Moderados devem manter controle do PT



Moderados devem manter controle do PT Alinhado com Lula, José Dirceu busca o quarto mandato à frente da sigla e enfrenta oposição dos setores radicais A primeira eleição direta para escolha da direção do PT em todos os níveis deve manter o controle dos moderados sobre o partido. O favorito é o deputado federal José Dirceu (SP), que busca a reeleição para o cargo de presidente do PT pela quarta vez. O vencedor deste domingo terá a tarefa de coordenar o processo eleitoral de 2002, considerado para o PT o mais importante em razão da ampla vantagem do partido nas pesquisas de intenção de voto para a sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2002. Luiz Inácio Lula da Silva, provável candidato à Presidência, lidera os levantamentos de opinião com cerca de 30%. Apesar do favoritismo de Dirceu, dois gaúchos – o presidente licenciado do partido no Estado, Júlio Quadros, e o ex-prefeito da Capital Raul Pont – disputam o segundo lugar e tentam levar o embate para o segundo turno, marcado para o dia 7 de outubro. A eleição deve mobilizar mais de 300 mil filiados. – A eleição vai coroar um processo de mudança do PT – avalia Dirceu, que espera conseguir 60% dos votos em todo o país. Dirceu conta com a vitória em todos os Estados, com exceção de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Espírito Santo. Esse sucesso não abafa, porém, as críticas que vem recebendo pela condução do partido, principalmente de setores mais à esquerda, representados pelas candidaturas de Pont, de Quadros e do economista Markus Sokol (SP). – Queremos um PT de combate. Se não, corremos o risco de repetir o que ocorreu na Argentina, quando a oposição apresentou um programa moderado e não fez nenhuma mudança – afirma Quadros, que tem apoio de dirigentes do Movimento dos Sem Terra (MST). Aliados de Dirceu consideram a candidatura de Quadros mais forte do que a de Pont, apoiado pelo governador Olívio Dutra. Apesar de ser mais conhecido no país, o ex-prefeito de Porto Alegre tem apoio de uma única tendência de expressão nacional, a Democracia Socialista (DS), forte no Rio Grande do Sul e em Alagoas. Quadros, da Articulação de Esquerda, na avaliação dos moderados, teria um leque maior de aliados, que inclui a Força Socialista do prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, e o grupo Refazendo, de Milton Temer e Vladimir Palmeira, no Rio. As candidaturas que se opõem à de Dirceu defendem propostas radicais como o não-pagamento da dívida externa, a reestatização de empresas privatizadas e até mesmo o afastamento do publicitário Duda Mendonça da campanha de Lula. – É pura retórica. Eles são governo no Sul e não reestatizaram nada – rebate Dirceu. A vitória de Dirceu neste domingo praticamente consolida o nome de Lula como candidato à Presidência em 2002, mas não deverá ser suficiente para evitar a prévia marcada para março. Além de Lula, há dois outros possíveis candidatos: o senador Eduardo Suplicy e o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, que seria apoiado pelo grupo de Quadros. Resultado define chances de Olívio e Tarso Quando o resultado da eleição para a presidência do PT estadual for anunciado, na noite deste domingo, os rumos da disputa interna para o governo do Estado estarão definidos. Apesar de ser provável um segundo turno para a escolha do novo presidente do PT, a revelação da composição do diretório mostrará a tendência predominante no partido: apoiar a reeleição de Olívio Dutra ou indicar o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, para a sucessão. Com nove candidatos, a disputa dificilmente se decidirá no primeiro turno. Nem mesmo David Stival (Articulação de Esquerda), que tem o apoio declarado da Democracia Socialista, uma das maiores correntes do PT gaúcho, deve conseguir 50% dos votos mais um para decidir a eleição no domingo. Fundador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Stival aglutina em torno de sua candidatura correntes pró-Olívio, como a Esquerda Democrática e o Fórum de Ação Socialista. Por critério numérico, Paulo Ferreira (PT Amplo e Democrático) deve disputar o segundo turno com Stival. Uma vitória de Ferreira colocaria a candidatura de Tarso Genro em pauta. A Rede, corrente do prefeito, retirou seus candidatos à presidência das executivas estadual e municipal no final da disputa. Surgido a três dias da eleição, o boato de que votos da DS migrariam para Marcelino Pies, chefe de gabinete do deputado Ivar Pavan, líder do governo na Assembléia, foi atribuído a manobras eleitorais de última hora. O próprio vice-governador Miguel Rossetto, da DS, fez questão de reafirmar o apoio a Stival, que costuma manter uma postura crítica em relação ao governo. Durante o último dos 29 debates entre os candidatos, realizado sexta-feira na Câmara Municipal de Porto Alegre, Ferreira poupou Stival e criticou os “companheiros de Pies”, que teriam comportamento ambivalente ao condenar internamente algumas práticas em âmbito partidário e reproduzi-las quando está no governo: – De nada adianta os companheiros radicalizarem dentro do partido e, quando estão no governo, não corresponderem às expectativas. Para o presidente em exercício, Selvino Heck, a adoção do voto direto – pela primeira vez na escolha do presidente da sigla – aumenta a margem de erro em eventual prognóstico sobre o resultado da eleição. Agências de desenvolvimento avançam no Interior Pólo-RS auxilia municípios gaúchos a encontrar estratégias de expansão e atrair investimentos para as regiões Depois de participar da atração de investimentos para o Estado, como a implantação da Dell Computadores do Brasil, a Pólo-RS Agência de Desenvolvimento começa a fixar bases no Interior: já são nove unidades. As agências contam com o apoio da estrutura sediada na Capital, mas atuam de forma independente. O objetivo é comum: acelerar o crescimento econômico das regiões onde se localizam. A Pólo-RS funciona como uma organização privada, sem fins lucrativos, criada para incentivar projetos no Estado. Em fevereiro de 2000, foi iniciada a instalação de agências de desenvolvimento pelo Interior. As primeiras ergueram-se sobre iniciativas em andamento nos municípios. É o caso da Visão Agência de Desenvolvimento, que surgiu da reunião de um grupo de empresários da Região das Hortênsias, com o objetivo de melhorar as condições de turismo em épocas de baixo fluxo de visitantes. As iniciativas da Visão conseguiram aumentar os índices de ocupação dos hotéis da Serra, de segunda a quinta-feira, graças ao apoio ao turismo de negócios. Em Tramandaí, além de buscar expandir o número de visitantes no inverno, a AD Litoral negocia a atração de duas fábricas do segmento de plásticos e uma do setor farmacêutico. Se concretizados, os três projetos irão gerar, pelo menos, 150 postos de trabalho. O diretor de pesquisa e informação da Pólo-RS, Erik Camarano, explica que, no início da Pólo-RS, a intenção era fazer marketing institucional do Estado e trazer empresas para cá: – Nessa época, percebemos o quanto era difícil encontrar informações sistematizadas sobre os municípios gaúchos. Até um site bem montado faz diferença na hora de se apresentar lá fora. Para o diretor de gestão e negócios da Pólo-RS, Ronald Krummenauer, o ideal é que as iniciativas estejam baseadas no trinômio poder público, universidades e iniciativa privada. Segundo ele, as agências de desenvolvimento surgem de comunidades inquietas que querem expandir suas regiões sem depender do poder público. Dólar em queda nos países de economia forte O aumento das incertezas na economia internacional deverá seguir estimulando a alta do dólar em relação ao real, embora a moeda americana tenha registrado queda em outros países. A razão da turbulência na relação dólar-real é o desequilíbrio das contas externas do Brasil, afirma o economista-chefe do Bic Banco, Luiz Rabi. Na sexta-feira, o dólar registrou as mais baixas cotações dos últimos seis meses em relação às moedas européias e ao iene. O pessimismo no que diz respeito às chances de recuperação da economia dos EUA depois dos atentados terroristas foi o motivo da queda da moeda americana no mercado internacional. No Brasil, essa mesma razão serviu para estimular a alta das cotações. O dólar subiu 4,2% na semana dos ataques. – A economia brasileira não tem a mesma robustez da Europa e do Japão, que não dependem tanto de financiamento externo – diz Rabi. O nervosismo nas mesas de câmbio brasileiro ocorre porque o fluxo de recursos para os países emergentes deverá diminuir, uma postura conservadora dos investidores confrontados com a tensão política provocada pelo terrorismo. O déficit externo tende ultrapassar os US$ 7 bilhões previstos como valor máximo, já que a estimativa de que o país receberia US$ 18 bilhões em investimentos este ano está ameaçada. As exportações também serão atingidas se houver desaquecimento global. Desde a terça-feira, por exemplo, poucos bancos ofertaram crédito para os exportadores brasileiros, como reflexo imediato do temor de retração dos investidores externos. Artigos Um Frankenstein da globalização DÉCIO FREITAS No dia seguinte aos bárbaros atentados terroristas de Nova York e Washington, o signatário escreveu neste mesmo espaço que “os EUA estão pagando o preço de serem hoje o Império global”. São obviamente amplas e profundas as implicações destes aterrorizantes atos de terrorismo. Nunca mais, daqui por diante, as coisas serão como antes. Comecemos pelo começo. A História brindou à nação americana a incomparável vantagem estratégica de dois oceanos que a protegiam contra possíveis ataques externos da Europa ou da Ásia. Este fato engendrou a doutrina política e estratégica do isolacionismo, a saber, principalmente: o não-envolvimento do país nos viciosos conflitos europeus, como de resto aconselhara George Washington em seu discurso de despedida. Não só os Estados Unidos estão humilhados e assustados: o mundo inteiro o está Quando estourou a I Guerra Mundial, os americanos resistiram tenazmente a qualquer envolvimento. Mas já eram, desde o fim do século 19, a primeira potência industrial do mundo e o conflito afetava cruciais interesses do país. Este argumento permitiu ao presidente Wilson convencer seu povo a participar da guerra. O que afinal de contas veio a ser um belo negócio, visto que os EUA saíram da I Guerra Mundial como a primeira potência financeira do mundo. O presidente Wilson idealizou a Liga das Nações como instituição destinada a evitar novas guerras – o que indiretamente precatava os EUA da necessidade de se envolverem em futuros conflitos. Mas um Congresso isolacionista o desautorizou ominosamente, recusando-se a ratificar o tratado. O colapso da bolsa de Nova York em 1929 resultou da faceta econômica do isolacionismo. A história que se seguiu é nimiamente conhecida: ascensão dos totalitarismos na Europa e no Japão, e II Guerra Mundial, descortinando a perspectiva duma marginalização americana no mundo. Ainda assim, teve o presidente Roosevelt que lançar mão de expedientes escancaradamente maquiavélicos e escassamente morais para superar o tenaz isolacionismo americano, engajando o país no conflito. Não é verdade que depois da guerra os EUA tenham espontaneamente criado uma vasta máquina militar (Otan) em torno do anel de satélites soviéticos na Europa oriental. A verdade é que os americanos queriam se desmobilizar e não se armar. Aquela política, de que resultou a Guerra Fria, respondeu a uma postulação dos aliados euro-ocidentais, ainda mais temerosos do comunismo do que os próprios EUA (um governo socialista francês instou obstinadamente os americanos a usarem a bomba atômica contra o Vietnã). Nasceu desta forma o Império Americano, sob a forma de incontrastável hegemonia militar, econômica, financeira, tecnológica e cultural. Isso veio a ser, noutras palavras, a globalização, da qual os EUA são os principais sustentáculos e beneficiários, ainda que não os únicos. Se os demais países desenvolvidos resmungam às vezes contra aspectos adjetivos da globalização, é porque os americanos levam a parte do leão. Os resmungos destinam-se mais ao público subdesenvolvido, pois todos são cônscios de que sem a hegemonia estratégica americana estarão fritos. E, assim, os EUA passaram a se embalar na auto-segurança duma hegemonia global abonada por irrespondível supremacia militar. Era bem certo que havia longes duma vulnerabilidade nuclear, visto que atualmente qualquer pequeno país tem acesso à respectiva tecnologia. Temor que explica o projeto do escudo antimíssil do presidente George Bush. Tirante esta hipótese, não de todo implausível, nada mais ameaçava os EUA. Havia portanto, afora a tradicional segurança geográfica, a segurança estratégica. Ora, não se imaginava que tão colossal estrutura defensiva pudesse ser burlada por pequeno grupo de indivíduos audazes. Supunha-se que tudo – a economia, as finanças, a tecnologia, a cultura – podia se globalizar, menos o terrorismo. Sem os artefatos e recursos tecnológicos da globalização, este golpe no coração da potência global seria inteiramente impossível. O que é dizer que a criatura se volta contra o criador: o terrorismo transnacional é um Frankenstein gerado pela própria globalização americana. A bem dizer, como afirmou o presidente Bush, “mais do que atos de terror, foram atos de guerra”. Quando despontou a atual recessão americana, escreveu-se neste espaço que ela assinalava o começo do fim da globalização como projeto político. Os EUA são hoje um problema global. Não só eles estão humilhados e assustados: o mundo inteiro o está. Entre outras coisas, o terrorismo global provocará paranóia global, fazendo as liberdades padecerem. Podemos esperar que, depois de elaborado o luto da tragédia, os americanos parem um pouco para pensar, ou repensar, uma globalização certamente irreversível, mas não, em absoluto, irreformável? Repúdio ao terror LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA O dia 11 de setembro de 2001 marcará para sempre um momento trágico na história da humanidade. Os atentados terroristas ocorridos nesse dia nos Estados Unidos merecem repúdio absoluto, enquanto o povo norte-americano merece a mais irrestrita solidariedade de todos os povos e governos do mundo. Nós, aqui no Brasil, já estávamos chocados desde a noite anterior, guardadas as diferenças de significado e de proporção entre os fatos, devido ao bárbaro assassinato do prefeito de Campinas (SP), nosso companheiro Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT, em circunstâncias ainda não esclarecidas e que não excluem motivações políticas. Há na verdade um nexo fundamental entre as duas tragédias: o terrorismo e a violência cega como meios inaceitáveis de ação política e o sacrifício igualmente inadmissível de vidas humanas. O novo século se inicia recolocando questões essenciais: mais democracia e solidariedade ou aumento da barbárie Os Estados Unidos, com o apoio de todos os países do mundo, têm o dever e o direito de esclarecer as circunstâncias em que se deram os atentados, identificar os responsáveis por sua organização e execução, prendê-los e levá-los à Justiça para que paguem exemplarmente pelos crimes que cometeram. Ninguém deve deixar de lhes prestar solidariedade na busca de justiça e reparação. A gravidade da tragédia e a profunda comoção que tomou conta dos norte-americanos, e que se irradia internacionalmente, amplia consideravelmente os riscos de atitudes retaliatórias generalizadas, de vingança e de terrorismo de Estado por parte do governo de Washington. Fala-se em guerra e até em “varrer” países do mapa. Mais violência gerará apenas mais violência, em uma escalada incontrolável, com mais vítimas. É preciso agir a partir de conclusões comprovadas sobre os fatos, dentro da lei e dos acordos internacionais, com a participação da ONU. Os Estados democráticos não podem e não devem confundir as suas ações e os seus métodos com os dos terroristas que atuam criminosamente. É necessário refletir profundamente e agir de modo positivo diante dessa grave situação. Se não agirmos logo, todos nós corremos o risco de pagarmos mais caro ainda pelas conseqüências desses bárbaros atentados. É preciso um esforço grandioso para que as forças democráticas e humanistas de todos os países se façam ouvir com rapidez. As sociedades civis organizadas em todo o mundo, as instituições internacionais, os governos, os partidos políticos, cidadãos e cidadãs de todos os países devem se mobilizar e encontrar meios de se manifestar em uma reação preventiva mundial para tentar evitar o pior. A enorme tragédia ocorrida nos Estados Unidos não pode se desdobrar em novas tragédias pelo mundo afora, causando mais vítimas. Outra razão que justifica a necessidade dessa reação preventiva mundial decorre de certas ênfases que já começam a ganhar corpo e destaque na imprensa nacional e internacional. São declarações que apontam para a adoção de medidas discriminatórias, autoritárias e antidemocráticas por parte de governos de vários países. Em nome do combate frontal ao terrorismo, que pode atacar de surpresa, escondido por trás das aparências mais inocentes, tende a prevalecer a idéia de que todos são suspeitos, e alguns mais suspeitos do que outros. Prejulgamentos e incentivos à xenofobia tendem a acirrar preconceitos e discriminações contra determinadas comunidades étnicas e adeptos de algumas religiões. A História ensina que não nascem bons frutos desse tipo de cultura. Pelo contrário: multiplicam-se atitudes de violência cega, individuais e coletivas, aumentando o ódio e os casos de injustiça nas sociedades. No Brasil, o governo manifestou-se de modo dúbio em relação às eventuais atitudes que os Estados Unidos poderão adotar em função dos atentados. Defendeu alinhamento automático e compromisso prévio com possíveis reações do governo de Washington que poderão ser desastrosas. As forças democráticas e populares brasileiras não podem cair nessa armadilha. Devem incentivar a realização de amplas manifestações pela paz e pela democracia, contrapondo-se ao espírito de guerra e de autoritarismo que se pretende fazer prevalecer no mundo. Com esses atentados terroristas, o novo século se inicia recolocando questões essenciais para toda a humanidade: ou mais democracia e solidariedade globais – ou o aumento da barbárie. O nosso caminho é – e continuará sendo – o da democracia, da justiça social e da paz: para o Brasil e para todos os povos do mundo. Colunistas JOSÉ BARRIONUEVO – PÁGINA 10 Dia de medir forças no PT Aos 21 anos de idade, o PT realiza neste domingo a primeira eleição direta para escolher seus dirigentes de norte a sul do país. Todos os filiados em dia com suas contribuições vão às urnas. Voto de delegado agora é coisa do passado. Ao mesmo tempo em que democratiza a disputa interna, o partido de Luiz Inácio Lula da Silva abre uma das mais ferrenhas guerras entre as correntes, que nos últimos anos se multiplicaram feito barata. No Rio Grande do Sul chegou a ter 10 candidatos querendo ser presidente, com uma baixa nos últimos dias. Celso Alberici, representante do movimento Rede do PT, chefiado pelo prefeito Tarso Genro, desistiu e a decisão foi interpretada pelo grupo palaciano como uma demonstração do tamanho da Rede e da força de Tarso. Ao mesmo tempo em que a Rede se retirava da disputa, boatos corriam o Estado de que Davi Stival, do Movimento Socialista, perdera o apoio do primeiro escalão do governo do Estado. O que foi prontamente desmentido pelo vice-governador Miguel Rossetto. De todos os pretendentes a sucessor do presidente licenciado Júlio Quadros, que disputa a direção nacional do partido, o PT Amplo e Democrático, de Paulo Ferreira, e o Movimento Socialista, de Stival, são os mais confiantes na vitória. O que poderá produzir um segundo turno. Estilac Xavier, um dos coordenadores da campanha de Ferreira, não admite derrota do Amplo, e nem de José Dirceu em nível nacional. Cópia fiel O ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, quer encampar em nível nacional a idéia do “Fala PMDB” criada pelo presidente regional do partido, deputado Cézar Schirmer. Essa seria uma forma de ir ao encontro das bases para que os filiados tenham chance de conhecer as idéias dos candidatos a presidente da República. Aliás, todas as idéias de Schirmer têm sido aplaudidas de pé por Padilha, que não economiza elogios ao parlamentar. Dentro do PMDB, há quem interprete tantos elogios como um apoio do ministro ao nome de Schirmer para disputar o Palácio Piratini em 2002. Chumbo grosso As propagandas do PT veiculadas na TV são produzidas pelo publicitário Duda Mendonça, responsável também pelas campanhas eleitorais de Paulo Maluf (PPB). Apesar da excelente e incontestável qualidade do material, o conteúdo não tem agradado à ala mais radical do partido, que tem achado os comerciais leves demais. É o caso do gaúcho Júlio Quadros, candidato a presidente nacional do PT pela corrente Articulação de Esquerda. Em campanha no Maranhão, Quadros mandou chumbo: "Se eu for eleito o Duda Mendonça será demitido no dia seguinte." JÚLIO QUADROS candidato a presidente nacional do PT Legítimo escocês Considerado por Leonel Brizola como um dos mais fiéis pedetistas do Rio Grande do Sul, o ex-secretário estadual de Obras Pedro Ruas tem sido chamado pelos corredores do partido de “O Escocês”. Não que ele use kilt ou toque gaita de foles, mas por ser reconhecido como um “legítimo” trabalhista. Contra a vontade até de Brizola, Ruas já decidiu que vai se candidatar a deputado federal na próxima eleição. Vitória certa depois da votação que fez em 1998 quando tentou o Senado. Campanha alinhada Celso Bernardi e Fetter Júnior estão em plena disputa pelo voto dos filiados do PPB, mas muitas de suas idéias para governar o Estado seguem a mesma linha. Com relação ao funcionalismo público, por exemplo, os pré-candidatos concordam ao acusar o atual governo de tratar os trabalhadores como meros instrumentos ideológicos e partidários e não como prestadores de serviço à população gaúcha. Fetter e Bernardi atribuem a isso o que chamam de “desânimo generalizado” pela falta de reajustes salariais condizentes com a função que exercem. Quem dá mais Depois da difícil decisão de deixar o PT e da semana de assédios dos partidos políticos, o vereador José Fortunati entra agora numa terceira e decisiva fase: escolher a sigla onde assinará ficha. Embora negue de pés juntos que já decidiu, está muito claro que o coração de Fortunati bate mais forte pela rosa vermelha do PDT. Há quem já tenha escutado isso do próprio. Se os demais partidos quiserem conquistar este caminhão de votos precisam se agilizar porque Leonel Brizola não dá ponto sem nó. ROSANE DE OLIVEIRA Terror psicológico Para organizar e executar um atentado das proporções dos que abalaram o mundo na terça-feira, os terroristas precisam de estrategistas, dinheiro e malucos dispostos a explodir junto com seus alvos. Depois do atentado real, que matou milhares de pessoas em Nova York, Washington e no avião que se espatifou na Pensilvânia, começou a fase do terror psicológico. Que não exige dinheiro, nem planejamento, nem suicidas. Um telefonema dizendo que existe uma bomba é suficiente para semear o pânico numa cidade ferida pela dor. Por não depender de recursos materiais, o terror psicológico se espalha e ultrapassa fronteiras. Uma ameaça de bomba em Itaipu fez o governo brasileiro adotar medidas rígidas de segurança e fechar o parque à visitação pública. A Europa está sobressaltada. Depois de 11 de setembro, o mundo se sente refém. Nova York é uma cidade em pânico. As autoridades, os moradores e os milhares de turistas retidos pela falta de vôos não têm como saber quando uma ameaça de bomba é falsa ou verdadeira. E tocam a desocupar o Empire State Building, o Capitólio, escolas, estações de trens, prédios públicos. Até as trovoadas apavoram Manhattan. Patrícia Varajão, uma carioca de 21 anos que mora nos Estados Unidos desde os oito e se alistou como voluntária na Cruz Vermelha, conta que acordou no meio da noite sobressaltada, imaginando que Nova York estava sendo bombardeada. Eram apenas trovões de fim de verão, mas bastaram para espantar o sono, mesmo com o cansaço depois de um dia dedicado a ajudar as vítimas do atentado. O terror real e o psicológico estão mandando de volta para seus países estrangeiros que sonhavam vencer na América, mesmo executando tarefas com as quais os americanos não querem sujar as mãos. Os americanos ainda se confortam no sentimento de pátria, na expectativa da retaliação. Os estrangeiros do Terceiro Mundo se perguntam se vale a pena lavar pratos e engraxar sapatos em um país que o terror elegeu como alvo principal. Editorial Os choques do futuro Há um quarto de século, o cientista político norte-americano Samuel Huntington fez circular uma tese polêmica na qual afirmava que a fonte fundamental dos conflitos mundiais deixaria de ser econômica ou ideológica e passaria a ser cultural. Em sua argumentação dizia que todas as visões de futuro que se propunham naquele momento – o fim da História, o retorno às tradicionais rivalidades entre nações-Estados, o declínio da nação-Estado decorrente do conflito entre tribalismo e globalismo – todas essas visões eram insuficientes. Para ele, o mundo se encaminhava para um choque de civilizações, no qual as linhas divisórias da batalha seriam dadas não em termos apenas geopolíticos ou geoeconômicos, mas em termos culturais e civilizatórios. Nos argumentos que arrolava, Huntington entendia que um conjunto restrito de civilizações tinha condições de pleitear a hegemonia mundial. As demais acabariam se colocando como subalternas e dependentes. Como as civilizações têm concepções diferentes “das relações entre Deus e os homens, os cidadãos e o Estado, pais e filhos, liberdade e autoridade, igualdade e hierarquia”, seria impensável encontrar consensos entre elas num curto horizonte de tempo. As diferenças que tornam essas civilizações distintas e características são produto de séculos. O terrorismo usou os ruídos do mundo como pretexto para cometer um ato de desumanidade As polêmicas teses de Huntington foram contestadas e a teoria do choque de civilizações acabou sem seguidores. Diante da gravidade com que se manifestam os conflitos mundiais, retratados tão eloqüentemente na destruição das torres de Nova York, a idéia de que há elementos que permitem crer nesse choque de civilizações precisa provocar reflexões críticas para que se entenda o presente e do futuro do planeta. O eixo central da tese era de que “a política mundial do futuro tenderia a ser o conflito entre o Ocidente e o ‘resto’ ou a reação das civilizações não-ocidentais ao poderio e aos valores do Ocidente”. A globalização, que conseguiu exibir planetariamente o way of life do Ocidente, encontra uma resistência que, queira-se ou não, faz com que o conflito que se mostrou em Seattle ou Gênova, o crescimento dos fundamentalismos e os inimagináveis atentados de Nova York e Washington possam ser pensados conjuntamente. Por isso, além da rede de proteção mundial contra o terror e os terroristas, além da investigação sobre os autores dos atentados e seus aliados, além da punição que está em preparação e que assusta antecipadamente o mundo, além da humilhação infligida à maior potência militar do planeta, além da consternação norte-americana e mundial em relação aos milhares de mortos, além de todo esse presente nebuloso e dolorido, nações e sociedades não podem perder de vista que nenhuma dessas medidas construirá um mundo de paz, de justiça e de tolerância. O mundo, que precisa encontrar caminhos, sabe que nenhum deles se cruza com os atos de terror. O terrorismo, que é o uso distorcido e desequilibrado do direito de se opor, usou os ruídos do mundo como pretexto para cometer um ato de desumanidade. Nenhuma civilização pode concordar com isso. O alvo errado Em mais uma de suas tantas declarações marcadas pela imprudência, o ministro argentino da Economia, Domingo Cavallo, voltou a atacar indevidamente a política econômica brasileira. Desta vez, a agravante foi o fato de ter escolhido um momento de tensões mundiais acirradas pelos atos terroristas contra os Estados Unidos para condenar a política cambial brasileira. Ameaçou inclusive forçar a Argentina a romper as relações com o Mercosul se o Planalto insistir na manutenção do câmbio flutuante. A ousadia levou até mesmo o presidente Fernando Henrique Cardoso a lembrar que o ministro do país vizinho “passou dos limites”, endossando as críticas da Fazenda e do Itamaraty. É tempo de que cessem tais ataques, magnificados pela mídia portenha e, quase como regra, objeto de desculpas da chancelaria do Palácio San Martín. Desde que voltou ao comando da economia argentina, o ministro Domingo Cavallo não tem hesitado em procurar desviar a atenção dos problemas de seu país a cada vez que se agrava a dificílima situação interna. Incapaz de enfrentar o impasse que ele próprio criou em sua passagem anterior pelo governo, ao fixar a taxa de câmbio por lei, o comandante argentino da economia desrespeita sistematicamente o retrospecto de avanços nas relações entre os dois países. Em ocasiões recentes, chegou a definir a Tarifa Externa Comum (TEC), pilar da união aduaneira, como “palhaçada”. Culpou também brasileiros de especularem contra a Argentina e insistiu genericamente que, quando países desvalorizam suas moedas, é como “se estivessem roubando a casa do vizinho”. O Mercosul é uma união aduaneira voltada para a prosperidade e não uma tribuna de acusações infundadas Um projeto como o do Mercosul é de países, não de governantes. É inadmissível, porém, que pessoas pouco dispostas a entender suas dimensões se disponham a torpedeá-lo, aproveitando-se do fato de estarem circunstancialmente no centro das decisões. O Mercosul é uma união aduaneira voltada à construção de um espaço de prosperidade compartilhada e não uma tribuna de acusações infundadas. Entre 1990 e 1998, o fluxo de exportações e importações do Brasil para os países do bloco econômico ampliou-se em mais de 400%. No mesmo período, o comércio total para os países integrantes do Nafta aumentou 100% e, para a União Européia, em 110%. As estatísticas comprovam que, mesmo ampliando mercado para Brasil e Argentina, seus dois principais parceiros, o Mercosul não limita a expansão dos negócios para outras regiões. Seria oportuno que antes de voltar à carga contra o Brasil, o ministro argentino se esforçasse um pouco para não errar novamente o alvo. Há mais razões para explicar as dificuldades argentinas internamente do que fora – a começar por sua própria política cambial. Topo da página

09/16/2001


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