlio Campos, presidente do PT gaúcho, e o economista Markus Sokol, representante da corrente de extrema-esquerda O Trabalho.
Além da eleição direta, os petistas introduziram outra novidade no processo eleitoral. Aproveitaram a ocasião para testar uma de suas propostas de aperfeiçoamento da urna eletrônica. Elas foram cedidas pela Justiça Eleitoral para a votação de ontem. O partido duplicou o programa de uma delas e fez uma votação paralela, com urna convencional.
O resultado das duas votações foi checado ao final da eleição e bateu. A idéia do PT é de que nas eleições do ano que vem a votação seja feita nos dois sistemas, em algumas seções eleitorais escolhidas aleatoriamente. Com isso, seria possível verificar, por amostragem, se ocorreu fraude. Todo o processo foi acompanhado pelo ministro Fernando Neves, do Tribunal Superior Eleitoral
Votação rápida; apuração atrasada
A demora no transporte das urnas eletrônicas e uma falha na comunicação entre computadores do PT em Brasília e São Paulo atrasaram a apuração do resultado da eleição do novo presidente e dos delegados regionais do PT no Distrito Federal. A votação foi concluída às 17h, mas até às 22h de ontem não se sabia quem comandará o partido pelos próximos dois anos.
Com o atraso, os mais de 300 petistas que lotaram o auditório do Clube da Asefe, na 912 Sul, continuavam na expectativa de saber se o sindicalista Wilmar Lacerda, da tendência Articulação, ganharia ainda no primeiro turno ou se haveria uma nova disputa contra Chico Machado, apoiado por correntes mais radicais do partido, ou Chico Pereira, candidato dissidente da Articulação. O segundo turno, se necessário, ocorrerá no dia 7 de outubro.
Apesar da utilização de urnas eletrônicas, supervisionadas por técnicos do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), não houve agilidade na apuração. O primeiro problema foi a demora no transporte de urnas até o auditório da Asefe. Os votos de cidades como o Cruzeiro e Recanto das Emas, por exemplo, demoraram quase duas horas para chegar ao local de apuração.
A principal razão do atraso, porém, foi uma falha na contabilização dos votos das urnas eletrônicas. Por decisão do próprio PT, a totalização ficou a cargo da direção nacional do partido. Cada diretório regional deveria enviar o conteúdo dos disquetes das urnas para a coordenação nacional, em São Paulo, por meio do site do PT. Em seguida, receberiam o resultado de volta.
Mas, no momento em que os dados das urnas eletrônicas do Distrito Federal seriam repassados, houve falha na comunicação.
Para tentar resolver o problema, os coordenadores da eleição em Brasília enviaram as informações por correio eletrônico para a direção nacional do PT. ‘‘Foi uma pena. Adotamos as urnas eletrônicas justamente para tentar acelerar a apuração’’, lamentou o coordenador da eleição do PT no DF, Juscelino Barros.
VOTAÇÃO RÁPIDA
Cinco candidatos disputaram a presidência regional do PT, mas a eleição transcorreu com tranqüilidade na maioria das 12 zonas eleitorais. Das 9h às 17, horário de votação, os ânimos ficaram acirrados apenas em Recanto das Emas e Ceilândia, duas das cidades onde a disputa pela presidência zonal do partido era maior. Segundo os coordenadores da eleição petista, não houve incidentes graves.
No Plano Piloto, houve pequenas filas. Os eleitores que estavam em dia com o partido demoravam pouco mais de cinco minutos para se identificar e votar na urna eletrônica. Houve demora para os petistas em dívida: para ter direito a voto era necessário pagar mensalidades em atraso.
O deputado federal Geraldo Magela, pré-candidato do PT ao governo do Distrito Federal, votou por volta das 16h na zonal do Plano Piloto, localizada no Edifício Eldorado (Conic). Embora sua corrente, o Movimento PT, tenha apoiado Wilmar Lacerda, o parlamentar preferiu não revelar seu voto. ‘‘Quando ganhei as prévias firmei um compromisso de não apoiar ninguém na eleição para presidente’’, justificou. Na disputa pela presidência nacional, ele votou em Tilden Santiago.
Para Magela, a eleição dos dirigentes regionais do PT representa a entrada do partido em ritmo de campanha eleitoral. ‘‘Estamos há mais de um ano em discussões internas, desde que Cristovam (Buarque) desistiu de concorrer ao governo. Agora, vamos para as ruas’’, disse. O candidato do PT ao GDF considera prioritária, a partir de agora, a negociação com outros partidos de esquerda para formar uma aliança para as próximas eleições e a conclusão do programa de governo com o qual o PT pretende voltar ao Palácio do Buriti.
Artigos
No Brasil, os atentados saíram pela culatra
Marcos Sá Corrêa
Nada para vocalizar o antiamericanismo como vozes autenticamente juvenis. Eles ‘‘estavam precisando disso’’, pois se acreditavam ‘‘intocáveis‘‘, diz Bárbara, 12 anos. Mariana, 14 anos, acha que eles ‘‘querem se fazer de inocentes’’ e o presidente Fernando Henrique ainda ‘‘teve a coragem de dizer que a população brasileira está abalada e que estamos mobilizados‘‘. E Júlio, também do alto de seus 14 anos, discursa: ‘‘Como símbolo do capitalismo que sempre foram, os americanos precisam aprender que não são diferentes dos outros povos. Quantos milhares de pessoas no mundo os EUA e seus aliados já dizimaram?’’.
Até parece que, no Brasil, os atentados terroristas nos Estados Unidos saíram pela culatra. As manifestações de simpatia pela chuva de bombas humanas foram colhidas pelo Jornal do Brasil entre os alunos de um dos colégios mais caros do Rio de Janeiro, onde a mensalidade chega a R$ 870. Mas isso não é grave. Na idade dos entrevistados, essas erupções geralmente dão e passam, como acne. Pior é imaginar que aquele fosse um coral ensaiado pelos professores. Ao ouvi-lo, o ministro da Educação Paulo Renato não teve dúvidas: ‘‘Isso é o sinal de que o magistério está cada vez mais ideológico’’.
Pode ser. Mas também é sinal de que o país anda esquisito. Ele deu para levar longe demais a antipatia pelas vítimas, a menos que elas sejam vítimas das injustiças sociais. Senão, o assaltado da esquina e o passageiro do avião atirado contra as torres de Nova York são ambos, em princípio, vagamente suspeitos de autoria da própria desgraça, por conivência com as desigualdades que corrompem o planeta.
Em sua expressão mais elevada, esse ponto-de-vista pode até soar bem. Na mesma edição do Jornal do Brasil, dom Luciano Mendes de Almeida, arcebispo de Mariana e ex-presidente da CNBB, ensinava como reagir à ‘‘atitude irracional de ódio e terrorismo’’ sem violência. Basta meditar produndamente sobre esta premissa:
‘‘Por causa da extrema pobreza e da dominação de alguns países sobre os demais, acontecem desatinos dessa natureza’’. Será? Até agora, as únicas pistas concretas ligando os atentados à má distribuição de renda levam aos trezentos e tantos milhões de dólares que o milionário saudita Osama Bin Laden resolveu investir de sua fortuna pessoal na fabricação do caos.
Poucas linhas acima do texto de dom Lucas, havia na mesma página um artigo assinado pelo ex-capitão Rodrigo Pimentel, que perdeu o emprego vitalício na PM do Rio de Janeiro por condenar a violência. E o que ele dizia sobre o assunto era bem mais convincente: ‘‘Uma ação terrorista em qualquer parte do planeta é desencadeada por motivos políticos, religiosos, ideológicos, raciais, psicológicos, sociológicos ou econômicos. O extremismo religioso ou político irá camuflar motivações pessoais e psicopatológicas, ou sejam, a religião seria somente o refúgio de uma verdadeira psicopatia. Do ponto de vista policial, seqüestradores suicidas não estariam enquadrados no universo de terroristas ideologicamente motivados, mas sim no universo dos mentalmente perturbados’’.
Santas palavras as do ex-capitão Pimentel. Têm a sinceridade e a clareza de quem não se acha obrigado por convicções de qualquer ordem a negar sentimentos espontâneos, fingindo que tem explicações racionais para atos ‘‘de indivíduos com motivações pessoais por nós inalcançáveis’’. O resto parece sermão de Patrícia Abravanel sobre a dívida do Brasil com seus seqüestradores — que, aliás, eram de família remediada.
Aconteça o que acontecer, daqui a um ano e dois meses o Brasil terá que achar um novo presidente da República nos escombros do World Trade Center.
Fará isso num mundo em que as fronteiras da civilização com o terrorismo estarão fechadas, talvez para sempre. Na próxima campanha, se quiser ajudar seus aliado, até o MST precisará ficar o mais longe possível dessa área nebulosa onde a radicalização política se confunde com o terrorismo. Por exemplo, assaltar caminhão para distribuir cestas básicas. Mesmo porque, depois que Janifer, a seqüestradora, também falou em cesta básica, certo tipo de esquerdismo está beirando o ridículo.
Se a esquerda brasileira quiser mesmo disputar para valer as próximas eleições, terá que abjurar as ambigüidades. Esta semana, Lula ficou calado. Fez mau negócio. Deixou seu eleitorado andando sozinho. Pode acabar no ano que vem correndo atrás do antiamericanismo estudantil.
Editorial
Licença para matar
Em meados da década de 70, Gerald Ford, então presidente dos Estados Unidos, proibiu que os agentes da CIA (a agência de inteligência dos EUA) matassem ou torturassem suspeitos de espionagem, terrorismo ou outra ação qualquer que tivesse como alvo o povo norte-americano. Foi um ato sábio. Ninguém, mesmo imbuído das mais dignas razões, pode possuir tanto poder.
Agora, o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, quer reviver aquela era do ‘‘nós estamos certos, sempre, daí por que tudo é válido’’. É um sério equívoco. Os Estados Unidos são um país grande e importante demais para agir — em qualquer lugar do planeta, sonha Powell — como polícia e juiz ao mesmo tempo. Nenhuma nação, aliás, pode dispor dessa carta branca.
Há quem atribua a seqüência de atentados que abalaram Washington e Nova York unicamente à arrogância americana, que historicamente se julgou no direito de determinar até quem governaria a Nicarágua, o Afeganistão ou o Vietnã do Norte. Imagine, então, como o mundo reagirá ao saber que os burocratas agentes da CIA se julgarão no ‘‘direito’’ de investigar e até mesmo eliminar determinado cidadão ainda que ele seja efetivamente culpado. Por sinal, como tirá-lo da mera condição de ‘‘suspeito’’ sem levá-lo a um tribunal, dando-lhe chance de defesa?
Por mais que tenhamos empatia e reconheçamos a dimensão da dor do povo norte-americano, são inaceitáveis gestos retrógrados como esse. Os EUA precisam, antes de tudo, evitar que o prestígio perante os povos seja minado ainda mais. Não cabe aos EUA agirem como Israel e alguns países árabes — que, por uma causa específica (espaço territorial), assumem-se como inimigos mútuos e em nome disso tudo vale. Os EUA podem ser guardiões de um oponente, podem ser favoráveis à causa israelense. Mas não os donos dela. E nem sempre foi essa causa a razão principal dos bestiais atos terroristas.
Nessa hora de angústia e ódio, quando o orgulho massacrado embaça a visão, as ações de George W. Bush, Colin Powell e seu staff não devem apenas parecer legais. Têm que ser necessariamente legais.
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