Lula sobe e chega a 41%
Lula sobe e chega a 41%
O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, subiu dois pontos percentuais em uma semana e chegou a 41% das intenções de voto, segundo pesquisa do Ibope divulgada ontem pelo “Jornal Nacional”, da Rede Globo. Juntos, todos os seus adversários têm 45%. Lula ficou quatro pontos abaixo da soma de todos os outros candidatos, mas excluindo-se os eleitores indecisos e os que dizem que pretendem anular ou votar em branco, chega a 48% dos votos nominais e fica a dois pontos de se eleger no primeiro turno. A margem de erro da pesquisa é de 1,8 ponto percentual para mais ou para menos.
Em segundo lugar, o candidato do PSDB, José Serra, manteve o desempenho da semana anterior: está com 19% e ontem mesmo radicalizou a campanha, com pesados ataques aos petistas. Anthony Garotinho, do PSB, cresceu um ponto e agora está com 13%, tendo passado o candidato da Frente Trabalhista (PPS-PTB-PDT), Ciro Gomes, que caiu três pontos e está com 12%. Os dois estão tecnicamente empatados. Essa foi a quinta pesquisa consecutiva a registrar queda nos índices de Ciro. José Maria, do PSTU, aparece com 1%.
O Ibope entrevistou três mil eleitores em 203 municípios, de 14 a 16 de setembro.
No Nordeste, Lula tira votos de Ciro
O candidato da Frente Trabalhista registrou quedas expressivas em segmentos do eleitorado nos quais Lula cresceu. Na Região Nordeste, Ciro caiu de 21% para 16% e o petista passou de 39% para 43%. Lula ganhou sete pontos nas regiões Norte/Centro-Oeste (de 35% para 42%), enquanto Ciro perdeu quatro (20% para 16%). Nas capitais, a queda do candidato da Frente Trabalhista foi de quatro pontos (16% para 12%); Lula subiu cinco pontos (41% para 46%). Entre os homens, Ciro perdeu cinco pontos (17% para 12%) e Lula ganhou quatro (44% para 48%).
Uma das quedas mais acentuadas de Ciro foi no eleitorado com instrução superior, mas nesse segmento os pontos perdidos pelo candidato da Frente Trabalhista foram pulverizados entre os demais concorrentes e os indecisos. Ciro caiu dez pontos (24% para 14%), enquanto Lula e Garotinho cresceram três pontos, passando respectivamente de 41% para 44% e de 4% para 7%. Serra ganhou um ponto (20% para 21%). O maior crescimento foi entre os indecisos (4% para 8%).
Entre os eleitores com mais de 50 anos, em que o candidato da Frente Trabalhista perdeu quatro pontos (15% para 11%), Garotinho foi o que mais subiu, passando de 10% para 13%. Lula e Serra cresceram dois pontos cada um e ficaram, respectivamente, com 36% e 21%.
Lula ganha dos três adversários nas simulações para o segundo turno, mas sua vantagem sobre Serra caiu de 22 para 17 pontos em relação à semana anterior. Lula venceria hoje o tucano por 53% a 36%. Semana passada, a diferença era de 55% para 33%. Contra Garotinho, Lula venceria por 55% a 33%. O candidato do PT também derrotaria Ciro, mas por uma diferença um pouco maior: 55% a 32%.
Ciro é hoje o candidato mais rejeitado pelo eleitor: 27% dos entrevistados disseram que não votariam nele de jeito nenhum. Lula e Serra surgem em seguida, com índice de rejeição de 26%. Garotinho é o menos rejeitado, com índice de 24%.
A pesquisa revela ainda que a administração do presidente Fernando Henrique Cardoso é desaprovada por 35% dos eleitores, que consideram seu governo ruim ou péssimo; 41% a classificam como regular e 23% como ótima ou boa.
Serra usa Covas para atacar Lula na TV
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, partiu ontem para o tudo ou nada na tentativa de atingir seu adversário petista, Luiz Inácio Lula da Silva, e radicalizou o discurso. Para atacar os petistas, a campanha tucana utilizou no horário eleitoral gratuito imagens de agressões de professores em greve ao governador tucano Mário Covas, que preferia o ex-governador Tasso Jereissati a José Serra como candidato a presidente.
O programa exibiu um vídeo em que o presidente nacional do PT, José Dirceu, convoca, em uma manifestação de professores em 2000, os manifestantes a baterem no governo Covas “nas urnas e nas ruas”.
Em seguida, uma imagem mostra Covas sendo agredido por professores grevistas. Antes da exibição das imagens, um ator diz que “O PT que você tem visto na TV é um PT maquiado, bonzinho e equilibrado para ganhar as eleições. Mas o que você vai ver agora aconteceu há apenas dois anos".
Tucanos criticam trajetória de Lula e cobram experiência
O tempo de TV de Serra no horário eleitoral gratuito foi todo usado para criticar Lula em dois pontos principais: a falta de experiência e o programa de criação de empregos.
A propaganda de Serra comparou a corrida presidencial a um concurso público para a Prefeitura de São Paulo. Mostrou uma mulher dizendo que o edital para um concurso promovido pela prefeitura do PT exige diploma universitário.
— Já para presidente da República, o candidato do PT diz que não precisa de diploma — diz a atriz.
No programa da noite, Serra comparou a sua trajetória com a de Lula, afirmando que o petista é inexperiente, porque insistiu em ser candidato à Presidência da República. No mesmo período, defende o programa, Serra foi deputado federal, senador, ministro do Planejamento e da Saúde. À noite, a tentativa de polarizar a disputa foi ainda mais clara: foram novamente exibidas as imagens de Dirceu. Logo em seguida, um locutor anuncia o início do programa de Serra e a apresentadora Valéria Monteiro ressalta como a primeira diferença entre os dois candidatos o preparo acadêmico. À tarde, a campanha tucana exibiu imagens de uma reunião entre os principais chefes de Estado do mundo, e um locutor avisa:
— O futuro presidente vai ter que sentar com os principais líderes mundiais para defender nossos empregos. Por isso, ele precisa ser experiente.
No fim do programa da noite, um locutor afirma que a intenção da campanha não é desqualificar o candidato petista. Mas volta a criticar a inexperiência de Lula:
— Quando falamos em preparo e experiência, não é para desqualificar o Lula. Se Lula nunca desejou ter experiência administrativa, é problema dele. Mas alguém querer que sua primeira experiência seja logo a Presidência é um problema nosso.
PT faz paródia do "Show do Milhão" para atacar Serra
A troca de chumbo grosso entre Serra e Lula começou de manhã, no programa de propaganda eleitoral gratuita de rádio. Depois de uma fala de Lula, o programa fez uma referência explícita a Serra, com uma paródia do "Show do milhão", comandado pelo apresentador Silvio Santos, no SBT. Um locutor imitando a voz de Silvio Santos fez piada com a proposta de geração de empregos do candidato tucano, que promete criar oito milhões de novos postos de trabalho.
— Vamos começar o programa "Show dos Oito Milhões". Francamente, onde já se viu? Oito milhões de empregos! — disse, imitando a risada característica de Silvio Santos.
O programa continuou, enfatizando o tom de comédia:
—- Então, vamos abrir a "Porta da Lambança"!... Ih, só tem 15 empregos! É muito pouco! Assim não dá...
Em Teresina, logo após o programa de rádio, Lula disse que não vai entrar na guerra de acusações.
— Faltam poucos dias para as eleições e nossos adversários podem estar entrando em um estado delicado da campanha. Alguns, em vez de estarem crescendo, não estão.
Serra no Rio: ‘Lula é a favor da bomba atômica’
Embora tenha dito não estar preocupado com a possibilidade de vitória do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, no primeiro turno, o candidato tucano à Presidência, José Serra, aproveitou uma entrevista depois do encontro com militares no Rio para abrir fogo contra o petista. O tucano afirmou que Lula tem se ocultado atrás do publicitário da campanha, Duda Mendonça, e do procu rador da República Luiz Francisco de Souza, que entrou ontem com uma ação contra Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-tesoureiro de campanha de Serra.
Ele acusou ainda o petista de ser a favor da bomba atômica e disse, numa crítica a Lula, que campanha eleitoral não se faz na base da paz e do amor.
— Temos o propósito de que questões políticas sejam postas. O Lula tem se ocultado muito. Vai no debate, tem o Garotinho. Na TV, tem o Lula light do Duda Mendonça. Agora tem o procurador petista. Está na hora de ele se mostrar tal como ele é para debatermos — disse Serra.
Em entrevista no Hotel Glória, o tucano por três vezes citou o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, assinado pelo Brasil, para dizer que Lula é contra o acordo e, portanto, a favor da bomba atômica.
Na sexta-feira, durante encontro com os militares o petista criticou o acordo, mas disse que não pretende revê-lo.
— Ele é contra o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. Ou seja, a favor de que o Brasil faça a bomba atômica. Sou contra. Acho que para população essas questões são importantes. Quero debatê-las — explicou Serra.
“Tenho o direito de cobrar”
Para ele, sua campanha não pode ser classificada como de ataques ao petista:
— Isso não existe até porque pessoalmente tenho respeito pelo Lula. Do ponto de vista político, temos o direito de cobrar. Se o Lula defende a bomba atômica, é interessante ele mostrar como. Se ele defende dez milhões de empregos, deve mostrar como. Isso não se resolve só com frases.
O tucano justificou ainda o tom da sua campanha.
— As pessoas precisam ter clareza de quem vão eleger. Se é uma nova edição, se é apenas para efeito de mídia. Podem ou não votar em mim, mas estou me apresentando tal como sou — disse.
Outro alvo das críticas de Serra foi a relação do PT com o MST e do movimento com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). O tucano cobrou uma posição de Lula sobre o assunto:
— O MST teve relação com as Farc. Isso está certo? O que o Lula acha? As invasões do MST não acontecerão se ele ganhar? E se outro ganhar, acontecerão? Como se isso fosse um jogo, ilegítimo do ponto de vista da democracia.
Serra evitou responsabilizar o presidente do PT, José Dirceu, diretamente pela agressão sofrida pelo governador Mário Covas durante uma greve de professores em 2000. Ontem, o programa tucano exibiu imagens de um discurso em que Dirceu diz que os governantes tinham que apanhar nas urnas e nas ruas.
— Não vi o programa. Me lembro do fato. Provavelmente, não foi o responsável, mas falou as coisas que disse. Não tenho objeção e nem vou ficar indignado se alguém me puser na TV dizendo alguma coisa que eu disse.
Garotinho investe nos votos dos indecisos
GOIÂNIA. Embalado pelo crescimento nas pesquisas, o candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, lançou-se ontem numa peregrinação em busca de apoio nas regiões Norte e Centro-Oeste. Em Goiânia, ele comemorou o apoio de parte do PMDB de Goiás. Aliados do senador Maguito Villela, candidato ao governo de Goiás, aderiram a Garotinho num evento na Assembléia Legislativa.
O candidato pediu aos aliados que invista nos indecisos para tentar vencer Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, apostando que conseguirá ir para o segundo turno.
— Nós já passamos Ciro e estamos com uma diferença pequena do candidato do governo. Eu desconfio que nem haja mais essa diferença! Vai dar Garotinho e Luley no segundo turno — disse o candidato, ironizando o apoio do ex-presidente José Sarney ao petista.
Maguito não participa de ato na Assembléia
Pensando nos votos do PSB de Goiás no segundo turno da eleição para governador, o deputado peemedebista Euler Morais, evangélico, articulou o apoio dos peemedebistas a Garotinho. O PSB não tem candidato forte ao governo de Goiás: apóia Alba Célia (PGT). O pastor Valdivino Borges desistiu da disputa para apoiar o governador Marconi Perillo (PSDB), candidato à reeleição.
Maguito não participou do ato na Assembléia, mas foi representado pelo coordenador de sua campanha, o deputado estadual Gilberto Naves, e pela sua suplente no Senado, Iris de Araújo, casada com o senador Íris Rezende, que enfrenta dificuldades para manter sua vaga no Senado. Segundo o deputado Euler Morais, Maguito só decidirá sobre a eleição presidencial no segundo turno.
Para uma platéia de evangélicos, Garotinho procurou demonstrar confiança em relação ao segundo turno. Euler Morais pediu votos para Maguito e Garotinho:
— Estou convicto de que o povo goiano vai compreender que, apoiando o atual governador, estarão apoiando o Serra, que é seu adversário.
Iris de Araújo disse que seu apoio a Garotinho é uma escolha pessoal. Ela contou que passou um réveillon no Rio e ficou impressionada com a organização e a segurança do evento.
Garotinho fez uma caminhada pelas ruas do Setor Fama, bairro comercial de Goiânia. Ao subir num carro de som, fez um apelo aos eleitores.
— Multipliquem seus votos. Como o Lula pode ser presidente se não governou nada? Alguém, para chegar a general, tem que passar primeiro pelas outras patentes — disse, acrescentando:
— Ciro não pode governar o Brasil aliado com Collor. O Serra não precisa nem falar. Depois de oito anos, com mais de 11 milhões de desempregados, eles querem agora criar oito milhões. Digam isso às pessoas que estão indecisas.
Ciro vai à Justiça contra críticas de tucano a petista
SÃO PAULO. Com ou sem intenção, os ataques do tucano José Serra ao petista Luiz Inácio Lula da Silva na TV acertaram também o quartel-general de Ciro Gomes, candidato da Frente Trabalhista à Presidência. Ciro acusou Serra de ter levado ao ar os ataques a Lula e ao presidente nacional do PT, José Dirceu, pouco antes do programa da Frente como estratégia para, segundo ele, enganar o eleitorado. O candidato diz acreditar que o objetivo do PSDB foi o de criticar o PT e ao mesmo tempo passar a imagem de que o bombardeio partira de Ciro.
A Frente Trabalhista já acionou um advogado para tentar proibir na Justiça Eleitoral os ataques de Serra a Lula sem assinatura.
Na propaganda de ontem, os tucanos usaram imagens e declarações de José Dirceu e um locutor criticando o fato de Lula tentar chegar à Presidência sem diploma universitário. Uma tarja separava o programa de Serra do de Ciro. As críticas ao PT, segundo o candidato da Frente Trabalhista, não foram assinadas pelo PSDB.
— Ele (Serra) está repetindo com o Lula o que fez comigo. É simplesmente um ato de fascismo, de um ditador. Ele faz ataques ao Lula manipulando imagens do José Dirceu sem assinar, e gruda no meu programa para parecer a um espectador incauto que os ataques estão sendo feitos por nossa campanha — disse Ciro.
Principal publicitário na campanha da Frente Trabalhista, Einhart Jácome da Paz criticou a ofensiva tucana contra Lula. Ele admitiu que, por enquanto, não há interesse em bater de frente com a candidatura de Lula.
— Eles (os tucanos) sabem que têm um telhado de vidro bastante grande. Por isso, atacam sem mostrar a cara.
Eu só não queria ter o lado negativo de estar atacando o Lula — disse Einhart, na porta da produtora onde Ciro Gomes grava programas eleitorais para a TV.
Ao responder sobre a munição que teria contra a candidatura de Serra, Ciro garantiu que a sua campanha “está sob censura”. Contou que sua equipe foi procurada várias vezes por pessoas demitidas do programa de prevenção ao dengue, no Rio, para reclamar do então ministro da Saúde, José Serra:
— Tínhamos depoimentos de pessoas que foram demitidas. Mas, como tem acontecido, uma liminar nos obrigou a tirá-las do ar.
Ciro volta a criticar candidatura de Lula
Sobre as declarações de Lula de que poderia vencer no primeiro turno, Ciro disse:
— Votar em Serra é continuar o que está aí, piorado. E votar em Lula é precipitar o país numa experiência, que pode até ser boa, mas que, ao mesmo tempo, não tem indicação de que também não possa ser uma aventura.
Incerteza eleitoral faz risco-Brasil subir 4,37%
A confiança dos investidores financeiros no Brasil — medida pelo chamado risco-país — ficou mais uma vez abalada, ontem com as especulações em torno da nova pesquisa eleitoral do Ibope, que seria divulgada à noite. O indicador, calculado pelo JP Morgan Chase, fechou o dia com alta de 4,37%, em 1.862 pontos centesimais — que significam que o governo brasileiro tem que pagar, pelos títulos da dívida externa, 18,62 pontos percentuais mais do que os juros pagos pelo Tesouro americano por seus papéis.
O título da dívida externa brasileira mais negociado no exterior, o C-Bond, teve desvalorização de 3,08%, terminando o dia cotado a 56,91% do seu valor de face. Este é o segundo indicador internacional da confiança dos investidores externos.
Na prática, os estrangeiros estão fugindo cada vez mais dos investimentos em países emergentes, buscando proteção dos papéis mais estáveis.
O estresse dos investidores contaminou todos os mercados. O dólar emplacou mais um dia de alta, de 0,87%, fechando a R$ 3,24. Segundo os analistas, como a moeda americana já se valorizou muito — subiu 7,64% somente no mês de setembro — qualquer oscilação de preço para cima, o efeito é maior.
— As empresas brasileiras voltam a ficar em xeque e deverão ter novas dificuldades para rolar ou honrar suas dívidas em dólares — disse um especialista em câmbio.
Retração americana e guerra prejudicam o Brasil
O fato de o risco-Brasil ter subido mais que o dólar justifica-se, segundo analistas, porque as incertezas internas (eleições e possível vitória da oposição) vêm acompanhadas de outros fatores negativos de peso, como a queda de 0,3% na produção industrial americana — quando a expectativa era de uma alta de pelo menos 0,1% — e a insistência do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, em declarar guerra ao Iraque.
As declarações do presidente americano — “é hora de agir contra Saddam” — acirraram os nervos dos investidores.
Ontem, durante uma teleconferência, a agência classificadora de risco Standard & Poor’s (S&P) alertou que os bancos europeus com operação no Brasil podem sofrer os efeitos de um calote na dívida do setor privado brasileiro. No entanto, a agência ressaltou que o impacto da moratória sobre as instituições não seria muito grande.
— A dívida externa das empresas brasileiras é relativamente alta e, nos próximos 12 meses, parte do débito vencerá ou sofrerá amortizações que poderão levar à moratória, a menos que as companhias consigam administrar suas obrigações — afirmou Jesus Martinez, analista da área de Serviços Financeiros da Standard & Poor’s.
De acordo com Martinez, a S&P não considera que a carga fiscal brasileira e a dívida do país sejam insustentáveis.
— No entanto, tanto o cenário externo como o interno restringem o espaço de atuação do governo e, por isso, a perspectiva de classificação do Brasil continua sendo negativa. Mas a agência não vê uma deterioração de cenário.
Sinal amarelo para ABN Amro e Santander
Martinez disse ainda que a turbulência econômica brasileira afeta negativamente os bancos ABN Amro e Santander, pelo volume de suas operações no país.
— Os lucros poderão ser menores e eles poderão ter perda de valor dos seus investimentos por conta da desvalorização da moeda local.
Artigos
Juro não mais jurar
Fernando G. Carneiro
Na campanha atual jura-se muito. E jura-se muito sobre os juros. Têm que cair, vai cair a taxa. Pronto. Aí o país, que anda rateando como uma Vemaguet 66, toma seu prumo e marcha rumo ao crescimento, como o Corcel 73 do Milagre de Médici — que enche os olhos do candidato petista. Panacéia universal.
A atual retórica eleitoral, como sempre rasteira e estéril no que concerne à veracidade de execução de propostas econômicas, está levando todos os candidatos a produzir uma das maiores ludibriações jamais vista numa eleição brasileira recente. Vale lembrar que o país está patinando em gelo fino, como a vizinha Argentina, e, para a situação melhorar a médio e longo prazos, ela vai ter que piorar muito mais ainda nos próximos dois anos, no mínimo.
Para descrever a situação atual, o economista Paulo Rabello de Castro traz à baila o velho chavão: para se fazer omelete, temos que quebrar ovos. Descontando a natural hipérbole caça-votos, onde até o candidato governista maldiz futuras privatizações, chegou-se ao consenso de que o custo do capital no país é exorbitante. Antes, a inflação era a inimiga número um. Agora, são as taxas de juros, ou seja, o custo do dinheiro.
Esta é a unanimidade de constatação, uma unanimidade descritiva. E para debelar tal problema, confundem-se conceitos. Do descritivo passamos ao prescritivo, e a palavra de ordem é forçar a queda da taxa de juros.
Como feirantes, os candidatos gritam aos “fregueses” que a coisa “vai baixar”, “vai cair”. Só que não saímos
da constatação, do descritivo. Forçar a queda dos juros de que forma?
A resposta é única, e foi dada na vitória contra a inflação via Plano Real. Aumentou-se a oferta e houve um equilíbrio na demanda via política monetária, inicialmente, e cambial, posteriormente, onde se priorizaram metas de inflação. Ou seja, a conquista da inflação foi meio caminho andado. Acabaram as emissões e encilhamentos indiscriminados, mas para tornar a moeda atraente os juros foram à Lua. A moeda “valorizou-se” inicialmente, e conseguimos desatrelá-la, por linhas tortas, da política cambial. Ou seja, o real desvaloriza-se hoje em dia, mas sem uma taxa de inflação grotesca pendurada no cangote. Mas os juros estão como carrapato, sugando o sangue do setor produtivo.
A queda da taxa de juros virá somente com a quebradeira dos ovos de ouro. Vamos ter que tocar na vaca sagrada: o gasto nas despesas governamentais em todas as esferas, sob todas as rubricas. O candidato vencedor que corte o que e onde quiser, mas que vai ter que cortar ainda mais, isso vai. FH e Malan vão parecer perdulários fanfarrões perto do que ainda deve ser feito.
No fim do dia, o que entra no caixa via impostos tem que empatar sem gols com o que sai de despesa e custeio. E cortar vai ser preciso. Quanto maior for a necessidade do governo de tomar emprestado, interna ou externamente, maiores serão as taxas de juros, que não são reduzidas por canetada.
Deixando a ideologia de lado e sendo razoáveis, teremos uma transferência de responsabilidades (e custeio das mesmas) do setor público para o privado na política monetária, assim como assistimos ao consenso atual de desonerar a produção através de uma política tributária mais racional — aprovada (na marra) pelo governo e (retoricamente) pelo PT.
Algumas matérias serão inevitáveis para se obter taxas de juros de dígito único: 1. Futuras privatizações criteriosas devem ser incentivadas, até porque existe a contabilidade atual em que investimento de empresa estatal pode ser considerado como gasto ou despesa governamental. 2. Um inevitável e necessário arrocho na
Previdência (o maior dos gastos), transferindo os custos paulatinamente para longe do Planalto Central. 3.
Revisão séria na transferência para estados e municípios, e, de reboque, nos muitos privilégios que imperam no Legislativo e no Judiciário. Aliás, essa última despesa é criada via partenogênese: não se sabe que monstruosidade cria a outra e vice-versa. Em suma, sendo-se servidor civil ou funcionário público, quem quiser ser milionário que vá tentar a sorte no setor privado. A maioria avassaladora de funcionários públicos dignos e honestos agradeceria os aumentos anuais (até os meritórios) que poderiam ser concedidos eventualmente limando a escumalha do payroll . 4) Estabilizadas as taxas de juros em patamares menores e atingindo o país o nível de “grau de investimento“ de acordo com os pontífices financeiros, lançar mão de novo plano mais agressivo de securitização da dívida global interna e externa (uma espécie de novo Plano Brady) com amparo de instituições multilaterais e adesão de bancos privados que tanto lucram com nossa pindaíba, para poder começar a fazer um rollback do principal.
A verdade nua e crua não é bela, mas o eleitor deve ficar atento, pois caso implementados os planos dos principais candidatos, não teremos nenhuma queda na taxa de juros. Lancemos um desafio, pois, aos candidatos para que esclareçam de forma pormenorizada de que forma pretendem reduzir a taxa de juros. Ou melhor, onde é que vão passar o bisturi.
O resto são promessas e juras falsas, não obstante a boa intenção dos aspirantes.
Colunistas
PANORAMA POLÍTICO – Tereza Cruvinel
As feridas de agora e a governabilidade
O candidato tucano Serra partiu definitivamente para a guerra contra Lula, num esforço legítimo para alterar o quadro que já acena com a possibilidade de vitória do petista no primeiro turno. O mal da disputa sangrenta é que ela deixa feridas que vão dificultar as composições para governar.
E já sabemos que, entre os quatro principais candidatos, nenhum teria, como presidente, maioria no Congresso. Serra e Lula terão bancadas de tamanho aproximado, próximas da maioria absoluta mas muito distantes do quórum qualificado para qualquer reforma constitucional. Ciro teria maior número de aliados, porém mais desorganizados. Garotinho, a menor base parlamentar. Por origem e trajetória, PT e PSDB são primos próximos, que se distanciaram no governo Fernando Henrique por causa das alianças que o atual presidente fez em 1994 e ampliou em 1998.
Com Serra presidente, o natural seria ele buscar uma aliança mais à esquerda, não só por afinidade mas também porque jamais terá o apoio de todo o PFL. Lula, da mesma forma, para governar, terá que transformar sua coligação eleitoral numa coalizão parlamentar mais ampla. E o caminho natural, reunificada a atual oposição, leva ao PSDB.
Mas será possível isso se nos próximos 18 dias o tiroteio continuar se intensificando entre Serra e Lula?
Difícil, pois os hematomas serão muito roxos. Serra está seguindo seu plano, tirar Ciro do caminho e depois chamar Lula para o confronto. É o que está fazendo, mas ultrapassando a idéia inicial de discutir propostas, experiência e preparo. Alegam os seus que o PT deu o primeiro passo, através da ação judicial do procurador Luiz Francisco, que apontou para Ricardo Sérgio e Gregório Preciado para dar munição a Ciro. E ele já começou a fazer uso dela. Não sendo réu, Serra poderia dizer apenas um “não é comigo”, mas fez outra escolha, a de denunciar propósitos eleitorais da iniciativa e aumentar o fogo contra Lula.
Nem mesmo os tucanos sabem que efeito produzirá o programa de ontem, relacionando o presidente do PT, José Dirceu, às agressões físicas de grevistas ao governador Mário Covas em 2000. Muito menos com a declaração de ontem, do próprio Serra, de que Lula defende a bomba atômica, na medida em que fez restrições ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares em seu flerte com os militares. Pode dar certo, mas pode ser um equívoco, como aquele de dizer, ainda em julho, que o Brasil poderia virar a Argentina se Lula ganhasse.
Da mesma forma, não têm certeza os petistas sobre o tom em que devem responder. Certo é que “Lulinha paz e amor” não pode enfiar a cabeça na areia como avestruz, agora que o adversário trabalha firme para desmanchar essa imagem. Um apelo ao “voto útil” para ganhar no primeiro turno os petistas receiam, pode sair também pela culatra, o eleitor detesta o já-ganhou.
Certo é que, se o confronto seguir nesta marcha, com qualquer resultado, PT e PSDB estarão em campos opostos.Temas que a campanha de Serra estoca para usar contra o PT: caso Santo André, jogo do bicho em Porto Alegre, concorrência da lata de ervilha em Ribeirão Preto.Os números do Ibope
Lula agora tem 41% contra 44% dos outros três principais candidatos juntos — Serra (19%), Garotinho (13%) e Ciro (12%). Como Zé Maria (PSTU) tem 1%, Lula precisaria crescer cinco pontos para ultrapassar a soma dos concorrentes, o que teoricamente propiciaria a vitória em primeiro turno. Esta é a conta, mas nenhum petista quer fazê-la em voz alta. Na campanha de Serra, o Ibope decepcionou, mas o discurso é otimista. Ele manteve os 19% numa semana em que foi duramente atacado por todos. Sinal de que há espaço para resistir e crescer, seguindo a estratégia de comparar os méritos de cada um. Na retaguarda, Ciro continuou caindo e Lula segue sendo o maior beneficiado com a migração. Garotinho cresceu um ponto, bem menos do que esperava.
Queixa de Serra
José Serra acredita mesmo que o procurador Luiz Francisco age inspirado pelo PT. Do contrário, Lula teria feito, em relação à ação que envolve seu nome, o mesmo comentário que fez quando Roseana Sarney foi investigada. Na época, disse que tudo deveria ser investigado, mas não tendo a campanha eleitoral como pano de fundo ou pretexto.Hesitações
Nem tudo é consenso no PSDB sobre os ataques a Lula e ao PT. Pimenta da Veiga, coordenador da campanha, apóia a linha pesada que começou a ser adotada ontem. Outros, entre eles Jutahy Júnior, acham que contra Lula não se deve adotar as mesmas armas usadas contra Ciro. Não por indulgência, mas porque acham incerto o resultado.O PT descobre os benefícios de colar seus candidatos a governador em Lula, que teria ajudado Tarso Genro a ultrapassar Antônio Britto no Rio Grande do Sul. Se for atender a todos, Lula ficará voando o resto da campanha, de estado em estado. Está estressadíssimo. Serra também. Tem recorrido à acupuntura, terapia alternativa reconhecida quando foi ministro da Saúde.
Editorial
Crime ‘on-line’
Por mais preocupante que seja, não deve causar surpresa o uso amplo e crescente da internet pelos narcotraficantes, como meio de propaganda de suas diversas facções e, sobretudo, de comunicação. Assim como dispõe dos armamentos mais sofisticados, o crime organizado, que está sempre se modernizando, não poderia deixar de recorrer à rede de computadores como forma de se comunicar — inclusive com sua clientela de usuários de drogas.
Home pages
Mas se o uso da internet é uma etapa natural na crescente sofisticação do crime organizado, a polícia não pode ficar atrás, e para isso é fundamental aparelhá-la. Recursos tecnológicos para bloqueio e rastreamento de acessos existem e já são usados: o governo chinês, por exemplo, impede sistematicamente o acesso a determinados sites ; recentemente, bloqueou o uso do instrumento de busca Google, e depois de liberá-lo, sob pressão de protestos internacionais, parece ter implantado agora um sistema que provoca queda da conexão quando a procura é feita com determinadas palavras-chave. Sistemas assim, e outros relativos ao e-mail , podem tornar problemático e até contraproducente o uso da internet pelos criminosos.
Para que esse esforço tenha êxito, no entanto, é importante também a cooperação não só da agência antidrogas americana, a DEA, com sua larga experiência, como de toda organização internacional que possa colaborar.
Assim como a internet é uma rede mundial, o narcotráfico é um probl ema de todo o mundo. Nenhum país pode combatê-lo com sucesso isoladamente.
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09/18/2002
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