Mercadante defende rediscussão de metas de inflação



Ao apresentar opiniões de economistas que analisam a relação entre inflação e crescimento econômico, o líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), defendeu, na audiência da Comissão de Assuntos Econômicos com o ministro da fazenda Antonio Palocci, que o país promova, até a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) em junho, um debate sobre as metas de inflação ideais para os próximos anos. Para ele, uma meta muito conservadora pode comprometer o crescimento econômico.

- Há tempo para discutir com tranqüilidade. A definição das metas para 2005 e 2006 é um debate necessário que deve ser transparente. O Brasil deve definir um rumo para o que quer em um médio prazo - afirmou Mercadante, considerando que a meta de 5,5% com banda de 2,5% para mais ou para menos em 2004 é "extremamente ambiciosa", sugerindo sua manutenção também para os próximos anos.

O cálculo do senador se apoiou no fato de estudos não apresentarem conclusões sobre a inflação ideal para a economia, apontando apenas que um ponto de equilíbrio para a inflação de uma economia como a norte-americana está em 2,5% ao ano. Esse índice em uma economia em desenvolvimento como o Brasil, disse o senador, geralmente é mais alto.

- O Chile demorou oito anos para que inflação caísse de 25% para 6%. Depois que o país baixou a inflação para 2,5%, o crescimento econômico caiu. No Brasil, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) caiu de 26% para 9% em um ano. Por isso o custo foi tão alto para a economia - analisou Mercadante, que apontou o recorde do saldo comercial e o próprio controle da inflação entre os ganhos da política econômica.

Diante da afirmação de Mercadante de que setores da oposição agem de forma "irresponsável", o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), disse considerar que o teto de 8% da meta inflacionária para 2004 é "mais que suficiente" para que o governo possa operar bem a política econômica. Em 2005, o teto de 6,5% também pode permitir o crescimento econômico em 2005, disse o senador.

- Quanto menor a inflação, mais vai haver transferência de renda para os mais pobres. Aumentar as metas é que parece "namorar com o perigo" - declarou Virgílio, manifestando que, mesmo concordando com as linhas gerais da política econômica do governo, mantém discordâncias graves com relação a detalhes, especialmente com a falta de ação administrativa e de iniciativas na área da microeconomia por parte do governo federal.

Ao contrário do que observou Virgílio, Mercadante apontou que o governo tem uma agenda microeconômica "promissora" que permitirá dar competitividade à economia nacional, com temas como a regulamentação do setor elétrico, a reforma tributária, a repactuação da dívida agrícola ("daí a exuberância da agricultura"), o projeto de parceria público-privada (PPP) e a discussão da Lei de Falências ("que o país espera há 40 anos").

O ministro Antonio Palocci disse que é preciso dar um valor adequado ao processo de queda da inflação para que não sejam cometidos equívocos. Para isso, ele entende que a importância da queda dos juros para crescimento de longo prazo não está superestimada. Antes disso, afirmou o ministro, é necessário dar andamento a uma série de medidas microeconômicas que fazem parte da agenda do governo. Palocci interpretou ainda que o regime de metas de inflação tem menor custo para o Produto Interno Bruto (PIB).

O ministro concordou com Mercadante de que o debate sobre as metas de inflação deve ser feito, por fazer parte do processo de construção da estabilidade macroeconômica. Nesse sentido, ele destacou que o Banco Central tem atuado de maneira autônoma, "com propriedade e competência técnica".

Mercadante ressaltou ainda que o setor de construção civil, cuja queda teve grande impacto na redução do PIB em 2003, precisa de investimentos para garantir a retomada do crescimento econômico.



30/03/2004

Agência Senado


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