Meirelles diz que poupança precisa mudar, mas que as medidas estão fora de sua competência



O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou nesta quarta-feira (25), em audiência pública, que será inevitável revisar as regras do sistema de poupança, devido à tendência declinante dos juros no país, mas que está fora de sua competência arbitrar a solução. Como o cálculo da rentabilidade da poupança é atrelado à Taxa Referencial (TR), esse investimento vem ganhando valorização frente a demais aplicações, por causa da queda na taxa Selic, os juros primários fixados pelo Conselho de Política Monetária (Copom).

Em áreas do governo, o temor é de uma ampla saída dos investidores para a poupança, em prejuízo de outros investimentos influenciados pela Selic e que geram recursos para diversas áreas de crédito, como o capital de giro das empresas, crédito pessoal e o financiamento de carros. Meirelles admitiu que essa questão é um desafio para o governo e, ainda, para o Congresso, já que as mudanças necessárias também dependem de alterações legislativas.

- Esse é, de fato, um desafio. De um lado, é a poupança dos pequenos aplicadores e, de outro, temos também a questão dos mutuários do Sistema Financeiro da Habitação. Em última análise, será uma questão desafiante, que vai fazer jus à capacidade política e intelectual do Congresso - disse.

Spreads

A questão da poupança foi levantada pelo senador Aloizio Mercadante (PT-SP), em audiência conjunta das comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e de Acompanhamento da Crise Financeira e de Empregabilidade. No debate, outro assunto de destaque foram os spreads bancários, termo que se refere à diferença entre as taxas de juros pagas aos aplicadores e as cobradas aos tomadores de empréstimos. Ultimamente, este tem sido um tema recorrente no Congresso, já que os senadores identificam nos spreads um dos fatores que mais influenciam para as altas taxas de juros no país.

O senador César Borges (PR-BA) chegou a dizer que a questão dos spreads sempre vem sendo abordada de forma "evasiva" pelas autoridades. Antonio Carlos Junior (DEM-BA) observou que o crescimento do spread tem grandes repercussões sobre o cidadão comum e as pequenas e médias empresas. Em resposta, Meirelles disse que a queda do diferencial entre as taxas para aplicadores e tomadores de recursos requer um aumento na competição entre os bancos e, nesse sentido, salientou que as instituições oficiais podem desempenhar papel importante, já que controlam mais de 50% do mercado financeiro nacional.

Mas um nível maior de competição e mesmo uma ação mais agressiva dos bancos públicos, para captar clientes e com isso induzir a queda dos spreads, conforme o presidente do BC, também está na dependência da adoção do "cadastro positivo" no país. Ele lembrou que há projeto, em tramitação na Câmara dos Deputados, nesse momento, prevendo a portabilidade das informações cadastrais dos clientes, quando este optar por transferir sua conta para outro banco.

- Depois de vinte anos, é muito difícil uma pessoa ou empresa passar para outro banco. É como se começasse do zero - comentou.

Ao senador Roberto Cavalcanti (PRB-PB), Meirelles disse que o cadastro positivo poderá ajudar a quebrar a desconfiança dos bancos com relação a novos clientes. Com o novo mecanismo, opinou, quem tem um bom histórico de crédito, terá facilidade em obter financiamento em qualquer banco. Em sua manifestação durante o debate, Roberto Cavalcanti havia alertado para o risco de o cadastro positivo se tornar um "cadastro impositivo".



25/03/2009

Agência Senado


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