MST vai continuar a pressionar governo, anuncia Stédile



A pedido do relator da Comissão Parlamentar Mista (CPMI) da Terra, deputado João Alfredo (PT-CE), o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, João Pedro Stédile, analisou a política de reforma agrária do governo nos últimos anos e afirmou que vai continuar a pressionar o governo para que seja atingida a meta de assentar 400 mil famílias até o final de 2006.

Ele narrou que o MST fez um acordo político com o governo em novembro do ano passado que definiu a meta. Porém, no ano passado, informou, apenas 14 mil famílias foram assentadas em áreas já desapropriadas pelo governo anterior e este ano, mais 7 mil.

- Como vamos atingir a meta? Não vamos conseguir. O MST tem claro que seu papel é mobilizar e organizar o povo. As mudanças só acontecem quando o povo se organiza, é um direito constitucional. Para cumprir a meta, que é uma promessa, o papel do MST é acampar 400 mil famílias e o do governo é assentar 400 mil - resumiu.

Stédile analisou que a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi uma vitória política da reforma agrária e reafirmou que confia no presidente. Entretanto, reconheceu que o governo enfrenta muitas dificuldades para fazer a reforma agrária na atual conjuntura, já que o Instituto Nacional do Colonização e Reforma Agrária (Incra) está desaparelhado e não tem condições de realizar sua função em nome da sociedade.

- O governo tem que tratar a reforma agrária como política de Estado, fazer um mutirão dos organismos públicos, para dar crédito rural e assistência técnica - declarou.

Governo FHC

Apesar de o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso fazer propaganda de que assentou 500 mil famílias, Stédile informou que estudo da Universidade de São Paulo encontrou 358 mil famílias assentadas no período, 67% das quais na Amazônia Legal. Assentamentos na fronteira agrícola, analisou, estão distantes "do mercado, do Estado e até de Deus".

Como resultado, o abandono das famílias levou a um alto índice de fracasso de alguns assentamentos, que chegou a 40% no Pará, onde as famílias estavam expostas à malária. Segundo ele, o governo anterior somente cedeu a partir do massacre de Eldorado dos Carajás, que teve repercussão externa, apontando para o aumento da pobreza no campo, que poderia levar a grandes conflitos.

- Não adianta jogar o pobre em cima da terra no afã de produzir estatísticas, como estratégia para se livrar do pobre. O MST é contra assentamentos na Amazônia, onde não tem estrada, a família não tem para quem vender e, se fica doente, não tem para onde ir - declarou Stédile, para quem há terra suficiente fora da Amazônia para assentar os sem-terra.

Ele analisou que os assentamentos mais bem-sucedidos, com infra-estrutura de serviços públicos, geralmente são feitos pelos governos estaduais, que são mais sensíveis às pressões populares.

- Em todos os assentamentos tem escola e todas as crianças estão na escola. Brigamos por escola como brigamos por terra - afirmou.





01/04/2004

Agência Senado


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