Cúpula da DS ataca moderados









Cúpula da DS ataca moderados
Enquanto o governador Olívio Dutra e o prefeito da Capital, Tarso Genro, fazem declarações em favor do consenso, integrantes da Democracia Socialista (DS), do vice-governador Miguel Rossetto, adotam um rumo oposto.

Ontem, o ex-prefeito Raul Pont e o deputado estadual Ronaldo Zülke teceram pesadas críticas a Tarso e aos moderados do PT Amplo e da Rede.

Em Uruguaiana, o ex-prefeito Raul Pont culpou Tarso e os moderados pela inexistência de consenso.

– A tendência mais óbvia é a prévia. As tentativas de negociar até agora esbarraram na decisão de Tarso de concorrer. Isso contraria tudo o que ele disse durante a campanha eleitoral – afirmou Pont, referindo-se às declarações do prefeito em 2000 de que cumpriria o mandato até o final, em resposta a provocações de adversários.

O ex-prefeito garantiu que nada sabe sobre um possível acerto entre Olívio e os moderados para definição de um vice ligado a Tarso:
– Se Olívio vai propor, não sei, não conheço a proposta. Olívio é governador e tem o direito de fazer a proposta que quiser. Assim como nós temos o direito de aceitar ou não.

Numa nota intitulada “Tarso irresponsável”, Zülke reacendeu a polêmica em torno da suposta censura política ao prefeito pela TVE durante a cobertura do 2º Fórum Social Mundial. O prefeito havia acusado a emissora do governo do Estado de “discriminatória e stalinista (de Jozef Stalin, ditador da antiga União Soviética)” por não transmitir seu pronunciamento na cerimônia de abertura do evento. A suspeita foi desmentida em nota da direção da TVE, que chegou a entrevistar o prefeito depois da conclusão dos trabalhos do Fórum, e Tarso não voltou a tocar no assunto. Para Zülke, porém, o episódio está longe de se encerrar.

– A que ponto chegamos quando alguém tem de apelar para este tipo de expediente em nome de um projeto pessoal? – indaga o deputado na nota.

A Zero Hora, Zülke descartou a possibilidade de estar em curso uma marginalização da DS na montagem da chapa majoritária para o governo do Estado:
– Qualquer um que pensar a composição da chapa com o objetivo de isolar a DS estará cometendo um profundo erro e um profundo equívoco. É inegável a contribuição que a DS deu e dá ao governo e ao partido. É impossível pensar num futuro governo e numa campanha eleitoral sem a DS.

O deputado fez questão de ressaltar o peso interno de seu grupo:
– Somos a maior corrente do PT no Estado. Temos figuras como o vice-governador Miguel Rossetto, o ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont e o prefeito de Caxias do Sul, Pepe Vargas. Temos três deputados federais (Tarcísio Zimmermann, Orlando Desconzi e Ana Corso) e três estaduais (Elvino Bohn Gass, Édson Portilho e o próprio Zülke), além de um peso importante na Câmara Municipal de Porto Alegre.

Procurado por ZH, o vice-governador Miguel Rossetto não quis se posicionar sobre a disputa.


Tarso respalda diálogo para evitar prévia
Em resposta a gesto de conciliação de Olívio, o prefeito trabalha para indicar vice moderado e isolar Rossetto

Uma reaproximação entre o governador Olívio Dutra e o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, pode mudar o rumo da disputa pela vaga de candidato a governador do PT.
Depois de Olívio abrir as portas do gabinete, na noite de quarta-feira, aos moderados do PT Amplo e da Rede, ligados a Tarso, ontem foi a vez de o prefeito elogiar a atitude do adversário na corrida pela indicação ao Palácio Piratini.

– Considero positiva a disposição de Olívio para o diálogo com todas as forças políticas do PT – disse Tarso pela manhã, depois de reunir em seu gabinete, por uma hora, representantes das oito correntes que o apóiam para avaliar o encontro de quarta-feira.

O prefeito reiterou a disposição de enfrentar Olívio na prévia marcada para o dia 17 de março, mas lembrou que a atitude do governador abre a possibilidade de consenso. Um entendimento entre os dois tornaria a prévia desnecessária e pouparia o partido do desgaste de uma disputa pública.
Por trás da troca de gentilezas, está a negociação em torno do cargo de vice-governador, que, na tradição do PT gaúcho, equivale ao de supersecretário. Os moderados querem ocupar a vaga como condição para retirar a candidatura de Tarso. A exigência esbarra nas pretensões da Democracia Socialista (DS), do vice-governador Miguel Rossetto, que deseja mantê-lo no cargo e apóia Olívio. No final da tarde, durante happy hour com simpatizantes no Mercado Público, Tarso alfinetou a DS, sem citá-la:

– Não há cadeira cativa dentro do partido. Devemos insistir para que haja um diálogo democrático entre as correntes em busca da renovação e da pluralização.

Nos bastidores, existe a convicção de que o consenso passa pela retirada da candidatura de Tarso. As chances de o prefeito abrir mão da disputa em nome da unidade partidária são maiores do que as de Olívio fazer o mesmo. Empossado em janeiro de 2001, Tarso tem pouco mais de um ano de gestão e teria de renunciar ao cargo para se candidatar, entregando o Paço Municipal ao vice, João Verle, da DS. Se vencesse a prévia e perdesse a eleição, correria o risco de ser responsabilizado pela derrota. Em caso de derrota de Olívio na corrida pelo Piratini, o prefeito se tornaria o principal nome do PT no Estado e um potencial candidato ao Piratini ou a presidente da República em 2006. Num terceiro cenário, com a reeleição de Olívio, Tarso manteria a prefeitura.
Ao estender a mão aos moderados, Olívio reassumiu a iniciativa política. O governador reúne em torno de si um pequeno grupo, a Unidade Popular Socialista (UPS). Teve de se alinhar à DS para vencer a prévia de 1998 e conduzir o governo. Desde quarta-feira, porém, dá sinais de que está disposto a se distanciar do grupo de Rossetto.

– A melhor chapa é Olívio para governador e Rossetto para vice, mas isso não pode impedir que façamos acordo. O fundamental é que o vice tenha densidade eleitoral – diz o secretário do Interior, Dirceu Lopes, da UPS.


Quércia não descarta aliança com o PT
Grupo quer candidatura própria

Ao afirmar que o PMDB “lutará” pela candidatura própria à Presidência, o presidente estadual do PMDB de São Paulo, o ex-governador Orestes Quércia, mas não descartou, se isso não ocorrer, uma aliança com o PT.

– Temos problemas, a perspectiva é difícil, mas vamos lutar e temos confiança de que vamos ter candidato próprio à Presidência – afirmou, após um encontro, ontem, com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, um dos pré-candidatos e defensor da candidatura própria.

O ministro rebateu as críticas de setores do PMDB de que ele servia de “laranja”, ao se inscrever como pré-candidato:
– Vinte e quatro horas depois de eu ter colocado meu nome à disposição do partido, fui tachado de laranja, factóide e trapaceiro. Mas não foi assim que eu fui recebido no Estado de São Paulo e pelos que querem a prévia.

Indagado se o PT seria a opção de aliança da legenda, Quércia respondeu:
– Poderia ser. É difícil para os dois lados porque houve sempre uma tradição de luta política entre nós e o PT. Mas é uma questão que hoje não está nas nossas preocupações.

Quércia confirmou ter participado de um jantar, em janeiro, com o presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e com o deputado federal Luiz Antônio de Medeiros (PL-SP), mas disse que as conversas não voltarão a acontecer até que o PMDB defina o rumo.

Sobre uma coalizão com o PT em São Paulo, apoiando a candidatura do deputado federal José Genoino a governador, o ex-governador disse:
– Hoje, o Quércia é candidato a governador e quer ter um candidato à Pres idência para fortalecer o PMDB. Se isso não acontecer, vão abrir outras possibilidades.

Quércia lembrou que, hoje, PT e PMDB têm em comum a “objeção à política do governo”.


TSE exige nome de vices e suplentes em propaganda
Órgão deve votar as novas instruções até o final do mês

Pela primeira vez, os candidatos à Presidência da República, aos governos estaduais e ao Senado terão obrigatoriamente de informar nas propagandas eleitorais deste ano quem serão os seus vices e suplentes.

A exigência deverá fazer parte de uma das instruções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para o pleito de 2002. Os candidatos também terão de tomar mais cuidado com o que falam na propaganda eleitoral. Os que repetirem o mesmo tipo de ofensa no horário gratuito poderão ser punidos com a suspensão da publicidade por período a ser fixado pelo juiz.

Os veículos de comunicação ficarão livres para apoiar os candidatos de sua preferência, mas não poderão cometer abusos. Se ficar comprovado que o excesso teve a participação de algum postulante a cargo eletivo, o envolvido poderá ser punido com inelegibilidade.

Para aumentar o controle sobre a prestação de contas da campanha e tentar evitar o chamado caixa 2, a Justiça Eleitoral deverá permitir que a sociedade tenha acesso amplo à contabilidade de campanha. Os fiscais dos outros partidos também poderão participar do exame das contas. O TSE deverá terminar de votar essas e outras instruções para as eleições deste ano até o final deste mês.


Preso jovem que participou de seqüestro de Celso Daniel
Policiais procuram ainda a pistola usada para matar o prefeito

A Polícia Civil de São Paulo prendeu ontem um jovem de 17 anos que participou do seqüestro e do assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT).

Ele teria informado a identidade dos demais seqüestradores do prefeito. O líder do grupo é Itamar Messias dos Santos, 21 anos, com passagens na polícia por furto e porte de drogas.

Até o início da noite de ontem, policiais do Departamento de Investigação sobre o Crime Organizado (Deic) estavam em busca dos outros envolvidos.

A polícia sabe que o rapaz dirigiu a Blazer verde usada no seqüestro, localizado em um lixão da zona sul de São Paulo. O carro usado no crime é o segundo modelo apreendido nas investigações. O prefeito de Santo André ficou preso em um bar abandonado na Favela Pantanal, na Zona Sul, sob a guarda de dois criminosos armados com carabinas de calibre 12. A polícia ainda procura a pistola usada para matar Daniel.

Na tarde de ontem, houve uma reunião entre os diretores do Deic e do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Godofredo Bittencourt e Domingos Paulo Neto, respectivamente. Estava prevista a divulgação de uma foto de Itamar. Com a prisão, a polícia recuou e não divulgou o retrato.

As primeiras pistas sobre a quadrilha vieram com a prisão, pelo Deic, de Manoel Dantas de Santana Filho, o Cabeção. O outro carro usado no crime, um Santana azul, foi guardado em uma casa na Favela Pantanal que é de propriedade dele. Ele disse que o bando é composto pelos criminosos conhecidos como André Cara Seca, Bozinho, Cara de Gato, Serginho e Kiti.

Cabeção viu o grupo sair com os dois carros na noite do dia 18, quando o prefeito foi seqüestrado. Dias depois, disse que ouviu os “conhecidos” dizerem que “a fita tinha dado errado”.

Ontem, no DHPP, foram ouvidas outras testemunhas , entre elas, o irmão de Celso Daniel, João Francisco Daniel. Ele afirmou ter sido indagado sobre a relação com o irmão, que definiu como “fraternal”. A identidade das outras testemunhas não foi divulgada pela polícia.


FH desafia Congresso
O presidente Fernando Henrique lançou um desafio ontem ao Congresso: aprovar em “uma semana” os principais projetos sobre segurança pública que tramitam na Câmara e no Senado. Ao inaugurar dois Centros Integrados de Operações Policiais (Ciops), em Novo Gama e Cidade Ocidental (GO), municípios no entorno de Brasília, FH afirmou que todas as propostas poderiam ser votadas em regime de mutirão.

– Por que não o fazer? Daria um exemplo ao país de que, quando se critica a segurança, não se critica no vazio, se colabora para que ela melhore – disse, em Novo Gama.

FH disse que a alteração do Código de Processo Penal é uma das propostas mais importantes em tramitação no Congresso. Segundo ele, o código dificulta a permanência de criminosos na cadeia.
No discurso que vem repetindo nos últimos dias, o presidente reforçou a disposição de afirmar, sempre que possível, medidas adotadas pelo governo federal na área de segurança pública e voltou a cobrar a unificação das polícias. FH falou num palanque improvisado pelo governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), ao lado do governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PMDB).

Durante a cerimônia o ex-senador José Roberto Arruda (PFL-DF), que renunciou em 2001 em razão do envolvimento na violação do painel de votação do Senado, foi aplaudido.


Procurador denuncia Padilha por irregularidade
Pedro Elói Soares responde a processo por improbidade

O ex-chefe da Procuradoria do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) Pedro Elói Soares escreveu uma carta aberta aos funcionários na qual afirma que o esquema de pagamento de precatórios (dívidas com pagamento determinado pela Justiça) teria sofrido “influência política” em sua gestão.

Ele responsabiliza o ex-ministro dos Transportes Eliseu Padilha pela influência, que classifica de “desastrosa, imoral e ilegal”.

De acordo com Soares, o esquema formou-se depois do desligamento do ex-ministro Odacir Klein da pasta, em 1996. Na gestão de Padilha, teria ficado estabelecido que os pagamentos só sairiam com o aval do ministro.

Na carta, Elói recorre a uma afirmação do deputado Agnelo Queiroz (PC do B-DF) em uma reportagem, onde Queiroz diz que um procurador não detém poder sozinho para autorizar o pagamento de precatórios.

– A decisão política de pagar ou deixar de pagar parte do Ministério dos Transportes – diz.

Elói sofreu suspensão de 30 dias do Ministério em razão de seu envolvimento no caso. Responde a ação por improbidade administrativa movida pelo Ministério Público e é investigado pela Polícia Federal.


Artigos

Prisão perpétua
Antônio Prestes do Nascimento

A prisão perpétua, assim como a pena de morte, vem servindo, há vários anos, de “cabo eleitoral”, com excelentes resultados, a políticos menos informados e descompromissados com seus eleitores. Felizmente, não tem ido além disso; portanto, não nos causa espécie quando recebemos a informação através da imprensa. Agora, porém, é diferente. Com o episódio da morte do prefeito de Santo André, pessoas influentes da sociedade empunharam a bandeira da prisão perpétua como solução para o índice elevadíssimo da criminalidade. Um dos defensores da prisão perpétua é o nobre senador Ramez Tebet, presidente do Congresso Nacional. Agora, entretanto, não podemos ignorar e dizer que é “politicagem”; afinal, é um senador da República e que tem a obrigação, o dever de zelar pelo fiel cumprimento da Constituição Federal. Pelo menos ele jurou cumprir. É sua obrigação, também, saber que os regimes de pena a serem cumpridos pelo condenado fazem parte do elenco de 77 incisos do Art. 5º, da CF e são chamados de “Direitos e Garantias Individuais”.

E tudo que constar ou vier a ser inserido no art. 5º, da CF, por conseguinte, estará protegido pela chamada “cláusula pétrea”, que significa pedra, que não quebra. Esta cláusula encontra-se no § 4º, do art. 60, da CF, que diz: “N ão será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: “IV – os direitos e garantias individuais”. Daí, podermos afirmar, sem temer erro, que a qualquer proposta de Emenda Constitucional, venha de onde vier, sua aprovação será impossível. Portanto, permanecerá intocável o art. 5º, XLVII, que diz: “não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis”. Surge, daí, a inevitável pergunta: por que, então, autoridades do Executivo, Legislativo e até do Judiciário clamam pela implantação, com urgência, da prisão perpétua? A resposta é simples. Sabemos, todos, que a culpa pelo nível alarmante e insustentável a que chegamos, em relação à segurança, deve ser creditada aos governantes, cada um com a parcela que lhe cabe. O Legislativo, que elabora a lei, não mede os efeitos futuros da norma; o Executivo, muitas vezes, pelo acúmulo de trabalho, limita-se a aprová-la e, o Judiciário, simplesmente aplica a lei ao fato concreto. E somente depois de aplicada é que os dois outros poderes, diante dos manifestos da sociedade, vão-se dar conta dos inúmeros erros cometidos e aí será tarde demais. Mas voltando ao assunto específico (prisão perpétua), é perfeitamente compreensível que pessoas comuns e, principalmente, aquelas que se tornaram vítimas ou, ainda, parentes delas, desejem a instituição dessa pena.

Outro aspecto importante a ser questionado: quem cumpriria uma
prisão perpétua? Somente o pobre

Seria, tenham certeza, apenas um alento, um conforto, nada mais do que isso. Sim, mas o que fazer então? Nada. Enquanto os governantes ignorarem a situação da polícia (civil e militar), quer em relação ao salário quer em relação ao seu aparelhamento, dos agentes penitenciários que convivem 24 horas com o criminoso e a Lei de Execuções Penais não for cumprida – e jamais será – e, ainda, diante da vulnerabilidade das prisões, o quadro será cada vez pior. E não é querer ser pessimista: é a realidade, clara, a luz solar. Outro aspecto importante a ser questionado: quem cumpriria uma prisão perpétua? Somente o pobre. Rico ou criminoso importante, jamais. Este, simplesmente faria descer, no pátio do presídio, um helicóptero e estaria livre para agir.

Mas a nebulosidade aumenta, principalmente, porque pessoas ilustres passaram a fazer parte das estatísticas trágicas, como o prefeito de Santo André, por exemplo. As autoridades sabem o que precisam fazer. Todavia, num “jogo de cintura”, esperam que um milagre aconteça. Mas somente a competência de quem assume o poder poderá, quem sabe, trazer de volta a esperança a uma sociedade sofrida, calejada e até espezinhada por aqueles que a representam. O que eu gostaria de saber é se a mão do parlamentar que rascunhar a Emenda Constitucional, instituindo a prisão perpétua será a mesma que neste ano entregará o “santinho”, pedindo o voto ao eleitor, sem perguntar se ele é ou não um criminoso.


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

Propostas de governo
Os candidatos à sucessão presidencial estão recém começando a apresentar os primeiros itens das prioridades de governo. O Partido dos Trabalhadores, que com a candidatura Luiz Inácio Lula da Silva continua liderando as pesquisas na corrida sucessória, foi o primeiro a mostrar que pretende dar prioridade ao desenvolvimento e ao mercado interno. A revelação foi feita pelo ex-coordenador do programa de governo, o prefeito de Santo André Celso Daniel, barbaramente assassinado em janeiro. José Serra, candidato do PSDB, confirmou esta semana em entrevista à Rádio Gaúcha que, se eleito, criará o Ministério da Exportação, que será prioridade de governo, com foco no desenvolvimento.

“Se vencer, convidarei todos os governadores para que apresentem as necessidades de seus Estados para que a infra-estrutura da exportação seja de qualidade”, afirmou.

Anthony Garotinho, candidato do PSB, insiste na redução de taxas de juros e na criação de linhas de crédito com custo zero para o pequeno produtor rural e pequeno empreendedor urbano.
Também anunciou que vai usar a experiência da Petrobras na perfuração de poços no Nordeste. Engenheiros da estatal informaram ao governador do Rio de Janeiro que é mais barato encontrar água no Nordeste do que explorar petróleo em plataformas marítimas.

A candidata do PFL Roseana Sarney convocou o senador Romeu Tuma e o deputado Moroni Torgan, ambos com experiência na área de segurança pública, para que elaborem um plano objetivo de combate à violência urbana e rural. A governadora revelou no programa do PFL, no horário eleitoral, que fez uma “limpeza” nas polícias civil e militar em seu Estado, onde o crime organizado tinha a participação de políticos, policiais e empresários.

Ciro Gomes, o candidato da provável aliança PPS-PDT-PTB, dará primazia às empresas nacionais e ao desenvolvimento econômico com prioridade à redução da dependência externa, no caso do sistema financeiro. Teremos uma política “nacionalista trabalhista”, definiu o ex-governador Leonel Brizola ao confirmar apoio à candidatura Ciro Gomes. PMDB e PPB ainda não definiram candidatos. O discurso do ministro Pratini de Moraes, do PPB, nos foros internacionais continua sendo o duro combate ao protecionismo dos países ricos. Defende abertura dos mercados.


JOSÉ BARRIONUEVO

Tarso apenas exige o candidato a vice
Ocomando nacional já recebeu a informação de que Tarso Genro não será obstáculo ao entendimento na formação de uma chapa de unidade para o governo do Estado, desde que os defensores de seu nome sejam contemplados com a candidatura a vice-governador na chapa de Olívio. Além de dirigentes petistas, intelectuais de renome internacional, como o sociólogo português Boaventura Souza Santos, entendem que Tarso deve cumprir o mandato para o qual foi eleito, assegurando a Porto Alegre a sua condição de pólo da esquerda no mundo.

Argumentos pró e contra
1. Se for candidato e vencer a eleição ao Piratini, Tarso se consagra como um grande líder nacional, entrando na linha da sucessão presidencial.

2. Gravações da campanha eleitoral de 2000, em que Tarso assegurava aos eleitores que cumpriria o mandato até o fim, serão divulgados no rádio e na TV, mostrando que o prefeito de Porto Alegre – se for ele o candidato – não tem palavra.

3. Se Tarso perde a eleição, ficará a idéia de que Olívio poderia ter vencido.

4. Tarso também seria responsabilizado por eventual desgaste do partido em Porto Alegre, que passaria a ser governada por João Verle, que não tem carisma.

5. Se vence a prévia e perde a eleição, Tarso fica sem mandato, quando teria mais três anos no comando de uma cidade com a dimensão de Porto Alegre.

6. Se permanecer na prefeitura e Olívio perder a eleição, restará a idéia de que, se fosse Tarso o candidato do PT, o resultado seria diferente.

7. Tarso é o candidato natural ao Piratini para 2006. Seu mandato termina em 1º de janeiro de 2005.

8. Seja reeleito Olívio ou assumindo um candidato da oposição em 2003, o próximo mandato será de grande turbulência, com os cofres raspados.

Prefeito na equipe de Lula
Em Brasília, circula a informação de que Tarso Genro foi convidado para ser o coordenador da campanha de Lula a presidente no lugar do prefeito assassinado Celso Daniel. Esta atribuição daria visibilidade nacional a Tarso, que não precisaria renunciar ao mandato de prefeito.

Harmonia entre poderes
Política também é arte de engolir sapos. Tarso e Fortunati superaram diferenças pessoais em nome da harmonia entre os poderes. É o que a cidade exige do prefeito e do presidente da Câmara de Vereadores. De certa forma, a visita ao desafeto foi uma demonstração de discordância e m relação ao veto à participação do presidente da Câmara no Fórum Social.

Desencontro – Tarso e Olívio não chegaram a se encontrar no aniversário do secretário Adão Villaverde, quarta-feira. Compareceram em momentos diferentes à festa, que reuniu 1,2 mil pessoas no galpão crioulo do Parque Maurício Sirotsky Sobrinho. Villaverde, 44 anos, mostrou prestígio. O secretário de Planejamento é reconhecido como um dos melhores da equipe.

Beto Albuquerque rompe com Bisol
O secretário dos Transportes, deputado Beto Albuquerque (PSB), não se conteve ontem quando abriu o Diário Oficial e foi surpreendido com o ato de destituição do coronel Dirnei Vieira de Vieira e do tenente-coronel Severo, respectivamente comandante e subcomandante do Batalhão Rodoviário Estadual. No seu gabinete, o secretário subia pelas paredes, por não ter recebido nem mesmo um telefonema do secretário da Segurança, José Bisol, seu ex-companheiro de PSB.

- Essa é uma decisão burra. Muda algo que vai bem. Foi uma punhalada pelas costas de quem não sabe trabalhar em equipe. Se alguém acha que está vencendo alguma queda-de-braço, está enganado. É uma decisão de quem não entende nada de policiamento de trânsito.

A crise entre os dois secretários começou quando Bisol baixou uma portaria estabelecendo um rodízio, com praças inexperientes, no policiamento rodoviário do RS, que é modelo no Brasil.
– Está faltando espírito público. Estamos sendo punidos porque fazíamos um bom trabalho. Do doutor Bisol continuo aguardando resposta a um questionamento que lhe fiz por escrito, onde cobrava, como secretário da área, o que está errado e onde estão os erros que justifiquem essa mudança.

Beto Albuquerque espera que os policiais “continuem de cabeça erguida”, embora tenha constatado “apreensão, inquietação e tristeza”. Receia que os comandantes tenham sido punidos “porque tinham uma boa relação com o secretário da área em que atuavam”.

– Sou eu que respondo pelo que acontece nas estradas – observou Beto, que desponta sempre nas pesquisas como o secretário da equipe de Olívio com melhor conceito na opinião pública.

Prefeitos atentos à ação política da Emater
Reunidos com a executiva, os prefeitos do PPB preferiram dar um voto de confiança à Emater, sem romper os convênios, ao mesmo tempo que decidiram ampliar a fiscalização para que a empresa, que sempre desfrutou grande conceito, não se transforme em braço partidário. Com o apoio dos deputados e da direção partidária, os prefeitos vão solicitar que o TCE passe a auditar a revisão dos convênios com a Emater.

Dia de reencontros
Depois da visita de Tarso a Fortunati na Câmara de Vereadores, outro momento de forte emoção foi vivido ontem, este no Palácio Farroupilha, sede do Legislativo estadual. O presidente da Casa, Sérgio Zambiasi, recebeu Emília Fernandes (PT), com quem estava rompido desde que a ex-companheira, primeira senadora gaúcha, deixou o PTB há cinco anos.

Emília fez ontem uma peregrinação pelos três poderes acompanhando pilotos da Varig que estão questionando uma mudança nos estatutos da Fundação Ruben Berta.

A cordialidade não retira de Zambiasi a disposição de recuperar a cadeira de Emília para o PTB, como candidato ao Senado este ano.

• Estilac Xavier estava ausente na visita de Tarso à Câmara. É o líder do governo.
• Vereador Juarez Pinheiro dá o tom: a visita de vereadores do PT a Fortunati só foi pautada pela governabilidade da Casa.


ROSANE DE OLIVEIRA

Ciranda eleitoral
Quem viu o prefeito Tarso Genro e o governador Olívio Dutra de mãos dadas, dançando animados a ciranda de Lia de Itamaracá, a musa do final do Fórum Social Mundial, não imagina o quanto é acirrada a disputa entre os dois. Cerca de duas horas antes, Tarso tinha espinafrado o vice-governador Rossetto – cabo eleitoral número 1 de Olívio – em entrevistas às rádios Gaúcha e Bandeirantes, e reclamado do que classificou de boicote da TV Educativa a sua participação na abertura do Fórum.

Diante dos convidados, o PT preservou a unidade. Sentados lado a lado, Olívio e Tarso pareciam apenas bons companheiros. Chegaram a cochichar algumas vezes, deram-se as mãos e dançaram conforme a música. Uma jovem morena os separou minutos depois na dança da ciranda e a partir daí cada um sambou para o seu lado.

Encerrado o Fórum, a campanha interna passa a ocupar toda a agenda do PT. Se nenhum dos dois se retirar da disputa – o que parece difícil faltando 10 dias para o registro das candidaturas – a guerra será inevitável. A oposição aposta que o PT não conseguirá juntar os cacos depois. Com medo de gastar numa disputa interna a energia que precisará na eleição de 6 de outubro, os principais líderes do PT defendem o consenso. Só que ninguém quer ceder e cada ala acha que seu candidato tem mais chances de vencer.

Os defensores da candidatura de Olívio criticaram o prefeito por ter precipitado o debate, quando o mais conveniente seria manter a disputa adormecida até a realização do Fórum. E passaram a acusar Tarso de estar contribuindo para a divisão do partido – que dividido está desde a prévia de 1998.

Baseado em pesquisas que apontam menor índice de rejeição, Tarso está convencido de que tem mais chances de vencer a eleição. Líderes europeus que participaram do Fórum chegaram a aconselhar o prefeito a desistir da disputa, para não prejudicar o trabalho que vem fazendo na prefeitura, mas era tarde. As correntes que apóiam Tarso exigem que os filiados escolham o candidato. Se perder a prévia, Tarso continua na prefeitura e seus apoiadores partem para uma segunda briga, a da indicação do vice. Se ganhar, Tarso terá de renunciar ao mandato de prefeito até 4 de abril, correndo o risco de ficar sem mandato até 2006.

Correção: A coluna de ontem embaralhou as datas: o 1º Fórum Social Mundial foi realizado em 2001, e não em 1999.

Aviso: As férias estão começando hoje. Até a volta, em março.
  • Coluna publicada na edição de 6/2/2002. O colunista está em férias


    Editorial

    O CRESCIMENTO POSSÍVEL

    Um ecoante erro governamental – decorrente do crasso amadorismo de políticos que não souberam prever que o país caminhava para o colapso do abastecimento energético –, somado a uma sucessão de outras crises, não impediu que a indústria brasileira registrasse crescimento em 2001. O setor secundário apresentou, segundo números recém divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma expansão de 1,5%, cifra discreta, mas ainda assim superior às verificadas na Coréia (1,4%), no Chile (0,8%) e especialmente nos Estados Unidos (-3,9%) e na Argentina (-18,3%).

    É evidente que incremento dessa ordem está abaixo das potencialidades e, particularmente, das necessidades da nação. Importa lembrar contudo que, além da ameaça do apagão, que castigou duramente o parque fabril pela camisa-de-força do racionamento, o país amargou os efeitos da contração da economia mundial, acentuada após os atentados terroristas de 11 de setembro. Sofreu também – e o Rio Grande mais de perto – os efeitos da derrocada argentina, que ainda se prolonga, elevando o dólar e mantendo em alto patamar as taxas de juros.

    O contraste que se observa com a área financeira
    é, aliás, aberrante

    Fraco consolo é pensar que, além dos países citados, outros, como a Itália, a Alemanha, a Espanha, a França e a Inglaterra contabilizaram desempenho industrial ou negativo, ou inferior ao brasileiro. E isso porque poucos países reuniam tantas condições de emplacar um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) superior aos expressivos 4,4% de 2000 do que o Brasil. Nada o atesta melhor do que o salto do setor secundário no primeiro trimestre de 2001: 7,3%, perce ntual comparável aos melhores resultados das primeiras décadas do pós-guerra. É possível que os fatores externos aludidos causassem alguma erosão a essa performance. Mas o que realmente a derrubou foi a gigantesca imprevisão governamental em relação a um dos principais insumos da indústria: energia.

    O contraste que se observa com a área financeira é, aliás, aberrante. Em 2001, a rentabilidade média dos bancos, comparada ao patrimônio, foi de 17%, enquanto nas empresas fabris e comerciais atinge um máximo de 5%. O fato de o Planalto haver-se preocupado com a reforma do sistema financeiro logo no início do processo de estabilização explica tais ganhos recordes mesmo depois de controlada a inflação. Mas a distorção é inquietante, pois deixa claro o quanto a manutenção de uma taxa de juros anômala favorece os bancos e afeta o desenvolvimento industrial.

    Considerando-se que, no terceiro trimestre de 2001, a área de serviços apresentava um crescimento de 2,7% e a agropecuária de 3,8%, é provável que a expansão do PIB fique ao redor de 2,3%. Eis aí outro percentual igualmente medíocre ante nossas possibilidades e que só pode ser tomado como um primeiro degrau rumo à retomada de níveis de crescimento que permitam à nação abater sua imensa dívida social.


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    02/08/2002


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