Má escolha do sistema digital de TV pode destruir indústria de receptores
Os especialistas que participaram nesta quinta-feira, 26, de debate sobre a implantação do sistema digital na televisão brasileira foram unânimes em dois pontos fundamentais: o país perdeu a oportunidade de desenvolver seu próprio padrão digital, e terá que escolher entre os quatro sistemas que estão em desenvolvimento no mundo. E se a escolha não for extremamente cuidadosa, corre o risco de destruir todo o parque industrial brasileiro de receptores de TV e computadores (software e hardware). O debate foi promovido pela Comissão de Tecnologia Digital do Conselho de Comunicação Social.
A indústria nacional poderá ser inviabilizada, caso o padrão digital implantado venha a ser totalmente diferente da linha de produtos em fabricação no momento, tanto na área de aparelhos receptores quanto de computadores. É que a longo prazo, acredita-se, os receptores e TV terão múltiplas funções abrangendo, por exemplo, aquelas hoje disponíveis nos microcomputadores.
Participaram do debate o engenheiro eletricista Marcelo Knörich Zuffo, coordenador do Grupo de Computação Visual e Meios Eletrônicos Interativos do Laboratório de Sistemas Integráveis e professor da Universidade de São Paulo (USP); Max Henrique Machado Costa, engenheiro elétrico e professor da Universidade de Campinas (Unicamp); Hélio Graciosa, presidente do Centro de Pesquisa de Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD); Guido Lemos de Souza Filho, coordenador da Comissão Especial de Sistemas Multimídia e Hipermídia da Sociedade Brasileira de Computação. O mediador foi Daniel Herz, da Comissão de Tecnologia Digital do Conselho de Comunicação Social.
Marcelo Zuffo disse que o Brasil deveria ter começado a desenvolver seu próprio padrão há quatro ou cinco anos, no âmbito do Mercosul. Mas ele defende a recuperação do tempo perdido pelo Brasil com a aceleração das pesquisas e a implantação de pólos de TVs digitais, à razão de um por estado, para que houvesse uma adaptação gradativa de sistemas e de formação de profissionais. Zuffo explicou que apenas 10% dos receptores de TV domésticos serão modificados com a introdução da tecnologia digital.
Max Henrique Machado da Costa disse que é preciso muita cautela e não deve haver pressa na implantação do sistema digital no Brasil, porque todos eles ainda estão em caráter experimental, e o Brasil tem características únicas.
- Uma escolha errada vai ter reflexos por dezenas de anos, e pode ser desastrosa sob todos os pontos de vista - disse.
Ele explicou que estão em jogo centenas de bilhões de dólares e lembrou que países como Espanha e Inglaterra tiveram problemas técnicos, como interferência na telefonia celular e qualidade de imagem e som, entre outros.
Hélio Graciosa também acha que não há urgência em se definir o padrão a ser adotado no Brasil. Ele defende o aprofundamento dos estudos sobre o que acontece com os sistemas que estão sendo desenvolvidos em outros países para a escolha do mais adequado às características do Brasil e do modelo comercial que orientará a TV digital no Brasil - se serão canais abertos e gratuitos, por assinatura etc. Ele também não acredita que o Brasil possa desenvolver um padrão próprio, principalmente porque não sente qualquer vontade política ou mobilização do governo ou de empresas para tanto.
Guido Lemos de Souza Filho concorda com a necessidade de observação e estudo dos quatro sistemas que estão em desenvolvimento no mundo, mas defendeu uma ação vigorosa do Ministério da Ciência e Tecnologia na coordenação de um esforço de pesquisa de universidades e empresas, com o desenvolvimento de testes, protótipos, formação de pessoal e outras iniciativas.
26/09/2002
Agência Senado
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