Paim elogia juiz que aposta "os próprios olhos azuis" nas cotas



Apesar de trabalhar como voluntário num curso pré-vestibular destinado a afro-descendentes, o juiz federal do Rio de Janeiro William Douglas manteve, por um bom tempo, posição contrária às cotas para negros e pardos em universidades. Atualmente, o magistrado tem cerrado fileiras no campo oposto, o que o levou a ser elogiado, nesta segunda-feira (15), pelo senador Paulo Paim (PT-RS), autor do projeto de lei do Estatuto da Igualdade Racial.

Em discurso no Plenário, o parlamentar leu trecho de um artigo de William Douglas, no qual ele explica por que mudou de opinião. Antes afirmava que era a favor apenas das cotas para alunos oriundos do ensino público, por ser "muito difícil definir quem é negro em um país de miscigenação racial grande". Achava ainda que as cotas abriam brechas a privilégios para "pessoas negras de boa condição". Agora, vê as reservas de vagas como uma necessidade social urgente.

O magistrado diz que o contato mais direto com a população negra fez com que percebesse as dificuldades encontradas pelos integrantes dessa etnia. A experiência esvaziou seus argumentos do tipo jurídicos, que foram suplantados pela visão de uma realidade injusta e desigual.

"Nessa convivência, fui descobrindo que ser pobre é um problema, mas ser pobre e negro é um problema maior ainda", diz o magistrado, que se descreve como um "branco caucasiano dos olhos azuis" e se autodefine como um homem de origem pobre que venceu na vida pelo esforço pessoal. Além de juiz, ele é conhecido como o "guru dos concursos", por ter escrito um sucesso de vendas sobre o assunto. "Aposto meus olhos azuis dizendo que precisamos das cotas agora", prega.

Segundo o depoimento do juiz, o argumento que o fez trocar de lado foi "passe um dia na cadeia". E ele se refere não apenas às prisões de verdade, onde a maioria dos presos é de origem negra, mas às prisões sociais das favelas e subempregos.

Douglas conta que passou a considerar inadmissível o contraste entre a situação de conforto e bem-estar vivida por ele, e a de negros como a mulher que emprega em sua residência. O juiz afirma que o marcou profundamente a reação da filha dessa trabalhadora ao entrar no quarto da filha dele como se entrasse no quarto de uma princesa.

"Minha filha, loura e de olhos claros, estuda há três anos num ótimo colégio, enquanto a filha de minha empregada freqüenta uma escola sem professores, sem carteiras e com o banheiro quebrado. Não é justo que lá na frente sejam exigidas da mesma forma", argumenta. Para o magistrado, também não há como exigir um mundo seguro para os filhos das classes privilegiadas, se o país mantiver todo um contingente sem renda e oportunidades.



15/12/2008

Agência Senado


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