Mozarildo, José Nery e Cristovam debatem crise do Senado com Mercadante



Em aparte ao discurso do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que defendeu uma licença temporária de José Sarney da Presidência do Senado, o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) afirmou nesta quinta-feira (2) que a instituição tem que estabelecer uma pauta de ações para solucionar a crise atual, "que não é de uma pessoa desta Mesa, mas de longa data".

- Espero que no final dessa purgação o Senado não tenha sido um bode expiatório, mas exemplo para uma 'Operação Mãos Limpas' em todos os órgãos públicos do país, para que não tenhamos a pecha de que todo homem público é corrupto - afirmou.

Mercadante concordou com Mozarildo e disse que a crise é uma oportunidade para o Senado se repensar como instituição.

Já o senador José Nery (PSOL-PA) disse que os senadores tem que ter a consciência de que a crise não vai se resolver com "remendos". Ele lembrou que há duas semanas sugeriu formalmente a Sarney a criação de uma comissão suprapartidária que teria o prazo de 15 dias fazer uma "irrestrita investigação" nos contratos de prestação de serviço ao Senado, nos empréstimos consignados e nos chamados atos secretos.

- Infelizmente a Mesa não considerou a possibilidade de instalação dessa comissão. A Mesa fez vista grossa. Avisei: ou nos damos conta da gravidade do problema ou a situação aqui vai ficar insustentável - lamentou.

Nery lembrou ainda que apresentou requerimento para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as irregularidades no Senado, e que o PSOL já encaminhou representação a ser levada ao Conselho de Ética contra Sarney e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que também presidiu a Casa.

- As comissões de sindicância que foram criadas não têm possibilidade de investigar senadores; investigarão, no máximo, os atos administrativos que envolvam servidores - afirmou.

Nery apontou ainda para o "descontrole administrativo funcional" do Senado, disse que a Casa conta com "dez mil servidores" para 81 senadores, criticou salários que estariam "acima do teto constitucional" e acrescentou que "é preciso ter controle das horas extras".

- O esforço para recuperar a imagem da instituição é tarefa de todos. Acho inadequados posicionamentos que possam interferir nesse caminho. Precisamos fazer medidas saneadoras corretas e justas, que signifiquem corte na própria carne - afirmou.

Em resposta a Nery, o 1º secretário da Casa, senador Heráclito Fortes (DEM-PI) disse que ele tinha razão em apontar o inchaço da maquina administrativa e o convidou a apresentar em 15 dias "os nomes e gorduras constitucionais para expurgar os funcionários em excesso".

Nery reiterou a Heráclito que a criação de uma comissão suprapartidária nesse sentido não foi levada em conta por Sarney. Mercadante interferiu na discussão e disse que o espaço de atuação da Mesa tem que ser respeitado, tendo em vista que o colegiado foi eleito de forma legítima.

- Os resultados começam a aparecer. Se criarmos desconfiança da Mesa não vamos resolver a crise - ponderou.

Já o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) disse que a crise vivida no Senado é mais estrutural que moral. Ele questionou Mercadante a respeito da avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a tensão vivida no Senado, e o que a instituição deveria fazer caso Sarney não leve em conta uma proposta de afastamento temporário que possa vir a ser defendida pela maioria dos senadores.

Em resposta, Mercadante disse que a opinião de Lula sobre a crise no Senado terá um "imenso valor", sem que isso signifique algum tipo de enquadramento. Ele destacou as conquistas econômicas e sociais obtidas pelo governo petista e disse que a governabilidade passa por Sarney e pelo PMDB.

- A reflexão de Lula vai ser importante para a nossa bancada, mas defenderemos as nossas convicções. A licença temporária só pode ser construída com convencimento. A tentativa de impor não vai ajudar o Senado. Se ele [Sarney] considerar que isso ajuda a superar a crise, não temos que partir para um enfrentamento incondicional que iria desequilibrar o Senado como instituição. Espero que o ambiente de diálogo construtivo prevaleça - concluiu.



02/07/2009

Agência Senado


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