Oposição gaúcha quer nova CPI da Corrupção







Oposição gaúcha quer nova CPI da Corrupção
PORTO ALEGRE. O relator da CPI da Segurança Pública, deputado Vieira da Cunha (PDT), apresenta hoje seu relatório final relacionando ações irregulares do Clube da Cidadania com o governo Olívio Dutra e o PT. Por causa do clima de beligerância entre oposicionistas e governistas, a sessão da Assembléia Legislativa terá reforço em sua segurança.

Os deputados de oposição, maioria na Assembléia, estão convencidos de que há necessidade de outra CPI para aprofundar as denúncias de corrupção surgidas na CPI da Segurança. O alvo dos oposicionistas é o Clube da Cidadania. Já para os deputados da situação, uma nova CPI só servirá como palanque eleitoral para atacar Olívio e o PT.

Setores do PT querem que o partido rompa com o Clube da Cidadania. Sob a presidência de Diógenes de Oliveira, em 98 o clube comprou um prédio e, no ano seguinte, o cedeu ao PT em regime de comodato.

A CPI achou indícios de que parte do dinheiro da compra do prédio foi doada por banqueiros do jogo do bicho. O ex-tesoureiro do PT Jairo Carneiro declarara ao “Diário Gaúcho” que bicheiros doaram dinheiro para a campanha eleitoral do PT em 98 e para a compra do prédio do Clube da Cidadania. O operador das negociações teria sido Diógenes. Na CPI, Carneiro voltou atrás.


Pacote antigreve
O governo federal lançou ontem um pacote de medidas contra a greve no serviço público, destinadas a forçar o fim da paralisação dos professores das universidades federais e dos trabalhadores da Previdência, que já dura 84 dias. Um decreto, uma medida provisória e dois projetos de lei estabelecem regras para dificultar a liberação do salário, criam punições para os grevistas e permitem a contratação de trabalhadores temporários para substituí-los.

— Apesar das propostas feitas e das exaustivas negociações, as greves persistem, privando a sociedade de serviços essenciais. É sem paralelo pessoas ficarem sem trabalhar tanto tempo e ainda receberem seus salário — disse Guilherme Dias, secretário-executivo do Ministério do Planejamento.

A primeira ação do governo estava publicada no Diário Oficial de ontem e foi duramente criticada pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Paulo Costa Leite. Um decreto transfere dos ministros para o presidente da República a prerrogativa de liberar os recursos para pagamento de salários dos servidores. Na prática, o decreto faz com que qualquer ação judicial pedindo a liberação do pagamento tenha que ser julgada pelo plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) e não mais pelo STJ — no qual o governo já perdeu duas vezes durante esta greve.

— Eu diria que se trata de um ato de força. Isso é muito grave institucionalmente e cria um clima de insegurança e instabilidade jurídica, incompatível com o estado democrático de direito. Isso ocorre quando temos aqui várias causas sub judice, envolvendo atos praticados por diversos ministros — protestou Costa Leite.

Juízes condenam as medidas

O presidente da Associação dos Juízes Federais, Flávio Dino, também condenou o ato do Palácio do Planalto.

— O decreto é inconstitucional. Tem o que se chama de desvio de finalidade. Visa exclusivamente a alterar a competência para exame de mandado de segurança relativo a servidores em greve. Essa finalidade exclusiva (do presidente liberar os pagamentos) não está prevista no artigo 84 da Constituição. O objetivo é frustrar o cumprimento de decisões judiciais — afirmou Dino.

O advogado-geral da União, Gilmar Mendes, disse que a medida foi baixada para evitar que um ministério pague grevistas e outro não, como aconteceu em setembro, quando o MEC suspendeu os salários e a Previdência continuou pagando.

A medida provisória que deve ser publicada hoje no Diário Oficial e entra em vigor imediatamente prevê que, a partir de dez dias de paralisação, os ministérios possam fazer contratos de trabalho temporários para substituir os grevistas. Os contratos valeriam por 90 dias.

Nenhum dos ministérios que enfrenta greves já decidiu se usará os trabalhadores temporários. A Secretaria de Ensino Superior vai esperar a publicação da medida provisória para verificar o que é possível fazer no caso das universidades em greve. Atualmente, são mais de 40 mil professores com atividades paralisadas. Na Previdência, a situação é mais difícil, já que o trabalho exige, por lei, treinamento específico. O que o ministério já estava estudando era usar um contrato de três mil funcionários terceirizados, já pronto para ser assinado, para cobrir o trabalho dos grevistas.

Os dois projetos de lei, que serão enviados essa semana ao Congresso pretendem regulamentar o direito de greve dos funcionários públicos, o que deveria ter sido feito há pelo menos 13 anos, desde que a Constituição de 88 foi promulgada. Ambos aproximam os direitos dos grevistas do funcionalismo público daqueles das empresas privadas.

— Já havia no governo a necessidade dessa regulamentação. As greves se alongam além do razoável, têm até proteção judicial e terminam por se transformar em uma greve subsidiada, sem nenhum risco — disse Gilmar Mendes.

O primeiro projeto de lei determina que a Justiça deverá decidir se a greve é legal ou ilegal. Se for considerada ilegal, o governo terá direito de descontar os dias parados. O segundo projeto estabelece que, após 30 dias de paralisação, os servidores poderão ser processados administrativamente e perder o emprego, mesmo que tenham estabilidade. Além disso, o processo poderá ser feito coletivamente — ou seja, todos os professores em greve de uma determinada universidade poderão ser processados juntos, sendo citados em um edital, e não um por um como deve ser feito hoje.

Os comandos de greve avaliam que as medidas são uma forma de terrorismo com os trabalhadores, além de serem irregulares.

— É um gesto político, uma medida de força, que tenta desmobilizar os trabalhadores — disse Roberto Leher, presidente do Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes).

O presidente Fernando Henrique Cardoso participou pessoalmente da elaboração das medidas. Fernando Henrique, segundo assessores, decidiu que o governo não poderia mais ficar sem tomar duras medidas contra greves que já duram quase 90 dias. Anteontem, houve uma grande reunião no Planalto entre o advogado-geral da União, Gilmar Mendes, e os ministros Pedro Parente (Casa Civil), Paulo Renato Souza (Educação) e Roberto Brant (Previdência), além de assessores.


Cassado, Mão Santa continua a inaugurar obras públicas no Piauí
TERESINA.Cassado na semana passada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso do poder econômico e corrupção nas eleições de 1998, o ex-governador do Piauí Francisco de Assis de Moraes Souza, o Mão Santa (PMDB), continua inaugurando obras. Na noite de anteontem, Mão Santa viajou para Esperantina, na região norte do estado, para participar da inauguração de uma penitenciária, construída com recursos liberados pelo Ministério da Justiça.

Ontem à noite, ele foi homenageado pelos estudantes da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Piauí, onde estuda sua filha, e participou da inauguração de salas construídas em sua gestão.

— Estou indo para as inaugurações como convidado e cidadão. Fui para Esperantina porque coincidiu com o aniversário do deputado federal Themístocles Sampaio Pereira (PMDB). As obras são minhas, mas eu mandei colocar as placas todas no nome do governador Kleber Eulálio - disse Mão Santa, referindo-se ao presidente da Assembléia, que assumiu interinamente o cargo.

Manifestações de rua e campanha na TV

O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Piauí só deve anu nciar na próxima segunda-feira se vai dar posse ao segundo colocado nas eleições, o senador Hugo Napoleão (PFL), ou se convoca novas eleições, como querem o PMDB, o PSDB e o PCdoB.

Os aliados de Mão Santa têm promovido manifestações e campanha publicitária na TV em defesa da realização de eleições diretas para a escolha do ocupante do Palácio do Karnak, sede do governo local. Ontem à noite, a Justiça proibiu a divulgação dos comerciais na TV. A propaganda vinha sendo feita em nome da União dos Servidores Públicos Municipais de Teresina, dirigida por funcionários ligados ao PSDB, e do PPB.

Ao mesmo tempo, os partidos ligados a Mão Santa — PMDB, PC do B, PSDB, PPS e pequenas agremiações de centro-esquerda— estão promovendo uma série de manifestação na periferia e no centro de Teresina, interrompendo parcialmente o trânsito, defendendo “eleições diretas já”.

Ontem foi realizada uma passeata de mulheres da avenida Frei Serafim, a mais movimentada de Teresina, até o Palácio do Karnak.

— É a manifestação dos com-DAS (cargos de direção superior de assessoramento do governo do estado). Na manifestação, a gente só vê assessores do governador Mão Santa e de sua mulher — disse Joaquim Almeida, advogado de Hugo Napoleão.

Os governistas anda estão programando para hoje, às 17h, no centro de Teresina, bandeiraço a favor das eleições, com a presença do prefeito da cidade Firmino Filho (PSDB), que vem liderando as manifestações contra a diplomação de Hugo Napoleão, desde a cassação de Mão Santa, na semana passada.

Policiais militares ameaçam entrar em greve no estado

Para complicar mais a situação, os policiais militares ameaçam entrar em greve na próxima semana. O clima de instabilidade deverá aumentar hoje, quando eles farão manifestação em frente ao Palácio do Karnak reivindicando a aplicação do Código de Vencimentos, que foi aprovado pela Assembléia Legislativa, mas não significou as melhorias salariais que eram esperadas pela tropa. Os líderes dos militares prometem greve caso suas reivindicações não sejam atendidas.


Ruth Cardoso elogia a candidaturade Roseana Sarney à Presidência
BRASÍLIA. No meio do processo de pacificação dos pré-candidatos tucanos, articulado a duras penas pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, uma declaração da primeira- dama, Ruth Cardoso, pode reacender os ânimos no PSDB. Presidente de honra do Programa Comunidade Solidária, dona Ruth elogiou a candidatura da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), à Presidência.

— É ótimo que tenhamos cada vez mais candidatas, e que tenhamos a possibilidade de termos uma candidata à Presidência — disse.

Para a primeira-dama, é imprescindível a presença das mulheres na política, independentemente da orientação ideológica ou partidária de cada uma. Dona Ruth não disse, no entanto, por que é importante a candidatura da governadora do Maranhão ou de qualquer mulher. Segundo ela, o repórter que fez a pergunta já sabia da resposta. Irritada com a tentativa dos jornalistas de aprofundar a conversa, a primeira-dama encerrou a entrevista alegando que não gosta de dar declarações sobre política:

— Vocês sabem que só falo sobre minha área.

O presidente procurou minimizar a possível repercussão política das declarações da mulher. Por intermédio do porta-voz Georges Lamazière, foi evasivo.

— O presidente observou apenas que isso mostra que no Brasil não existe discriminação de gênero na política — disse Lamazière.

No Congresso, os tucanos também desvincularam as declarações da primeira-dama de um apoio específico à candidatura de Roseana. O argumento era que ela apenas quis valorizar a presença da mulher na política.

— Não vejo nisso uma declaração de apoio a Roseana Sarney. Dona Ruth está apenas sintonizada com o desafio de todos os partidos de garantir mais espaço para a mulher na política — disse o presidente do PSDB, deputado José Aníbal (SP).

Para o líder do PSDB no Senado, Geraldo Melo (RN), a primeira-dama apenas reconheceu a importância do papel da mulher na vida pública. Pelos corredores do Congresso, alguns tucanos chegaram a dizer que bom seria que dona Ruth evitasse comentários sobre política, dada a delicada situação dos partidos aliados.

O líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), avaliou a declaração de dona Ruth como um gesto de simpatia pela causa feminina:

— Dona Ruth mantém sua coerência em defesa das mulheres.

O ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL), agora defensor da candidatura de Roseana, considerou importante o apoio que a candidatura da governadora pefelista recebeu de dona Ruth.

— Dona Ruth é uma pessoa de caráter e responsabilidade. Seu apoio é muito importante — comentou.

Esta não é a primeira vez que a mulher do presidente faz comentários polêmicos. No fim da campanha da primeira eleição de Fernando Henrique, ela causou descontentamento no meio político ao dizer que o marido havia se aliado à banda boa do PFL. Na declaração, Ruth deixava implícito que o PFL tinha um lado ruim, justamente aquele onde estava Antonio Carlos.

Garotinho: "Nem Madonna teve tanta publicidade"

Pré-candidato do PSB à Presidência, o governador do Estado do Rio, Anthony Garotinho, ironizou o crescimento da candidatura de Roseana nas últimas pesquisas de intenção de voto, comparando-a à popstar Madonna.

— Não me surpreendeu. Eu pensei que ela fosse crescer até mais. Nem a Madonna no auge do seu sucesso teve tanta publicidade — disse.


Temer diz que não será candidato contra Itamar
BRASÍLIA. A resistência do presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), a se lançar candidato às prévias está complicando a estratégia dos governistas para enfrentar o governador de Minas, Itamar Franco. Reunida ontem na casa do presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), a cúpula do partido ouviu de Temer que ele não pretende ser candidato para ampliar a divisão do partido. Temer tomou essa atitude depois que o senador Pedro Simon (PMDB-RS) reafirmou que disputará as prévias.

— Disse aos companheiros que só seria candidato se isso fosse necessário para unificar o partido, para que não haja dispersão — afirmou Temer.

Sem forças para adiar ou desmarcar as prévias, e sem um candidato disposto a empunhar a bandeira do anti-Itamar, a executiva do PMDB, dominada pelos governistas, desistiu de fixar ontem as regras das prévias.

Tebet e Renan participarão da reunião com candidatos

Para retomar o diálogo interno, Temer vai reunir segunda-feira Itamar e Simon, Tebet e o líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL). Nesse encontro serão estabelecidas as regras para as prévias e aprovado o universo de eleitores. Só depois dessa conversa é que a executiva se reunirá para oficializar as regras.


‘Malan está com postura de perdedor’
BELO HORIZONTE. O provável candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, rebateu ontem as críticas feitas ao partido pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan. Para Lula, é Malan — que ontem havia acusado o PT de estar “no alto do sapato alto” — quem está “com postura de perdedor”.

— O Malan deve estar equivocado. Ele é que está com a postura de quem já perdeu. A política que ele conduz levou o país a um fracasso sem precedentes. É só pegar os indicadores e ver o desempenho do governo Fernando Henrique Cardoso. Poucas vezes na História do Brasil houve gente tão ruim governando o país — afirmou o petista.

Lula disse que vai continuar seguindo as determinações do PT e que vai aceitar o que for decidido pela direção nacional em relação à realização de prévias para a escolha do candidato a presidente:
< BR>— Sou um militante do partido. Não estou candidato. Se estiver candidato e o PT deliberar que vamos ter outro candidato, estou comprometido com as regras do partido.

O petista esteve ontem em Minas Gerais para visitar o prefeito de Belo Horizonte, Célio de Castro, que está internado no CTI do Hospital Mater Dei, na capital mineira, recuperando-se de um derrame. Na saída do hospital, Lula afirmou que, por causa da doença, não é hora de discutir o futuro político do prefeito, que está filiado ao PT.


PSDB vai acelerar escolha de seu candidato
BRASÍLIA. Com a intervenção do presidente Fernando Henrique e a anuência do ministro José Serra, o PSDB vai acelerar o calendário da sucessão presidencial. Em almoço com o governador de Mato Grosso, Dante de Oliveira, ontem, o presidente disse que pretende fixar, no início de dezembro, os critérios para a escolha do candidato tucano; e defendeu a oficialização desse nome no dia 25 de janeiro. Por esse cronograma, Serra deverá deixar o Ministério da Saúde no início de janeiro. Segundo seus aliados, com a vitória brasileira na disputa sobre patentes de medicamentos na Organização Mundial do Comércio (OMC), Serra já considera sua missão cumprida.

Segundo Dante de Oliveira, Fernando Henrique concordou que é preciso uma consulta ampla ao partido antes da decisão. Ele disse que chamará o presidente do PSDB, José Aníbal (SP), e os pré-candidatos para uma reunião no início de dezembro.

— Se for para ser decidido por colégio restrito, escolho eu o candidato, mas não quero isso. Não quero escolher o candidato sozinho — disse o presidente, segundo o governador.

No almoço, o presidente ouviu de Dante:

— Presidente, o senhor precisa aliviar as tensões, porque todos acham que seu candidato é o Serra, e que o senhor só quer ganhar tempo...

— Não é verdade. O que eu quero é ganhar as eleições. Não tenho candidato preferencial. Já disse que não vou tirar um nome do bolso do colete — respondeu o presidente.

O porta-voz da Presidência, Georges Lamazière, explicou que Fernando Henrique não fará uma reunião formal com a cúpula do PSDB, mas sim contatos individuais.

A idéia referendada pelos tucanos é que o PSDB tem que escolher o seu candidato e só depois buscar o apoio dos aliados. A partir da fixação dos critérios para a escolha do nome, os pré-candidatos devem ir às ruas em dezembro e janeiro para conseguir apoio. O desafio é obter desempenho próximo do da governadora Roseana Sarney (PFL) nas pesquisas eleitorais.

— Não dá mais para esperar março — afirmou o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães (BA), aliado do ministro Serra.


Promotoria ganha prazo para acusar Maluf
SÃO PAULO. A juíza Cyntia Thomé, da 6 Vara da Fazenda Pública, interrompeu ontem o prazo de prescrição, dando mais cinco anos para os promotores entrarem com ação acusando o ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) e seus parentes, suspeitos de enriquecimento ilícito. A extinção da punibilidade de Maluf por improbidade administrativa de Maluf ocorreria no dia 31 de dezembro, cinco anos após o fim de seu mandato na Prefeitura de São Paulo (1993-96).

O Ministério Público de São Paulo investiga possível desvio de recursos públicos na gestão do ex-prefeito e eventual conexão do crime com a existência de contas bancárias dele e de sua família na Suíça e na ilha de Jersey, paraíso fiscal no Canal da Mancha.

Os promotores que atuam no caso temiam que o prazo se esgotasse antes do recebimento de documentação sobre a movimentação bancária de Maluf no exterior, solicitada pela Justiça Federal, via Ministério da Justiça, a autoridades da Suíça e do Reino Unido.

"Defiro o pedido de intimação dos requeridos (...). Como demonstrado na inicial, o autor está desempenhando com presteza investigação extraordinária, pois em paraísos fiscais, onde há grande dificuldade de se obter informações a respeito de transações bancárias, o que, logicamente, acarreta morosidade na apuração do ocorrido", escreveu a juíza, ao acolher a ação cautelar de protesto para interrupção do prazo de prescrição proposta pelo Ministério Público.

Juíza alega que não haverá prejuízo para Maluf

A juíza observou ainda que "o deferimento do pedido em nada prejudicará os requeridos (além de Maluf, sua mulher, os quatro filhos e uma nora), caso tenham agido de acordo com a lei, como dizem".

O ex-prefeito nega que ele ou seus familiares possuam contas ou dinheiro em bancos no exterior.

O promotor Silvio Marques disse que não pretende fazer uso do prazo maior.

— Apesar do deferimento, vamos tentar entrar com a ação até o dia 31 de dezembro para que não haja nenhum tipo de discussão sobre o prazo legal — afirmou.

O advogado Paulo Guilherme de Mendonça Lopes, do escritório de Ricardo Tosto, um dos defensores de Maluf, disse que ainda vai estudar se recorrerá da decisão.

— Estranho a velocidade e a fúria com que investigam o dr. Paulo e não as demais pessoas neste país — disse.

No dia 30 de novembro, a juíza Adriana Pillegi de Soveral, da 8 Vara Criminal Federal, decretou a prescrição dos crimes de responsabilidade e falsidade ideológica que teriam sido cometidos por Maluf no caso dos precatórios emitidos irregularmente pela prefeitura em 1994.


Artigos

Quando a razão padece
JERSON LIMA SILVA

A greve nas universidades e outras instituições federais de ensino completa mais de 80 dias. Quando, há cerca de dez dias, a solução parecia iminente e já comemorávamos um fim conciliatório, toda a negociação se desmoronou. Faltou bom senso e desejo dos vários protagonistas, que chegaram a estar com as canetas nas mãos para assinar um contrato que havia sido negociado entre governo, representantes dos professores e membros do Congresso. Poderíamos entrar no jogo dos interlocutores para identificar “culpa”, tal como tem sido o eixo do jogo de empurra dos que procuram os culpados em vez das soluções. E a sociedade é a maior prejudicada, com cerca de 500 mil jovens fora das salas de aula. Estamos rabiscando o futuro desses jovens dos quais o país tanto depende. São futuros profissionais das mais diversas áreas que estão anestesiados por mais de dois meses.

Entre as ponderações mais paradoxais, por que uma greve de petroleiros tem a duração de uma semana enquanto a da universidade se arrasta por mais de dois meses? Talvez porque na primeira os resultados aparecem em dias, enquanto na segunda as graves conseqüências da interrupção na formação de jovens só aparecerão ao longo dos anos. As avaliações oficiais demonstram a qualidade da universidade pública e sua importância para a sociedade, tendo como papel prioritário buscar um atalho para conduzir o país para um maior desenvolvimento. Parafraseando Darcy Ribeiro, “somos um povo em fazimento”, e portanto há pressa pelo porvir, e não há lugar para atrasarmos o futuro.

Mas como salvar a esperança? Em qualquer país desenvolvido ou com intenções de ser, a universidade pública é a galinha dos ovos de ouro. Todos sabemos que, mesmo nas universidades com gestão privada em países desenvolvidos, são os recursos públicos que norteiam ensino, pesquisas, desenvolvimento tecnológico e atividade intelectual. Somente um desencontro das razões explica esta falta de solução. E agora nos assusta o fantasma da “perda do semestre”. Por mais absurdo que pareça, na casa da razão, resta-nos apelar para os corações de cada um de nós: professores, ministros, deputados e presidente.

Com tolerância e vontade, devemos cristalizar a solução que se encontra fluida e parece longe do alcance de todos. O governo e os parlamentares estabeleceram os limites orçamentários para a negociação: inicialmente dentro de um valor anual de R$ 350 milhões, agora em R$ 250 milhões. Há dez dias, os professores chegaram em assembléias a uma proposta de compromisso. A solução não beneficiava a todos igualmente; mas o próprio governo também não acredita nesse igualitarismo absoluto. Na UFRJ, a maior universidade federal do país, conseguimos aprovar uma proposta avançada e salomônica, dentro dos limites colocados pelo MEC, cujos pontos mais importantes foram: a) a não-incorporação da gratificação de desempenho (GED); b) a incorporação de uma fração da GAE (50%); c) equiparação da gratificação de desempenho entre professores dos ensinos fundamental, médio e superior e extensão de 60% do seu valor aos aposentados; e d) um aumento linear para todos. Cabe destacar que essa proposta venceu por uma pequena margem de votos da outra que flexibilizava a incorporação de uma parte da GED, mas que também enfrentaria a resistência do MEC. A proposta vencedora passou a ser a de todos e, quando compatibilizada com os resultados de todas as assembléias do país, chegou-se à proposta que o MEC aceitava porque estava dentro dos itens passíveis de negociação.

Por que então não houve solução? A minha interpretação é que há uma crise da razão. E quem está em jogo agora é um dos principais guardiões da nossa soberania, a universidade. Não é possível que por causa de um valor (menos que 0,02% do PIB brasileiro ou um terço do que os EUA utilizam para enviar uma missão a Marte) estamos maculando a nossa alma mater , a universidade. A cada dia sem aula, desiludimos e endurecemos os corações desses jovens, que assistem, sem entender, por que estamos abalando os alicerces de uma estrutura na qual os fizemos acreditar.

O MEC está enviando agora ao Congresso projeto de lei que aumenta em cerca de 30% o valor da gratificação de desempenho e estende para os professores aposentados do ensino fundamental e do médio 60% do seu valor. Apesar de diferir da proposta aprovada pelas associações de docentes, essa proposta tem a vantagem de atender aos professores mais jovens. Em nome das centenas de milhares de alunos, faço um apelo aos meus colegas professores para que aceitemos essa proposta. Em contrapartida, os professores Paulo Renato Souza e Fernando Henrique Cardoso poderiam ser tolerantes e atender a um dos pontos solicitados e não cobertos no projeto de lei, que consiste na equiparação dos valores da gratificação de desempenho dos professores do ensino fundamental e do médio com os da universidade.

Se todos os nossos corações estão batendo em dessincronia, temos de fazer concessões, embora reconhecendo nossas desigualdades de idéias, ideologias e políticas. Ao fazermos isso estaremos contribuindo para o desenvolvimento global dos nossos jovens — a maior riqueza de qualquer nação. Sugiro que paremos com nossas hostilidades para orquestrarmos uma solução.


Colunistas

PANORAMA POLÍTICO – TEREZA CRUVINEL

Ministros e balcões

O deputado tucano Arthur Virgílio é um dos novos ministros que tomam posse hoje. Na Secretaria-Geral da Presidência, responderá pelas relações entre o governo e o Congresso. Por seus méritos, ele colheu uma chuva de apartes e louvores no discurso de despedida, muitos vindos da oposição. Outros tantos, vindos dos que confundem sua nova função com a de chefe do balcão.

Mesmo que não tenha vocação para o ofício, ouvir pedidos e distribuir favores será uma de suas tarefas, ainda mais em tempo de eleição. Sua ida para o Planalto desperta um misto de esperança e receio entre tucanos e auxiliares de FH. Esperança de que ele empreste ao novo cargo sua agressividade na defesa de FH, do governo e de suas políticas, ajudando a tirá-lo do atoleiro nessas preliminares da sucessão, com a candidatura oficial ainda por ser construída. Receio de que perca as estribeiras, como faz no Congresso ao comprar algumas brigas, o que lhe valeu o apelido de “pitbull tucano”.

O que Virgílio promete é ser agressivo sem perder a capacidade de diálogo, inclusive com a oposição. Mas como essa conversa nunca foi adiante em sete anos, agora é que não vai longe. Aos governistas, promete manter a porta do Planalto literalmente aberta, dedicando-se a recebê-los uma vez por semana. Soou como música para os que trocam “diálogo” por “balcão”. Alguns exageraram nos rapapés. O deputado Ariston Andrade (PFL-BA) chamou-o de “astro tangível do Parlamento”. E Mário Negromonte (PPB-BA) prometeu estar com ele “na alegria e na tristeza, na doença e na saúde, na dor e no bem-estar”. Só faltou propor casamento. É do show.

Na Justiça, toma posse Aloysio Nunes Ferreira, substituído por Virgílio. Planeja ressuscitar a Secretaria de Defesa do Consumidor e ali desenvolver uma política de grande apelo popular, ainda mais quando cresce entre os fabricantes a moda de maquiar. Mas o seu grande desafio ali é o programa de Segurança Pública, que ainda não produziu melhoras numa das áreas mais críticas do país. Substitui José Gregori, que passa desta para melhor, como embaixador em Portugal. Foi sabatinado ontem pelo Senado.

O terceiro ministro do dia, Ney Suassuna, da Integração, é do PMDB. O projeto mais ambicioso de sua pasta ficou para outro governo, a transposição das águas do São Francisco. Cabe-lhe também implantar as agências sucedâneas da Sudam e da Sudene. Sua escolha atende ao desejo de FH de manter o PMDB na aliança governista. E para isso, é preciso evitar a candidatura de Itamar Franco. Essa é a receita mais procurada hoje no PMDB e no governo.

Por fim, o deputado Heráclito Fortes substitui o tucano Virgílio como líder no Congresso. É o afago no PFL, um tanto ébrio agora com “Roseana nas alturas”, como diz o outdoor da revista “Veja”. Foi o jogo possível para FH, até virar o ano e encontrar seu candidato.O andor tucano

FH ocupará 15 dos 20 minutos do programa de TV que os tucanos levam ao ar amanhã. Dará discurso social a seu partido, falando de sua rede de proteção social. Estão mais calmos os tucanos, porém, certos de que agora a escolha do candidato será antecipada. Para fim de janeiro, mais tardar depois do carnaval, admite o presidente do partido, José Aníbal.

Os tassistas estão recolhidos, os seguidores de José Serra excitados com a possibilidade de uma grande vitória sua na reunião da OMC em Doha, Qatar.

— Será um fecho de ouro para sua gestão no ministério. Mas quero insistir que Serra não trocou farpas com Tasso. Quis apenas preservar sua estratégia de não se expor como candidato, até porque ainda tem tarefas importantes, como essa na OMC — diz o líder Jutahy Júnior.Luz de cima

O TSE afastou Mão Santa do governo do Piauí, mas deixou para o TRE o encaminhamento da posse do sucessor, o segundo mais votado, Hugo Napoleão. Tido como feudo de Mão Santa, o TRE decidiu recontar os votos, concluiu que Hugo não teve maioria absoluta e quer fazer nova eleição. A recontagem parece impossível, pois 25% dos votos foram dados em urnas eletrônicas já “desmemoriadas”. Depois, do segundo mais votado a maioria absoluta não tem mesmo que ser exigida. Essa a demonstração que Hugo e seus advogados tentarão fazer hoje ao TSE.Marta com FH

Não é tempo de esperar que tucanos ponham azeitona em empada de petista, mas a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, tratará hoje, diretamente com FH (amigo de outros tempos), de seu maior problema administrativo. A dívida da prefeitura, cujo pagamento lhe consome 13% das receitas, cerca de R$ 80 milhões mensais. Nenhum outro município paga tanto, diz ela, propondo-se a pagar 13%, mas descontados os gastos vinculados a educação e saúde. Se ajudar São Paulo, FH e o PSDB também serão lembrados por isso, acrescenta. Pode ser, mas nesse caminho tem uma pedra inarredável: Pedro Malan.FH VAI passar o feriadão no sítio de Ibiúna. Jogará pôquer com velhos parceiros antes de enfrentar o quebra-cabeça da escolha do candidato tucano.

LEONEL BRIZOLA não deixou dúvidas em sua entrevista no programa “Roda Viva” (TV Cultura): desta vez não engolirá Lula, com ou sem barbas. Mas, fato singular, ainda não brigou com Miro Teixeira, que defende o apoio ao PT.


Editorial

Terra arrasada

Na campanha contra o terror, derrubar o regime talibã é só o começo — e não a parte mais difícil. Será preciso formar um novo governo para o país, e isso nem os Estados Unidos, nem o resto da comunidade internacional sabem como fazer.

Independentemente da questão Osama bin Laden, o Afeganistão é um problema de extrema complexidade. O clima e a topografia são adversários poderosos de qualquer força invasora. Anos de disputas tribais fragmentaram a população em grupos étnicos e facções religiosas que não sabem conviver.

O principal aliado militar dos americanos tem sido a Aliança do Norte, que acaba de reconquistar Cabul. Mas o que foi uma solução militar pode ser uma dor de cabeça política. Formada por usbeques e tajiquestadjiques, a facção controlou a capital de 1992 até ser expulsa em 1996 pelos talibãs. Lutas internas deixaram ruínas por toda parte, e mais de 30 mil mortos. Os moradores da capital, especialmente a maioria pashtun, têm péssimas lembranças desse período de terror. Esta etnia, majoritária no país, é justamente a que Washington pretende libertar do jugo dos talibãs.

É compreensível, portanto, o temor manifestado pelo presidente George W. Bush — e também pelo presidente do Paquistão, Pervez Musharraf — de que os soldados da aliança aproveitem o giro da roda da fortuna para cometer atrocidades. Se os EUA permitirem que a Aliança do Norte tome o poder, o Paquistão, seu inimigo, se sentirá traído.

A Índia, a Rússia e o Irã também defendem seus interesses nesse tabuleiro. Contornar esses obstáculos é parte do esforço para pacificar o Afeganistão. O primeiro-ministro da Inglaterra, Tony Blair, consciente do perigo, defendeu a presença imediata da ONU em Cabul. A longo prazo, não basta, porém, entregar o país a uma coalizão de grupos historicamente divididos. Só um governo de ampla base multiétnica garantirá a paz. O terrorismo encontrou no Afeganistão as condições ideais. Ali, onde tudo está por fazer, EUA e aliados enfrentam o desafio de tornar o terreno estéril para o terror e fértil para as sementes da democracia.


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11/14/2001


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