O fator Jarbas



O fator Jarbas Possibilidade de o governador entrar na disputa pela sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso torna-se mais um complicador para a aliança estadual formada pelo PMDB, PFL, PSDB e PPB. A oposição, porém, não acredita nesta hipótese e vê nele o nome mais forte na disputa pelo Governo do Estado e o único capaz de manter unidos os seus aliados A aliança governista em Pernambuco, que já lidava com a hipótese de Jarbas Vasconcelos (PMDB) disputar a reeleição ou o Senado, teve que incorporar mais um componente, semana passada: o de o governador entrar na disputa da sucessão presidencial. Esta é a possibilidade mais distante, já que não depende só dele e sim de uma série de fatos em que há outros personagens em evidência. Mas, dada a velocidade com que às vezes os fatos acontecem na política, e considerando a grande indefinição existente no momento, é uma hipótese que, segundo políticos ouvidos pelo DIARIO, não se pode descartar. Até porque, na opinião desses mesmos políticos, ao admitir que pode aceitar uma eventual indicação do PMDB para entrar na corrida presidencial, Jarbas estaria dando uma demonstração de não estar mesmo convencido de que o melhor caminho a seguir é o da reeleição. Para o PFL, o melhor cenário é aquele em que Jarbas dispute novamente o Governo - esta é a preferência hegemônica dos líderes do partido. "Nós estamos querendo é osoerguimento do Estado. E um segundo mandato de Jarbas seria muito importante para isso", disse o líder do PFL na Câmara dos Deputados, Inocêncio Oliveira. "Depois, até em melhores condições, ele também poderia tentar uma disputa nacional", completou. PRÉVIAS - Nos próximos dias o quadro no PMDB deve adquirir um pouco mais de nitidez. Jarbas Vasconcelos vai encontrar-se em Brasília com integrantes da direção nacional do partido, para tratar da sucessão presidencial. Atualmente os peemedebistas já contam com dois pré-candidatos: o senador Pedro Simon (RS) e o governador de Minas Gerais, Itamar Franco - cuja saída do PMDB vem sendo especulada desde que, ao perceber que seria derrotado na convenção nacional, ele retirou a candidatura à presidência do partido. Os peemedebistas já têm data marcada para a escolha do seu presidenciável: 20 de janeiro próximo, por meio de eleições prévias. A ala governista do PMDB (assim chamada porque integrada pelos que são favoráveis ao governo do presidente Fernando HenriqueCardoso, do PSDB) agora tem a hegemonia na legenda, obtida na convenção nacional realizada no último domingo. É esta ala, na qual desponta o presidente Michel Temer, que se mostra favorável a uma possível candidatura do governador Jarbas Vasconcelos. PRAZO - "Até o primeiro trimestre de 2002 o processo eleitoral em Pernambuco ainda estará sob indefinição, no que diz respeito à montagem da chapa majoritária governista", afirma o presidente estadual do PFL, o deputado federal e secretário de Produção Rural, André de Paula. Isso não significa, no entanto, que daqui até lá os políticos integrantes da aliança governista estarão de braços cruzados, esperando que as coisas aconteçam - ao contrário. A movimentação deles é que vai tornar claro o cenário eleitoral. "Por enquanto, a hora é dar tempo ao tempo", disse o presidente estadual do PMDB, Dorany Sampaio. PT realiza eleição inédita Pleito deste domingo levantará a discussão sobre alianças da candidatura de Lula. Dirceu enfrenta cinco adversários, mas deverá ser reconduzido BRASÍLIA - Neste domingo quando os cerca de 300 dos mais de 800 mil militantes estiverem votando para eleger a direção do PT, os eleitores estarão também dizendo qual PT deverá se apresentar em 2002 para a campanha presidencial. Embora tenha o apoio declarado de quase todas as correntes do partido, a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva ainda será tema de muita discussão interna, especialmente quando se trata de quem poderá subir no palanque, ao seu lado, nos estados. Afinado com o candidato José Dirceu, que tudo indica será reconduzido à direção nacional, Lula já desenhou um leque bem amplo de alianças que chega a setores do PMDB. As correntes "Articulação" e "Democracia Radical", que formam a chapa "Um Outro Brasil é Possível", foram responsáveis pela divulgação de um estudo econômico do Instituto da Cidadania, duramente criticado no próprio PT, que tem semelhanças com a política econômica do governo. Gestão de Dirceu é alvo de críticas O favoritismo de Dirceu não inibiu o surgimento de outras chapas. Pelo contrário, outros cinco candidatos disputam o cargo: os deputados federais Tilden Santiago (MG) e Ricardo Berzoini (SP); o ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont; Júlio Quadros, presidente do diretório de Rio Grande do Sul; e Marcos Sokol, integrante do diretório nacional. A proliferação de candidatos a presidente do PT tem o objetivo de forçar uma discussão interna especialmente sobre alianças e programa econômico e, na melhor das hipóteses, chegar a um segundo turno. As queixas à atual direção do partido não são poucas: Precisamos quebrar os mecanismos de hegemonia do partido. Não queremos um bloco monolítico, queremos um PT pluralista. O partido precisa de um maior entrosamento com as bases, a cúpula não pode fazer tudo ao seu bel-prazer disse o deputado Tilden Santiago (MG), candidato da chapa "Movimento". Hoje existe um bloqueio do debate por causa do rótulo que se dá a todos dentro do partido. Foi um equívoco a divulgação daquele documento do Instituto da Cidadania, que nem era o programa do partido. Não podemos cair nas provocações do Malan critica o deputado Ricardo Berzoini (SP), candidato da chapa Sociedade e Democracia. Debate sobre alianças deverá ser acirrado Se no campo econômico o debate interno do PT promete esquentar, quando o assunto são alianças as divergências também são acirradas, especialmente nos estados. O líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), até hoje paga caro pelo fato de o PT ter convidado o ex-senador Antonio Carlos Magalhães para debater pobreza no Instituto da Cidadania. Onde vou na Bahia eu tenho ainda hoje que ficar explicando essa ida do ACM lá. A política de alianças tem que ser pautada também pelas questões regionais disse Pinheiro, que apóia a candidatura do ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont. O próprio Pont faz restrições ao leque de alianças defendido por Lula. E cita o exemplo de Porto Alegre, onde o PT é poder há dez anos e administra sem ter maioria dos partidos. Nosso campo de alianças deve ficar restrito a alianças que já construímos nas Outro candidato, Júlio Quadros, da chapa "Socialismo ou Barbárie", prefere nem discutir alianças enquanto o PT não decidir o seu programa. Quadros sequer reconhece que Lula é o candidato natural do partido à Presidência da República em 2002. Até o momento só tem a inscrição de Suplicy (senador Eduardo Suplicy). Há especulações em torno de Lula e do prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues. Bom seria se essas candidaturas fossem discutidas logo para aprofundar o debate. Não podemos nos preparar para substituir o governo e sim para substituir o modelo disse Quadros. Sucessão no Senado divide mais o PMDB Presidência da casa vai agravar racha no partido BRASILIA - Um partido dividido. Assim está o PMDB. O racha, evidenciado na eleição do deputado Michel Temer (SP) para a presidência nacional do partido, poderá se agravar após o anúncio feito por Jader Barbalho (PA), indicando que deverá renunciar à presidência do Senado na próxima semana. Nomes que integram a ala oposicionista do PMDB, como Maguito Vilela (GO) e Roberto Requião (PR) deverão ser rejeitados na negociação para a escolha do senador do partido que será indicado para o cargo. Os peemedebistas da oposição, autodenominados "históricos", poderiam inclusive apoiar um eventual alternativo do bloco da oposição (PT, PPS e PDT). A senadora Heloisa Helena (PT-AL) afirmou que não descarta o lançamento de um candidato "alternativo" , como foi feito na eleição de Jader, quando Jefferson Peres (PDT-AM) foi o candidato da esquerda. Já Eduardo Suplicy (PT-SP) disse que a oposição poderia até apoiar um candidato indicado pelo PMDB que agradasse a esquerda. O bloco de oposição fará uma reunião no início da próxima semana para discutir a sucessão no Senado. Há quem diga que o nome do futuro indicado do PMDB para a presidência da casa já teria sido escolhido na reunião realizada no Palácio do Planalto, entre os líderes e presidentes dos partidos da base e o presidente FHC. Se isso aconteceu, o possível candidato de FHC teria o apoio de parte do PMDB e de todo o PFL, PSDB, PPB e o PTB. A ala oposicionista do PMDB poderia então apoiar um eventual candidato "alternativo" do bloco da esquerda, rachando de vez o partido que possui a maior bancada no Senado, com 27 integrantes. INDENIZAÇÃO - O advogado Paulo Lamarão ingressou no Tribunal de Justiça do Pará com uma ação ordinária de indenização por danos morais, no valor de R$ 20 milhões, contra as empresas Diário do Pará e Rede Brasil Amazônia de Televisão (RBA), pertencentes ao senador Jader Barbalho (PMDB-PA). Ele afirma que, em razão de, nos últimos 15 anos, ter movido 16 ações contra Jader, familiares e amigos dele na Justiça paraense, passou a ser vítima de uma campanha "caluniosa e difamatória" nos meios de comunicação do senador. Trecho de um depoimento de Jader prestado na Polícia Federal em Belém, em 10 de julho, sobre compra e venda de Títulos da Dívida Agrária, é exibido no processo como "prova" da intenção do senador de atingir a honra do advogado. "Ele tem uma história penal relacionada ao tráfico e uso de cocaína, bem como de tentativa de roubo de autos de inquérito policial" , disse Jader, no depoimento na PF. FBI também investiga as aplicações de Paulo Maluf Filho de ex-prefeito nega que tenha conta bancária no Exterior SÃO PAULO - Sob suspeita de ser beneficiário de aplicações financeiras na Ilha de Jersey, o empresário Flávio Maluf - filho do ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) -, afirmou em depoimento ao Ministério Público de São Paulo que "não possui qualquer conta no exterior". Ele foi ouvido em audiência fechada por um promotor de Justiça de São Paulo. Participaram da reunião dois promotores federais dos Estados Unidos e dois agentes especiais do FBI, a Polícia Federal norte-americana. O empresário foi intimado oficialmente para depor sobre outro caso no qual seu nome é citado - o suposto esquema de suborno de US$ 1,5 milhão na Prefeitura para instalação de cabos de fibra óptica na capital. O episódio envolve a MetroRed, empresa com sede nos Estados Unidos. No interrogatório, os promotores também questionaram Flávio sobre depósitos fora do País. Ele disse que "não é de seu conhecimento se seus familiares ou cônjuges possuem alguma conta no exterior, enquanto pessoas físicas". Segundo Flávio, "nunca foi comentado na família, sejam irmãos, cunhados ou cunhadas, sobre questões relativas a contas no exterior ou no Brasil". Indagado se é beneficiário de alguma conta de terceiros, trust (espécie de fundo de aplicações), ele declarou: "Não, não sou." Presidente da Eucatex S.A., Flávio foi ouvido no escritório do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) - braço do Ministério Público que apura lavagem de dinheiro, corrupção e fraude em órgãos públicos. Além do caso MetroRed, Flávio está sendo investigado porque seria beneficiário de trust em Jersey, paraíso fiscal localizado no Canal da Mancha. O depoimento foi tomado pelo promotor do Gaeco Marcelo Mendroni. Dois promotores federais americanos - Philip Urofsky e Justin S. Weddle - e dois agentes do FBI (Polícia Federal dos Estados Unidos) - Gary Zaugg e Kenneth F. Hosey - acompanharam a audiência. O empresário respondeu 32 perguntas. negócios - Ao ser indagado sobre seus negócios, Flávio disse que a Eucatex - sob sua direção desde 1997 - possui uma subsidiária, a Eucatex North-America, em Atlanta (EUA). Ele possui outras duas empresas, a Grandfood, que faz ração para animais, e a Brascorp Participações Ltda, que atua na construção civil. Os promotores americanos estavam particularmente interessados em saber se Flávio conhece os empresários Oscar de Barros e José Maria Teixeira Ferraz, presos no ano passado em Miami. Eles também são citados como supostos envolvidos na divulgação do Dossiê Cayman - papéis forjados sobre conta bancária naquele paraíso fiscal em nome de alguns dos mais importantes líderes do PSDB. "Não conheço e nunca realizei nenhum tipo de negócio com os dois", disse Flávio. Os agentes americanos questionaram Flávio sobre Caio Fábio D'Araújo Júnior, pastor citado como um dos autores do dossiê. "Nunca o vi", respondeu ele. Flávio disse que se considera "extremamente penalizado profissional e pessoalmente" com o episódio e avisou que pretende processar quem lhe causou dano. Parlamentar acusado de fraudar a Sudam BRASíLIA - O primeiro teste do Código de Ética da Câmara dos Deputados já tem data marcada, antes mesmo de a proposta ser aprovada em segundo turno, cuja votação foi marcada esta semana. O delegado Helbio Dias Leite, que preside o inquérito sobre as fraudes na extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), enviou ao presidente da Câmara, deputado Aécio Neves (PSDB-MG), o dossiê com o depoimento de empresários que acusam o deputado José Priante (PMDB-PA) de participar das irregularidades na autarquia. Deputados da oposição e mesmo aliados de Aécio temem que o futuro do dossiê seja o de ficar engavetado na corregedoria da Casa. A deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP) lembra que até agora, ela e seus colegas contrários à imunidade parlamentar para crimes comuns, ficam "reféns" de casos como este. "Eles são votados e rejeitados", constata. "E quem sofre é a imagem da Casa". Primo - O argumento de defesa dos parlamentares acusados é o mesmo utilizado por José Priante. O deputado, primo do presidente licenciado do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), afirma que está sendo vítima de uma denúncia política. Ele assegura que está à disposição de seus colegas para provar que o processo de que é alvo "é de uma estupidez sem tamanho". De acordo com depoimentos colhidos pela Polícia Federal, o parlamentar seria intermediário entre Jader e empresários beneficiados com recursos da Sudam. "Vou provar que não se trata de um inquérito policial", alega. "É um fato político para coincidir com a volta de Jader à presidência do Senado". Os líderes do PT e do PDT, deputados Walter Pinheiro (BA) e Miro Teixeira (RJ), lembram que a denúncia contra o colega ocorre no chamado momento ético da Câmara. apelo - Pinheiro vai reiterar seu apelo para que a Câmara solicite ao MP e à subcomissão de inquérito do Senado documentos sobre o envolvimento de deputados nas fraudes da Sudam ou do Banpará, que tem a deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA), ex-mulher de Jader, como uma das beneficiadas. Miro, por sua vez, espera que a Mesa diretora providencie a abertura de processo por falta de decoro contra Priante, sob pena de desgastar ainda mais a imagem da instituição. Ele antecipou que, caso isso não aconteça, o seu partido vai pedir a abertura de um processo contra José Priante. O rombo na Sudam até agora apurado chega a R$ 1,773 bi, segundo dados liberados pelo Ministério de Integração Nacional. No total, foram cancelados 213 projetos, sendo que só no que se refere a 159 deles, o desvio atinge R$ 1,173 bilhão (corrigidos monetariamente, mais juros e multa). Em outros 35 projetos nos quais foram apontadas irregularidades, o rombo é de R$ 600 milhões. Artigos Guerra ou paz? Clóvis Cavalcanti Eu estava em Washington, capital dos EUA, até às 20h da última segunda-feira, quando de lá saí pela United Airlines. Nunca imaginei que, quando chegasse ao Recife, às 14h do dia seguinte, fosse encontrar tamanho clima de convulsão em virtude dos horríveis atentados terroristas cometidos nos Estados Unidos. Somente aqui é que fiquei sabendo do que havia acontecido, pois na conexão em Guarulhos (após viagem tranqüila) nada transpareceu até à hora do novo embarque, às 11h, nem do assunto se falou no vôo da Varig (também tranqüilo) que tomei. Vendo depois na televisão, pela CNN, o que estava se verificando, com Manhattan ferida e coberta por denso manto de poeira, fiquei ainda mais chocado. No entanto, não chegou a ser surpresa extraordinária para mim saber de tamanha tragédia, tendo em vista o clima de violência crescente que se arma em todo o Mundo, sem que se trabalhe no plano ético ou de valores para contê-lo. Surpresa, sim, foi perceber a vulnerabilidade do sistema de defesa americano - que sabe que tem muitos inimigos em toda parte -, ao não conseguir impedir que, 35 minutos depois do segundo atentado ao World Trade Center, algo semelhante acontecesse justamente com o Pentágono, sua imponente sede. Em Washington, eu tinha participado de um congresso de latino-americanistas, onde temas ligados à situação do continente foram tratados, inclusive a globalização. Ficou patente aí, como tem acontecido em fóruns semelhantes, como estamos vivendo em um mundo que se empobrece e se mostra cada vez mais socialmente injusto. O resultado são manifestações de violência e intolerância, aguçadas pelo consumismo desenfreado, que faz com que acumular bens termine se tornando a finalidade da vida. Como a maioria das pessoas, hoje com acesso irrestrito à televisão e suas mensagens materialistas de posse e acumulação de riqueza, não consegue atingir níveis de renda que lhes abram as portas para o paraíso do consumo, o resultado são reações de insatisfação, de agressão e brutalidade. É incrível, na verdade, como toda a sociedade se embrutece e a violência se banaliza. No caso dos aviões que foram atirados contra os prédios nova-iorquinos e seu conseqüente desmoronamento, o que a televisão procurava ressaltar era um espetáculo de efeitos telegênicos. Não ouvi ninguém comentar, junto com as cenas mostradas, que, ao ruir um edifício com o impacto de um Boeing, o que estava acontecendo era a morte trágica sob a ocultação de paredes, fogo e fumaça, de milhares de pessoas em desespero. A esse propósito, li no New York Times do dia 11 o comentário de uma senhora, sobrevivente do primeiro edifício a tombar, relatando que, ao sair do prédio, foi avisada, de forma insistente, pelos policiais para não olhar em volta. De relance, porém, ela tentou ver o que acontecia. Foi somente quando, imaginem!, se deu conta da tragédia: espalhados ali, havia pedaços de corpos, cabeças soltas, troncos e membros cortados. Essa é um medida de nossa alienação. Não conseguimos ver o que está acontecendo por detrás da cortina enganosa de nossa realidade. Por essa razão é que ninguém se revoltou com a devida indignação contra o genocídio ocorrido em Ruanda em 1994. No entanto, lá, em valores absolutos e proporcionais, a brutalidade que teve lugar atingiu cifras muito mais aterradoras do que em Nova Iorque. Em Washington, na segunda-feira, enquanto esperava o avião, li no jornal Washington Post duas notícias de insensibilidade humana no país que me assustaram. Uma foi de uma mulher que parecia querer suicidar-se ameaçando atirar-se de uma ponte. Dizia o jornal que, nos carros que passavam, os motoristas, ansiosos por um espetáculo ao vivo qualquer que fosse, davam gritos de incentivo à mulher para que se jogasse, o que terminou ocorrendo (mas a mulher foi salva por alguém). A outra notícia era de uma adolescente negra e pobre, vítima de pronunciada escoliose, que, em 1992, foi deixada pela família no sistema de saúde para que dela cuidassem. Internada por sete anos, até que morreu por asfixia numa cadeira de rodas, com o corpo em forma de um L de cabeça para baixo, as únicas visitas que recebeu foram do serviço social, no inacreditável número de duas! Assistência médica foi lhe dada uma só vez, na sua chegada ao abrigo, ficando o médico que a atendeu de voltar para aplicar-lhe tratamento adequado, o que jamais ocorreu. A saga cruel dessa menina estava descrita no jornal em longa matéria, com todos os detalhes possíveis. Os Estados Unidos, em muitos sentidos, são um país admirável. Todavia, são também uma terra de insensibilidade, rudeza e arrogância e de valores dominados pelo dinheiro, com os quais espalham sua influência pelo Planeta (globalização, para muitos, é americanização). Isso termina se reproduzindo nas esferas governamentais. Neste exato momento, por exemplo, há um conflito entre duas tendências do governo W. Bush (ressaltada pela revista Time do último dia 10) — a do secretário de Estado, Colin Powell, centrista e multilateralista, em desvantagem, e a que está ganhando a parada, de um grupo comandado por Condoleezza Rice, assessora de segurança do presidente, que pende para o unilateralismo. Resultado disso é o isolamento do país, sua visão de policial do Mundo, sua desconfiança de todos. Segundo a Sra. Rice, falando dos EUA, “dado nosso particular papel no Mundo, temos a obrigação de fazer o que julgamos que é direito”. Foi assim na renúncia ao protocolo de Kyoto. Estará sendo assim na reação ao terrorismo dos últimos dias. Para onde nos levam: guerra ou paz? Colunistas DIARIO POLÍTICO O PT e seu umbigo Luís Inácio Lula da Silva se convenceu: ou o PT faz comunicação de massa ou perderá novamente a eleição. Ele disse isso na 2ªConferência Nacional de Comunicação do PT, realizada mês passado, em São Paulo, e outros petistas foram mais longe. Como o prefeito de Ribeirão Preto, Antônio Palocci, que defendeu a propaganda política dizendo que, sem ela, a administração não aumenta a arrecadação. Ou seja, o PT mudou e já não acha que fazer campanha publicitária é jogar dinheiro fora, como sempre disseram seus militantes. Lula também disse que um dos defeitos do partido é olhar só para o próprio umbigo e divulgar o que fazem seus prefeitos e governadores apenas entre os petistas. Quem acompanha João Paulo, na PCR, sabe exatamente o que o presidente de honra do PT quis dizer. Pois desde que começou a governar o Recife, há oito meses, o que João Paulo faz ou deixa de fazer só é divulgado no site da prefeitura na internet, inacessível para a maioria da população, em informes internos, jornais de secretarias municipais,Diário Oficial, nada mais. Os tradicionais veículos de comunicação, jornais, rádios e TVs, têm dificuldade em saber das ações municipais a não ser os atos oficiais, porque o prefeito faz e desfaz decisões quase diariamente. Ou João Paulo segue o conselho de Lula e massifica a divulgação do que está realizando, ou vai passar quatro anos só na trincheira política, sem conseguir mostrar aos recifenses como o PT administra a cidade. Não custa lembrar aos indecisos: faltam 20 dias para terminar o prazo, estabelecido pela legislação eleitoral, para troca de partido dos políticos que desejam disputar um mandato em 2002 Mudança José Chaves continua insatisfeito no PMDB e está cada vez mais próximo do ninho dos tucanos. No PSDB, todos aguardam a decisão do deputado e torcem para que ele se filie ao partido de Sérgio Guerra. Observador Joaquim Francisco (PFL-PE) pisou no freio das articulações para sair do PFL e está observando atentamente as mudanças que estão acontecendo no quadro político. Que de uma hora para outra, pode ter ficado mais interessante para ele. Sono 1 Se já dormia poucas horas para trabalhar mais, como diz a lenda, Marco Maciel deve estar sofrendo mesmo de insônia, agora, por conta dos últimos acontecimentos políticos em Pernambuco. Sono 2 Pois ficou mais distante o sonho do vice - presidente de disputar uma vaga no Senado com Jarbas Vasconcelos candidato à reeleição. Sem o governador, os macielistas admitem, a história é outra. Votação Enquanto no Brasil inteiro os filiados do PT votarão em urnas eletrônicas, hoje, para eleger o novo presidente nacional do partido, em Pernambuco a votação será naquele sistema antigo de cédula, manual. Um atraso. Separação Depois que o PSB de Arraes e o PT de Luís Inácio Lula da Silva romperam oficialmente no Rio de Janeiro, já tem gente dizendo que, em Pernambuco, o casamento entre os dois partidos também deve durar pouco. A previsão dos maldosos é que o divórcio deve chegar em dezembro. Homenagem A Assembléia faz homenagem, segunda-feira, pela passagem do 36ºaniversário da profissão de Administrador. Na ocasião, o sindicato da categoria confere o prêmio Destaque Político de 2001 ao administrador e deputado Romário Dias (PFL), presidente do Legislativo. Violência A Comissão de Direitos Humanos do Congresso chega a Pernambuco neste domingo para dois compromissos. Na segunda-feira, às 9h, estará em Itambé, por conta dos grupos de extermínio, e na terça se reúne na aldeia Xukuru, em Pesqueira, para analisar a violência contra os índios. Sérgio Guerra será um dos expositores do tema A Transnordestina e sua equação financeira no Fórum Pernambuco Século XXI que o Condepe realiza no dia 21, às 9h, no seu auditório. O secretário de Desenvolvimento Urbano vai ter um trabalho grande para explicar essa equação. Editorial Brutalidade planejada Nenhuma das ficções mais delirantes sobre o submundo do terror internacional foi capaz de inventar cenários tão catastróficos quanto os ataques desferidos contra alvos norte-americanos. Os atentados suicidas com aviões de passageiros lançados contra as duas torres do World Trade Center, em Nova Iorque, mostraram o grau de embrutecimento de mentes pervertidas por retrógradas noções fundamentalistas. A mesma demência se exibiu na explosão do Capitólio e no lançamento de outro avião comercial contra o Pentágono, em Washington. A derrubada de outro aparelho civil pela Força Aérea impediu tragédia de proporções semelhantes em Pittsburgh. A estratégia terrorista cumpriu com precisão cirúrgica e planejada brutalidade os seus objetivos. Os símbolos dos poderes financeiro, militar e político dos Estados Unidos foram reduzidos a escombros. A mais poderosa nação foi exposta a humilhação sem precedentes em sua história. Nem mesmo quando expulsa do Vietnã sob barragem de artilharia e assalto de comandos vietcongues foi tão humilhada. O terrorismo é o mais selvagem processo de contestação política da História contemporânea. Dele se servem os radicais desumanizados pelo exercício da violência constante como meio de encurtar caminhos para alcançar os seus desígnios. Pode agir em qualquer parte do Mundo. Na Irlanda ou no Oriente Médio. Em Londres como em Nova Iorque. Tanto na França quanto na Espanha. E as nações não descobriram até hoje métodos eficazes de combatê-lo. Para o terrorista a vida de inocentes entra na contabilidade assassina de que os fins justificam os meios. É o conceito apocalíptico para a solução dos conflitos ideológicos. O povo norte-americano visualizou e sofreu o modelo bestial. Acreditava-se que os Estados Unidos não estavam vulneráveis a atentados na extensão monstruosa vista em Nova Iorque e Washington. Houve subestimação da ameaça muitas vezes reiterada nas maldições de certas confissões islâmicas devotadas a processos bárbaros. Não importa se procederam ou não de semelhantes vertentes culturais os trágicos acontecimentos. Importa reconhecer que o país não estava preparado para evitá-los. Pelas tragédias ocorridas é possível concluir que é ridícula a habilitação da inteligência americana para enfrentar adversários invisíveis ao complexo bélico. Há lições a serem recolhidas para além da catástrofe. A política exterior norte-americana nega com regularidade censurável espaços para negociação civilizada de problemas comuns à comunidade internacional. Não se dispõe a discutir em mesa diplomática questões cruciais como a destruição da camada de ozônio que envolve a Terra por efeito da emissão de gases tóxicos. Foge a uma responsabilidade que lhe é imputada pela consciência civilizada do Planeta. Afinal, os EUA respondem por 25% da saturação atmosférica. Encerrada há dez anos com a vitória das forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) lideradas por contingentes norte-americanos, a Guerra do Golfo sugeria a convocação de esforço diplomático para o apaziguamento da região. Mas a Casa Branca segue com tratamento belicoso para o problema. São quase diários os ataques aéreos às zonas de exclusão ao norte e ao sul do Iraque. São condutas que despertam animosidade em vastas áreas do Mundo. E alimentam o ódio irracional de grupos antolhados pelas viseiras do sectarismo, inimigos rancorosos dispostos a servir a qualquer tipo de projeto sanguinário. Não se há de dizer que sentimentos do gênero devam justificar ataques terroristas. Todas as consciências comprometidas com o respeito aos direitos humanos repudiam a insânia dos que violentaram da forma mais estúpida possível a paz do povo norte-americano e eliminaram a vida de milhares de pessoas. A história testemunha que os Estados Unidos sempre se ergueram acima das mais graves vicissitudes. A humilhação e o sofrimento de agora podem converter-se na energia capaz de fazê-los mais fortes e levá-los a construir novo perfil político perante o Mundo. Topo da página

09/16/2001


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