Oposição cobra de Alfredo Nascimento e do PR apoio para investigação no Ministério dos Transportes
Em seus apartes ao pronunciamento do senador Alfredo Nascimento (PR-AM) na tarde desta terça-feira (2), senadores de oposição questionaram a aliança entre o Partido da República, legenda da qual Nascimento é presidente nacional, e o governo federal. Em várias declarações, os senadores cobraram uma reação por parte do ex-ministro e do PR, sob o argumento de que o partido foi deixado de lado pela presidente Dilma Rousseff, e reforçando ainda mais as mágoas da legenda com o Palácio do Planalto.
Primeiro a apartear Alfredo Nascimento, o líder do PSDB, Alvaro Dias (PR) apelou para que ele confirmasse a disposição de investigar as denúncias de irregularidades no Ministério dos Transportes assinando o pedido de uma CPI apresentado pela oposição. No entendimento de Alvaro Dias, a presidente da Republica Dilma Rousseff, ao demitir os funcionários do Ministério dos Transportes, admitiu haver corrupção no setor. Ao passo que o Tribunal de Contas da União apontou desvios de cerca de R$ 700 milhões somente nos últimos dois anos.
Alfredo Nascimento se negou a assinar o pedido de CPI, reafirmando seu apoio ao governo e alegando já ter pedido a investigação do Ministério Público e da Polícia Federal.
O líder do DEM, senador Demóstenes Torres (GO), disse que o pedido de exoneração de Alfredo Nascimento não pode ser entendido como voluntário, mas, na verdade, como uma demissão indireta feita pela presidente Dilma.
- Na realidade, Vossa Excelência, diante das circunstâncias, não poderia continuar lá, senão, desculpe-me, nem moral teria. Um homem que sofre todas as humilhações e perde toda a sua equipe não tinha outra atitude a tomar. Quem o fez entrar nessa situação de descrédito, de 'crime contra a honra' foi, naturalmente, o Palácio do Planalto e, vamos ser francos, mais precisamente a presidente Dilma Rousseff. Vossa Excelência vai processar a presidente por 'crime contra a honra'? - indagou.
Demóstenes também perguntou se a elevação em R$ 20 bilhões no orçamento do Ministério dos Transportes, durante as eleições de 2010, foi determinada pela Casa Civil. O aumento dos gastos foi mencionado por Alfredo Nascimento em seu pronunciamento. Mas ele negou qualquer relação entre o aumento do orçamento do ministério no período eleitoral e o superfaturamento de obras rodoviárias e de construção de ferrovias.
Corredores
Depois de expressar respeito ao ex-ministro e ao PR, o senador Pedro Taques (PDT-MT) cobrou esclarecimentos sobre as denúncias. O senador questionou o colega sobre o motivo de sua demissão e de todos os demais afastados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e do Ministério dos Transportes.
- Nós estamos aqui discutindo se Vossa Excelência e os outros do PR foram demitidos porque roubaram ou porque não roubaram. Com todo o respeito, o cidadão do meu estado está a perguntar isso. Eu queria que isso fosse esclarecido. Vossa Excelência e aqueles do PR saíram do governo porque a presidente da República entendeu que roubaram? - cobrou o senador.
Pedro Taques também afirmou que a iniciativa de Nascimento de pedir uma investigação do Ministério Público não substitui a realização de uma CPI. Taques, que foi procurador da República, lembrou a demora dos processos no Ministério Público e afirmou que, muitas vezes, era dela que se valiam os políticos para jogar o problema "mais para frente".
- São vias diversas. A investigação do Ministério Público, a ação judicial tem um sentido. A ação nesta casa tem outro sentido - explicou.
Outro parlamentar que cobrou uma posição do PR foi o líder do DEM, senador José Agripino (RN). Para ele, apesar do pedido de demissão de Nascimento do cargo de ministro, o governo "demitiu o PR". E caberá ao partido sua própria defesa, apoiando a instalação de uma CPI que tire as denúncias a limpo.
- Sabe o que circula pelos corredores? Que esses milhões a mais [no orçamento do ministério] foram incluídos por interesse de uma campanha eleitoral e que as obras que foram executadas com esses bilhões nem no PPA estavam. E a culpa é de quem? É de Vossa Excelência, é do PR. Isso é injusto com o seu partido. E só tem um caminho: promover a investigação rápida - defendeu Agripino, afirmando que, como presidente do PR, caberia a Nascimento a obrigação de recuperar a imagem da legenda.
Luiz Pagot
Já o senador Mário Couto (PSDB-PA) manifestou seu respeito a Alfredo Nascimento e lembrou que, há quatro anos, votou contra a indicação de Luiz Antonio Pagot para o comando do Dnit. Ele salientou que desde então tem denunciado Pagot e tentado uma CPI para investigar a corrupção no Dnit.
- Se nós ali, naquele momento, tivéssemos vetado o nome desse cidadão para o Dnit, nós teríamos evitado tudo isto - afirmou Mário Couto, referindo-se à sabatina de Pagot no Senado, quando ele foi aprovado para ocupar o cargo, e lembrando ter denunciado repetidamente em Plenário irregularidades no Dnit.
Veemente, Mário Couto voltou a chamar Pagot de "ladrão", mas não dirigiu ataques a Alfredo Nascimento.
- Não tenho nada contra Vossa Excelência, pelo menos em princípio senador, com toda a sinceridade - disse, dirigindo-se ao ex-ministro.
Conselho de Ética
Já o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) elogiou Alfredo Nascimento pela disposição de utilizar a tribuna para responder a questionamentos dos senadores, mas considerou fundamental que ele também preste esclarecimentos ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. O PSOL é autor de uma representação contra Alfredo Nascimento no Conselho de Ética da Casa.
- Há muitas perguntas que precisam ser esclarecidas. É necessário entender como funcionam as estruturas do Ministério dos Transportes - disse Randolfe.02/08/2011
Agência Senado
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