Magela reage
Magela reage
Em um mês, candidato a governador pelo PT saltou de 15% para 25%, segundo pesquisa estimulada feita entre eleitores brasilienses no final de agosto. Horário eleitoral reduziu o número de indecisos no eleitorado do Distrito Federal
A polarização entre Joaquim Roriz (PMDB) e o Partido dos Trabalhadores, tradição das últimas campanhas para governador do Distrito Federal, começa a se desenhar nesta eleição. Na segunda pesquisa feita pelo instituto Vox Populi para o Correio, nos dias 28 e 29 de agosto, o candidato petista ao GDF, Geraldo Magela, foi o único a crescer e se isolou no segundo lugar atrás de Roriz. O concorrente do PT subiu dez pontos percentuais em comparação com o primeiro levantamento, realizado um mês antes, e também diminuiu a diferença que o separa do candidato à reeleição.
Magela obteve 25% das intenções de voto na pesquisa estimulada, na qual uma relação dos candidatos é apresentada aos entrevistados. No último levantamento, o petista tinha 15%. O crescimento é bem superior à margem de erro da pesquisa — 3,7 pontos percentuais para mais ou para menos. Roriz caiu de 57% no final de julho para 55%. Mas como a queda é menor do que a margem de erro, o governador pode ter ficado no mesmo lugar. A lógica também se aplica ao candidato do PSB, Rodrigo Rollemberg, que caiu de 7% para 4%. Benedito Domingos (PPB) e Carlos Alberto Torres (PPS) permaneceram com os mesmos índices: o primeiro com 4% e o segundo com 1%.
Apesar do crescimento real do candidato do PT, o levantamento indica que Roriz ainda venceria no primeiro turno. A diferença entre a as intenções de voto do atual governador e a soma de todos os outros candidatos é de 21 pontos percentuais. Maior, portanto, que a margem de erro da pesquisa. ‘‘Magela está ocupando um espaço que o PT costuma ter no eleitorado do Distrito Federal, mas o favoritismo de Roriz ainda não está abalado’’, analisou o diretor Vox Populi, Marcos Coimbra. O instituto entrevistou 712 eleitores em 18 cidades do Distrito Federal.
Simulações
O Vox Populi fez simulações de segundo turno entre Roriz e os quatro principais candidatos de oposição. O governador venceria todos os adversários. O melhor desempenho contra o candidato à reeleição é de Magela. Na simulação com o petista, o peemedebista obteve 57% das intenções de voto contra 34% do adversário. Se o concorrente num eventual segundo turno fosse Rollemberg, Roriz chegaria a 59% contra 26% do distrital. Contra Benedito, o atual governador teria os mesmos 59%. O vice-governador ficaria com 24%.
Na pesquisa espontânea, na qual os eleitores respondem sem o auxílio de uma lista dos candidatos, Roriz subiu de 44% para 50% das intenções de voto. Magela cresceu significativamente. Tinha apenas 9% e ficou com 22%. Benedito Domingos avançou de 2% para 4%, enquanto Rollemberg caiu de 3% para 2%. Carlos Alberto (PPS), Orlando Cariello (PSTU), Expedito Mendonça (PCO) e Guilherme Trotta (PRTB) foram citados por menos de 0,5% dos entrevistados.
A pesquisa mostra que a maioria dos brasilienses têm acompanhado o horário eleitoral gratuito. Dos entrevistados, 27% disseram assistir os programas diariamente, 26% vêem poucas vezes e 14% raramente acompanham. Outros 31% informaram que não têm visto o horário eleitoral. Os melhores programas na opinião dos entrevistados são os de Roriz (45%) e Magela (22%). ‘‘O eleitor costuma achar o programa do seu candidato o melhor’’, avaliou Marcos Coimbra.
O candidato com menor índice de rejeição continua sendo Rodrigo Rollemberg, com 18%. No final de julho, o distrital tinha rejeição menor, de apenas 14%. Roriz manteve os 24% da pesquisa anterior e permaneceu na segunda posição entre os mais rejeitados, atrás apenas de Guilherme Trotta (28%). Magela, Benedito e Carlos Alberto conseguiram diminuir seus índices em quatro pontos percentuais cada.
LULA PASSA CIRO GOMES
A mudança de opinião mais significativa entre os eleitores brasilienses captada pela pesquisa do Vox Populi ocorreu na sucessão presidencial. Líder folgado no Distrito Federal no final de julho, Ciro Gomes (PPS) caiu 17 pontos percentuais e foi ultrapassado pelo candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Na pesquisa estimulada, Lula saltou de 27% em julho para 39% das intenções de voto. Ciro, por sua vez, recuou de 44% para 27% e ficou em segundo lugar. Apoiado por Joaquim Roriz, o candidato do PSDB, José Serra, subiu de 10% para 13%, mas a variação está dentro da margem de erro da pesquisa. Anthony Garotinho (PSB) tinha 8% em julho e agora está com 9%. ‘‘O Distrito Federal costuma amplificar o que se passa nacionalmente’’, analisou o diretor do Vox Populi, Marcos Coimbra.
Ciro cai mais, Serra sobe
Levantamento encomendado pelo Correio confirma liderança de Lula e reação do candidato do PSDB. O representante do PPS amarga nova queda. Garotinho ganhou um ponto percentual em relação à sondagem anterior
Enquanto os candidatos do PPS, Ciro Gomes, e do PSDB, José Serra, estapeiam-se na disputa pelo segundo lugar na corrida presidencial, o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, vai se consolidando na liderança. Nesta rodada da pesquisa Vox Populi/Correio, realizada nos dias 1 e 2 de setembro, Lula passou de 34% para 36%. A pesquisa aponta um empate técnico entre Ciro e Serra. Com relação à rodada anterior, Ciro caiu cinco pontos percentuais, passando de 25% das intenções de voto para 20%. Serra subiu quatro pontos, de 15% para 19%, encostando em seu adversário do PPS. O candidato do PSB, Anthony Garotinho, subiu um ponto percentual com relação à rodada anterior, passando de 8% para 9%. No domingo e ontem, o Instituto Vox Populi ouviu 2.459 pessoas, em 125 municípios de todo o país. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais.
Para o presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, a pesquisa aponta duas tendências importantes: os crescimentos de Lula e de Serra. Para Coimbra, Serra deverá aparecer na frente de Ciro nas próximas rodadas. Mas dificilmente irá se distanciar muito do adversário do PPS. Enquanto isso, Lula deverá experimentar uma ascensão maior. Tomadas as três últimas pesquisas do Vox para o Correio desde o início da segunda quinzena de agosto, Lula tinha na primeira pesquisa (entre os dias 15 e 16 de agosto) 35% das intenções de voto. Na rodada fechada no dia 25 de agosto, caiu para 34% e agora sobe para 36%. No mesmo período, Ciro Gomes caiu sete pontos percentuais. Em 15 e 16 de agosto, tinha 32%. Caiu para 25% na pesquisa fechada no dia 25 agosto. Agora, Ciro aparece com 20%.
A ascensão de José Serra é ainda maior que a queda de Ciro na segunda quinzena do mês de agosto. Na rodada de 15 e 16, Serra aparecia com 10% das intenções de voto. Em 25 de agosto, subiu para 15%. Agora, foi para 19%. Garotinho voltou ao percentual do início da quinzena: tinha 9% na primeira pesquisa, caiu para 8% em 25 de agosto e agora recupera os 9%.
Para Marcos Coimbra, o candidato do PT beneficia-se da disputa acirrada entre Ciro e Serra pela segundo lugar. ‘‘Dificilmente, Serra, se passar, vai atropelar Ciro e se distanciar dele’’, analisa. ‘‘Da mesma forma, é muito difícil que Ciro consiga tirar Serra dos seus calcanhares. Ou seja, os dois vão continuar lado a lado. Nessa situação, quem chegar ao final dos próximos 30 dias na frente, disputará o segundo turno com Lula fragilizado. E aquele que perder, terá seus eleitores profundamente magoados. Numa situação dessas, é muito pouco provável que o eleitor de Ciro vote em Serra ou vice-versa’’, conclui Coimbra. Para ele, o mais provável é que a maior parte dos votos do perdedor no embate entre Ciro e Serra migre para Lula.
Outro dado que beneficia Lula está na pesquisa espontânea (aquela em que o eleitor diz o nome que lhe vier à cabeça, sem que s eja apresentada uma lista com os candidatos). Nesse caso, Lula cresceu de 29% na rodada anterior para 32%. Ciro caiu de 21% para 16%. E Serra subiu de 11% para 14%.
Nas simulações de segundo turno, Lula vence tanto Ciro como Serra. Mas, se melhorou a vantagem sobre Ciro, piorou sua situação caso seu adversário seja o candidato do PSDB. Contra Ciro, Lula obtém 50% das intenções de voto, contra 34% do candidato do PPS. Na rodada anterior, tinha 47% contra 39%. Contra Serra, Lula vence com 47% contra 38%. Antes, sua vantagem era de 48% contra 35%.
Bate-boca domina debate
Confronto na Record é marcado por troca de acusações entre os candidatos a presidente da República, que pouco expuseram seus programas de governo. Serra chama Ciro de mentiroso, que acusa adversário de tê-lo grampeado
Prevaleceu o bate-boca. Os quatro principais candidatos à Presidência da República deixaram em segundo plano suas propostas de governo e trocaram ataques durante o debate entre eles promovido na noite de ontem pela TV Record. Conforme era esperado, o confronto foi mais tenso entre os candidatos Ciro Gomes (PPS-PTB-PDT) e José Serra (PSDB-PMDB), que disputam voto a voto o segundo lugar nas pesquisas eleitorais. Mas Anthony Garotinho (PSB) também partiu para o ataque contra o candidato do governo e o chamou de mentiroso.
A briga maior, entre Ciro e Serra, foi estimulada pela estratégia inicial dos demais candidatos — Luiz Inácio Lula da Silva (PT-PL) e Garotinho —, que trocaram perguntas iniciais pouco polêmicas e deixaram o caminho livre para a disputa entre os representantes do PPS e do PSDB. Durante o debate, o governo federal foi alvo de críticas por parte de Lula, Ciro e Garotinho. Serra teve pouco tempo para responder aos ataques feitos contra o governo federal.
Logo no primeiro bloco, coube a Ciro perguntar a Serra porque o eleitor deveria acreditar na promessa do adversário de criar 8 milhões de empregos no país, uma vez que o governo federal teria levado 11,7 milhões de pessoas ao desemprego. Antes, Ciro provocou seu adversário dizendo que ele está fazendo uma campanha sórdida ao não identificar como seus os ataques contra sua campanha durante o horário eleitoral. Serra disse apenas que tem competência para criar os empregos, mas imediatamente partiu para o ataque a Ciro. ‘‘Se a população brasileira aprendeu alguma coisa nessa campanha é que a maior parte do que você diz é mentira. E que você é especialista em fazer acusações que não comprova’’, devolveu Serra.
Na sua réplica, Ciro pediu ‘‘desculpas ao povo brasileiro’’ por ter sido inocente e não perceber que estaria sendo seguido por equipes de Serra orientadas a gravar suas declarações para uso posterior na campanha presidencial. O candidato do PPS disse que Serra ‘‘é um homem que faz da rasteira’’ seu estilo de política. Ciro disse ainda que o Ministério da Saúde, durante a gestão de Serra, gastou R$ 73 de cada R$ 100 com entidades privadas do setor. Serra contestou, dizendo que essa proporção foi de R$ 10 para cada R$ 100.
Tabelinha
No segundo bloco do debate, Lula deu chances a Garotinho de criticar o governo federal e a administração de Serra à frente do Ministério da Saúde quando cobrou explicações do candidato do PSB sobre as mortes causadas pela dengue no estado do Rio. Garotinho, que governou o estado entre janeiro de 1998 e março de 2002, disse que as mortes foram causadas pelo fato de o ministério ter demitido funcionários responsáveis pelo combate ao mosquito da dengue.
Serra reclamou junto ao apresentador do debate, o jornalista Boris Casoy, que seus adversários estavam fazendo uma ‘‘tabelinha’’ com o objetivo de prejudicá-lo. Casoy ignorou as reclamações e deu continuidade ao debate. Em seguida, a tabelinha ocorreu entre Ciro e Garotinho, que foi questionado sobre a utilização dos recursos obtidos pelo governo com a privatização. Garotinho afirmou que o dinheiro foi usado para pagar juros e beneficiar os bancos, o que causou novos protestos de Serra.
Quando Ciro e Serra escolheram um ao outro como adversários no segundo bloco do debate, Lula e Garotinho sorriram. Na platéia, o marqueteiro da campanha de Lula, Duda Mendonça, abriu um largo sorriso e fez um sinal de positivo para o petista. Os quatro candidatos formaram dois blocos distintos, com o mediador Boris Casoy no meio. Ciro e Serra estavam no canto direito. Lula e Garotinho, do lado esquerdo.Ciro suava muito e passava um lenço no rosto nos intervalos, além de beber muita água. Serra aproveitou os intervalos lendo papéis com óculos de leitura na ponta do nariz.
A tensão entre Ciro e Serra foi notada desde o início do debate. Serra foi o primeiro a entrar no estúdio da TV Record. Em seguida, entrou Garotinho, que cumprimentou a ele e a Casoy. Ciro entrou depois. Deu um tapa nas costas de Garotinho, apertou a mão de Casoy e ignorou Serra, que já assumia a sua postura de leitor atento nos intervalos. Quando Lula entrou, porém, o candidato do PSDB largou a leitura. Levantou-se e deu um abraço efusivo no petista.
Perto do final, um novo bate-boca entre Ciro e Serra, envolvendo a passagem do político goiano Henrique Santillo pelo ministério da Saúde. A partir daí, as acusações foram generalizadas, o que obrigou o mediador, Boris Casoy, a conceder direito de resposta consecutivos. ‘‘Convoque o Ciro e o Serra para um debate sozinho. Tem que haver igualdade e oportunidade para todos!’’, criticou Luis Inácio Lula da Silva. ‘‘Chega! Desse jeito, nós vamos até amanhã!’’, irritou-se Casoy.
Newton Cardoso muda estratégia
Peemedebista troca de marqueteiro para tentar reverter o avanço nas pesquisas de Aécio Neves ao governo do estado. Também promete aumentar as críticas ao candidato do PSDB durante o horário eleitoral
Belo Horizonte — A campanha de Newton Cardoso (PMDB) ao governo de Minas Gerais está em crise. A pouco mais de um mês das eleições, faltam dinheiro e empenho dos aliados para levar a candidatura do vice-governador para as ruas. Um terço dos prefeitos do PMDB apóia Aécio Neves (PSDB), que lidera as pesquisas de intenção de voto e pode vencer no primeiro turno.
Desde a semana passada, correm rumores, negados pelo candidato, de que ele desistiria de disputar as eleições, em razão do fraco desempenho. O comitê do PMDB anunciou ontem nova estratégia para enfrentar a crise: a troca da agência responsável pelos programas de rádio e televisão.
‘‘O Newton está sendo matéria de abandono. Ele está em campanha contra um político com um currículo como o Aécio, que tem ética no Congresso Nacional e a simpatia de todos. Sem dinheiro, a campanha virou ficção’’, afirmou o publicitário Márcio Liberbaum, diretor da M3, que deixou a campanha de Newton Cardoso no final de semana.
Liberbaum disse que chegou a advertir Newton Cardoso sobre a dificuldade de atrair votos sem campanha nas ruas, outdoors e panfletagem. Por isso, pediu demissão, segundo informou. Nota divulgada pelo comitê do PMDB diz que o rompimento do contrato com a M3 foi motivado por ‘‘questões técnico-administrativas’’. A campanha será agora conduzida pelo publicitário Luiz Carlos Brito Lopes, da Fúria Comunicação e Marketing.
O PMDB tentará reverter a situação mostrando, no horário eleitoral gratuito, as realizações de Newton Cardoso enquanto governador de Minas e prefeito de Contagem. As críticas vão se limitar ao PSDB e estão vetados ataques a Aécio Neves. Pesquisa qualitativa mostrou que o tom agressivo de Newton em relação a Aécio não agradou ao eleitorado.
‘‘Vou botar sabor mineiro na campanha. Estavam fazendo charges e críticas que eu não aceitei. Acho que a campanha tem que ser propositiva, séria. Nada de críticas’’, afirmou Newton Cardoso.
Hoje, começam as gravações dos novos programas. ‘‘As críti cas se limitarão ao PSDB, não esquecendo que o Aécio Neves é ligado ao partido que esteve no poder e não fez nada para Minas’’, ponderou o publicitário Luiz Carlos Lopes.
Newton Cardoso reagiu ao pedido de cassação de sua candidatura apresentado ao TRE pelos aliados de Aécio, sob a alegação que ele estaria utilizando o gabinete da vice-governadoria, no prédio do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), para fazer campanha eleitoral.
‘‘Lá é meu lugar, eu fui eleito. Vou receber os prefeitos aonde? No meio da rua?’’, afirmou o candidato. Ele acusou o governo estadual de fazer convênios ‘‘falsos e mentirosos’’, na tentativa de atrair prefeitos para a campanha de Aécio Neves.
Obras suspeitas tragam R$ 1 bi em 2003
A proposta do Orçamento de 2003, encaminhada na semana passada ao Congresso, traz um apêndice que dará muita dor de cabeça ao próximo presidente. Mais de R$ 1 bilhão do apertado plano de gastos para o ano que vem está reservado para obras com graves indícios de irregularidades.
A lista, preparada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), mostra 83 casos de superfaturamento, pagamentos antecipados para projetos que não saíram do papel e licitações fraudulentas. O campeão de irregularidades é o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT), substituto do finado Departamento Nacional de Estradas e Rodagem (DNER). São 31 projetos sob suspeita, totalizando R$ 273,5 milhões.
A obra mais cara da lista de irregularidades foi, no entanto, contratada pela Petrobras. Trata-se do projeto de modernização e adequação do sistema de produção da Refinaria Presidente Getúlio Vargas, em Araucária, no Paraná. Segundo o Ministério do Planejamento, a obra está avaliada em R$ 175,1 milhões. É dinheiro demais, argumenta o TCU, ao pô-la sob suspeição. Outro projeto destacado pelo exagero é o da construção da Usina Nuclear Angra 3, em Angra dos Reis, no Rio. A obra prevê gastos de R$ 123,1 milhões.
O setor de energia, por sinal, aparece com destaque na relação de obras suspeitas incluídas no Orçamento de 2003. Há irregularidades na construção de linhas de transmissão no Amapá, no Rio, em Alagoas, no Acre e em partes das regiões Sul e Sudeste. A suspensão dessas obras é um problema para o país, que necessita ampliar a oferta de energia para não sofrer novo racionamento, como aconteceu em 2001. Só o sistema de distribuição no Sul está orçado em R$ 118,3 milhões. Nos portos, as obras suspeitas somam quase R$ 120 milhões.
Corrupção entranhada
‘‘A relação das obras suspeitas revela o quanto a corrupção está entranhada no governo Fernando Henrique Cardoso. No caso do DNER, por exemplo, o governo só mudou o nome do órgão, mas as fraudes continuam’’, disse o deputado Agnelo Queiroz (PCdoB-DF), após analisar a proposta de Orçamento de 2003. ‘‘O total das irregularidades representa mais da metade do esforço adicional (R$ 1,7 bilhão) que o governo terá de fazer nas contas públicas neste ano para acalmar os investidores, assustados com a explosão da dívida pública’’, compara.
Os técnicos do Ministério do Planejamento não entram na polêmica das obras suspeitas. Dizem que, por determinação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deste ano, o governo passou a ser obrigado a anexar, na proposta orçamentária, os projetos com indícios de irregularidades com base em informações do TCU. O dinheiro para tocar essas obras até a conclusão, segundo eles, precisa estar previsto no Orçamento, para que, no caso de sanadas as irregularidades, os projetos possam ser retomados. A decisão final de retirar os recursos da reserva feita pelo Planejamento cabe, porém, à Comissão Mista do Orçamento. Desde que deixe claro as condições para a liberação do dinheiro.
No Orçamento de 2003, para evitar a repetição do que se viu neste ano, quando os parlamentares desviaram o bolo de recursos das obras suspeitas para suas emendas, o governo dividiu as verbas por ministério. Assim, os grupos interessados em preservar os projetos irregulares terão que se manifestar publicamente em favor de sua continuidade. Melhor: vão ter de brigar para que os erros sejam corrigidos e a sangria do Tesouro, estancada. A briga por verbas, contudo, será intensa, já que o governo deixou de fora do Orçamento de 2003 a previsão de recursos para as emendas, como sempre ocorreu.
O detalhamento de cada uma das 83 obras com graves suspeitas de irregularidades será encaminhado pelo TCU ao Congresso até o fim deste mês. A análise do Orçamento, entretanto, só começará no início de novembro, depois do segundo turno das eleições gerais. A meta do presidente da Comissão Mista do Orçamento, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), é encerrar o processo de votação do Orçamento do ano que vem até o dia 20 de dezembro. O presidente eleito poderá participar as discussões, para adequar as verbas a projetos de seu interesse.
Desrespeito à cidade
Turistas reclamam que a propaganda eleitoral suja e enfeia Brasília. Poluição de cartazes e banners não poupa nem o Eixo Monumental, que abriga monumentos tombados como Patrimônio Mundial
Moradora de Passos, cidade mineira a 600km de Brasília, a dona-de-casa Maria de Lourdes Maia Righetto, 72 anos, nunca ouviu falar de Abílio Teixeira, Ilton Mendes, Carminha Gonzaga, Toninho ou Jaime Sardinha. ‘‘Quem são essas pessoas?’’, ela perguntava, ontem, olhando intrigada para os postes da Esplanada dos Ministérios abarrotados de cartazes, santinhos e banners.
Pois é ... quem são essas pessoas? Maria de Lourdes, assim como muitas outras pessoas que visitam ou trabalham nos monumentos da cidade, nunca ouviu falar de algum — qualquer um — deles. Ou, por exemplo, de Gustavo Bussinger, Luís Baiano, José Vieira, Eliana Pedrosa e Capitão Souza. Na luta para garantir uma vaga no disputado processo eleitoral, eles invadiram até mesmo um dos espaços nobres da cidade considerada Patrimônio Mundial: o Eixo Monumental.
E é no Eixo Monumental, que abriga monumentos como a Catedral Metropolitana, a Torre de TV, o Centro de Convenções, o Memorial JK e a Catedral Rainha da Paz, entre outros, que candidatos disputam cada centímetro da atenção de quem passa. A estratégia de chamar a atenção, porém, pode dar errado.
Muitos dos que passam por esses locais não têm título de eleitor do DF. Aliás, muitos nem mesmo são daqui. Como Maria de Lourdes. ‘‘São os políticos que perdem. Os eleitores acabam ficando com raiva e não votando em gente que suja a própria cidade’’, revoltava-se a mineira, enquanto passeava pela Esplanada com a neta Daniela, 25, e a bisneta Luíza, 1.
Lourdes falava de gente como o pastor Vítor, Claudio Monteiro, Alírio, Lila Rollemberg e Gim, que também espalharam seus retratos pelo Eixo Monumental. Pendurados um acima do outro, os cartazes roubam a beleza da cidade e perturbam tanto os que trabalham ali quanto os que visitam o principal cartão-postal de Brasília.
‘‘Esses cartazes deixam a cidade horrorosa, mas é efêmero, uma festa da democracia’’, opina o arquiteto Cláudio Queiroz, 54, superintendente do Iphan-DF (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Ele lamenta a poluição e lembra que daqui a três meses a propaganda vai sumir, mas diz que ‘‘a lei eleitoral deveria cuidar melhor disso’’.
Poluição visual
‘‘Deveria existir uma espécie de Lei de Responsabilidade Eleitoral, nos mesmos moldes da Lei de Responsabilidade Fiscal’’, sugere o professor universitário Tasso Guerra, 40. Em visita à cidade, acompanhado da mulher, a psicóloga Adriana Nascimento, 38, e da filha Alice, 4, o mineiro de Ipatinga era um dos que não se conformavam com tamanha sujeira.
Ele olhava para os postes e balançava a cabeça. Nada de aprovar tamanha poluição bem pertinho da Cate dral. ‘‘Isso é deprimente. Monumentos históricos e pontos turísticos deveriam ficar imunes a essa propaganda infame’’, reclamava Tasso. ‘‘Saímos de Ipatinga para chegar aqui e ver a cidade feia. Um absurdo’’, disse a mulher, Adriana.
O ‘‘absurdo’’ de que fala a psicóloga mineira se estende pelo Eixo Monumental e não poupa monumentos, fachadas de lojas e prédios públicos, viadutos. ‘‘É um desrespeito à arquitetura de Brasília’’, critica Cláudio Queiroz.
Sorte dos turistas e de quem defende a beleza de Brasília que lugares como a Praça dos Três Poderes e o Palácio do Planalto estão a salvo — pelo menos por enquanto — dessa propaganda. A poluição visual é tanta que não dá nem para saber quem é quem. Imagens, números e cargos em disputa se misturam num mar de informações capaz de deixar confuso quem olha para os postes, enquanto caminha ou dirige.
‘‘O plano diretor publicitário faz a cidade parecer um mercado em liquidação. Mas tem gente que acha bonito. ‘Ora, parecemos Las Vegas, Miami’, pensam. Isso é sério’’, reclama o superintendente do Iphan sobre a sujeira, que antes de qualquer voto, dá mesmo é trabalho para os garis.
Polícia Federal indicia candidato
Avenir Rosa presta depoimento e nega aliciamento de eleitores em cooperativa habitacional. PFL dá prazo até sexta-feira para que ele se defenda das acusações
A Delegacia de Ordem Política e Social (Delops) da Polícia Federal indiciou ontem o advogado Avenir Ângelo Rosa Filho, 50 anos, candidato a deputado distrital pelo PFL, por crime eleitoral. Os policiais entenderam que Avenir Rosa infringiu o Código Eleitoral ao participar de reuniões da Cooperativa de Trabalho e Habitação do DF e Região Metropolitana (Coohapro).
Avenir Rosa irá responder pelo crime previsto no artigo 299 do Código Eleitoral, que proíbe acenar com vantagens em troca de voto (leia quadro). Se for condenado, pode pegar até quatro anos de reclusão. O inquérito que investiga a relação dele com a Coohapro foi aberto quarta-feira. Dois dias antes, o Correio denunciou que Avenir utilizava reuniões promovidas pela cooperativa para atrair eleitores.
No domingo 25 de agosto, a entidade atraiu cinco mil pessoas na área rural do Gama, com a proposta de venda de lotes a R$ 1 mil. Os terrenos não foram entregues, mas todos ouviram discurso do candidato garantindo apoio aos assentamentos e foram obrigados a fornecer o título de eleitor.
Depois de ouvir o depoimento de quatro pessoas que participaram de reuniões da Coohapro, o delegado Giácomo Francisco Santoro, chefe da Delops, convocou Avenir para depor. Uma das pessoas ouvidas é um morador do Paranoá, de 20 anos, que participou de uma reunião da Coohapro na quadra 27, Jardim ABC, há duas semanas. O endereço foi dado a ele no verso de um santinho de Avenir Rosa. Lá, o rapaz recebeu um adesivo do candidato, apertou a mão do advogado e ouviu as promessas de que ele se empenharia para que a área vendida pela cooperativa desse certo. Na hora de preencher o cadastro, o rapaz teve de apresentar o título eleitoral dele e da mulher.
Último lugar
Avenir depôs ontem pela manhã, na superintendência da Polícia Federal. ‘‘O delegado cerceou o meu direito de defesa. Não me permitiu ver os autos do processo’’, disse ele. ‘‘Vou provar na Justiça que é tudo armação para me derrubar.’’ O delegado Giácomo Santoro não quis dar entrevista.
Novos depoimentos estão marcados para hoje, na Polícia Federal. O presidente da Coohapro, Olírio Rodrigues, e duas pessoas ligadas à cooperativa serão interrogados pela manhã.
Avenir foi deputado federal por Roraima, de 1990 a 1994. Já concorreu a prefeito de Boa Vista, mas ficou em último lugar, com apenas 125 votos. O PFL lhe deu prazo até sexta-feira para apresentar a sua defesa ao partido. ‘‘A partir das conclusões da Polícia Federal, daremos início a um processo interno de punição. Podemos até excluí-lo do nosso quadro’’, adiantou o secretário-geral do PFL-DF, Flávio Cury.
Empresário cobra proposta de candidatos
Representantes do setor produtivo do Distrito Federal convidam principais concorrentes ao Buriti para um encontro. Um a um, os políticos vão expor seus programas de governo. Reivindicações já foram entregues há uma semana
O setor produtivo do Distrito Federal quer que o próximo governador tenha atuação enérgica para inibir feiras itinerantes e taxar o comércio informal. Ao mesmo tempo, quer que o governador seja atencioso e compreensivo com os empresários que têm dívidas com o Tesouro local — reduzindo penalidades, parcelando dívidas e recebendo precatórios. Esses e outros pedidos constam de um relatório de 21 páginas elaborado pelo Fórum do Setor Produtivo do Distrito Federal e entregue aos candidatos ao Buriti.
Hoje, das 8h às 14h, os empresários estarão de olhos e ouvidos abertos às respostas e compromissos dos candidatos — que receberam as reivindicações há uma semana, para estudá-las com antecedência. O encontro será no auditório do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), no Setor de Indústrias e Abastecimento. Os empresários receberão os candidatos separadamente. O primeiro é Benedito Domingos (PPB), às 9h, seguido por Geraldo Magela (PT), às 10h, Rodrigo Rollemberg (PSB), às 11h, Joaquim Roriz (PMDB), às 12h, e Carlos Alberto Torres (PPS), às 13h.
Cada candidato terá 20 minutos para apresentar propostas e em seguida responderá a seis perguntas, cinco de cada representante das entidades que compõe o Fórum — Federação das Indústrias de Brasília, Federação do Comércio, Federação das Associações Comerciais, Câmara dos Dirigentes Lojistas e Sindicato Rural do DF. A sexta pergunta será do Sebrae. Segundo o superintendente do Sebrae-DF, Newton de Castro, todos os convidados confirmaram a presença.
Artigos
PT com as barbas de molho
Denise Rothenburg
O Sul do Brasil comporta-se como um mundo à parte. Lá, tangerina ou a ‘laranja cravo’ do Nordeste vira bergamota, e nordestino, picolé, de tanto frio. O mesmo acontece com a campanha para presidente da República. Enquanto a maioria dos brasileiros aponta o favoritismo de Luiz Inácio Lula da Silva, longe dos adversários Ciro Gomes (PPS) ou José Serra (PSDB), no Sul, Lula despencou onze pontos. Saiu de 42% para 31%, em empate técnico com Serra, que tem 30%. Ciro ficou com 18% na Região Sul.
Os dados, apresentados no domingo pelo Datafolha, caíram como uma bomba na campanha petista. A cientista política Lúcia Hipólito chama a atenção para o que considera um problema para o PT. ‘‘Lula está na frente, tem um programa de TV muito bom, mas empacou. Não subiu mais’’, diz a pesquisadora. É bem verdade que Lula nunca chegou a setembro com uma intenção de voto acima de 30%, como apresenta hoje. E, pela primeira vez, pode passar para o segundo turno com uma vantagem sobre o adversário. Mas a queda de uma dezena de pontos na Região Sul não estava no script.
A última vez em que houve segundo turno numa eleição presidencial foi em 1989 contra Fernando Collor, que venceu por pouco. Lula chegou ao segundo turno, naquela época, em curva ascendente. Se houvesse mais um pouquinho de campanha, os petistas apostam que ele seria eleito. Mas não foi, e Collor saiu da Presidência pela porta dos fundos. Por isso, o PT começava a gostar da idéia de disputar com Ciro e poder compará-lo ao ex-presidente, provocando a ira do candidato da Frente Trabalhista.
O problema é que o PT não pode usar já esse discurso. Nem pode jogar muita pedra em José Serra. A dificuldade em saber quem irá enfrentar acaba deixando a campanha do PT tímida perante o tiroteio entre Serra e Ciro. O PT diz que é assim mesmo e coisa e tal. Mas, na verdade, as preocupações com as pesquisas que já foram exclusividade de Serra e hoje abatem Ciro chegaram ao PT. A queda no Sul será estudada com muito carinho. Afinal, se os índices da terra da bergamota se alastrarem pelo país, Lula corre sério risco de virar picolé no segundo turno. O PT botou as barbas de molho. E que ninguém se iluda: o estilo Lulinha paz e amor pode estar com os dias contados.
Editorial
O PAS E A ESCOLA PÚBLICA
O Correio Braziliense fez uma pesquisa em todas as escolas do Distrito Federal. Tinha por objetivo verificar quantos alunos das instituições públicas foram aprovados no Programa de Avaliação Seriada (PAS). O resultado confirmou suspeitas de crescente queda de qualidade do ensino fundamental e médio. Só 23% dos aprovados na Universidade de Brasília pelo PAS vieram de escolas do governo. Os estudantes da rede privada abocanharam 77% das vagas.
O fracasso tem muitas explicações. A falta de informação é uma delas. Há escolas que parecem não ter interesse na prova. Não comunicam datas de inscrição nem possibilidades de isenção do pagamento de taxa. Não motivam a participação no programa. Não promovem debates sobre o assunto, não aplicam simulados periódicos, não orientam os alunos nas formas de superar dificuldades nem indicam bibliografia complementar adequada e acessível.
O professor constitui peça-chave no processo. Se ele não abraçar a causa da educação, dificilmente o resultado será melhor. Aí reside o grande desafio. Os docentes do Distrito Federal entram em greve quase todos os anos. A paralisação não raro consome dois meses de aula. Depois de enormes desgastes, os professores retornam às escolas quase sempre frustrados nas expectativas.
A retomada das atividades implica reposição das horas perdidas. Em geral, a recuperação não leva em conta o aluno e, sobretudo, os desafios que ele tem pela frente. Entre eles, disputar uma vaga na universidade ou no mercado de trabalho. A jornada adicional visa atender a necessidade do calendário, que prevê um número mínimo de dias letivos. Nem sempre se ministra todo o conteúdo programático e, quando se consegue fazê-lo, a qualidade fica a desejar.
Daí a importância de olhar com mais cuidado a questão do professor. O ensino exige profissionais motivados, com a auto-estima elevada. Eles lidam com crianças e adolescentes, que serão moldados ao longo do processo. Só serão bons orientadores se se sentirem valorizados no exercício do magistério. O estado de espírito dos mestres contagia a escola e os alunos.
O maior desafio do Brasil é diminuir o hiato que separa pobres e ricos. A escola pública é talvez o único caminho seguro capaz de contribuir na hercúlea tarefa de tornar o país mais justo. Nenhuma nação conseguiu progressos duradouros na área social sem investir maciçamente no ensino de qualidade, que passa, necessariamente, pela excelência e motivação do professor. Sem isso, o sonho de ultrapassar a barreira do atraso fica para trás. O PAS serve de alerta.
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09/03/2002
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