Mensagem do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao Congresso Nacional
"Senhoras e Senhores Membros do Congresso Nacional,
É uma honra dividir com esta Casa a representação dos anseios nacionais por mais quatro anos. Juntos, temos a responsabilidade histórica de vocalizar um processo de desenvolvimento que resultou numa das mais complexas e diversificadas estruturas produtivas do mundo.Mas, sobretudo, vocalizar uma sociedade que a seu tempo, e a cada geração, lutou para superar as desigualdades resultantes dessa caminhada, valorizando o entendimento democrático que torna um povo maior que os seus desafios.
Creio, sinceramente, que nos últimos quatro anos honramos essa trajetória e definimos um novo patamar para a sua evolução.
O Brasil mudou. Se pudéssemos condensar esse período numa imagem em movimento, uma notável renovação social e econômica desfilaria diante de nossos olhos. Quadruplicamos os recursos destinados à luta contra a fome e a exclusão.A renda destinada aos brasileiros mais pobres cresceu acima da média nacional e o amparo do Estado chegou a 11 milhões de lares mais humildes. Sete milhões de cidadãos venceram a linha da pobreza. Criamos nesses quatro anos mais de cinco milhões de empregos formais e o salário mínimo quase dobrou seu poder de compra.
O Brasil é hoje o País menos desigual das últimas décadas. A desconcentração da riqueza reduziu o fosso das disparidades regionais, reabilitando o mercado interno como alavanca do desenvolvimento. Não apenas isso.A bola de neve do endividamento e da vulnerabilidade externa cedeu lugar a uma inserção soberana e competitiva no comércio mundial.
Nossas exportações cresceram 130% desde 2003. O saldo comercial acumulou mais de US$ 150 bilhões nesse período. E as reservas ultrapassaram, com folga, o valor da dívida externa pública. Mudamos as condicionalidades do sistema econômico nacional. O Brasil agora pode acelerar a engrenagem do seu crescimento. Não como um fim em si mesmo, não para homologar a injustiça triunfante no passado. Mas como a ferramenta que falta para uma grande transformação democrática capaz de ampliar o horizonte do presente e dilatar as fronteiras do futuro. Temos estabilidade financeira, fôlego econômico e, o que é mais importante, legitimidade política. A inflação caiu de 12,5%, em 2002, para 3,14% no ano passado, na menor variação de preços desde 1998.
As condições estão dadas: as taxas de juros podem e devem seguir em trajetória firme de queda. A confiança na economia despertou o apetite pelo risco, criando instrumentos financeiros indispensáveis à captação de novos recursos para a expansão produtiva.
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado em 22 de janeiro, é o passo seguinte da história. Seu objetivo é expandir a infra-estrutura física e social do País, desonerar o capital produtivo, gerar empregos, distribuir renda e assegurar novos saltos na competitividade das nossas exportações. Trata-se,sobretudo,de implantar um novo padrão de crescimento,que supere a rigidez da renda e dos desequilíbrios regionais,para semear a grande comunhão republicana que assegura um mesmo ponto de partida igual para todos os brasileiros.
O Brasil pode, deve e vai dobrar a aposta no seu desenvolvimento. Em 2006 o investimento produtivo cresceu 6%. Mais que o dobro da expansão do PIB. A meta, agora, é elevá-lo à faixa de 8% a 10% ao ano, para que a formação bruta de capital fixo atinja um patamar de 25% do PIB. Taxas sustentáveis de crescimento,iguais ou superiores a 5% ao ano, serão atingidas nesse processo.Para isso,o PAC definiu investimentos da ordem de R$ 503,9 bilhões até 2010, sendo R$ 300 bilhões em aportes da União e das empresas estatais. A dotação orçamentária do Projeto-Piloto de Investimento passa de 0,15% do PIB para 0,5% do PIB entre 2007 e 2010.
Portanto, não se trata de um desejo, mas de decisões já tomadas que ultrapassam o terreno das idéias para pertencer ao mundo através da ação. As metas e obras, os recursos e medidas reunidos no PAC formam uma combinação virtuosa de ousadia e planejamento público, inédita em nossa história. Pela primeira vez se regionalizam as metas de investimento em infra-estrutura para todo o País. Projetos com recursos assegurados vão erguer um grande canteiro de obras de Norte a Sul do nosso território. Ferrovias e rodovias.Aeroportos e pontes.Gasodutos e refinarias.Hidrelétricas e portos devem expandir os espaços da produção e do emprego, mas também da esperança e da autoestima nacional.
A energia, a habitação, o saneamento e o transporte público formam o principal arco da ponte que estreitará as fronteiras da geração da riqueza e da justiça social. Obras,máquinas, instalações e investimentos terão importante desoneração para engajar o pequeno, o médio e o grande empreendedor na travessia para o futuro.
O combustível dessa marcha, minhas senhoras e meus senhores, é o capital privado. Mas o investimento estatal recupera seu papel indutor na economia. Cabe-lhe implementar um conjunto de obras a salvo de oscilações orçamentárias, que garantam seu efeito catalisador na agenda do crescimento. O mercado de consumo de massas será fortalecido. O salário mínimo terá reajuste garantido pela inflação, com ganho real vinculado ao PIB do penúltimo ano, adicionando previsibilidade ao horizonte de cálculo dos trabalhadores, das empresas e do Governo.
Na integração sul-americana,os avanços institucionais, financeiros e de infra-estrutura reforçarão o papel geopolítico da cooperação continental na aceleração do crescimento. Não há o que temer, tampouco do que duvidar. O controle da inflação e a estabilidade constituem ingredientes intrínsecos à meta-síntese desse Programa.A "Brasília" de nossa geração é a justiça social.Crescer com estabilidade e democracia é o alicerce dessa arquitetura.
Minhas senhoras e meus senhores,
O aperfeiçoamento da estrutura tributária e dos marcos regulatórios é outro pilar indispensável à superação da guerra fiscal e à segurança jurídica necessária para o avanço das Parcerias Público-Privadas. Convido-os a buscar a mesma harmonia federativa para o licenciamento ambiental, demodo a preservar nossas riquezas e garantir a distribuição equilibrada da infra-estrutura em todas as regiões do Brasil.
O ponto de partida e de chegada do PAC inclui um compromisso compartilhado de forma ecumênica pelo Governo e por todos os partidos desta Casa. Falo de uma revolução no sistema educacional brasileiro. A criação do Fundeb,aprovada recentemente por este Congresso,bem como a expansão da universidade pública,do Prouni e do ensino técnico,além do salto pedagógico que a Universidade Aberta do Brasil proporcionará ao professorado, antecipam a síntese que nos une.Queremos educar para odesenvolvimento e educar o desenvolvimento para a justiça social.
Creio, minhas senhoras e meus senhores, que quando a sociedade adquire essa consciência dos seus interesses, a força do entendimento mobiliza o recurso necessário à geração da riqueza que produz igualdade. E da justiça que universaliza direitos. O desenvolvimento não é uma fatalidade na vida dos povos, mas uma transformação.Uma travessia para o futuro que não se completa sem a mobilização democrática da inteligência, do talento, dos recursos, da experiência e sonhos de toda uma sociedade.
O PAC depende do discernimento soberano deste Congresso para se tornar a agenda de toda a Nação. Juntos, temos a oportunidade histórica de acionar um novo ciclo que engendre a distribuição ética da riqueza produzida neste País. Que fortaleça a representação ética da vontade dos seus cidadãos. Que faça do Estado uma vitrine ética de transparência na alocação justa dos fundos públicos. E, sobretudo, consolide a ética democrática que não pode florescer à margem dos excluídos, nem subordinada ao império do privilégio. Conto com o apoio desta Casa que abriga a grandeza dos partidos e do povo brasileiro. p>
Muito obrigado."
02/02/2007
Agência Senado
Artigos Relacionados
Líder do PSDB comenta queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Valdir Raupp afirma que viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China será positiva
Congresso abre 54ª Legislatura com mensagem da presidente da República
Gilvam Borges relê mensagem de Lula ao Congresso Nacional
Congresso Nacional dará posse ao 37º Presidente da República do Brasil
Congresso Nacional dará posse ao 37º Presidente da República do Brasil