Paim diz que negros ainda vivem em condições similares à escravidão



 O senador Paulo Paim (PT-RS) afirmou, em discurso nesta quarta-feira (9), que embora a abolição da escravatura tenha ocorrido há 119 anos, ainda há negros que vivem no Brasil em condições similares às do tempo da escravidão. Na sua opinião, a lei que libertou os escravos em 13 de maio de 1888 - a Lei Áurea - trouxe liberdade a esses brasileiros, mas não garantiu a eles direitos e cidadania.

Com o objetivo de discutir o racismo e o preconceito, o senador disse que vai propor à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) a instituição de campanha da fraternidade com o tema "Abolição não concluída" para que a sociedade reflita a respeito da situação em que vivem os brasileiros descendentes africanos.

Paim ressaltou que os negros brasileiros ainda não participam da maior parte das atividades do país e que a grande maioria dessa parcela da população não possui condições adequadas de vida. Como exemplo, ele citou dados do programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), de acordo com os quais 70% dos indigentes brasileiros são negros. Disse também que são raros os negros com cargos no Executivo ou Legislativo.

- Não existe no nosso país um único fazendeiro ou produtor do agronegócio negro. Qual proprietário de grande jornal, TV ou rádio, ou de banco é negro? Algo está errado - afirmou.

Em aparte, o senador José Nery (PSOL-PA) lembrou que, quando da abolição da escravatura, as elites concordaram com a libertação formal dos escravos, mas não criaram condições para a inclusão dessas pessoas. Na sua visão, os senadores têm a tarefa de contribuir para a efetivação de políticas públicas que garantam cidadania a esses brasileiros e combatam as novas formas de escravidão.

O senador Mão Santa (PMDB-PI) lembrou que o Brasil foi o último país a libertar os escravos. E mesmo após a Lei Áurea, contou, escravos continuavam a ser contrabandeados ilegalmente, como aconteceu no hoje chamado Porto de Galinhas (PE), que recebia escravos africanos sob a alegação de que se tratavam de aves.

Paim também informou que vai reapresentar projeto de lei da então senadora e hoje ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, com a finalidade de incluir o nome de João Cândido no Livro dos Heróis da Pátria. Cândido liderou a Revolta da Chibata, que ocorreu em unidades da Marinha de Guerra do Brasil, no Rio de Janeiro, em novembro de 1910, na qual marinheiros tomaram navios, em protesto contra as condições de trabalho a que estavam submetidos e, especialmente, contra o hábito do castigo da chibata, uma herança da escravidão, entre outras reivindicações.



09/05/2007

Agência Senado


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