Ciro sobe e se aproxima de Lula









Ciro sobe e se aproxima de Lula
Mesmo em meio à crise provocada pelas denúncias que levaram à saída do deputado José Carlos Martinez (PTB-PR) da coordenação de sua campanha e das acusações ao candidato a vice, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, o candidato da Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB) à Presidência, Ciro Gomes, foi o único que subiu na pesquisa do Ibope encomendada pela Rede Globo e divulgada ontem pelo “Jornal Nacional”. Já o tucano José Serra caiu três pontos e está hoje empatado com o candidato do PSB, Anthony Garotinho, em terceiro lugar, ambos bem atrás de Ciro e do petista Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera.

Sozinho, Ciro tem mais votos hoje do que Serra e Garotinho juntos. O candidato da Frente entrou na corrida com o mais baixo percentual de votos: tinha 10% e era o quarto colocado em meados de maio. Desde então, subiu 17 pontos.

Foi a primeira pesquisa feita após o debate entre os candidatos à Presidência realizado domingo passado na Rede Bandeirantes. Lula, que tinha 34% dos votos na consulta anterior, perdeu um ponto e tem hoje 33%. A diferença entre o petista e Ciro, que era de nove pontos, agora é de seis.

As mudanças, no entanto, estão dentro da margem de erro da pesquisa, de 2,2 pontos para mais ou para menos. Ciro, que aparecia com 25% na consulta anterior, subiu dois pontos e tem hoje 27% das intenções de voto. Já Serra, que tinha 14%, perdeu três e está com 11%. Garotinho mantém os mesmos 11% da pesquisa do fim de julho.

Ciro tira mais votos de Serra
Segundo o Ibope, Ciro cresce principalmente tirando votos de Serra. A disputa agora está acirrada entre o candidato da Frente e o do PT. No Nordeste, Ciro cresceu sete pontos (de 26% para 33%) e empatou com Lula, que mantém seus 33%. Já o petista perdeu quatro pontos no eleitorado dos pequenos municípios, enquanto o candidato da Frente Trabalhista ganhou cinco nos grotões. Nas capitais, porém, Lula saiu do empate técnico com Ciro ao crescer quatro pontos (38% para o petista e 29% para Ciro).

Mas o candidato da Frente continua liderando entre os eleitores que têm nível superior — obtém 41% dos votos contra 30% de Lula. Os dois ficam em situação de empate técnico entre as mulheres (28% para Lula e 26% para Ciro) e entre os eleitores de nível médio (34% para Lula e 34% para Ciro).

Candidato vence petista no 2 turno
A pesquisa mostra também que se o segundo turno fosse hoje, Ciro venceria Lula por 46% a 41%. O petista seria eleito presidente da República no caso de disputar o segundo turno com Serra (49% a 36%) ou Garotinho (50% a 32%).

Mesmo após o início oficial das campanhas eleitorais, Serra não apresenta crescimento entre aqueles que avaliam a administração do presidente Fernando Henrique Cardoso como ótima e boa. O candidato tucano está com 19% neste segmento contra 23% na pesquisa anterior, apesar de ter passado a tentar colar mais sua campanha na imagem do governo e de Fernando Henrique. Entre os eleitores do presidente, Ciro obtém 30% e Lula, 26%.

A pesquisa foi feita de segunda-feira a ontem. Foram ouvidos dois mil eleitores em 145 municípios do país. A margem de erro é de 2,2 pontos para mais ou para menos.

O Ibope também perguntou aos eleitores quem será o próximo presidente da República, independentemente de sua intenção de voto. Segundo 36% dos entrevistados, Lula será eleito (três pontos percentuais a mais do que ele tem nas intenções). Já outros 29% dizem acreditar que Ciro será o eleito. Apenas 9% acreditam que Serra ainda possa se recuperar e vencer e outros 7% dizem apostar que Garotinho será eleito.

Na nova consulta, os índices de rejeição dos candidatos não sofreram grandes alterações. O candidato da Frente Trabalhista continua sendo o menos rejeitado pelos eleitores, com índice de 14%, um a menos do que na pesquisa de 4 de julho. Lula continua sendo o mais rejeitado: 31% dos entrevistados (um ponto a menos) disseram não votar no candidato do PT de jeito algum. Garotinho, com rejeição de 27%, e Serra, com 24%, vêm em seguida.

A pesquisa Ibope também mostra queda na avaliação do governo Fernando Henrique. Dos entrevistados, 19% disseram considerar o seu desempenho positivo (três pontos percentuais a menos do que na última consulta); 23% avaliam como péssimo (crescimento de um ponto); e 43% avaliam seu governo como regular.

Dos eleitores, 54% disseram que desaprovam a maneira como o presidente Fernando Henrique vem administrando o país, enquanto que 38% aprovam. A desconfiança no presidente da República é ainda mais alta: 59% disseram não confiar nele, contra 35% que afirmam confiar em Fernando Henrique.

Para 30% dos entrevistados, o desemprego é hoje o principal problema do país, seguido por saúde pública (19%), segurança pública (15%) e os baixos salários (9%).


Candidatos dizem que acordo com FMI melhora o clima eleitoral
BRASÍLIA. Aliados e estrategistas dos principais candidatos à Presidência acreditam que o fechamento do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) aliviará o clima da campanha eleitoral por trazer mais estabilidade à economia e afastar o fantasma da argentinização do Brasil.

O candidato do PSDB, José Serra, pretende faturar o bom desempenho do governo ao conseguir fechar o acordo. A idéia dos coordenadores da campanha é tirar o máximo de proveito da habilidade e da credibilidade da equipe econômica perante o mercado financeiro internacional, indicando que Serra seria o único capaz de repetir o feito de fechar, se necessário, um acordo com o FMI a menos de cinco meses do fim do governo.

— Quando a Petrobras errou na questão do gás de cozinha, isso nos prejudicou. Agora o governo deu prova da sua competência para enfrentar a crise. É natural que isso acabe tendo reflexos positivos na campanha de Serra, o único candidato que defendeu com maior clareza e segurança o acordo com o FMI — disse o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Júnior (BA).

Para o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), o acordo deverá garantir um novo fôlego à campanha de Serra, pois mostra a confiança de um instituto financeiro internacional na política econômica adotada no país:

— Serra ganha porque ele foi o primeiro candidato a defender um novo acordo com o FMI.

Esse raciocínio é contestado pelos adversários de Serra. O presidente do PPS, senador Roberto Freire (PE), um dos coordenadores da campanha do candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, reagiu com ironia aos prognósticos de que o acordo poderá favorecer o candidato do governo:

— Isso é uma besteira, algo risível! Esse acordo está sendo fechado para corrigir os equívocos da equipe econômica, totalmente subordinada à política do FMI. Porque reduziram o estrago, agora querem virar os salvadores da pátria?

Já o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), atualmente engajado na campanha de Ciro, considera que o mais beneficiado pelo acordo com o FMI foi o país.

— O acordo beneficia o Brasil, pois afasta a perspectiva de argentinização do país e reduz o clima emocional da campanha presidencial — disse.

Dentro do PT, o acordo com o FMI foi encarado como um mal necessário para o país, no qual não há vitoriosos nem perdedores. Mas o candidato ao governo de Sergipe, senador José Eduardo Dutra, destacou um aspecto positivo para a oposição, na medida que o acordo deverá colocar um ponto final ao terrorismo eleitoral do qual o PT vinha sendo vítima:

— À primeira vista pode-se dizer que Serra será beneficiado, mas a sensação de incerteza também não beneficiava a oposição. Com o acordo, o processo eleitoral não fica mais com ameaça de hecatombe antes ou depois da eleição.

Segundo o comando da campanha de Lula, a entrada dos US$ 30 bilhões do FMI deve tirar a crise econômica da pauta dos eleitores, abrindo espaço para as propostas do partido para a área social.

— É um alívio para efeito de campanha. Chegou em boa hora. Esperamos poder voltar agora à discussão do programa de governo — disse ontem o economista José Graziano, um dos coordenadores da campanha de Lula.

Para os estrategistas do PT, a questão da crise só deve voltar de forma artificial, ou seja, se for usada de má-fé por algum dos adversários com fins eleitorais. A avaliação petista é que o fim das altas do dólar deve afastar a crise da vida dos eleitores comuns, que não têm negócios em moeda estrangeira, e que vinham sentindo os efeitos da crise na pele com os aumentos da gasolina, do gás de cozinha e do pão, por exemplo.

— Esse “efeito manada” a gente espera que acabe agora. As causas reais da crise podem até vir à tona depois — disse Graziano.

O PT espera ainda poder capitalizar os efeitos da crise aumentando a ênfase na necessidade de mudanças na política econômica do governo.

— A campanha vai enfatizar ainda mais as mudanças que o partido propõe, já que o acordo não supera a crise, apenas ameniza seus efeitos — disse o secretário-geral do partido, Luiz Dulci.

As condições impostas pelo FMI para liberar o dinheiro também não devem afetar o plano de governo do PT. O deputado Aloizio Mercadante (SP) concordou com a tese de que, mantida a estabilidade, todos os candidatos saem ganhando.

— Se a crise não se agravar ganha todo mundo. Mas é fundamental tomar outras medidas — disse.

Coordenador financeiro da campanha de Anthony Garotinho, o deputado Alexandre Cardoso (PSB-RJ) admite que Serra deverá ser beneficiado pelo acordo com o FMI, mas não será o único. Na sua opinião, o petista Luiz Inácio Lula da Silva e o próprio Garotinho também ganham com a situação, uma vez que o acordo expõe a fragilidade e a subserviência da economia brasileira perante o mercado internacional.


Serra é contestado sobre seguro-desemprego e Real
BRASÍLIA. Nos últimos dias o comando da candidatura de José Serra (PSDB) à Presidência está garimpando dados sobre a vida do candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, para tentar impingir-lhe o rótulo de mentiroso. Mas essa estratégia pode ser usada também pelo comando da campanha de Ciro, já que ele não tem sido o único a tropeçar nos fatos. Serra está sendo contestado, por exemplo, nas declarações de que é pai do seguro-desemprego e de que sempre apoiou o Plano Real.

Itamar diz que Serra não compreendeu o Plano Real
O governador de Minas Gerais, Itamar Franco, acusa Serra de ter “faltado com a verdade” ao dizer que apoiou o Plano Real. Com a autoridade de presidente que implementou o Real, Itamar afirmou:

— O candidato Serra nunca apoiou o Plano Real. Primeiro, ele nunca compreendeu o Plano Real na sua concepção. O presidente pode não querer dizer isso, mas digo com a minha responsabilidade de ex-presidente. Ele faltou com a verdade! — declarou Itamar, em entrevista no Palácio da Liberdade.

A autoria do seguro-desemprego é atribuída a Serra em outdoors e ele próprio já repetiu a afirmação em entrevistas. Na verdade, o seguro-desemprego foi instituído pelo decreto 2.283 de 27 de fevereiro de 1986, pelo então presidente José Sarney. O benefício foi inserido no decreto que criou o Plano Cruzado I. Quem corrige Serra é Almir Pazzianotto, ministro do Trabalho de Sarney.

— Se o seguro-desemprego tem um pai, é Sarney. E sou uma espécie de tio. Serra pode até ter aperfeiçoado o programa, mas não pode mudar a história. O Boeing 747 é muito melhor do que o 14-Bis, mas quem inventou o avião foi Santos Dumont — disse Pazzianotto, ressaltando que pretende votar em Serra.

O ex-ministro lembra em detalhes a noite no Palácio do Planalto quando Sarney decidiu conceder o benefício.

Segundo ele, faltavam alguns dias para a edição do Plano Cruzado e Sarney disse que precisava de alguma medida para ganhar o apoio dos trabalhadores. Foi então que Pazzianotto sugeriu o seguro-desemprego.

— Não se pode apagar a história. De fato ele pode ter mérito na inclusão do benefício na Constituinte, uma medida até discutível. Há quem critique a Constituição por tratar de assunto de lei ordinária e acabar sendo muito prolixa — disse o ex-ministro.

O site de Serra reconheceu ontem que o seguro-desemprego foi regulamentado no governo Sarney em 1986 e afirma que depois, na Constituinte, o tucano apresentou emenda criando a fonte estável de financiamento do benefício.

Também não é verdadeira a afirmação das inserções televisivas do PSDB de que Serra foi o senador mais votado. Nos filmetes apresentados em maio, Serra contracenava com um bebê e o locutor dizia: “Este é José Serra, economista. Já foi secretário do Planejamento de São Paulo, deputado duas vezes, autor da lei do seguro-desemprego, o senador mais votado do Brasil, ministro do Planejamento e respeitado ministro da Saúde”.

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Serra teve menos votos do que Mario Covas em 1986 e Eduardo Suplicy em 1998. Covas elegeu-se com 7,7 milhões de votos, Suplicy com 6,7 milhões e Serra teve 6,4 milhões em 1994.

Serra disse que não houve intenção de enganar os eleitores e que a imprecisão se deve a um problema de edição.

“Não me lembro do texto. Fui o mais votado em 1994, isso está implícito. Covas fez mais votos em 1986. Podem não ter posto o ano por problema de edição. Seria um erro muito elementar”, justificou Serra na época em que foi apresentada a inserção.


Ciro insiste: ‘E o dinheiro da privatização?’
Depois de ser criticado pelos tucanos, o candidato da Frente Trabalhista à Presidência, Ciro Gomes, partiu ontem para o contra-ataque e transformou em mote de campanha um dos embates que teve com o candidato do PSDB, José Serra, no debate de domingo na TV Bandeirantes. Nos três discursos que fez ontem, repletos de críticas ao governo, Ciro bateu na mesma tecla: qual foi o destino dado ao dinheiro das privatizações?

— Privatizaram bilhões do patrimônio público, aumentaram os impostos, deixaram o funcionalismo público oito anos sem reajuste. Mil escândalos varridos para baixo do tapete e não querem responder a uma simples pergunta: para onde foi o dinheiro do povo brasileiro ao longo destes últimos oito anos? Em vez de responder a essa simples pergunta, preferem a calúnia, a agressão, o insulto e a mentira — disse em Caxias.

Mais tarde, em palestra no Clube de Aeronáutica, voltou a criticar o processo de privatização. Para uma platéia de militares, disse que ao entregar o Ministério da Fazenda ao ministro Pedro Malan o valor das estatais Telebrás, Eletrobrás e Vale do Rio Doce pagariam 80% da dívida. No entanto, segundo o candidato, as estatais foram vendidas pelo governo e a dívida multiplicou-se.

— Os ativos foram privatizados mal e porcamente, na hora errada e usando dinheiro público do BNDES para financiar os compradores — afirmou.

Mesmo tendo empregado a palavra “golpe” para o que os militares preferem chamar de Revolução de 1964, Ciro recebeu uma placa de agradecimento por ter sido o único dos candidatos a aceitar o convite do Clube de Aeronáutica.

Em Caixas, do alto de um caminhão, Ciro disse que se sente caluniado e agredido e se comparou ao prefeito de Caxias, José Camilo Zito dos Santos, ex-coordenador da campanha de Serra no Rio, que desembarcou da candidatura tucana para apoiar o candidato da Frente Trabalhista:

— Estava vendo, Zito, a gente andar pela rua, o carinho e a simplicidade com que as pessoas tocam em você, falam seu nome. E me lembro muito bem como os barões têm raiva, caluniam você, agridem você. Este dia é especial para mim, para que mantenha a tranqüilidade. De fato, estou v ivendo um momento parecido — discursou Ciro, que, por onde passou, repetiu o refrão de que o governo produziu 11,7 milhões de desempregados, 5,5 milhões de famílias sem teto, encolheu salários e aumentou impostos.

O candidato recebeu o apoio de dois dissidentes da campanha tucana que governam duas das mais populosas cidades do estado. Além de Zito, o prefeito de São Gonçalo, Henry Charles (PMDB), organizou um evento para marcar o apoio à Frente Trabalhista.

Em Caxias, Zito literalmente abriu caminho nas ruas para Ciro. Diante do tumulto provocado por cabos eleitorais e militantes, Zito desceu do caminhão que levava Ciro, Leonel Brizola, candidato ao Senado, e Jorge Roberto Silveira, candidato ao governo, e participou da carreata na frente do veículo, abrindo caminho para a comitiva.

— Esses são meus candidatos — gritava Zito.

Depois da carreata e de caminhar por cerca de 15 minutos pelas ruas de Caxias, Ciro, no comício, disse que tem rezado para manter o equilíbrio e que o governo é complacente com a corrupção:

— Tenho rezado e pedido a Deus para me iluminar, porque minha natureza é igual à do (ex) governador Leonel Brizola, de responder na testa. Mas tenho ouvido o povo e tenho que me preparar para ser o presidente e manter a serenidade e o equilíbrio. Mas não confundam com qualquer tipo de vacilação. Na hora própria, teremos o debate, e não tenham dúvida de que o Brasil está governado de forma entreguista, complacente com a corrupção — criticou.

Em São Gonçalo, onde foi recebido com festa por cerca de 500 pessoas no Clube Mauá, Ciro respondeu aos críticos de sua proposta de aumento do salário-mínimo.

— Essa gente prepotente, poderosa, que manda na gente há oito anos, quando a gente fala em melhorar o salário-mínimo logo vem com a maior violência para agredir, para insultar, e a sociedade tem o direito de exigir. Eles querem mandar no país por mais oito anos. Uma promessa eu lhes faço: tomarei a Presidência dos banqueiros para entregá-la a quem trabalha — disse.

Brizola criticou o uso da religião nas campanhas referindo-se ao candidato do PSB, Anthony Garotinho.

— Prefiro não me eleger a ter a meu lado essas pessoas, que deveriam estar na igreja, cuidando das almas. Foi tanta mentira e tanto pecado que até o palanque caiu — disse.


FH elogia o esforço das Forças Armadas
BRASÍLIA. Ao discursar na solenidade de apresentação de generais recém-promovidos, o presidente Fernando Henrique Cardoso elogiou ontem o esforço das Forças Armadas para manter as atividades do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, mesmo diante dos cortes no orçamento dos militares.

— O espírito construtivo dos comandantes, dos oficiais-generais, do conjunto da nossa oficialidade e da tropa tem a minha gratidão, porque sei das dificuldades pelas quais passam e sei como é difícil, em condições de escassez de meios, manter um planejamento que permita assegurar aquilo que é fundamental, que é a hierarquia, a disciplina e a continuidade do cumprimento dos objetivos planejados e do dever — disse.

O orçamento das Forças Armadas sofreu um corte de R$ 500 milhões. O governo então decidiu dispensar 44 mil recrutas que estavam prestando o serviço militar.

— A cada oscilação de câmbio, a cada redução de investimentos ou contingenciamento de verbas, somos forçados a manter, com menos recursos, o cumprimento de nossas tarefas. Como presidente, tenho consciência — e como dói — das dificuldades que tudo isso acarreta — disse Fernando Henrique.


Em Recife, Serra e Jarbas reafirmam aliança
RECIFE e BRASÍLIA. O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, teve ontem seu primeiro encontro com o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB), depois que este decidiu abrir seu palanque ao candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, rival do tucano. Em visita para inauguração de seu comitê em Recife, Serra negou que houvesse um clima de mal-estar.

— Não há clima desagradável nenhum. Jarbas Vasconcelos fará minha campanha e eu farei a dele. Somos duas pessoas que se conhecem bem e que possuem confiança recíproca. Fora disso é fofoca — disse Serra.

Jarbas disse que não se surpreendeu com a repercussão de suas declarações abrindo espaço para Ciro na sua campanha pela reeleição. Mas esclareceu que foi mal interpretado.

— Minhas posições são claras, vou votar em Serra, não há dubiedade nenhuma nisso. Não vou abandonar Serra, não estou com posição crítica contra ele. Se eu tivesse um histórico de adesismo em Pernambuco, vocês poderiam achar que estou indo para Ciro Gomes. Mas esse não é o meu perfil — disse o governador.

Jarbas: "Aqui quem coordena somos nós"
Antes da chegada do candidato, Jarbas tinha enviado um recado ao coordenador da campanha de Serra, deputado Pimenta da Veiga (PSDB-MG).

— Aqui, quem coordena a campanha somos nós — disse Jarbas, em resposta à advertência feita por Pimenta de que só Serra poderia subir em palanques do PSDB e do PMDB.

— Fiz aquela declaração com sinceridade, sei que é polêmica, mas a posição está mantida. Mas não se tenha dúvida: vou andar com Serra, fazer campanha com ele, mas Ciro poderá participar de eventos de minha campanha — disse Jarbas, frisando:

— A possibilidade de eu ir a algum ato da campanha de Ciro Gomes à Presidência é zero.

PMDB de Goiás rompecom a candidatura de Serra
Brigas políticas locais provocaram ontem nova baixa na campanha de Serra, aumentando a tensão na coordenação em relação à fragilidade dos palanques do candidato nos estados. Inconformado com a medida provisória que federalizou a Companhia de Energia Elétrica de Goiás (Celg), o PMDB governista de Goiás decidiu romper com a candidatura Serra. A federalização da companhia adiantou uma receita de R$ 200 milhões para o governador Marconi Perillo (PSDB) que concorre à reeleição contra o PMDB.

— Não temos mais compromisso com a candidatura Serra — disse o senador Iris Resende (PMDB-GO), sem anunciar a quem dará seu apoio.

No Ceará, problemas como PSDB e com o PMDB
No Ceará, o único aliado de Serra é o senador Sérgio Machado (PMDB). Ontem ele bateu às portas do presidente Fernando Henrique Cardoso, para reclamar que nem sequer consegue conversar com Serra. Sem contar com o apoio do ex-governador Tasso Jereissati (PSDB), o governo federal ampliou também os problemas políticos com os tucanos no estado. O ministro da Saúde, Barjas Negri, assinou convênios ontem em Fortaleza no valor de R$ 66 milhões para o Projeto Alvorada II. A solenidade foi na sede da Federação das Indústrias. O governador Beni Veras (PSDB) ficou irritado com a decisão do ministro de não assinar o convênio no Palácio de Cambeba. Em Sobral, o prefeito Cid Gomes, irmão de Ciro Gomes, inaugurou ontem o primeiro comitê conjunto Tasso/Ciro.


Artigos

Metrópoles: na rota da barbárie?
Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro

As metrópoles brasileiras estão em crise. A crescente inserção da economia numa lógica globalizada fez com que o planeta diminuísse de tamanho e as fronteiras nacionais perdessem importância.

Os efeitos da globalização são sentidos em todo o mundo e vêm provocando debates acalorados, aplausos antes entusiásticos, hoje discretos, e protestos apaixonados. O Brasil foi envolvido neste turbilhão, e as metrópoles brasileiras sofreram o impacto desta nova realidade. O maior desafio, ao longo destas últimas décadas, foi procurar um equilíbrio entre as novas possibilidades de desenvolvimento proporcionadas pela globalização e seus graves efeitos polarizadores e desagregadores.

Os resultados obtidos foram insuficientes, e nossas metrópoles parecem caminhar na direção de uma crescente fragmentação, o que inevitavelmente irá aprofundar as históricas desigualdades sociais com conseqüências dramáticas. Cientes da importância da discussão dos problemas das metrópoles frente a esta nova realidade, cientistas sociais, planejadores urbanos, pesquisadores, especialistas de diversas áreas se voltaram nos últimos quatro anos para o estudo comparativo da realidade de sete das maiores cidades brasileiras: Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Belém, Curitiba, Recife e Belo Horizonte.

Vários temas foram pesquisados: segregação, democracia, gestão urbana, desigualdade, violência, mobilidade da família, justiça ambiental e política habitacional.

As metrópoles brasileiras neste início do terceiro milênio concentram de maneira dramática as conseqüências de nossa condição periférica na expansão da economia mundial.

Nos últimos dez anos, a população das sete regiões metropolitanas citadas saltou de 37 para 42 milhões de habitantes e suas periferias conheceram uma taxa de crescimento de 30%, enquanto as áreas urbanas mais centrais não cresceram no mesmo período mais de 5%.

Depois de 1996, a renda per capita nas cidades médias brasileiras aumentou 3% e nas periferias das grandes cidades caiu 3%. Há 10 anos, a violência nas periferias era outra. Tínhamos cerca de 30 homicídios por 100 mil habitantes. Hoje esta taxa é de 150 mortos por 100 mil habitantes. É um padrão colombiano.

Enquanto o quadro de declínio social se consolida e a inércia impera, pesquisas internacionais indicam que as metrópoles vêm sendo palco de um novo tipo de desenvolvimento que combina crescimento econômico, justiça social e sustentabilidade. O que mostram estas pesquisas?

a) Que as grandes cidades continuam concentrando o poder econômico e político: o PIB da região metropolitana de Tóquio é o dobro do PIB do Brasil; Chicago, considerada a sétima cidade mundial, concentra uma economia com valor equivalente à do México; dois terços das transações mundiais são negociados em pólos de Tóquio, Londres e Nova York, ligados por redes eletrônicas de comunicação que permitem uma rápida globalização dos mercados.

b) Que os fluxos econômicos globais convergem crescentemente para os países onde já existem recursos acumulados e, no seu interior, para as grandes cidades onde eles estão concentrados.

A inserção das metrópoles no processo de globalização vem se dando através do mercado, e isso cria um paradoxo. Se de um lado percebem-se uma maior aproximação territorial e uma crescente mistura social, por outro lado observa-se o crescimento da auto-segregação, especialmente das elites e das altas classes médias, se fechando, se isolando e se desresponsabilizando quanto aos problemas coletivos. A violência, como destaca o professor Luiz Antônio Machado da Silva, mudou de caráter: ela deixou de ser um meio de obtenção de interesses, e se transformou no próprio princípio organizador de todas as interações, produzindo um padrão de sociabilidade radicalmente novo.

As camadas populares e seus bairros são crescentemente objeto de estigmatização, percebidos como causa da desordem social.

Como produzir, então, um projeto de futuro para as nossas metrópoles, alternativo à trajetória em curso, se tal projeto depende de ações cooperativas, e estas, por sua vez, necessitam de crenças compartilhadas em valores cívicos e instituições sociais, que criem a alteridade entre as classes e grupos sociais integrantes do seu espaço social?

No vácuo da irresponsabilidade das autoridades políticas e administrativas, constata-se hoje o crescimento da participação da sociedade na busca de soluções dos problemas locais em nossas metrópoles. Através de mecanismos como os conselhos municipais, estão sendo abertas novas arenas de intermediação de interesses e de decisão, sinalizando a existência de uma vontade coletiva e um sentido de responsabilidade cívica, germe promissor das instituições que necessitamos para evitar que o quadro de declínio social e de abandono político-administrativo não condene o nosso futuro e tire nossas metrópoles da rota da barbárie. É uma luz no fundo do túnel.


Colunistas

PANORAMA POLÍTICO – Tereza Cruvinel

Apostas no plural
Um governador que disputa a reeleição com 65% de preferência eleitoral não precisa de palanque duplo para melhorar sua situação. Por isso mesmo não se enxerga outra explicação para o atitude do governador Jarbas Vasconcelos com Ciro Gomes, a não ser a construção de uma ponte entre seu partido e o possível governo do candidato do PPS, em caso de sua vitória.

Jarbas reiterou que irá com o candidato José Serra “até o fim” e que caminhará com ele hoje pelo Centro de Recife. Corre o tucano para recolher o leite derramado com a decisão de Jarbas de abrir o palanque para Ciro, supostamente em consideração ao senador Roberto Freire, cujo PPS integra a aliança que lidera em Pernambuco. Mas o prejuízo simbólico foi grande para o tucano e pode ter estimulado o desgarramento do PMDB goiano, que rompeu com Serra tendo como pretexto a federalização da Celg, empresa de energia do estado. Os goianos ainda não apoiaram Ciro, prometendo anunciar em 15 dias o que farão.

Quem conhece o PMDB não se surpreende. Nada surpreende, vindo do PMDB e também do PFL, no qual Inocêncio Oliveira também adere a Ciro depois de ter apoiado Roseana Sarney e Serra. Se o PFL é governo desde o Descobrimento, depois da restauração democrática o PMDB também esqueceu sua passagem pela oposição durante a ditadura. Depois de disputar a eleição de 1994 com Quércia, entrou na coalizão de apoio ao governo FH, de onde nunca mais saiu. Trata agora de garantir passagem para o futuro.

Se o novo presidente for Serra, o PMDB, parceiro de aliança, será forte no governo. Se for Lula, o grupo de Quércia e Requião, que apóia o petista, será o acesso para o resto do partido. Faltava uma ponte com Ciro. Foi aberta agora por Jarbas e pode ser alargada com a adesão dos goianos e outros grupos da federação peemedebista.

Seria injusto não dizer que o PFL também aposta no plural, com a diferença de que não tem a menor chance de integrar um possível governo petista. E nesse caso, já disse o senador Jorge Bornhausen, presidente do partido, o PFL ficará com o papel de maior partido da oposição, uma inovadora experiência para os pefelistas.

Mas com Ciro ou com Serra, o futuro está garantido.

Interessante observar o pragmatismo nordestino, não só desses dois partidos, mas também do próprio PSDB de Serra. Tasso Jereissati rasgou a fantasia e inaugurou comitê conjunto com Ciro ontem. Albano Franco, de Sergipe, tem a mulher como presidente do PPS no estado. Caso Ciro passe para o segundo turno contra Lula, Tasso irá à luta para garantir-lhe o apoio da maior fração do PSDB. Enfrentando os paulistas, mais propensos a apoiar Lula, com Fernando Henrique e Serra à frente.

Com um quadro partidário desses, o TSE achou que a regra da verticalização iria funcionar.

Tefal ou pão-de-ló?
A nova pesquisa Ibope confirma a inclinação do eleitorado pela mudança, na medida que Ciro Gomes, de oposição, cresce dois pontos numa semana de mídia intensiva. Mantém Garotinho onde estava e mostra queda de três pontos do candidato do governo, José Serra.

Mas o que chama a atenção nesta rodada é a resistência de Ciro, depois de ter enfrentado a queda de seu coordenador de campanha por vinculação com PC Farias, denúncias contra o vice e um duro ataque contra sua credibilidade, a partir das inverdades que Serra demonstrou ter ele dito.

Há políticos, costuma dizer Delfim Netto, que têm cobertura de teflon. Nada lhes gruda. Outros são como papel. Aceitam tudo. Ciro, no momento, parece ter o elemento anti-aderente. Talvez porque nenhuma das denúncias o te nha atingido pessoalmente. Collor, quando cobrado sobre o famoso acordo de seu governo com os usineiros de Alagoas, dispensando-os de pagar impostos, dizia que o autor não fora ele, mas um secretário seu.

Ou então Ciro é como pão-de-ló. Quando mais se bate, mais ele cresce. Nesse caso, Serra precisa mudar de tática, buscando crescer por outro caminho que não o do ataque ao rival.

Mas há também a metáfora da pedra que ao cair no lago produz ondas concêntricas que se propagam aos poucos. Os fatos negativos envolvendo Ciro talvez não tenham tido ainda tempo suficiente para a propagação no eleitorado.

Ganhos com o acordo
Apesar da ressalvas, sabem os candidatos que o novo acordo com o FMI a todos ajuda, liberando o processo eleitoral do terror econômico. E, ao vencedor, oferece uma transição mais segura, sem ameaça do caos depois da posse.

José Serra, como candidato do governo, reiterou seu pleno apoio ao acordo na entrevista de anteontem ao “Jornal da Globo” e veiculou em seu site na internet longa e positiva avaliação. Entre os da oposição, na consideração do governo, Lula fez o ritual mais adequado, lendo uma nota de compromisso. Garotinho criticou a redução das reservas para US$ 10 bilhões, mas não negou apoio. Evasivo mesmo foi Ciro Gomes, que invocou a necessidade de conhecer melhor os detalhes. Por essa reticência, pode ser quem ganhará menos, na medida em que aprofundará desconfianças e temores.

A ANEEL deve acolher a representação do deputado José Carlos Aleluia: distribuidora de energia que não conceder o desconto para consumidor de baixa renda não poderá se beneficiar do plano de recomposição tarifária.


Editorial

FELIZ ANO-NOVO

Começou 2003. É o que na prática aconteceu com o acordo fechado entre o Brasil e o Fundo Monetário. Por abranger os últimos meses de um governo, projetar-se sobre o primeiro ano do próximo e estabelecer uma meta de gasto público para quase toda a gestão do sucessor de Fernando Henrique Cardoso, o acordo produziu algo inédito na vida pública brasileira: tornou os candidatos sócios da governabilidade hoje, e em peças-chave na garantia da manutenção dessa governabilidade no futuro governo.

Ao manter até 2005, penúltimo ano do governo que assume em 1 de janeiro, a atual meta de um superávit fiscal primário de 3,75% do PIB (receita pública menos despesa, exceto juros da dívida interna), o acordo obriga os candidatos a trabalharem já pela estabilidade da economia. Quem conta com bancadas no Congresso precisará mobilizá-las para, ainda nesta legislatura, aprovar medidas que desobstruam alguns gargalos e compensem receitas tributárias fadadas a desaparecer a partir de 2003. Apenas em impostos atrasados recolhidos neste exercício fiscal pelos fundos de pensão e empresas estatais, e que não mais o serão daqui para a frente, calcula-se em pouco menos que R$ 10 bilhões.

Interessa portanto a qualquer candidato equacionar com rapidez o problema. Como também é importante para eles apoiarem a minirreforma tributária, para impulsionar as exportações. E também não devem se esquecer de refazer as contas para saber se o que prometem nos palanques poderá ser executado sem pôr a perder a blindagem criada pelo FMI em torno da economia brasileira.


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08/09/2002


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