Músicos e compositores querem incluir a música nas políticas públicas do país



Músicos, compositores, arranjadores e representantes do setor apresentaram, nesta quarta-feira (31), aos senadores da Subcomissão Permanente de Cinema, Teatro e Comunicação Social, da Comissão de Educação (CE), uma série de sugestões para incluir a música na pauta das políticas públicas do país. Eles levaram propostas com dados, estatísticas e levantamentos de mercado sobre direitos autorais, legislação de outros países, educação musical, questões da música na área de saúde, inclusão social e música, geração de emprego, leis sobre a atividade no Brasil e pesquisas.

Os músicos pediram uma nova legislação para proteger direitos autorais, incluir a música na educação, já a partir do ensino básico e diversificar a programação musical das rádios no país, além de eleição direta para a Ordem dos Músicos do Brasil (OMB), cuja diretoria está no poder há 44 anos, segundo informou a cantora e compositora Fernanda Abreu.

A cantora disse que é preciso adaptar para o músico uma lei trabalhista que não seja a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), pois esse profissional tem contratos diferenciados com vários empresários. O mestre em Etnomusicologia Alexandre Hees de Negreiros, do Rio de Janeiro, observou que é importante haver o controle dos direitos autorais por meio de um órgão que exerça gestão financeira no setor da música, já que o artista não pode estar em todos os lugares negociando preços sobre suas obras. Ele reconhece que a criação desse órgão não é simples e exigirá estudos complexos, contando também com a participação do poder público nesse processo.

Hees levou para os senadores estudos e legislação de outros países sobre o tema. Ele fez mestrado e defendeu tese sobre o assunto. O senador Sérgio Cabral (PMDB-RJ), autor do requerimento para a realização da audiência pública, disse que a legislação comparada é interessante para que se possa ver a presença do Estado no setor. O senador observou que, no Brasil, há total ausência do Estado. Em resposta, Hess destacou que na Suíça, "país bastião da liberdade", é o governo que determina os preços nesse setor.

Importância Social

O cantor e compositor Gabriel Pensador destacou que a música gera, para a economia do país, um número muito expressivo de empregos, até com a importação e exportação de instrumentos. Disse também que a música tem grande importância social, observando o trabalho feito pelas organizações não-governamentais (ONGs) que, por meio da música, tiram jovens da criminalidade.

O compositor e arranjador Ricardo Breim, de São Paulo, foi quem defendeu a inclusão da música no ensino, mas de forma diferente da maneira tradicional, feita no passado.

A música, explicou Ricardo Breim, também é uma linguagem sonora e funciona como linguagem complementar com relação à fala. O som tem quatro parâmetros: altura, duração, timbre e intensidade. A fala organiza quantitativamente dois desses parâmetros, que são timbre e intensidade. No timbre, distinguimos as consoantes e vogais, enquanto na intensidade distinguimos os acentos tônicos. Os outros dois parâmetros, que são duração dos sons e altura, quem organiza é a música. Na altura, explicou, observamos os sons mais graves e mais agudos.

- Isso é só um dado, poderia trazer mil outras concepções. Mas a civilização ocidental privilegiou o pensamento. Quem falou mais nisso foi Freud, quando disse que é o inconsciente que nos governa. Nós conseguimos lidar com isso por meio da música. Pode-se adquirir sensibilidade e sabedoria, palavras que sumiram das nossas propostas pedagógicas - afirmou Breim.

Monopólio e massificação

Cristina Gomes Saraiva, coordenadora do Núcleo Independente de Música do Rio de Janeiro, disse que é grave a monopolização dos meios de comunicação, "que impõem artistas e músicos e massificam tudo de norte a sul". Cristina Saraiva pediu uma legislação para regular o funcionamento das rádios nesse sentido.

O coordenador da Rede Social da Música, Egeu Laus Simas, do Rio de Janeiro, defendeu um trabalho conjunto entre a sociedade civil organizada, o governo, as empresas e as universidades para que as transformações sociais sejam urgentes e tenham continuidade, não sejam interrompidas ou suspensas devido a problemas político-partidários.

- Sem dúvida, a música no Brasil é uma grande ferramenta. As ONGs crescem e percebem esse movimento das artes como estrutura estratégica de transformação, de identidade de um país, inclusive do poder imunológico no setor de saúde - observou Simas.

Já o presidente do Sindicato de Músicos da Bahia, Sidnei Bonfim de Jesus, ressaltou que o músico, além de profissional, é gerador de emprego, renda e impostos, o que gera divisas para o país. Ele defendeu a atualização da Lei nº 3857, que criou a Ordem dos Músicos do Brasil, para, entre outras coisas, contemplar os profissionais da música eletrônica, modalidade mais nova no setor.

- Somos artistas, mas não só isso, somos também empreendedores. E muitos impostos deixam de ser arrecadados devido à informalidade e à ilegalidade - disse Bomfim.

Todos os palestrantes elogiaram a iniciativa de Sérgio Cabral de incluir a música na pauta das discussões da subcomissão, até então voltada para o cinema e o teatro.

31/05/2006

Agência Senado


Artigos Relacionados


Associações de músicos e compositores dizem que empresas atacam Ecad para não pagar direitos autorais

Parlamentares apontam avanços, mas querem mais políticas públicas inclusivas

Comunidades tradicionais querem aprovação de projeto que garante políticas públicas

Senadores querem definição de políticas públicas para a primeira infância

Povos tradicionais reclamam de perseguição e querem aprovação de projeto sobre políticas públicas

Música: Osesp recebe regente e compositores finlandeses